A Promessa

Nós Sabíamos.


Entrei em uma sala extremamente iluminada com cadeiras que ninguém usava na faculdade, Maxon e Aaron estavam de pé perto da porta e se chocaram ao me ver entrar, Louis estava sentado em uma das cadeiras com o notebook frente a ele. “Mas que inferno, Karlla!” ouvi Aaron gritar furioso, eu o ignorei.

Encarei Maxon o quanto podia, procurando um simples arranhão que me fizesse chorar e implorar para que não fosse a luta, mas ele estava intocado, mais lindo que o normal com um boné preto em sua cabeça, sem blusa, calças jeans caídas na cintura e tênis. Seu peito brilhava com suor e ele respirava com dificuldade apertando as mãos em punho ao lado do corpo. Ouvi Louis pigarrear algo mas o ignorei, ninguém – ou nada – iria desviar minha atenção.

— O que você está fazendo? – perguntei fechando a porta atrás de mim, encarando-o nos olhos e ignorando os outros na sala. – Você não vai lutar, Maxon.

— Essa não é escolha sua Karlla. – ele disse firme, virando o boné de modo que a parte de trás ficasse para frente.

— Eu não vou deixar você se machucar por mim.

Ele suspirou.

— Vai ficar tudo bem, ok? Eu já o venci antes, vou vencer outra vez. – Maxon disse cedendo a minha preocupação, colocando toda a confiança que tinha em sua voz.

— Eu disse que ela não iria aguentar ficar em casa. – Louis falou nos fazendo virar para ele, atraindo meu olhar irritado.

— Apenas cale a boca! – Maxon disse erguendo uma mão a Louis, que deu de ombros e voltou a encarar a tela do notebook.

Ele se virou para mim e colocou as palmas das mãos em meu rosto encarando meus olhos.

— Eu vou ficar bem ok? É só mais uma revanche, só uma fase idiota que eu preciso ganhar.

— O que lutar tem a ver com o jogo demoníaco, Maxon? – perguntei fazendo-o enrijecer, deixando tenso e suas mãos duras em meu rosto.

— Preciso ganhar essa luta para passar de fase.

— O que? – exclamei chocada, incrédula demais. Ele respirou fundo e se inclinou para meu rosto.

— Eu posso te explicar quando acabar? – sussurrou tão perto dos meus lábios, seu halito em meu rosto e eu sabia que ele estava me distraindo, que ele estava fazendo aquilo para que eu cedesse.

Mas eu não iria ceder.

— Não. – exclamei dando um passo para trás. – Eu quero saber de tudo. Estou irritada por não me falarem nada. Estou furiosa por vocês dois – apontei dele para Aaron – saírem e simplesmente não me avisarem ao voltar. Estou louca de raiva por vocês entrarem nesse jogo idiota.

— Karlla, preste atenção. – Maxon disse. – Nós entramos, não tem mais volta e vamos tentar sim acabar com isso. Já chega de mortes. Já chega de perder amigos. Ok? Eu preciso vencer esse cara para passar de fase. É nossa única chance ou você prefere que sentemos e esperamos o próximo morrer?

Ele tinha razão em meio a toda loucura. Eles estavam certos em lutar e eu precisava parar de ser medrosa, precisava ser mais determinada e saber raciocinar assim como eles. Suspirei e encolhi os ombros, derrotada, cansada e preocupada por não saber como tudo irá terminar, sem ter certeza se vamos conseguir, sem ter certeza se alguém ainda irá pagar se houver alguma falha. Aaron saiu da sala e voltou logo depois chamando Maxon, ele me abraçou forte e eu queria poder tirar alguma coragem dele, alguma força que me deixasse mais calma. Ele tirou o boné da cabeça e colocou na minha sorrindo magnificamente antes de sair da sala, me deixando encarar por longos minutos a porta fechada.

— Você gosta mesmo dele, não é? – Louis perguntou me fazendo enrijecer. – Está tudo bem, sabe. Nós sabíamos que não ia dá certo mesmo. – falou encarando a tela do notebook, os ombros encolhidos da forma como eu sabia bem quando ele estava insatisfeito.

— Nós sabíamos que era uma loucura. – falei me virando para ele, decidindo se ficaria em pé ali ou se sentaria ao seu lado.

— Sim. – ele respondeu com um sorriso. – Sempre soubemos que era só amizade.

Decidi a segunda opção.

— O que está fazendo ai? – perguntei ao me sentar, observando a tela cheia de números e nomes completamente estranhos para mim.

— Ah, Jace está jogando agora e estou tentando descobrir a origem do jogo.

— Jace também está jogando? – perguntei chocada.

— Fizemos apenas uma conta com o nome do Jordan, mas todos temos a senha. Assim ficará melhor. – respondeu passando uma mão em seus cabelos, suspirando sem desviar os olhos da tela.

Eu queria perguntar como estava a vida dele, se estava trabalhando ou havia conhecido alguém, se ainda tinha contato com os pais e com os amigos. Queria saber porque mesmo depois de saber sobre mim e Maxon ele ainda ficou, queria saber como ele faz tudo aquilo, qual o seu plano para quando encontrar a pessoa criadora de tudo isso.

Queria perguntar tanta coisa.

— Eu estava pensando – Louis disse me tirando dos pensamentos. – Você me perdoou? – perguntou se virando para me encarar, seus olhos azuis fixos nos meus.

— O que? – foram todas as palavras que consegui achar, ele sorriu.

— Quando as meninas me viram quase me mataram. E eu preciso agradecer ao seu namoradinho por ter me defendido. – disse com um sorriso sem graça. – Camila e Emanuela não falam comigo, por falar nisso e Larissa, antes de saber que eu estava ajudando, quase me bateu. Então, eu achei que você ainda estivesse com raiva ou não sei.

— Eu não me lembro de você ter me pedido perdão. – falei confusa, fazendo-o rir mais amplamente. – Mas eu não tenho mágoa, na verdade eu estou mais atenta a essas coisas agora. Não quero que aconteça outra vez.

— Eu sinto muito. – ele disse visivelmente arrependido. – E estou pedindo perdão agora. Eu gosto muito de você para ficar nesse clima chato.

— Concordo. Mas você precisa parar de me chamar de amor. – Louis riu jogando a cabeça para trás e não evitei sorrir ao ver aquela cena, ele não havia deixado de ser tão lindo.

— Ah amor, velhos costumes nunca acabam. – respondeu sorrindo para mim, desviando para a tela do notebook e ficando sério.

— Algum problema? – perguntei nervosa, tentando decifrar as milhares de palavras e números jogados na tela.

— Achei tivesse visto uma coisa. – respondeu unindo as sobrancelhas para o notebook, balançou a cabeça e endireitou os ombros. – Você disse que recebeu a mesma mensagem que eles?

— Sim eu disse. Porque?

— Rastreei o endereço de onde vieram. – Louis disse orgulhoso de si e minha surpresa foi visível da lua. – Ainda não disse ao seu namoradinho, mas...

— E aonde é? – perguntei curiosa demais para esperar, chocada e ao mesmo tempo curiosa para saber quem estava mandando aquelas mensagens.

— Aqui. – disse ao me entregar um bilhete com um endereço. – Ouvir você dizer que está irritada por não te contarem nada me deixou amolecido. – ele deu de ombros e eu ri, Louis me conhecia o bastante para saber quando algo me deixava irritada.

— Obrigada.

— Só não faça besteira, ok? – ele pediu e eu concordei com a cabeça.