A Promessa

Intervenção.


Eu poderia ter gritado “ah sim, obrigada” e sorrir, mas não, eu tinha de ser idiota e estupidamente ridícula para abrir a boca e dizer “com você?”. Maxon sorriu concordando com a cabeça, deixando escapar “se não for problema para você” e eu queria dizer que não era de modo algum um problema para mim, tirando a parte do “é oficial, somos amigos”.

Tirando a parte de que eu precisava cumprir uma promessa.

Tirando a parte de que eu poderia ser apenas mais uma na lista dele.

— Eu não tenho roupa, Maxon. – falei quando saímos do prédio do teatro.

— Isso não deve ser problema. Quero dizer, ponha uma roupa louca e tudo ok. – ele respondeu passando uma mão em seu cabelo, tão macio.

Parei bruscamente puxando seu braço.

— Não. Não está tudo ok. – falei olhando-o nos olhos. – Não posso sair com uma roupa louca sem ser planejada.

Maxon riu tão divertido, tão engraçado, tão natural.

Ele pegou minha mão e eu tive de olhar a nossa volta, carinhos em público não era algo que eu havia pensado.

— Eu gostaria muito. Muito mesmo que você fosse. E sério, não precisa planejar se você vai ficar linda com qualquer coisa.

E eu sorri vermelha dos pés a cabeça, sem consegui recusar.

Eu precisava aprender a recusar algo dele. Se fôssemos continuar tão próximos assim, eu precisava aprender urgentemente e começando ali naquele instante, procurando argumentos bons o bastante para fazê-lo desistir de ir ao Morgan comigo porque além de passarmos pelo refeitório, repleto de olhos curiosos e mentes maldosas, iríamos continuar com as mãos cruzadas? De jeito algum queria ser “apenas mais uma” para ele, de jeito algum meu orgulho iria deixar que isso acontecesse.

Voltei ao Morgan sozinha com a desculpa de “vou passar no banheiro feminino antes” porque foi a única coisa que passou pela minha cabeça na hora. Mas ao mesmo tempo, foi ótimo para me fazer pensar nas tantas possibilidades de fantasias que eu poderia usar – e alugar – já que eu não tinha nada parecido no guarda-roupa. Tay não estava no quarto e fiquei aliviada por seu notebook também não. Entrei para o banho permitindo voltar a cena do beijo, das mãos dele em minha cintura, do seu gosto, do seu corpo.

Maxon iria de pirata, eu precisava de algo desesperadamente parecido ou bruscamente diferente.

— Kar? É você? – a voz da Larissa ecoou através da porta, gritei de volta e apressei no enxágue, saindo logo em seguida em volta de uma toalha.

Larissa estava sentada em minha cama, Camila frente a janela enquanto fumava e Manu remexendo em meu guarda-roupa. Situação completamente confusa. Fazia quatro dias que eu não as via, que eu fugia de seus telefones, mensagens, batidas na porta e não esperava algo tão natural assim. Esperava gritos desesperados perguntando aonde eu estava ou o que eu tinha na cabeça.

Essa atitude era estranha.

— Problema? – perguntei.

— Nenhum. – Manu respondeu, esticou o braço e trouxe um top rosa Pink. – Exceto por isso. O que, definitivamente, é isso Karlla? Achei que você tivesse jogado no lixo.

Eu ri.

— Na verdade, eu gosto de usá-lo por baixo do pijama. É confortável.

— Certo, intervenção de moda agora não. – Camila falou. – Já sabemos que você esteve no teatro, já sabemos sobre seu encontro de hoje a noite e mesmo estando irritada com você, viemos ajudar.

— O que? – foi a única coisa que saiu. Larissa limpou a garganta.

— Encontramos Maxon no refeitório e ele praticamente, gritou para quem quisesse ouvir que iria sair com você.

— Mentira! – Manu gritou. – Ele só nos disse para te ajudar, você não queria sair com ele por causa de uma roupa. – ela revirou os olhos e sorriu, mais para si mesma do que para mim. – E estamos aqui.

Sorri naturalmente com aquela intervenção tendo em mente que além de tudo, que apesar do que tinha acontecido, elas eram minhas amigas e queriam o meu bem. Assim como eu queria e faria qualquer coisa pelo bem delas. Respondi com um aceno de cabeça e Manu gritou animada.

Enquanto eu contava meus dias no teatro com Mylena, conhecendo mais uma fraternidade e contando sobre Maxon – incluindo o beijo – fomos em busca de lojas para alugar fantasia. Foram conversas para lá e para cá enquanto escolhiam algo, enquanto eu provava algo e acabei descobrindo o que Travis havia ido falar com Camila, a chamando por um apelido sem graça e – super – piegas, beija-flor. Foram exatamente meia hora de gargalhadas altas, por eu simplesmente não conseguia aguentar aquilo. Travis era tão másculo, tão homem que não combinava um apelido tão carinhoso e tão sensível, até mesmo para Camila, uma vadia sem – com – coração. No final da noite, para minha grande surpresa, havíamos encontrado uma fantasia perfeita. Era a opção “bruscamente diferente” e eu mal podia acreditar no que via frente ao espelho.

— Wow! – foi a única palavra que Maxon disse quando abri a porta do Morgan. Contei dez segundos até ele falar novamente. – Você está... Linda!

— Obrigada. Você também senhor Pirata. – ele sorriu de lado e ergueu uma mão para mim.

Aquela cena poderia ter sido épica, Maxon no final das escadas do Morgan com uma mão estendida para a bela donzela no topo da escada, que sorria apaixonadamente para o príncipe. Só que... Eu não estava sorrindo e ele não era um príncipe, era um pirata. E quanto a mim, uma humilde fada com uma linda varinha com estrela na ponta que refletia na luz. Uma pequena coroa prateada no topo da cabeça e um vestido, desesperadamente lindo, na cor rosa em um tom mais claro e opaco, com um sedutor decote em V nas costas que ia até a lombar e prendia duas asas da mesma cor, com glitter.

Maxon estava um verdadeiro pirata e lindo como sempre, a blusa caía perfeitamente com uma abertura que mostrava os músculos do peito, a calça nem tão apertada e nem tão folgada demais, botas pretas e o colete. Senti falta do chapéu e do tampão de olho, mas não comentei sobre, apenas peguei sua mão e deixei que me levasse até seu carro estacionado frente ao Morgan. Eu não sabia como reagir aquilo, estávamos em um encontro? Éramos apenas amigos depois de um beijo? E além disso, o beijo significo algo para ele?

Significou algo para mim?

— Então. – Maxon disse, limpando a garganta enquanto dirigia. – Não deu trabalho encontrar essa metade de fantasia? – perguntou com um sorriso divertido no rosto, desviando o olhar da rua para mim repetidas vezes.

— Metade...? Argh! Nem vou responder. – bufei cruzando os braços fazendo ele sorrir. Um dois três quatro cinco segundos de silêncio e suspirei. – Mas, sim. Deu um pouco de trabalho. Sorte a minha que minhas amigas apareceram milagrosamente a fim de ajudar. Não é Maxon? – e ele riu tão brincalhão, tão garoto.

— Elas contaram a você? Poxa! Eu pedi que fossem discretas.

— Elas não sabem o significado dessa palavra.

— Vou me lembrar disso, na próxima vez.

Fechei a boca tentando descobrir o que havia por trás daquelas palavras.