Descemos para o térreo falando sobre como e quando nos encontraríamos novamente, mas acabamos seguindo em direções diferentes antes mesmo de chegar a uma conclusão, até porque eu possuía o número do celular do hyung e ele me prometeu que dessa vez me atenderia, com ou sem o consentimento de seu pai. Ainda lancei um sorriso sublime para o Sungmin, mas ele me correspondeu com um doce sorriso. Não sei ao certo o que estava dando em mim, para tentar bancar o misterioso e difícil, mas involuntariamente eu estava o fazendo.

Os garçons começavam a servir as pessoas em suas mesas, mantendo-as sentadas. Procurei por meus tios com os olhos e sem delongas encontrei um homem da camiseta social branca e franja bem escura, sentado em uma das mesas próximo ao palco. Mesmo se vestindo tão simples, ele conseguia ser a atração principal da festa. Não havia um lugar aonde ele ia e não era reconhecido. Abrindo um curto sorriso, caminhei em direção a mesa de tio Heechul e reconheci tio Siwon e tio Jung-su sentados ao seu lado esquerdo, mas sentado ao seu lado direito eu não sabia dizer quem era. Um jovem de tez clara, olhos puxados e levemente marcados pela maquiagem escura, cabelos castanhos e arrumado em um mediano topete, e nariz pequeno e harmônico aos seus lábios levemente rosados, que formavam um belo risco quando sorria. Suas vestes também eram bem simples. Elas se resumiam a um colete preto e uma gravata borboleta da mesma cor, sobrepostas a uma camiseta social azul claro. Provavelmente ele usava uma calça e um sapato social preto para combinar com o colete e a gravata, mas de onde eu estava não dava para visualizá-lo por inteiro. Ele conversar com tio Heechul, mas não dei importância, apenas me sentei na cadeira vazia ao lado de tio Siwon, assentindo levemente com a cabeça quando ele olhou em minha direção.

– Então Dongwoon, esse é o afilhado do Siwon de quem eu lhe falei. Ele possui um dom especial com computadores e jogos – disse tio Heechul com sua voz mansa, fazendo meu coração acelerar no mesmo instante. Ele não seria capaz de contar a um desconhecido sobre o meu dom com tecnologia seria?

– É um prazer conhecê-lo Cho Kyuhyun – disse ele se erguendo da cadeira e estendendo a mão direita para mim. Sorri timidamente enquanto apertava sua mão com firmeza e soltei um ‘igualmente’ – É verdade que não há um jogo que não possa vencer? – perguntou ele arqueando a sobrancelha esquerda de modo desafiador, enquanto voltava para o seu lugar.

– Sou tão bom que jogar se tornou entediante – respondi de modo altivo arrancando um sorriso torto do mais velho.

– Kyuhyun – chamou o líder sério – Por favor, queira procurar o Pedro, estou preocupado com o repentino desaparecimento dele – pediu tio Jung-su completamente calmo e controlado. Quem o visse falando daquela forma acharia que ele acrescentou o ‘preocupado’ por mero drama, mas eu sabia que ele não diria tal coisa sem se sentir de tal maneira.

Assentindo levemente com a cabeça, pedi licença e me retirei da mesa. Não importava o porquê do desaparecimento do menor, na verdade, considerando o quão rude aqueles três em especial eram em alguns momentos, não era de se admirar que ele houvesse se escondido por causa deles, então comecei a vasculhar o salão com os olhos e os passos até que cheguei a uma enorme escadaria que dava para o salão do andar de cima, que não estava sendo usado no momento.

Encontrei uma figura pequena e vestida de um blazer muito luxuoso e de muito bom gosto para ter sido comprado por qualquer um. O pequeno estava com os cotovelos apoiando sobre as pernas e a face apoiada sobre as mãos. Do meio da escadaria, ele observava atentamente ao chão e nem se moveu ao ouvir os sons dos meus passos se aproximarem.

– O que aconteceu Pedro? – perguntei me sentando ao lado dele nos degraus.

– Kyu – disse o menor em tom baixo sem tirar os olhos do chão – O que você sabe sobre a vida do Simão?

– Simão? - perguntei confuso, mas logo liguei ao meu padrinho e soltei um sorriso torto – Sei muitas coisas, entre elas que ele é um homem muito bondoso, entusiasmado e paciente. Tê-lo como padrinho e tutor foi uma das melhores coisas que já me aconteceu – falei com um brilho incomum nos olhos. Realmente eu tinha muito que agradecer ao tio Siwon por sua paciência e dedicação ao me ajudar a desenvolver meus poderes e por ser tão bom comigo. Para mim ele era um verdadeiro padrinho.

Pedro soltou um longo suspiro sem se mover. Seria muito bom saber o que se passava em sua mente, mas ele não demonstrava nada, além de seu aparente abatimento.

– Kyu – falou ele novamente com sua voz baixa e fina como de qualquer criança antes de entrar na puberdade – Você acha que o Simão já foi casado alguma vez? - perguntou ele da forma mais inocente e angelical do mundo, passando seus doces olhos suavemente por minha face. Ele implorava por uma resposta, o que me fez franzir o cenho desconfiado.

– Acho que não – respondi um tanto indiferente, mas fiz questão de completar, já que minha curiosidade havia sido aguçada por aquele pequeno de franja super arrumada - Por que Pedro? Você os ouviu comentarem sobre isso?

– Não... - respondeu ele voltando os olhos abatidos para o chão, mas para mim aquela resposta não era o suficiente.

– Eu sei que o tio Jung-su teve um relacionamento recente com a jovem da foto que você encontrou, lembra? Há alguns anos atrás para ser mais específico, mas pelo o que eu ouvi falar por parte do meu pai, a jovem o traiu e ele nunca mais mencionou seu nome, então não tem como saber se o tio Siwon teve ou não um relacionamento sério, ainda mais lembrando que eles são imortais e geralmente essas pessoas vão deixando seus entes queridos pelo caminho... - ainda havia mais coisas para serem ditas, mas me interrompi ao lembrar que Pedro, embora pequeno e ainda com sua aparência ligada inteiramente a sua idade, ele era um imortal como aqueles outros quatro e havia perdido a mãe há pouco tempo.

Os músculos do mais novo tencionaram-se e ele ergueu a cabeça fitando em frente. Engoli em seco sem ter uma reação diante daquilo, ainda mais ao me lembrar de quão terrível o Pedro era quando ele queria. Seus olhos ainda ficaram congelados por alguns segundos até que ele voltasse sua face para mim, me encarando completamente sério.

– Você é tão inútil Kyu – soltou ele me surpreendendo. Eu nunca havia o visto sendo tão grosseiro e arrogante – Até eu que estou com aqueles quatro a menos de um mês sei que o Simão já foi casado e provavelmente matou sua esposa, mas você não pode comentar nada com ele e nem com ninguém. Ainda não tenho certeza disso, mas se o Simão for mesmo um assassino, eu não quero ser o próximo de sua lista.

– Você está falando sério? - perguntei um tom mais alto, sendo rapidamente repreendido pelo mais novo.

– É óbvio que estou, e pense bem, para o Simão matar alguém não é esforço nenhum com aquela super força dele.

– Super força e controle da terra... Ele poderia muito bem ter a matado e a enterrado – disse passando os olhos pela escadaria impressionado. Aquilo não era o tipo de coisa que eu costumava pensar do meu padrinho, mas eles eram tão misteriosos e mal-humorados que às vezes eu desconfiava que aqueles quatro, o que inclui o tio YoungWoon, possuíssem um passado bem sombrio.

A partir daquele momento eu e Pedro nos tornamos cúmplices dispostos a descobrir a verdade sobre aquele quarteto excêntrico. Se eles escondiam algo, nos descobriríamos de uma forma ou de outra. Conversamos por mais um longo tempo antes que seguimos de volta para a mesa. Quando chegamos os mais velhos estavam com suas tigelas, então começamos a escolher as nossas, mas tio Heechul nos impediu.

– Esperem – pediu ele calmamente – Son DongWoon esse menor é o meu afilhado Lee Donghae, ele veio de um país exótico da América do Sul e ainda está aprendendo nossos costumes e língua, mas é um garoto muito educado e comportado, não é verdade Donghae? - completou ele lançando um olhar mortal para o mais novo, dizendo indiretamente para ele concordar.

– Exótico? - perguntou ele arqueando sua sobrancelha esquerda com arrogância – Eu vim do Brasil senhor Woon, que de exótico não tem nada. De qualquer forma, é um prazer conhecê-lo – completou o mais novo com um curto sorriso no canto dos lábios esquerdo e fez uma pequena reverência para o amigo do tio Heechul que sorriu se divertindo.

– Senhor Son – corrigiu o homem discretamente – Aqui os sobrenomes costumam vir primeiro, mas fique a vontade para me chamar por Dongwoon hyung – avisou ele um tom mais baixo que o normal, abrindo um sorriso divertido ao mais novo e voltou ao seu tom de fala normal – É raro ver rapazes com tanto orgulho de seu país dessa forma. Realmente fico maravilhado em estar na presença de um – respondeu o homem fazendo um curto sorriso se abrir nos lábios de Pedro.

– Vamos jantar? - chamei ao novo que assentiu com a cabeça e se esticou para pegar uma tigela de arroz.

Em momento algum havíamos nos lembrado do líder e do meu padrinho, mas quando sentamos, percebemos que eles estavam ali comendo sua refeição. Como Pedro estava com medo de Siwon, fiquei sentado entre eles e o menor ocupou o lugar ao lado do amigo do tio Heechul.

– Então o senhor é sócio da empresa do Heechul hyung? - perguntou o mais novo para o seu acompanhante super paciente que o tempo todo estava lhe ajudando a comer com o hashi. DongWoon assentiu levemente com a cabeça – Isso parece legal, ser rico – soltou ele arrancando uma risada abafado do hyung – Mas espera, o Heechul hyung ser rico é uma coisa, mas o senhor... Como consegue ser tão jovem e tão bem sucedido? - ele perguntou fitando curiosamente a face do outro que abriu um sorriso torto.

– Mas não é assim tão fácil, você precisa estudar bastante se quiser ser reconhecido quando crescer, também precisa buscar fazer algo que goste e jamais desistir de seu sonho, porque uma coisa eu posso lhe garantir, a caminhada nem sempre é fácil, mas a recompensa é sempre a melhor para quem se esforça e continua sempre em frente apesar dos desafios.

– O Dongwoon está certo, então, por favor Pedro, não seja um inútil como o Youngwoon – disse o tio Heechul revirando os olhos com desprezo. Realmente tio Youngwoon não possuía um emprego fixo e seu desaparecimento durante o jantar, apenas reforçava a tese do hyung sobre o quão inútil ele era, mas pelo seu tom, eu conseguia sentir que ele estava irritado. Sutilmente no fundo do seu tom, eu conseguia sentir a irritação e pela careta que tio Jung-su fez, tive certeza que sim, ele estava irritado.

Antes mesmo que a sobremesa fosse servida, começou a tocar música eletrônica alta nas caixas de som e observei quando a irmã de Sungmin passou próxima a minha mesa. Ela nem sequer me notou, mas fui capturado pela sua beleza sendo impossível desviar os olhos. Tio Siwon que permanecia ao meu lado cruzou os braços sobre o tórax, se acomodando melhor na cadeira e a observou também, enquanto ela deslizava como um anjo intocável pelo salão.

– Até que ela é bonitinha – soltou ele em tom de brincadeira me assustando.

Desconversei no mesmo instante, dizendo que estava olhando em outra direção, mas tio Siwon era chato e insistente, então não tive como continuar negando.

– Ela é tão bonita de frente como é de costas? - perguntou o maior cheio de indecência. Não acreditei que eu estava tendo aquela conversa com meu padrinho, mas agora que eu havia confessado tê-la visto em um lugar recluso, não tinha como continuar desconversando.

– Ela é linda – respondi em meio a um sorriso bobo.

Tio Siwon riu alto e começou a repetir um mantra silencioso pedindo que ela olhasse para trás, mas ao invés disso, ela entrou no banheiro feminino. Ele soltou um comentário decepcionado, mas logo a esqueceu, puxando um assunto qualquer com o líder, mas eu fiquei a esperando. Além de mim, a outra pessoa que estava desligada da mesa era tio Heechul, pois Pedro com seu dom de atrair a atenção das pessoas, estava a horas conversando com o amigo do hyung e ele mesmo havia ficado bufando sozinho, provavelmente se praguejando por ter permitido que o tio Youngwoon fosse àquele evento.

Não demorou para que Yuri saísse do banheiro mais radiante do que nunca. Ela estava sorrindo, um sorriso tímido e doce que realçava e muito sua beleza natural. Cutuquei tio Siwon rapidamente e sussurrei para ele que ela havia saído do banheiro. Abrindo um sorriso, ele a buscou com os olhos, mas quando seus olhos pousaram em sua face, seu sorriso foi lentamente morrendo.

– Tem certeza que é aquela jovem? - perguntou o maior franzindo o cenho.

– Sim – respondi um pouco desconfiado.

– Leeteuk, me aponte os incomuns aqui presentes – pediu o maior em um sussurro controlado, mas pela sua expressão, ele não estava assim tão controlado por dentro.

– O que? - perguntou o líder igualmente em um sussurro tentando não chamar a atenção do resto das pessoas na mesa, principalmente de Dongwoon, que devia ser um comum como a maioria das pessoas presentes.

– Quantos incomuns estão aqui? - perguntou ele cerrando os punhos com força e desviando os olhos sutilmente para todos os lados como se dissesse “podemos estar cercados”, pelo menos foi isso que eu entendi.

A respiração de tio Jung-su levemente descompassou enquanto ele olhava em volta preocupado, mas rapidamente ele a tornou normal, voltando a sua plena calma que lhe era tão peculiar. Pendendo a cabeça sutilmente para baixo, ele levou a mão direita à face e roçou levemente o nariz, apenas como disfarce, e parou com o indicador esfregando a testa. Ele inspirou o ar com mais força enquanto trabalhava em descobrir quantos incomuns havia ali. A tensão paralisou com meus movimentos e quando ele finalmente voltou a sua postura, eu estava à beira de um ataque de nervos.

– Quatro contando com o Kyuhyun – anunciou ele baixo e tranquilo.

– Hum... Não é nada preocupante – retrucou tio Siwon dando de ombros.

– Mas espera, onde está o tio YoungWoon? - perguntei inocentemente, fazendo os dois mais velhos pousarem seus olhos em minha face.

Da forma mais educada possível, deixamos a mesa a procura do tio YoungWoon. Ele poderia estar em perigo, ainda mais com tio Siwon afirmando que a Yuri havia atacado o tio YoungWoon no instituto onde eles haviam ido, mas embora eu o procurasse, havia algo martelando em minha cabeça, se Yuri era uma incomum, quais eram as chances de seu irmão Sungmin ser um jovem excepcional como nós? Talvez tio Siwon tivesse se enganado de jovem, eu esperava que sim, mas ainda assim, havia três incomuns de identidades desconhecidas andando pelo salão, eles podiam ser qualquer um. Minha cabeça estava totalmente confusa quando vi um bêbado choramingando para uma cadeira vazia e o arranjo de flores em cima da mesa.

– Tio Youngwoon! - exclamei correndo em sua direção – O que aconteceu?

– Silon? - perguntou ele sua voz embargada e espreitando os olhos para mim em uma tentativa vaga de me reconhecer. Franzi o cenho confuso, mas vendo a semelhança do nome com o do meu padrinho, abri um sorriso torto.

– Não tio YoungWoon, é o Kyuhyun – corrigi sentando-me na cadeira com a qual até a pouco ele conversava, mas fui repreendido, novamente.

– Sai de cima do meu amigo – esbravejou ele fazendo-me pular da cadeira – Você tá bem amigo? - perguntou ele acariciando ridiculamente o ar e completou em fitando com os olhos semicerrados – Tio KangTin – corrigiu ele quase caindo da cadeira.

KangTin? Perguntei em um pensamento alto. Se tio Heechul o visse daquela forma...


***


– Que vergonha! - falou tio Heechul batendo a palma da mão esquerda dramaticamente na testa enquanto a mão direita ia na cintura. Ele estava se controlando para não dar escândalo. Tio Youngwoon ergueu a mão esquerda e acenou para tio Heechul sorridente, fazendo-o ter mais vontade de enforcá-lo – Leve-o imediatamente para sua casa! - ordenou tio Heechul ao líder que estava igualmente sem reação diante do estado deplorável no qual tio YoungWoon se encontrava depois de ter sido renegado por uma jovem - Se ele pelo menos fosse morrer um dia... - completou tio Heechul em um comentário baixo cheio de desprezo.

– Vou buscar o Pedro – avisou tio Jung-su passando os olhos por tio Siwon que fazia companhia ao tio alcoolizado.

– Não, não precisa, hoje ele dorme no meu apartamento, e também não precisa se preocupar com essa coisa que eu o levo para sua casa – não acreditei quando vi tio Heechul balançar a cabeça levemente em minha direção deixando bem claro que eu era a coisa que ele levaria para casa.

Pensei em protestar e tio Jung-su também, mas no fim obedecemos ao tio Heechul. Pedro estava sonolento depois de tanta conversa, tio Siwon pensativo e tio Heechul irritado, então tudo o que houve no carro até minha casa, foi o silêncio.

– Boa noite tios – desejei aos dois mais velhos que ainda estavam acordados e acenei para Pedro que dormia como um anjinho no banco de trás. Tio Siwon me lançou um fraco sorriso e antes que eu chegasse a porta da minha casa, tio Heechul já saia acelerado pelas vielas do meu bairro.

P.O.V – KyuHyun off


P.O.V – HeeChul on

Depois que deixei Siwon dongsaeng em sua casa, segui em alta velocidade para a minha. O pequeno estava dormindo tão calmo, que ele não se importaria com a velocidade, pensei comigo mesmo. Como nossas residências não ficavam muito distantes, não demorou para que eu chegasse ao meu imponente apartamento.

Acionei o botão para a abertura do portão elétrico e entrei lançando um curto e forçado sorriso ao porteiro, mesmo em momentos como aquele, a imagem ainda era o mais importante, sendo inevitável não sorrir. Estacionei meu carro na vaga a mim destinada e observei Donghae com o canto dos olhos. Seria um bom momento para ele acordar, mas ele nem se moveu.

Embora um pouco relutante, abri a porta onde o menor estava e o peguei nos braços. Naquele momento eu entendia o porquê de ser sempre Siwon a carregá-lo. Ele apenas parecia magro, mas precisei de uma ajuda da minha telecinese para carregá-lo até o elevador. Infelizmente eu não podia carregá-lo apenas desse modo, por causa das milhares câmeras de segurança, então ele ia meio caindo dos meus braços, mas eu tentava de todas as formas deixá-lo confortável.

Enquanto subíamos para o meu apartamento, notei que sua pele estava bem fria e sua respiração uniforme. Ele estava tão tranquilo e relaxado, que fazia meu coração ficar leve, mas ainda sim, eu estava irritado com o estúpido do YoungWoon. Aquele estorvo que havia entrado no grupo apenas para atrapalhar. Se ele não fosse um diferente com poderes incríveis e o Jung-su não tivesse tanto apego a ele, eu o tiraria do grupo novamente, mas eu sabia que cedo ou tarde ele voltaria, eu sabia, mas não me conformava.

Com um pouco de dificuldade entrei em meu enorme, silencioso e escuro apartamento. Um apartamento com quatro quartos e mais o quarto da empregada que eu não tinha. Um exagero de quartos, mas eu tinha o meu propósito ao comprá-lo. Mesmo não sendo mais vigiado por câmeras, continuei a carregar o menor pelo local até que o repousasse em sua cama. Sua pele fria me trazia uma sensação de conforto estranha, mas boa. Antes de cobri-lo, tirei seu blazer para que ele ficasse mais confortável e só então o cobri até o peitoral com um edredom azul e lhe dei um suave beijo na testa.

– Durma com os anjos Donghae – sussurrei acariciando seus cabelos escuros e verifiquei se a varanda estava bem trancada. Apenas após isso, caminhei em direção a porta e a fechei com todo o cuidado para que ele não acordasse.

Finalmente sozinho, cruzei os dedos da mão e levei acima da cabeça me espreguiçando. Em partes o jantar beneficente havia sido proveitoso, mas em outras eu estava cansado e zangado. Esquecendo-me momentaneamente de todo o ocorrido, abri minha porta com a força unicamente do pensamento e atravessei o corredor de guarda-roupas que havia na entrada do meu quarto. Comecei a desabotoar minha camiseta social branca e me joguei em minha macia cama. Com metade do meu peitoral nu, eu consegui sentir o frio que fazia durante a madrugada, então me apressei em me arrumar para dormir.

O sono parecia tão palpável quando comecei a me despir, mas deitado em minha enorme cama ele parecia tão longe. Tudo tão grande, silencioso e solitário. Eu precisava urgentemente de pessoas, de uma ocupação, aquele silêncio aterrador perturbava aos meus ouvidos, mas aos poucos fui abstraindo do ambiente, e sem perceber, eu estava dormindo.


***

Algumas imagens se formavam nebulosas em minha mente quando escutei um grito agudo ecoar pelo cômodo, mas não era um grito qualquer, era um chamamento.

– Paaaark! - escutei a voz de Donghae gritar a plenos pulmões.

Joguei a coberta de lado no mesmo instante e peguei meu longo robe de flanela branco que estava pendurado na porta do guarda-roupa e sai correndo desesperado.

Cheguei ao seu quarto amarrando meu robe de qualquer jeito e acendi a luz, sendo cegado pela forte e repentina iluminação. Donghae que estava sentado em sua cama, também fechou os olhos pendendo a cabeça para baixo. Esfregando meus olhos, dei lentos passos a frente até sua cama e sentei ao seu lado tocando levemente suas costas. Pisquei os olhos diversas vezes, enquanto buscava as palavras certas.

– Você está bem Donghae? - perguntei franzindo o cenho preocupado.

– Eu quero o líder – respondeu ele com a voz manhosa, abraçando ainda mais as suas pernas.

– Ei, eu estou aqui com você tudo bem? Eu não vou deixar que nada lhe aconteça, mas me diga, o que aconteceu?

– Eu estou com medo – respondeu ele com a voz embargada.

Senti meu coração partir em pedaço quando notei que lágrimas mimosas rolavam por sua face pálida. O tempo todo ele chorava baixinho e eu não havia percebido. Instintivamente o envolvi em meus braços. O menor tremia de forma involuntária e seu corpo estava tomado por um frio sobrenatural, pensei até em recuar quando o toquei, por causa do choque térmico, já que meu corpo estava quente e o dele completamente frio, mas me mantive forte com os braços em volta de seu pequeno corpo e sussurrei em seu ouvido que ficaria tudo bem.

Demorou um bom tempo para que ele parecesse de tremer e chorar, na verdade o único motivo para ele se acalmar, foi que ele adormeceu. Sentido pena daquele ser tão pequeno e frágil, fiquei acariciando sua face e cabelos de forma protetora por um longo tempo, até que minhas pálpebras pesassem e eu fosse obrigado a voltar para o meu quarto.


***


Acordei com os primeiros raios de sol invadindo meu quarto. Tendo dormido tão pouco, me espreguicei ainda deitado sem ter coragem para levantar, mas me lembrando do pequeno que dormia no quarto de frente com o meu, levei as mãos a face, soltando um longo bocejo. Após minha higiene matinal, passei no quarto de Donghae para saber como ele estava. O menor dormia tranquilamente em sua cama e quando toquei sua fofa bochecha com os dedos da mão direita, pude sentir que a temperatura de seu corpo havia normalizado. O frio da madrugada havia cedido o lugar ao confortável calor da manhã e até por isso, após meu banho rápido, vesti uma camiseta rosa bebê estampada e uma calça azul marinho. Tendo certeza que estava tudo bem com o menor, segui para a cozinha para lhe preparar o café da manhã.

Eu terminava de arrumar uma mesa farta para o Donghae, quando ele apareceu na porta. Fizemos uma refeição calma, falando principalmente do jantar beneficente. Eu nunca havia visto o Donghae tão entusiasmado daquela forma. Ele estava bem-humorado e me perguntou diversas vezes quando eu voltaria encontrar DongWoon. Parece que eles haviam combinado de jogar vídeo game, algo assim. DongWoon não era um exemplo de adulto, se bem que com seus vinte anos e muito dinheiro a disposição para gastar, meu sócio tinha mesmo era que se divertir, nem que fosse jogando vídeo game com meu afilhado, mas havia algo em minha cabeça que eu evitava falar, mas queria entrar em tal assunto. Eu queria saber de seu pesadelo, que ele provavelmente havia tido, mas o menor agia de forma tão natural e animada, que preferi ficar na curiosidade. Jung-su hyung ligou pouco depois querendo saber como o Donghae estava e até deu a idéia de ele com o YoungWoon irem almoçar no meu apartamento, mas recusei. Eu não queria o ver o YoungWoon tão cedo, infelizmente o líder me fez prometer que eu levaria a mais novo para sua casa depois do almoço, então depois que almoçamos em um luxuoso restaurante no centro de Seoul, não tive escolha, a não ser levá-lo para a reclusa casa do líder.


***


Que sábado tedioso, pensei enquanto dirigia pela autoestrada na companhia de Donghae e Kyuhyun. O segundo eu estava levando junto por pura bondade, mas o primeiro tinha três habilidades para treinar. Assim que estacionei no grama, sob a sombra de uma alta árvore, os dois mais novos saíram do carro correndo, queriam ver qual dos dois chegaria ao sobrado primeiro, coisa de criança. Soltando o ar lentamente pela boca, formando um bico com meus belos lábios, caminhei receoso até o sobrado. Eu não queria ficar e até havia arrumado uma desculpa para tal, mas eu sentia necessidade de falar com o líder.

– Resolveu ficar Heechul? – perguntou Jung-su saindo na porta, enquanto eu subia vagarosamente os degraus da varanda.

– Hoje acordei no meio da madrugada com o Donghae gritando por seu nome – falei indo direto ao ponto - Ele não me disse o porquê, mas acho que ele estava tendo um pesadelo – finalmente eu parei defronte com o líder afundando minhas mãos no bolso da minha calça azul marinho com arrogância.

– Ele sempre tem pesadelos – respondeu o hyung dando de ombros.

– E isso não lhe soa familiar? - perguntei por impulso franzindo o cenho incomodado. Realmente uma pessoa ter pesadelos repetidos em nosso mundo, não era algo normal.

Jung-su hyung que mal prestava atenção em minha figura diante de si, moveu seus olhos bem devagar os pousando em minha face atônito.

– Você acha que a Taeyeon...? - gaguejou ele sem conseguir completar sua linha de pensamento. Não era para menos tal reação.

– Seria a explicação mais palpável... – dessa vez eu que dava de ombros. Se pelo menos soubéssemos o paradeiro da jovem, poderíamos colocar a culpa nela, mas ela poderia estar em tantos lugares diferentes, assim como estar morta. Era apenas uma questão de sorte. Cocei meu queixo momentaneamente e voltei a fitar a face homogênea do hyung – Onde será que ela está atualmente?

– Na cidade... – respondeu ele cerrando o punho com força – E eu vou atrás dela – completou ele respirando pesadamente.

P.O.V – HeeChul off