Mais um dia em Boston. Mais um começo de semestre e mais uma semana no apartamento onde eu dividia com meu irmão mais velho. Estávamos a pouco menos de cinco quilômetros do campus e livres de qualquer regra do alojamento ou da fraternidade em que fazíamos parte.

A sala estava completamente iluminada e por um infeliz acaso eu havia me esquecido de fechar as cortinas das janelas. Droga! Sentei no sofá alongando os braços e pescoço, estava quase levantando quando um braço caiu em meu colo. Abri os olhos realmente assustado, tinha esquecido completamente que Celeste estava ali. Tirei seu braço gentilmente do meu colo e sai me arrastando pelo corredor até o banheiro.

Eu não tinha a mínima pressa de sair da água quente que me relaxava até a porta bater freneticamente.

— O que é? – gritei.

— Qual é Max. Tem gente na fila. – Aaron gritou do outro lado da porta.

Suspirei e dei o último mergulho, peguei uma toalha e a amarrei sobre a cintura antes de sair do banheiro dando de cara com três rostos angustiados fazendo fila atrás da porta. Aaron, meu irmão mais velho, deu passagem para sua acompanhante entrar e sorriu fechando a porta atrás dela voltando a me encarar sério.

— É bom lembrar que você não é o único na casa, Maxon! – dei de ombros ignorando-o, me virei para a morena de cabelos assanhados e boca manchada de batom vermelho.

— Acho melhor você ir, Celeste.

— Preciso de um minuto antes de sair. – respondeu encarando as longas unhas vermelhas. Concordei com a cabeça entrando em meu quarto.

Celeste era uma das poucas mulheres fixas da minha lista, talvez a única. Ela era realmente atraente com seios fartos, cabelos longos e a única que não ficava louca quando era ignorada. Para ela não fazia grande diferença já que ela estava ali para se divertir tanto quanto eu.

Puxei o jeans da gaveta no armário, blusa, casaco e tênis. Estava pronto. Peguei o celular, a carteira, as chaves, um pacote de preservativo que segundo Travis, meu outro irmão mais velho, era melhor prever do que remediar e puxei minha mochila ao lado da porta antes de sair do quarto. A casa estava em um silêncio acolhedor, daqueles em que fui obrigado a me acostumar depois que sai da casa do meu pai. Aaron estava na cozinha virando uma dose de vodka antes da primeira aula.

Era sempre assim nas primeiras semanas.

A cidade estava com aquele ar pós-verão e as pessoas voltavam ao trabalho depois do último final de semana de férias. O campus estava abarrotado de alunos, calouros e veteranos, líderes de torcida, time de futebol, de basquete, grupo de xadrez e as “mulheres particularmente superiores a nós”. Esse era o termo que Aaron usou quando levou uma delas para casa e depois do sexo, um coração partido e lágrimas, a louca gritou que era superior a nós. Naquele dia Aaron deu de ombros e a deixou ir embora, era o mínimo que ele poderia fazer.

A primeira aula passou como um piscar de olhos, a professora Ogawa não era lá uma das melhores e suas aulas eram sempre um tédio, mesmo que as primeiras aulas fossem apenas para discutir o plano de ensino do novo semestre. As outras duas aulas foram tão rápidas quanto a primeira e assim que o professor nos liberou, corri para o refeitório ansioso para ver Aaron me esperando para a grande entrada dos irmãos Maddox.

Era idiota, mas eu gostava da atenção.

Ao invés do meu irmão mais velho, quem me esperava era Dylan, um dos meus irmãos de fraternidade.

— Cadê o Aaron? – perguntei franzindo a testa. Dylan pôs as mãos nos bolso e até quem não o conhecia sabia que ele estava nervoso.

— Ele pediu para te avisar. – respondeu revirando os olhos. – Aaron voltou mais idiota do que nunca dessas férias, hein?

— E qual a novidade? Todo mundo já se acostumou mesmo. – Dylan deu de ombros e respirou fundo.

— Ele está no Morgan Hall. – meus olhos arregalaram em completa surpresa.

— O que ele está fazendo no dormitório feminino?

— Não é no dormitório. Mas está lá tentando mostrar o quanto é forte e idiota às calouras. – relaxei os ombros sabendo onde a conversa iria chegar.

— Com quem? – perguntei inspirando profundamente. Dylan olhou para o chão, para as pessoas que passavam ao nosso lado e voltou a me encarar.

— Só não pire, ele pediu para te avisar e não para te fazer ir ajudá-lo. – revirei os olhos acenando para que ele fosse direto ao ponto. – Está com Adam.

— Adam Kent? – perguntei ao lembrar a grande e terrível rixa que os dois tinham um com o outro.

Adam e Aaron eram – como gostavam de dizer – arqui-inimigos e por conhecer meu irmão como eu conhecia, um teria de morrer para acabar com a briga. Dylan concordou com a cabeça e sem mais uma palavra corri até o Morgan Hall. De longe já se via o aglomerado de pessoas observando atentas, umas em choque outras animadas com o que acontecia entre eles.

Quando alguns dos alunos veteranos me viram se aproximar deram passagem esperando que eu entrasse no meio e impedisse de alguém bater no meu irmão, mas Aaron era forte, alto e tanto mais rápido quanto mais musculoso do que eu. Isso não me intimava, mas aos outros era desconfortante entrar em uma briga conosco.

Meu irmão estava sob Kent no chão, esmurrando-o repetidamente. Eu suspeitava que enquanto Aaron ouvisse os suspiros das mulheres, não iria parar. Kent por outro lado, protegia o rosto com os braços, era sua única tentativa de proteção.

Cheguei perto do círculo e cruzei os braços esperando que Aaron me notasse, parte de mim estava animado esperando que Kent recebesse uma lição e deixasse de azucrinar meu irmão, mas a outra parte queria separá-los, Aaron expulso na primeira semana de aula era a única coisa que precisávamos evitar.

— Já chega irmão. – falei colocando um lado da mochila no ombro. As pessoas olharam para mim e voltaram para meu irmão que não pareceu me ouvir. Dei um passo para eles e Aaron parou erguendo as mãos, respirou fundo e levantou limpando as mãos sujas de sangue no jeans.

— Tudo bem. – ele disse ajeitando o cabelo. – Estou extremamente bem agora. – falou sorrindo para as calouras que estavam por perto.

— Que porra é essa? – alguém exclamou atrás de nós fazendo com que todos se virassem.

Pelo tom e a acidez da voz, eu sabia muito bem quem era. Sebastian, o primeiro da lista de irmãos mais velhos. Olhei de relance para Aaron e vi que ele fez o mesmo, voltando a encará-lo. As pessoas ao nosso redor se dissiparam deixando apenas nós três ali.