A Promessa

Caçadores da Lua.


Acordei no sábado de manhã com a insistente batida na porta e o irritante toque de mensagem no meu celular. O quarto ainda estava escuro pelas janelas fechadas e Tay dormia profundamente, me deixando irritada com essa capacidade que eu não tinha nem aqui, nem daqui a mil anos. Me arrastei até a porta e não fui simpática ao abri-la, lá estava Camila, Manu, Larissa, Julia, Letícia e Mylena. Por um momento achei que fossem erguer seus foices e me matar, por outro, achei que estivesse sonhando. Manu escondeu seu gritinho de animação com as mãos na boca e foi Camila quem avisou sobre “o dia das garotas”. Eu queria sorrir e dizer “ah! obrigada, mas vou dormir” só que eu não tinha escolha, não quando conhecia bem aqueles rostos animados, felizes e sorridentes para mim. Troquei de roupa, joguei algumas coisas na bolsa e passamos a manhã inteira conhecendo a cidade, a tarde no shopping com Lethicia e Mari que nos esperavam, deixando tudo mais divertido. A noite, fomos a cafeteria que costumávamos ir antes das aulas.

— Vocês sabem onde Robert está? – Lethicia perguntou ainda encarando a tela do seu celular.

Ergui o olhar e percebi, que além da Letícia, todas encarávamos os celulares tão fixamente que queria saber o que viam. Se estavam lendo mensagens românticas, como eu. Se conversavam com alguém, como eu.

— Ele me mandou uma mensagem quando estávamos no shopping.

— O que dizia? – Júlia perguntou erguendo seu olhar para encará-la.

— Ele disse, estou indo dormir meu amor. Mais tarde te ligo. – Todas sorrimos para ela, tão bobas, tão felizes por duas pessoas tão lindas juntas. Mas Lethicia não sorriu de volta. – Agora eu mandei uma mensagem perguntando se ele iria dormir o resto da noite. Não me levem a mal. É só que, não é normal ele dormir tanto assim e geralmente quando Rob dorme durante o dia, passa a noite acordado e fica me ligando para conversar, para ter companhia. – ela riu encarando a mesa como se lembrasse de um momento como aquele e logo voltou a nos encarar. – Ele respondeu que estava nos Maddox!

— O que? – exclamei com um visível choque, assim como Júlia, Letícia e Mari.

— O que está fazendo lá? – perguntei curiosa, mais ainda por Maxon não ter comentado sobre isso em nenhuma das mensagens que havia me mandado.

Lethicia deu de ombros e desligou o celular.

— Também não estou interessada. Se ele quer ficar lá, que fique. Vamos sair? – perguntou animada demais, sorridente demais, desinteressada demais.

— Setor 45? – Camila perguntou animada, deixando seus olhos brilharem e seus lábios se erguerem em um grande sorriso.

Lethicia concordou com a cabeça enquanto Letícia negava, assim como eu. Setor 45 era o último lugar que eu desejaria ir. Pelo menos por enquanto.

— Não existe outro lugar que possamos ir? – perguntei.

— Hunter’s Moon! – Mylena disse, fazendo Júlia revirar os olhos.

— É sério My. – ela falou.

— Ei. Caçadores da Lua é bacana. – Mari disse. – É o melhor lugar para beber.

— Então será lá. – Lethicia disse levantando do banco e seguindo para o caixa.

Olhei para Júlia, que olhava para Letícia, que olhava para Mari, que olhava para Mylena, que olhava para Manu, que olhava para Larissa, que olhava para Camila sorridente e feliz.

O bar era completamente diferente do Setor 45, moderno desde a entrada com um grande e luminoso letreiro, as paredes abarrotadas de pôster de bandas de rock fazendo um belo papel de parede. O piso era mármore, o bar completamente moderno com vários bancos de aço, estufados com um confortável assento. A música estava mais alta que o normal e a pista de dança estava lotada de pessoas dançando – e se beijando. As meninas sabiam bem aonde estavam, levando as quatro turistas para as mesas de aço no final do bar, onde tocava a mesma música da pista de dança com a enorme diferença de volume, sendo assim, um som bastante agradável.

Lethicia sentou no canto da mesa resmungando desde a nossa saída do café, falando sobre os defeitos de Rob, que eu nem ao menos poderia acreditar que existiam. Larissa e Manu trocavam olhares como se dissessem “isso é drama!” porque infelizmente, era. Júlia e Letícia, as duas mais acostumadas com o casal, trocavam palavras de incentivo a garota que parecia não ouvir, resmungando e revirando os olhos para o celular em suas mãos.

— Eu vou desligá-lo. – ela disse.

Mylena, Mari e Camila concordaram freneticamente com a cabeça, talvez esperando que os lamentos cessassem.

— Ou não. O que vocês acham? – perguntou aos pares de olhos que a observava.

— Amiga, você sabe que Rob não é de fazer nada para te magoar. – Letícia disse. – Acho que você está imaginando coisas, está exagerando.

Concordei com a cabeça.

— Mas ele está nos Maddox! – Lethicia exclamou, me deixando desconfortável.

Porque essa fama não acaba de uma vez? Maxon estava mudado, elas não percebiam isso?

— Lethicia, se você quer falar com Robert ligue de uma vez. Pergunte de uma vez o que ele está fazendo e trate de se entender. Se não, desligue esse celular e curta essa noite que você mesmo pediu. – falei irritada.

Que se dane se não temos intimidade, que se dane se serei odiada, ela estava sendo injusta com Maxon e Aaron, principalmente com Robert.

— Então – ela parou para me encarar, um dois três quatro minutos em silêncio e eu queria me desculpar, dizer que não tinha a intenção de ser grossa. – Vou desligar o celular. – falou por fim, jogando-o no centro da mesa.

Pude ouvir suspiros de alivio em volta.

Júlia ergueu o braço e segundos depois um garçom estava frente a nossa mesa, ele sorria mostrando os dentes alinhados e brancos, seus olhos brilhando para nós e eu queria fazer uma careta para espantá-lo. “O que vão querer?” foi o que ele perguntou e antes que – até Camila – pudesse responder, Lethicia gritou uma bebida desconhecida para mim, fazendo Júlia e Letícia lançarem um olhar de repreensão e o garçom sorrir mais amplo, anotando o pedido no pequeno caderninho. “Sex On The Beach” Júlia pediu e Mylena concordou, Larissa falou outro nome estranho e me virei para encará-la, tão confusa de como ela sabia, tão confusa em o que pedir. Camila e Manu pediram tequila e Mari concordou, por fim, acabei concordando.

Eram quase dez da noite quando percebi nossa mesa abarrotada de copos de tequila, copos dos drinks que as meninas pediam e eu não consegui parar de rir. Era o efeito do álcool em meu sangue. Era o que me deixava corajosa, engraçada e simpática. Eu já não sabia onde meu celular estava, não falava com Maxon desde nossa saída repentina da cafeteria e não havia dito para onde iria. Estava me sentindo uma fugitiva do namorado, sendo ele Maxon ou não. Lari conversava e ria com Mari e Mylena, eu estava prestes a entrar na conversa quando ouvi Manu conversando com Júlia algo sobre o professor Herondale.

—... A ex esposa dele apareceu. – Julia disse. – Eu não sei quando vou vê-lo.

Então Manu sabia.

Estava pronta para me virar e entrar na conversa quando Camila riu alto, conversando com as Leticias. Ela limpava os olhos enquanto concordava com a cabeça e eu queria saber o que estavam conversando e porque estava rindo para eu rir também, mas outra coisa me chamou atenção

Bipe. Bipe. Bipe. Bipe. Bipe. Bipe.

Bipe. Bipe. Bipe. Bipe. Bipe. Bipe.

Oh não.

Me virei procurando aquele som olhando cada mesa lotada de homens, mulheres, casais que riam e conversavam enquanto viraram suas bebidas. Mas ninguém com celular na mão ou notebook ou algo do tipo.

— KA! – alguém gritou me trazendo de volta a mesa.

Era Mari levantando de sua cadeira, puxando Julia e Larissa para irmos a pista de dança. Sorri e antes que pudesse dizer sobre meus pés estarem dormentes, sobre meu corpo não responder a meus comandos, antes de avisar que eu seria um desastre, Manu me puxou pelo braço.

Não me importei de ter deixado a metade da cerveja na mesa, nossas bolsas nas cadeiras e isso poderia ser errado da nossa parte, irresponsabilidade, mas eu estava embriagada demais para raciocinar. Passamos pelo bar, segurando as mãos de cada uma tentando manter o equilíbrio, a elegância e o charme, não importava os homens em nossas mentes, os homens em nossos corações, estávamos ali sem lembrar deles, tendo apenas a – desesperada – vontade de se divertir e rir com as amigas, afinal aquele era o dia das garotas. A música estava tão alta que eu só conseguia ouvir as batidas, Lethicia dançava desajeitadamente com os olhos fechados, completamente – eu – Camila quando está em seu porre e eu não conseguia parar de rir, não conseguia dançar como as mulheres em nossa volta, não conseguia ser sexy e sedutora. Manu jogava seu cabelo de um lado para o outro, apertando o olhar para quem a observava, fazia um bico com os lábios e eu queria cair no chão com a vontade de rir. Júlia estava dançando hip hop, mesmo eu tendo certeza de que aquela música era totalmente o contrário. Mari e Mylena estavam segurando as mãos fazendo uma pequena roda, dançando uma para outra e eu queria perguntar se poderia entrar na brincadeira. Procurei Letícia para rir de sua dança, mas ela não estava ali.

— Onde Letícia está? – gritei para o grupo que não me ouviu, ou me ignorou completamente. – Letícia? – gritei olhando em volta, ficando na ponta dos pés procurando entre as cabeças ao nosso redor.

— Ela ficou no bar. – Lethicia gritou de volta. – Encontrou um cara e ficou por lá.

— O que? – perguntei assustada. – Você ficou louca de deixar Letícia sozinha?

Lethicia parou de dançar e me encarou.

— Qual o problema?

— Você! – gritei. – Podia ter esperado ela ou nos avisado.

— Você precisa relaxar. Ela já é bem grandinha para cuidar de si mesma. Ninguém aqui precisa de uma babá.

— Que se dane! – exclamei passando por ela, saindo do nosso grupo, da pista de dança e tonta, com a vista embaçada, procurando Letícia entre as várias pessoas que estava encostadas no bar.

— Para onde vai? – Lari perguntou atrás de mim, segurando forte o meu braço.

— Procurar Letícia. – respondi sob os ombros, fitando a bancada.

— Ela não estava conosco? – ouvi a voz da Manu em minhas costas e antes que eu pudesse responder, antes de me virar para saber quem mais estava atrás de mim, Celeste passou por nós com saltos altos, mini saia, blusa de grife e perfume caro. Ela estava com mais um grupo de mulheres, que estavam longe de ser uma Gama, mas eram tão intimidadoras, tão elegantes me fazendo desejar que seus saltos quebrem.

— Kriss! – Lethicia gritou atrás de mim, passando por nós e seguindo-as até o bar.

Júlia e Mylena fizeram o mesmo, mantendo uma distância segura do grupo. Eu estava apreensiva, Larissa estava apreensiva mas mesmo assim peguei em sua mão e a puxei lentamente indo ao bar.

— Oh. Não acredito. – Mari falou atrás de mim, me fazendo parar de repente e ela esbarrar em mim.

— O que foi? – perguntei sem tirar os olhos do grupo que se encostava no bar, que sorria para Lethicia com tanta falsidade e desprezo que me enojou.

— Achei a Letícia. – Mari respondeu tendo minha total atenção.