Abri meus olhos para a escuridão.

Eu não sabia aonde estava e tinha plena certeza que não era o quarto que Daniel havia nos proporcionado. Tinha noção do chão úmido embaixo de mim e por mais que tentasse me erguer, meus ossos estavam rígidos demais para se moverem. Mantive a calma e respirei profundamente, não havia correntes me prendendo, não havia dor no corpo a não ser a grande exaustão nos ossos. Não sabia o que havia acontecido, não lembrava de boa parte do dia anterior e não fazia ideia do que estava acontecendo. Lembrava de Maxon, lembrava da nossa conversa e lembrava de Aspen, depois disso minha memória não conseguia recuperar nada.

Respirei fundo mais uma vez e chamei por Maxon, um sussurro apreensivo naquela escuridão que permaneceu em silêncio. Um dois três quarto segundos de tensão e chamei mais uma vez. Eu não poderia está sozinha ali, Daniel não pode ter feito isso comigo, ele não pode ter machucado Maxon depois de decidirmos ficar – e nem eu mesma sabia o porque de ficar.

— Kar. – o sussurro fraco veio ao meu lado, fazendo meu corpo tremer de medo e susto, minha espinha virou gelo por cinco segundos até reconhecer a voz.

— Você está bem? – perguntei mantendo o tom de voz baixo. Maxon gemeu, aquela era a resposta que eu não queria ouvir. – O que aconteceu com a gente? – perguntei mas para mim do que para ele.

O que havia acontecido? Porque estamos aqui? Porque? Eram perguntas sem resposta, era minha mente tentando refazer o dia anterior que me deixou com dor de cabeça.

— Estamos no porão. – Maxon disse. Sua voz era um sussurro com dor e a tentativa falha de mostrar que estava bem. Ele tossiu e voltou ao silêncio.

Mantive a calma jogando o desespero e o medo para longe. Fechei os olhos e tentei – simbolicamente – reorganizar minha força interna, respirei fundo e me foquei em levantar do chão, ajudar Maxon e fazer algo para sair dali. Eu não sabia o que Daniel faria conosco, mas com certeza não era algo que eu queria esperar para descobrir. Ignorei a dor de cabeça e sentei, ignorei a tontura e lentamente fui levantando, eu precisava – realmente – fazer alguma coisa, precisava achar Celeste e precisava contar aos nossos amigos, que provavelmente já notaram nosso sumiço.

— Maxon. – chamei-o novamente, não ouve resposta. – Estou indo até você, meu amor. – falei com calma e ternura, tentando confortá-lo, tentando passar um pouco do que talvez ele precisasse agora.

— Não! – ele exclamou alto demais, fazendo sua voz ecoar pelo lugar mais vezes do que eu precisava ouvir. Meu corpo travou antes do primeiro passo, meu olhos arregalaram em surpresa e eu não sabia o que fazer. – Não se mova. – Maxon disse entre dentes, deixando minhas mãos trêmulas e as lágrimas brotarem em meus olhos.

— M-Mas Max...

— Não Karlla! Só fique ai. – Maxon pediu mantendo o tom de voz firme.

— Nós precisamos sair daqui. – falei angustiada, nervosa e que se dane se as lágrimas estavam fugindo dos meus olhos, que se dane se meu corpo tremia de medo e desespero.

— Nós vamos, mas... – Maxon parou e voltou a tossir, de repente o som de líquido derramando no chão me deixou desesperada. Tentei falar algo, mas fui interrompida com Maxon xingando baixinho.

Nesse instante minha reserva de calma se esvaiu. Era Maxon. Era meu Maxon doente, talvez machucado e que se dane se eu iria morrer, que se dane se ele havia me mandado ficar parada, eu só precisava ajudá-lo. Respirei fundo e não soltei a respiração dando um passo silencioso para frente, segundo passo e eu precisava ter cuidado para não chutar Maxon ou passar por cima dele. Você está indo bem Karlla, disse minha voz interior. Concordei com a cabeça e dei o terceiro passo esbarrando em algo sólido – realmente muito sólido. Parei rígida e nervosa, esperando ouvir algum gemido avisando que eu havia batido em Maxon, mas nada veio.

Por algum motivo – completamente desconhecido – minhas mãos tremeram e minha mente rodava em círculos rápidos demais para que eu conseguisse ficar de pé. Soltei o ar que prendia e mais uma vez chamei por Maxon. Dessa vez sua voz ecoou nervosa aonde nós estávamos, como se tivesse urgência para que eu ficasse parada, para que eu não me movesse um centímetro se quer. Mas já era tarde demais.

— Maxon? – perguntei forçando a ver no escuro total, erguendo minhas mãos para frente tentando encontrar a suposta parede pela qual meus pés bateram. Não havia parede. Minhas mãos suaram, minha espinha gelou. – Maxon? – perguntei nervosa, me ajoelhando no chão úmido procurando o que eu havia batido. Uma mão gelada e dura. Um braço com blusa de mangas. – Eu bati em você? – perguntei tateando o corpo, que não parecia de modo algum, o dele e procurando o rosto, nervosa por não sentir respiração, nervosa pela temperatura em que ele se encontrava.

Um silêncio me deixou desesperada. Achei o ombro, pescoço e finalmente minhas mãos estavam em seu rosto mas porque Maxon não falava? Porque ele não respirava como eu? Apertei as palmas da minha mão em suas bochechas ignorando a terrível dor de cabeça, ignorando o frio na espinha – esquisito – ignorando minhas mãos suadas.

— Maxon, fala comigo! – pedi no limite do desespero, o nó na garganta me sufocava e minhas mãos tremiam ao toque frio.

— Karlla. – ele respondeu deixando meu corpo duro, completamente travado.

Meus olhos estavam arregalados para a escuridão tentando enxergar o rosto que minhas próprias mãos seguravam. O rosto que não se moveu para falar meu nome.

O mundo virou de cabeça para baixo e meus joelhos arderam no chão. Lágrimas brotaram em meus olhos e eu não conseguia me mover. Não conseguia tirar minhas mãos. Não conseguia de todos os modos sair dali. De repente uma porta foi aberta e uma luz foi ligada me fazendo piscar os olhos com a claridade extrema. Daniel apareceu na soleira da porta e me olhou visivelmente em choque. Seus olhos desviaram para outra parte da sala e logo voltaram-se para mim e para minhas mãos. O chão de cilindros estava úmido de água – ou era sangue? As paredes eram feitas de pedra, mas ao contrário da outra sala não havia correntes.

— Vejo que ainda sente saudades da mamãe. – Daniel disse.