A Promessa

Quente Ou Frio?


— Bem, tenho certeza de que não vimos o suficiente. – falei desviando meu olhar a Mylena, que por um segundo me olhou e se virou para Maxon concordando com a cabeça.

— Ficamos tão chocadas que saímos sem checar o quarto. Karlla tem razão. – ela disse.

— Eu vou então. – Maxon disse, me fazendo unir as sobrancelhas em confusão.

— E sua visita? – a pergunta fez com que todos desviassem seus olhares a Maxon.

Ele apertou os olhos para mim e não me importei, que se dane o que ele pensava, se queria aumentar sua lista de mulheres enquanto estamos trabalhando.

Que se dane se era a imagem dele no jogo.

— Karlla.

— Não. Estou falando sério. – interrompi. – Você não pode deixar sua visita e muito menos levá-la com você. Então, eu vou. Mylena vai e... – olhei para Jordan e Aaron tão focados no que faziam e me virei para Louis. – E Louis vai.

— Kriss também recebeu mensagem da tal “A”. – Maxon disse desviando mais uma vez nossos olhares a ele. – Por isso ela veio para cá. - Aaron levantou encarando o irmão com tensão dobrada nos ombros.

— O que? Está falando que a Kristina também recebeu mensagem? – Aaron perguntou chocado demais para acreditar.

— Quando foi isso? – perguntei intrigada demais, desconfiada demais.

— Hoje. – Kriss respondeu aparecendo no corredor, dessa vez com a mesma blusa do pijama e suas calças jeans. – Recebi pouco antes da luta.

— Impossível! – tive que exclamar para dá firmeza em minhas palavras. – Quando chegamos a casa, Tay estava morta.

— Vocês foram antes da luta? – Maxon perguntou erguendo uma sobrancelha, me fazendo encará-lo mais do que o permitido.

Então ele estava a defendendo, era o que eu queria gritar, mas antes de uma cena ridícula que eu poderia fazer apenas concordei com a cabeça e puxei Mylena pela mão.

— Ok. Certo. – falei puxando-a em direção a porta pronta para voltar aquela casa, pronta para descobrir a hora exata da morte e desmarcar essa morena que simplesmente não conseguia me enrolar.

— Kar... – Maxon ergueu a mão para alcançar meu ombro e agradeci ser rápida o bastante para abrir a porta e sair a tempo.

— Lembra quando te falei da garota que me infernizava? – Mylena perguntou quando descíamos as escadas. – Essa é a garota. Essa é a Kriss.

— Mais um motivo para não confiar nela. – falei apressando os passos, puxando Mylena ainda mais.

Chegamos ao estacionamento e corremos em direção ao carro que Julia havia nos emprestado, Mylena entrou no banco do motorista e antes que eu pudesse entrar para o passageiro, Maxon pegou meu braço puxando-me para trás, para ele. “Eu vou com vocês” foi o que disse, tão firme e grosseiro que não encontrei palavras para confrontá-lo. Vi Louis sob seus ombros e balancei a cabeça, dando passagem para ele entrar no carro. Louis entrou no banco de trás e rapidamente fiz o mesmo, longe do Maxon, longe do seu – ridículo – modo de ser.

— Temos que ir rápido. – falei a Mylena, rezando para que ela entenda o aviso por trás da frase, que lembre sobre o professor Will e seu aviso de chamar a polícia.

— Onde as meninas estão, por acaso? – foi o que ela perguntou de volta.

— Jace ainda está jogando. – Maxon respondeu observando o mundo através da janela.

— Ainda não entendi esse plano. – resmunguei afundando no banco.

— É simples amor. – Louis disse. – Camila se acha esperta demais e você sabe bem, ela e Jace estão na casa dos Maddox jogando, tentando adivinhar a próxima fase. Manu, Larissa e Letícia estão tentando juntar as peças com as prováveis pessoas que não gostam de vocês.

— M-Mas ninguém me conhece. Como posso ter inimigos? – perguntei em choque, surpresa por terem pensando em algo tão ridículo.

Mas Louis não parecia convencido com meu argumento, olhou para mim como se implorando para que eu pensasse melhor, para que eu consiga entender.

Mas eu não conseguia.

— Lembra quando Sara Caillat queria sua boneca no segundo ano? – ele perguntou me fazendo enrijecer, lembrar do passado nesse momento não era o que eu planejava. Não tinha certeza se era forte o bastante para aguentar. Louis suspirou e continuou. – Lembra que você não a emprestou porque era uma garota birrenta e chata, que só emprestava seus brinquedos para quem gostava e Sara ficou com tamanha raiva que infernizou sua vida durante uma semana, lembra disso?

— Sim. Mas...

— Quero dizer, você tinha um poder de conhecer as pessoas logo de cara. Você ainda deve tê-lo. E sei que usou em mim e mesmo assim o ignorou, mas isso não vem ao caso. O fato é que pode existir alguém que não goste de você...

— Por eu não ter emprestado uma boneca? – brinquei fazendo-o sorrir.

Era um péssimo momento, mas eu não poderia evitar.

— Pode não ser uma boneca. É só você pensar melhor.

— Chegamos. – Maxon disse sem se importar em interromper, sem esperar que Louis terminasse de falar.

Mylena estacionou o carro no outro lado da rua e não havia qualquer indício de polícia ou ambulância na rua, estava exatamente como quando saímos. Maxon não esperou convite formal e entrou no breu que era o interior daquele lugar. Mais uma vez, Mylena e eu tiramos nossos celulares e mostramos a sala onde havia pegado as fotos e os documentos, estava inalterada. Tinha certeza que a primeira coisa que Louis viu fora o computador e antes mesmo dele se aproximar o bastante para ligá-lo, antes que pudesse mostrar a imagem que eu havia visto antes, avisei que estava desligado e que Tay estava no andar de cima. No mesmo instante Maxon passou por mim subindo as escadas, sem luz, provavelmente sem atenção ao olhar cada degrau e com certeza capaz de fazer alguma loucura. Mylena o seguiu mostrando o caminho e antes que Louis pudesse analisar o computador mais de perto, puxei pelo braço até o segundo andar.

A porta do quarto onde Tay estava continuava aberta, seu corpo estava caído no chão sob a cadeira e a corda rasgada ao meio. Mylena e eu nos entreolhamos sabendo bem que não havíamos visto aquilo, desconfiando se alguém havia entrado depois de nós.

— O que estamos procurando? – Louis perguntou observando o móvel empoeirado no canto do quarto.

— Não parece suicídio. – Mylena disse encarando o corpo acinzentado e duro tão fixamente que um arrepiou passou pela minha espinha.

Virei de costas balançando a cabeça dissipando qualquer pensamento triste e vi o olhar de Maxon para mim.

Não.

Eu era forte o bastante para aquilo.

— Procurem algum celular. – falei. – Talvez tenha algum celular aqui que nos dê certeza.

Um bipe e meu coração parou por cinco segundos.

Meu celular vibrou avisando uma mensagem nova e eu não sabia o que era respirar.

Olhei o corpo imóvel da garota no chão e voltei ao celular fechando os olhos antes de abrir a mensagem.

“Quente ou frio? Eu diria que estão muito frio. – A.”

— Aqui é a polícia! Estamos cercando o perímetro. Saiam com as mãos na cabeça. – a voz eletrônica ecoou por toda casa.

“Ops. Acho que a polícia chegou cedo demais.- A.”

Não tive tempo para pensar, de piscar os olhos porque Maxon já estava puxando meu braço em direção ao corredor, me fazendo tropeçar em algo duro e pesado. Louis já estava no começo das escadas puxando Mylena com uma mão. “Espere” me ouvi dizer e não fazia ideia de como as palavras chegaram até meus lábios, senti meu braço puxar a mão de Maxon para que voltássemos, ignorando suas objeções, ignorando ele me chamar de idiota.

— Espere! Um minuto. – falei ao me libertar, voltando ao quarto encontrando uma caixa de prata que reluzia a luz vermelho e azul que piscava do lado de fora da casa.

— Não seja idiota! – Maxon resmungou voltando para me buscar.

Peguei a caixa e abracei no peito deixando que ele pegasse meu pulso livre e me puxasse até as escadas. Eu não via Louis ou Mylena, ouvia as sirenes dos carros da polícia e não sabia onde tudo iria terminar, provavelmente na cadeia se não conseguirmos sair a tempo. Maxon bufou olhando para mim por um instante e deu um passo para o degrau da escada, talvez pela movimentação ou talvez pela diferença de peso a escada desabou começando pelo primeiro degrau dando tempo suficiente para cambalearmos para trás. Mantive o choque e o medo encarando a nossa única forma de sair dali.

Estava acabado.

Game over para nós.

— Oh caramba! – Maxon disse ao meu lado, me puxando como uma boneca de pano, pelo corredor entrando na primeira porta que vimos.

Era mais um quarto, este com todos os móveis e panos branco que os cobriam e protegiam da poeira que estava em todos os lugares. Maxon correu até a janela forçando-a a abri-la, colocando toda sua força nos braços enquanto empurrava o vidro emperrado para cima. “Você só pode está brincando” foi o que falei ao perceber o plano dele. “É o único jeito” foi sua resposta.

Maxon se afastou da janela sem desviar o olhar dela, respirou fundo e esmurrou o vidro sem se importar com sua mão nua, sem se importar com os cacos no chão ou provavelmente no barulho que havia causado. “Vamos!” Maxon gritou a mim, erguendo uma mão firme em minha direção me deixando apreensiva se era realmente um bom plano. “Não sei se vou conseguir” foi o que falei. “Eu sei que você consegue” disse a mim passando toda a confiança em suas palavras, passando sua força em minha direção e eu concordei com a cabeça.

Maxon pulou para o quintal da casa e ergueu os braços para me segurar, sentei no parapeito da janela e respirei fundo, aquele era mais um teste de força que eu precisava mostrar a ele que conseguiria. Pulei pressionando os lábios evitando o grito, caindo nos braços fortes de Maxon, fazendo-o desequilibrar e cair para trás sobre a grama. A casa pareceu ter percebido nossa fuga e como se só estivesse esperando por isso, pôs-se a desabar levantando uma densa e grande nuvem de poeira, fazendo os vidros das janelas estilhaçarem em mil pedaços sobre nós. Maxon nos rolou na grama ficando em cima de mim, protegendo perfeitamente de qualquer coisa que caía sobre nós. Seu peito chegava a esmagar meu rosto contra a grama em cada inspiração, seus braços estavam firmes em meu lado facilitando que ele levantasse tão rápido e me puxasse pelo braço até estarmos correndo.

Louis e Mylena estavam no carro quando chegamos ofegantes, cansados e – quase – mortos. Maxon abriu a porta do passageiro e entramos em um pulo, Louis acelerou saindo no mesmo instante. Estávamos voltando para o apartamento e não falávamos nada, mas arriscaria pensar que Mylena estava com medo do que poderia ter acontecido. Tinha certeza em dizer que Maxon estava tenso ao meu lado e Louis irritado. Meus braços não afrouxavam o aperto na caixa e era quase um alívio que ninguém tenha percebido ela.