Foi fácil passar pelas pessoas na sala com a desculpa de que Maxon precisava me levar ao Morgan e o único que notou a caixa foi Louis, mas não ousou perguntar sobre ela. Lá estava eu de volta a fábrica abandonada, de volta ao começo do meu fim.

A luz do dia tornava tudo menos assombroso, se via todo o terreno coberto pela grama e as paredes algumas em ruínas da fábrica. A caixa estava em minhas mãos, Maxon não ousou tocá-la outra vez e uma grande dúvida surgiu em minha mente, mas ali não era a hora perfeita, eu precisava de toda atenção possível, precisava ser discreta e precisava porque Maxon estava ali, eu sabia que ele estava dando a volta pelos muros da fábrica para entrar pela porta dos fundos. Nós não tínhamos um plano bem executado, nós estávamos desarmados e eu não ousaria perguntar onde estava a arma que o vi pegar antes de lutar com Kent. Antes de ver Tay morta. Antes de pegar esta bendita caixa.

Eu não sabia o que havia dentro dela e aquela altura dos acontecimentos, eu não estava curiosa. Poderia ser papéis, poderia ser provas concretas de que And e Adam eram os culpados pelas três mortes que aconteceu. Eu tinha certeza sobre Dylan, mas algo ainda era misterioso demais em relação a morte da Lethicia. And não estava no HuntersMoon e qual o motivo de Celeste fazer o que fez? E porque Tay?

Respirei fundo ao parar frente aos portões da fábrica, empurrei com uma mão um lado do portão e pude ver Adam frente a porta de entrada, os braços cruzados com as costas na parede me esperando paciente ou não. Ele ergueu seu olhar quando me viu e sorriu ao perceber o que havia em minhas mãos. Você demorou foi o que ele me disse apertando os olhos para mim, dei de ombros e antes que pudesse lhe entregar a caixa perguntei o que havia dentro dela. Adam gargalhou alto e tive que olhar ao redor para checar se alguém nos ouvia. Você só pode está brincando comigo disse ao limpar os cantos dos olhos. Entreguei a caixa e esperei, esperei ele abrir em minha frente, esperei ele falar sobre ela, esperei que ele fosse distraído por um instante.

— Bem, você irá gostar de saber que, – Adam parou e me encarou com um sorriso macabro no rosto. – nós dois podemos pegar nela.

— Como assim nós dois? – perguntei nervosa, aquela seria a resposta a minha dúvida, seria a explicação para que eu entendesse o motivo de eu poder pegá-la e Maxon não.

— Você se lembra do seu irmão? – Adam perguntou mudando o rumo da conversa, me deixando nervosa e ansiosa.

— É claro que eu me lembro, mas como nós dois podemos tocar nessa caixa sem sermos queimados? – perguntei encarando seus olhos azuis, sua feição procurando mentira, procurando uma rachadura. Adam ergueu uma sobrancelha para mim e sorriu.

— Então seu namorado se queimou? – ele perguntou e sem esperar resposta, jogou a cabeça para trás em uma grande gargalhada. Me deixando irritada e impaciente.

— Você vai me dizer ou não? – perguntei cruzando os braços no peito, batendo o pé tão impaciente, tão curiosa que ele não poderia imaginar.

Adam iria responder, estava me olhando com brilho nos olhos, com tamanho divertimento que suponho que iria me contar apenas para ver minha reação, porque assim que ele é, Adam gostava de maltratar as pessoas seja com as mãos ou as palavras e ele estava adorando fazer isso comigo. Minhas pernas doeram por baixo da calça do moletom me fazendo lembrar daquela noite, me deixando atenta a qualquer chicote em sua mão. Um limpar de garganta nos fez virar para o mesmo lado, lá estava Maxon com as mãos atadas nas costas, os cabelos caindo sob seus olhos, sua respiração ofegante de quem estaria correndo ou lutando e a camisa suja de terra, suor e sangue que pingava de seu nariz e lábio. Eu não poderia acreditar, não conseguia entender quando vi o homem que o segurava por um braço, queria gritar e chorar, queria pedir para acordar desse pesadelo maluco na qual minha mente insistia em me colocar.

Não era possível. Não poderia ser.

Meu Deus isso não pode está acontecendo.

— Boa hora para conhecer seu namoradinho, irmã? – Danny perguntou a mim, o sorriso de garoto em seus lábios, o peito subindo e descendo rapidamente com a respiração e os mesmos olhos da nossa mãe. Ele se virou para Kent que estava por um instante tão chocado quanto eu. – Este aqui estava na porta dos fundos, pode vir aqui por favor? – Adam sorriu concordando com a cabeça e se aproximou dos dois, dando a caixa para meu irmão e segurando Maxon pelos pulsos presos nas costas.

— Mas... Mas o que é isso Daniel? O que você está fazendo? – exclamei em choque, queria esmurrá-lo quando o vi se aproximar de mim, queria chutá-lo entre as pernas e falar tudo para nosso pai porque ele não poderia está ajudando as duas pessoas que tentaram me matar, que me machucaram.

— É meu pequeno triunfo, irmã. – ele disse com um sorriso de lado.

— O que você quer dizer com isso? – perguntei nervosa, incrédula por vê-lo no outro time, por vê-lo ao lado do homem que me machucou. – Você está ajudando eles?

— Ajudando? De maneira alguma! Eu, comecei tudo isso. – Daniel disse com aquele sorriso que mostrava orgulho de si mesmo.

— Porque? O que você quer com tudo isso? – perguntei sem conseguir acreditar, só poderia ser uma grande brincadeira, só poderia ser piada.

— Percebi que posso ter fama fazendo algo que eu gosto.

— Fama? Você quer fama matando pessoas? – gritei sem preocupar se alguém estava ouvindo, gritei porque estava chocada por ele, chocada com o que fez, com o que se tornou. – Você matou pessoas inocentes!

— Você é tão moralista. – Daniel disse revirando os olhos. – Você não achou divertido? Tudo isso? Confesso que te ver triste quando seu amiguinho morreu quebrou meu coração, mas você já é uma mulher crescida, você supera qualquer coisa. – além de tudo queria rir na cara dele, queria dizer que pela primeira vez eu sentia nojo dele. – Sabe o que é isto? – Danny perguntou olhando a caixa em suas mãos, mas eu não conseguia desviar o olhar dele, não conseguia me mexer. – Você lembra-se da caixinha de joias da mamãe? O mais engraçado é que ela realmente queima. Dizem que só queima quem não tem coração.

— Porque você está fazendo isso comigo? – perguntei ignorando a voz trêmula, engolindo o nó na garganta e sem se importar com as lágrimas que embaçavam minha vista.

— Lembra-se de quando papai nos contou sobre nossa mãe? – Daniel perguntou, seus olhos fixos aos meus, sem hesitar, sem mostrar qualquer emoção. – Lembra-se que ele lhe abraçou e disse sobre ela dormir com um remédio? Eu lembro muito bem. – ele disse sorrindo como se voltasse aquele dia. – Lembro também o que ele me falou, você lembra? – neguei com a cabeça pressionando os lábios, piscando várias vezes para não deixar nenhuma lágrima cair. – Ele disse, "sua mãe se foi Daniel, estamos sozinhos agora. Por favor cuide da sua irmã" e simplesmente saiu, como se eu aquilo não me doesse, como sempre, você sendo a queridinha.

— O que? – exclamei surpresa, realmente não sabia do que meu pai havia falado ao meu irmão quando o puxou para longe de mim, mas ele estava se vingando de mim? Daniel, meu próprio irmão? – Você está fazendo isso por raiva? O que isso tem a ver com as pessoas que vocês mataram?

— Você já foi mais esperta. – ele disse franzindo a testa. – Todos vocês irão me ver subir, irão me ver por cima e irão se arrepender por terem me deixado a parte de tudo.

— Mamãe nunca fez isso com você. – falei sabendo que aquilo já bastava para me fazer chorar, mas continuei o encarando, continuei em pé, os ombros firmes e as pernas grudadas no chão.

— Mamãe morreu Ka, precisa aceitar isso. – ele disse tão cético, tão inabalável que me fez querer morrer. Deixar tudo aquilo, todo o sofrimento, toda dor para trás e passar toda a eternidade em tranquilidade.

— Agora vamos ao que interessa. disse olhando sob meu ombro e antes que eu pudesse me virar para saber o que ele olhava, para entender o que estava falando, algo atingiu minha cabeça me fazendo cair na escuridão.