O porão era tão grande quanto nossas salas, mas parecia pequeno com o tanto de pessoas que se espremiam ali. As pequenas janelas no topo das paredes estavam cobertas por um cobertor preto e havia um único homem que se destacava entre todos.

— Façam suas apostas! – ele gritava sobre uma cadeira enquanto recebia o dinheiro das pessoas ao redor. Camila olhou para trás para checar se estávamos vendo o mesmo que ela. Manu fechou a boca, assentindo com a cabeça.

— Vamos! – ela disse apontando para a multidão.

— Não! – gritei recuando. – Está cheio, Camila! Vamos voltar. – gritei, mas era tarde demais, ela já havia sumido entre os homens e mulheres eufóricos que estavam ali.

— Onde ela foi? – Larissa gritou desesperada, jogando sua cabeça para todos os lados tentando achá-la.

— Vamos sair! – gritei puxando-as para trás.

Nós batemos na parede de concreto e arfei, a sala estava rodando, os diferentes tipos de perfume estavam me sufocando e a terrível sensação de lugar fechado me deixou desesperada.

— Kate! – Manu gritou me fazendo abrir os olhos e encará-la. – Respira! Fica calma! – ela gritava. Não dá para ficar calma com você gritando, eu queria dizer, mas a única coisa que fiz com concordar com a cabeça. – Larissa, me ajuda. – ela pediu puxando meu braço para seu ombro, mas quando Larissa não respondeu e Manu viu que já não estava ali, se desesperou. – Meu Deus! – ela choramingou se virando para a multidão.

Cai sem equilíbrio, me encolhendo contra a parede. Abracei minhas pernas e fechei os olhos tentando respirar.

Aquele lugar estava longe de ser organizado, pior ainda era se organizar. Ouvi Manu gritar meu nome e quando ergui a cabeça, ela já tinha sumido. Meu corpo tremeu e eu levantei em um pulo. Gritava seu nome de volta, mas era impossível ouvi-la ou ser ouvida com todo aquele barulho. Eu estava completamente fora de mim, ouvia as batidas do meu coração em meus ouvidos enquanto meu desespero aumentava. Virei para a porta e com um pulo estava na grama respirando com dificuldade.

— Ei! Você está bem? – ouvi alguém perguntar de longe, ignorei sentando na grama colocando as mãos no rosto. – Oi? Está tudo bem? – a voz estava mais perto agora, ergui o olhar para um homem alto e musculoso me olhando de cima.

A luz sob sua cabeça mostrava seus cabelos loiros, mas não seu rosto. Ele estava prestes a se inclinar para mim quando se ergueu e olhou para o outro lado do prédio de onde havíamos passado minutos atrás. Segui seu olhar e mais uma silhueta se aproximava das sombras.

— O que houve? – a voz me fez congelar, desviei o olhar rapidamente e me foquei na grama.

— Acho que ela está passando mal, Max.

— Você está bem? – Maxon perguntou se ajoelhando frente a mim.

— Sim. – respondi.

— Não parecia quando eu vi você quase desmaiar. – o outro homem falou.

— Eu estou bem. – falei revirando os olhos.

— Você veio para a luta? – Maxon respondeu visivelmente intrigado.

— Mais ou menos. Mas eu não posso entrar e acabei de perder minhas amigas nesse inferno.

— Inferno. – o outro repetiu com um tom de divertimento. Levantei da grama limpando a calça jeans e Maxon fez o mesmo, me observando com atenção.

— O que? – perguntei.

— Nada. Só estou checando se você está bem mesmo. – ele franziu a testa e me encarou.

Eu diria que ele estava diferente.

— Você vai ficar bem, amor? – o segundo homem perguntou levantando meu queixo para ele.

— Não sou seu amor e sim, eu vou ficar bem. – respondi puxando meu queixo e andando de volta ao inferno e dessa vez eu só sairia com minhas amigas do lado.

— Você vai voltar? – ouvi Maxon perguntar atrás de mim.

— Não vou embora sem minhas amigas. – respondi sobre o ombro e entrei.

Me encostei atrás da porta puxando o fôlego e me virei para espiá-los bem a tempo de ver Maxon virando as costas para o outro homem que esfregava a mão em um dos braços, com uma carranca na cara.