Meu mundo virou de cabeça para baixo e eu precisava me prender em algo para não cair no breu do universo. Eu precisava de uma certeza, mas eu não tinha. Eu estava atraída por Maxon, havia gostado – amado – o nosso beijo, nossas mãos cruzadas mas o que mudou? Não ter certeza de que ele iria deixar sua fama de lado? Não ter certeza que posso ser apenas mais uma? Os amigos o conheciam bem e não tinham fé em relação a isso, eu poderia ver Jace ou Jordan negarem com a cabeça freneticamente se ouvissem aquelas palavras. Eu poderia ver minhas amigas de cara feia para mim, se eu aceitasse acreditar, se eu ousasse acreditar.

Parei para ter uma breve noção dos fatos, não havia visto Maxon com outra mulher siliconada, não havia visto Celeste – o que era uma benção – e a última vez que saímos, aconteceu o acidente do Dylan. Eu não sabia se durante os dias em que sumi ele saiu ou levou alguma Gama para casa, mas se tivesse feito, com certeza eu saberia. Mas era tão insuportável não conseguir ter confiança nas palavras quando os atos foram tão controversos. Era tão impossível ter certeza sobre esse novo Maxon quando tudo ao redor só mostra aquele que eu conheci, o homem que sai com uma mulher diferente a cada noite.

— Então, eu preciso saber. Aquele beijo, significou algo para você? – Maxon perguntou com calma, mas seu corpo hesitava com medo de o que poderia ouvir.

Respirei fundo e engoli o nó na garganta.

— Eu não sei o que falar. Poderia dizer que havia gostado do beijo, mas não mudou o que eu penso. – ele enrijeceu, ombros tensos e mãos fechadas em punho ao lado do corpo. – Eu já passei por isso uma vez Maxon, eu vi de perto. Achei mesmo que pudesse mudar alguém, mas no final das contas, os dois saíram magoados. E eu não quero mudar você.

— Mas Karlla, eu quero mudar! Eu. Sou eu, não você. Eu quero que você conheça meu lado bom. O que existe lá no fundo, que poucos conhecem.

— Eu não consigo. – falei balançando a cabeça, me castigando mil vezes pela voz trêmula.

— Me deixe tentar. – ele pediu colocando as mãos em minhas bochechas, os olhos tão fixos nos meus que eu não consegui me mover ou desviar o olhar. – Me deixe ao menos te mostrar que mudei. Eu estou mudando, Karlla. – sussurrou tão perto dos meus lábios que pude sentir sua respiração, a nossa respiração.

Meus braços me traíram quando repousaram nos braços dele, meus olhos viajaram até seus lábios e minhas pernas deram um passo a frente, faltando centímetros para colar nossos corpos.

— E eu não quero te magoar, minha querida.

“Alô mundo, encontrei algo para me segurar.” Queria gritar, queria sorrir e abraçá-lo por simplesmente deixar aquelas palavras me comoverem, mas a única coisa que fiz foi me aproximar tão lentamente como ele, nossos lábios estavam dizendo olá um para o outro quando um zumbido veio de sua calça e um aviso de mensagem ecoou pelo meu celular preso na barra da fantasia. Maxon e eu continuamos imóveis, nos encarando, deixando as pontas dos lábios se erguerem até mais uma vez o zumbido e o aviso cortar completamente o clima. Ele esticou seus braços e pegou o celular no bolso da calça, digitou um código rápido e arregalou os olhos enquanto encarava a tela que iluminava seu rosto.

Tão lindo. Tão perfeito. Tão príncipe.

— Kar? – ele perguntou com os olhos fixos na tela do celular. – Você recebeu uma mensagem?

— Não sei. Por quê? – perguntei enquanto pegava meu celular, Maxon ergueu o seu, aberto na caixa de mensagem, em meu rosto e eu gelei dos pés a cabeça enquanto lia cada palavra. Olhei de volta para ele e o vi pálido, os lábios em linha reta e ombros tensos.

Abri meu celular e por um momento achei que iria cair.

"Não importa quantos morrerão, nunca será o suficiente para abalá-los, não é? Hipócritas! – A.”

— Que diabos é A? – perguntei.

— Eu não sei.

"P.S. Adorei a fantasia.Tinker Bell.”

Maxon e eu erguemos a cabeça e rodamos no lugar procurando alguém que poderia está nos observando. Estávamos sozinhos. Ele me olhou por um momento, talvez se desculpando por algo, talvez apreensivo pela mensagem ou com o que poderia vir a acontecer e pegou minha mão, tão forte, tão protetor que qualquer insegurança, medo ou angustia sumiu de repente.

Voltamos as mesas, encontrando Aaron encarando seu celular com o rosto mais doente possível enquanto os outros conversavam e riram tão natural como no começo da festa. Maxon se sentou ao lado do irmão e me puxou para seu colo, mesmo tendo cadeiras desocupadas ali, o que me deixou nervosa. Desconfortável. Aaron nem ao menos notou ou brincou, como faria se visse aquela cena, sendo esse o primeiro motivo para saber que algo havia acontecido e não era nada bom. Perguntei mais discreta que poderia ser, o que havia em seu celular. Aaron enrijeceu, passou de bardo para branco, vermelho e quase roxo, enjoado – ou enojado. Maxon pegou seu celular com a mão livre – enquanto a outra abraçava minha cintura – ergueu para o irmão e não demorou muito para termos certeza de que Aaron, assim como nós, havia recebido a mesma mensagem, exceto a segunda sobre a fantasia.

— Mas quem ou o que é A? – Aaron perguntou com a voz dez tons mais baixo, tive que me inclinar para mais perto para conseguir ouvir. Maxon deu de ombros, observando nossa mesa.

— Eu não faço ideia do porque dessa mensagem. – falei em um sussurro, deixando Aaron desconfortável em sua cadeira.

— Deve ser uma piada. – ele respondeu.

Ah. Com certeza não parecia ser uma piada. Ou se fosse, muito de mau gosto. E eu poderia arrancar as entranhas da pessoa que atrapalhou meu momento.

— É estranho demais para ser uma brincadeira. Porque ela recebeu então? – Maxon perguntou e Aaron me observou por cinco segundos dando de ombros.

Cinco segundos que prendi a respiração achando que poderia ser uma suspeita para o irmão Maddox.

— Hey! – Jace gritou. – O que estão cochichando ai? – quase pulei com o susto, ao contrário dos irmãos que disfarçaram muito bem, abrindo um sorriso enigmático.

Maxon guardou o celular no bolso e abraçou minha cintura completamente, tendo cuidado para não apertar, mas forte para não me deixar escapar. Como se você fosse escapar era o que minha mente resmungava. Eu queria fazer uma careta e mostrar a língua para ela, dizer que eu poderia ser feliz e ela, poderia está errada. Dizer que eu poderia realmente tentar fazer dá certo dessa vez e ignorá-la pelo resto da vida.

— Você devia deixar de ser curioso, Shadow Hunter! – Maxon gritou fazendo Jordan, Rob e as meninas rirem alto.

Eu queria ter caído na gargalhada, mas simplesmente não conseguia. Olhava para a mesa, para seus braços em minha volta, lembrava da mensagem, do passado e não conseguia agir normalmente.

— Hey. – ele sussurrou apertando os braços, me fazendo encará-lo. – Sorria!

— Não consigo agir assim como vocês. – sussurrei de volta. – Não consigo parar de pensar na mens...

— Meu Deus, mulher! – Maxon gritou de repente. – Você pesa mais que Travis e Sebastian juntos! O que você comeu hoje? – Maxon simplesmente gritou, me deixando chocada de queixo caído e os outros desabarem em gargalhadas. Ele sorriu se desculpando e levantei, puxando uma cadeira para sentar.

— Não esquenta Karlla. Maxon é fraco mesmo. – Jake brincou.

Jordan. Jordan. Jordan.

— Aposto que ganho uma em cima de você. – Maxon retrucou.

— Aposto no meu irmão. – Aaron disse rapidamente, distraído em sua cadeira.

— Há! – Júlia gritou levantando da cadeira. – Aposta é aposta, Maddox. Então, será você, – ela apontou para Maxon. – contra você. – e apontou para Jordan. – Na pista de dança!

— Sem chance. – Maxon disse rapidamente, cruzando os braços no peito encostando as costas na cadeira.

Me pergunto como ele consegue parecer tão normal, tão natural depois da morte do amigo e da mensagem que praticamente era um aviso. Me pergunto se eu conseguiria agir como ele, se conseguiria esconder meus verdadeiros sentimentos.

Aí está!

Eu realmente conseguia.

E sorri para mim mesma, cedendo a derrota. Quem está escondendo o que sente por Maxon? Sou eu, no final das contas.

— Até sua namorada está rindo, Max. – Jake Jordan, gritou me deixando séria e reta, todas as cabeças se viraram para mim como se para checar e os poucos que acreditavam em Jordan, sorriram de volta. Maxon estava sorrindo, mas creio que por outro motivo.

— Se você está tão certo de que vai ganhar, Jake. – dei ênfase ao apelido por pura implicância. – Porque ainda está sentado ai?

— Porque de todas as formas, ele iria perder minha querida. – Maxon falou. – Mas, eu não vou dançar. De maneira nenhuma.

— Porque então, não competem em uma luta? – Rob perguntou com cara de tédio, apoiando os cotovelos na mesa e o queixo nas mãos fechadas em punho. Balancei a cabeça freneticamente enquanto Jake e Maxon concordavam.

— De jeito nenhum. – as palavras saíram sem permissão, fazendo alguns desanimarem, outros revirar os olhos. – Quero dizer, não existe algo melhor? Algo menos autodestrutivo? Tequila, talvez.

— Minha querida – Maxon disse com um sorriso no rosto, se inclinando para mais perto. – Está tudo bem.

— Há! Quem te viu, quem te vê Maxon Maddox! – era Jake. – É sempre ela quem dá a palavra final?

— Mas qual é o seu problema, afinal? – perguntei irritada.

— Vamos pensar em uma coisa melhor. – Júlia interviu.

— Eu ajudo a pensar em algo! – Letícia disse e de repente percebi que estavam tentando evitar uma discussão.

Mari repreendia Jordan com o olhar, fuzilando-o tão séria sem covinhas nas bochechas – o que era uma pena.

— Ei irmão, – Aaron disse se virando a Maxon. Ele não pareceu ouvir o que falávamos, não pareceu se importar com a ameaça de Jake contra o irmão. Não parecia está ali. – Acho melhor nos despedirmos. – ele disse.

Os irmãos levantaram, Maxon se inclinou para beijar minha testa ao passar e avisou que não iria demorar. Jace e Rob estavam conversando, enquanto Mari e Jordan aproveitaram bem a saída dos Maddox para uma conversa íntima com mão no rosto, sussurros e sorrisos bobos. Não evitei sorrir, mas desviei o olhar para não ser indelicada, era o momento deles, provavelmente um dos poucos que tinham. Julia e Letícia estavam conversando e eu queria me juntar a elas, deixar a tensão em meus ossos, apagar os pensamentos por um momento e simplesmente me permitir sorrir um pouco. Mas antes que eu ao menos pudesse levantar da cadeira, o irmão Maddox sentou ao meu lado, descansando uma mão em minhas costas. Sebastian sorriu, dessa vez nenhum pouco envergonhado e pediu desculpas. “Pelo o que?” perguntei confusa, quem deveria pedir desculpas era eu mesma pelos pensamentos indevidos, por ter flertado com ele, mesmo estando com o irmão. “Por qualquer coisa” ele respondeu charmoso.

Disse que adorou me conhecer e falei o mesmo, evitando falar sobre sua beleza ou algo que me complicasse. No final das contas, Sebastian era uma parte Travis, uma parte Aaron e foi essa parte que me conquistou naquele instante. Combinamos de sair, algum dia desses – com Maxon, é claro – e eu avisei sobre minhas amigas, o que deixou animado. Nos despedimos e encontrei Maxon no hall de entrada se despedindo do irmão Travis.

Percebi quando cheguei a entrada do Morgan, com as mãos de Maxon em minha cintura seu peito subindo e descendo com a respiração em minhas costas, beijos em meu pescoço sussurros em meu ouvido e risos baixinho, que eu não queria ir embora. “Porque não passa a noite na minha casa?” ele perguntou quando abriu a porta para mim e eu queria dizer que sim, que eu adoraria passar a noite com ele. Mas havia tanto que me impedia. Meu corpo gritava pelo sim, mas minha mente era mais forte com o seu grande e visível não. “Amanhã a gente se vê” foi a minha resposta, ficando na ponta dos pés e beijando-o delicadamente nos lábios.

Pude sentir o sorriso em seus lábios e ele concordou, beijando minha testa antes de sair.