A Promessa

Esconde-Esconde.


Travis e Jamie procuravam pelo figurino que os atores usavam nas apresentações, Mylena sabia que a professora os guardava em uma espécie de camarim/deposito e os levou até lá, me deixando sozinha com Maxon – mais uma vez. Não que eu achasse ruim, só estava estranho demais todos nos deixando a sós ou simplesmente os olhares que faziam quando estávamos juntos. Lembrei de nossa amizade – estranha – e hesitei por um momento, não parecia ser amizade e sim, encontros casuais de duas pessoas que gostavam um do outro e mais uma vez hesitei ao lembrar de suas palavras no Setor 45 “É oficial, somo amigos.” e agora, não parecia – de modo algum – uma amizade normal.

Estava remexendo nos cenários nos fundos do palco perdida nos pensamentos quando algo me atingiu no ombro, olhei lentamente para o chão esperando não ver algum bicho perdido naquela bagunça – arrumada, vi uma bola feita de meias coloridas me fazendo erguer o olhar e encontrar Maxon do outro lado do palco, assobiando e disfarçando como uma criança que havia aprontado alguma.

— Você... – eu ia gritar tão alto que seria capaz dele perder a audição, mas ao invés disso, peguei a bola o mais rápido que pude e antes que ele pudesse virar, o acertei nas costas.

Maxon se virou lentamente, olhou a bola no chão e me encarou com uma sobrancelha erguida. Eu queria rir, queria tirar uma foto da sua linda reação de confronto e guardar para sempre.

Fui completamente traída por sua beleza me deixando vagar pelo seu rosto e não notei que ele segurava uma segunda bola na mão. Maxon levantou a mão lentamente, me encolhi atrás de um dos cenários quando ouvi o impacto da bola em meu escudo. Soltei o ar – que nem ao menos lembrava ter prendido. Ele estava querendo me matar por acaso?

A bola caiu ao meu lado e rapidamente a peguei jogando para ele no mesmo instante que ele jogava uma em minha direção. Dessa vez o impacto foi maior e o ouvi gemer, sorri com orgulho da minha pontaria e esperei o contra-ataque, que não veio.

Um minuto de silêncio me fez sair do esconderijo, Maxon não estava no palco, nem na plateia, em nenhum lugar. Já estava tonta de tanto balançar a cabeça por todos os lugares procurando-o. Ele tinha ido embora? Meus ombros caíram e por um instante me permitir ficar triste.

Mas só por um instante.

— BU! – Maxon gritou atrás de mim, os olhos arregalados e as mãos no alto da cabeça.

Meu grito foi alto o suficiente para fazê-lo ri, minha cara provavelmente ajudou bastante e meu coração parecia sair pela boca.

— Você ficou louco? – perguntei levando uma mão ao peito, tentando – com fracasso – não tremer.

Ele riu mais alto e me puxou de volta ao esconderijo deixando suas mãos em minha cintura e seus olhos em minha boca.

Eu estava verdadeiramente nervosa.

Ele sorriu de lado e se aproximou, erguendo o olhar para meus olhos esperando uma rejeição ou um “vamos lá, siga em frente” porque era isso que eu iria dizer. “Vamos Maxon, acabe com isso!” mas ele estava lento demais ou apreensivo demais e mesmo imóvel como eu estava, eu queria tanto quanto ele. Contei cinco segundos e me ergui na ponta dos pés fechando os olhos, levando minhas mãos para sua nuca.

“O que você está fazendo?” minha mente gritava desesperadamente e meu corpo respondia com um aceno preguiçoso de “deixe isso para lá, mente”.

Maxon se inclinou e nossos lábios se tocaram, tão educados, tão macios, tão desesperadamente sincronizados. Suas mãos apertaram minha cintura contra si e o puxei para mais perto deixando sua língua deslizar entre meus lábios, confrontando a minha e descobrindo minha boca. Suas mãos envolveram minha cintura e ele me ergueu, deixando verdadeiramente na ponta dos tênis, sem deixar de me beijar por um segundo se quer. E eu não poderia reclamar de suas mãos, de seu corpo colado ao meu, de seus beijos deliciosos porque eu estava o aproveitando de – quase – todas as maneiras possíveis.

Peguei em seu cabelo macio, mexi em seu cabelo macio e liso. Peguei em seu rosto tão perfeito, tão liso e tão perfeito. Desci as mãos para suas costas tão musculosas, tão largas e tão musculosas.

Eu poderia explodir de felicidade, pular e gritar “meu pedido se realizou” porque era isso que eu sentia.

Já queria beijá-lo quando estávamos em seu quarto, queria sentir seus cabelos no segundo, talvez terceiro dia de aula. Queria tocar os músculos de seu corpo e eu estava fazendo isso agora, não pude deixar de sorrir entre o beijo e o sentir sorrir também.

E quanto ao “é oficial, somos amigos”?

— Puts. Eu não acredito nisso, cara. – era a voz do irmão Maddox, Travis. – Estão se pegando atrás das cortinas? – ele gritou.

O melhor beijo da minha vida tinha sido interrompido pelo irmão mais velho, irônico e nada humilde, Travis Maddox. Eu poderia lhe dá um murro por isso. Ou um chute entre as pernas por ter interrompido meu momento. Maxon se afastou com a voz do irmão e espiou sob nosso esconderijo, voltou a mim com as duas mãos em meu rosto, uma concha perfeita em minhas bochechas avantajadas e sorriu meio satisfeito, meio envergonhado.

— Eu vou matá-lo por isso. – sussurrou dando um beijo rápido em meus lábios e em minha testa. – E você sempre aparece nas horas mais adequadas, irmão. – disse saindo do esconderijo, me puxando pelo braço porque eu não iria sair dali, não queria que fosse tão rápido.

Travis riu jogando a cabeça para trás.

— Você me conhece bem. Não vou negar. – respondeu dando de ombros, jogando trapos que segurava em uma mão para Maxon. – Ai estão os seus. Nem pense em desistir de última hora. Ou eu te chuto o traseiro.

Fiz uma careta para Travis, que não notou, dando as costas e descendo as escadas laterais do palco, caminhando até a saída. Maxon suspirou ao meu lado e me virei para ele pronta para perguntar o que havia, pronta para perguntar o motivo das roupas, o porque de estarem ali, porque minha curiosidade estava ativada agora, viva e pronta para ouvir.

Mas antes que eu pudesse abrir a boca, Maxon segurou a roupa em sua frente e a encarou com uma – linda – careta. Era uma fantasia. Um pirata. Estiquei a ponta da calça atraindo o olhar dele para mim, mas eu estava a estudando, calças pretas, blusa branca visivelmente folgada e aberta o suficiente para mostrar os músculos e colete da mesma cor que a calça. Era um verdadeiro pirata, mas para quê?

— É uma festa a fantasia. – ele respondeu a minha pergunta tão dita, suspirando e dobrando a roupa em seu braço.

— E você não quer ir?

— Não é isso. É só que... – Maxon parou por um instante e se virou em direção a entrada do teatro, olhando por onde seu irmão havia passado. – Ele fez de propósito. – sussurrou mais para si.

— O que ele fez de propósito? – perguntei nervosa por uma resposta, ansiosa para matar minha curiosidade.

— Eu não... Eu não gosto muito de piratas. – Maxon disse ao chão, envergonhado e eu queria abraçá-lo forte. – Eles me dão um pouco de medo. – riu nervoso e me encarou. – Travis sabe disso. Ele fez de propósito.

— Ele é sempre um babaca assim? – perguntei revirando os olhos, puxando a blusa branca de seu braço. – Isto – ergui para ele. – Vai ficar bonito em você.

Dane-se as regras, dane-se o “é oficial, somos amigos”.

Maxon sorriu para mim e me encarou mais do que devia.

— O quê? – perguntei encolhendo os ombros, devolvendo a blusa para ele. – Só estou dizendo.

Maxon respirou fundo e limpou a garganta.

— Gostaria de ir a uma festa a fantasia comigo, Karlla?