Minha cabeça doía insuportavelmente quando voltei a realidade, meus pulsos estavam dormentes com a pressão de ferros que os apertava e todo meu corpo estava encolhido no canto da parede. Mantive os olhos fechados com medo do que poderia ver se os abrisse, o chão estava molhado e a parede era fria em minhas costas, o som dos meus batimentos ecoavam em meus ouvidos tal como os pingos de água que caíam ao chão em algum lugar perto de mim.

Apertei os olhos tentando não lembrar do meu irmão, tentando não lembrar do que fez com Dylan, com Lethicia e Tay. Tentando não lembrar que éramos da mesma família e que sempre houve disputa, inveja da parte dele. Tentando não lembrar dos anos da minha vida que passei ao lado dele, admirando-o, amando-o e tendo-o como porto seguro. Mal eu poderia imaginar que ele seria meu maior inimigo, nem poderia acreditar que ele havia feito isso comigo, que havia machucado Maxon e não estava preocupado em quem seria o próximo com tanto que chegue aonde quer chegar.

Chegava a ser ridículo e eu queria saber como pará-lo, queria saber como por um fim nisso antes que alguém se machuque por que além de eu conhecê-lo, sabia suas maiores fraquezas e se ele estava agindo assim sem se importar com a família, quem sou eu para fazer igual? Que se dane se é meu irmão, que se dane se é meu sangue, que se dane porque aquilo não era o certo, não era o modo mais viável. Daniel estava machucando pessoas e isso irá se voltar contra ele.

Som de correntes interromperam meus pensamentos e arrisquei abrir os olhos pela primeira vez, observando o lugar sujo que eu estava presa. O chão e as paredes eram de verdadeiras pedras cilíndricas bem alinhadas, sujas e com cheiro desagradável. Havia correntes presas nas paredes a meio metro do chão, a maioria delas estava inativa exceto pela minha e outra do outro lado do “cômodo”. A luz que havia no lugar vinha de duas pequenas janelas nos topos das paredes, mostrando que ainda era dia e que provavelmente, muita coisa iria acontecer.

Novamente o som das correntes me fez apertar os olhos tentando – com fracasso – enxergar o outro lado.

— Quem está ai? – perguntei ignorando a voz cortada, a voz de uma pessoa que estava verdadeiramente com medo. Alguém limpou a garganta e imaginava ouvir a voz dele, de Maxon dizendo qualquer coisa que me deixaria calma. – Maxon? – perguntei ansiosa.

— O levaram a pouco tempo. – respondeu uma vez irritantemente meiga e conhecida, aquela voz que em mil anos eu ainda iria saber de quem era, ainda iria odiá-la, mesmo sem motivo, porque era o que Celeste merecia.

— Celeste? – perguntei chocada, como e porque ela estava ali? Presa ou esperando sua vez para me torturar? – Celeste é você? O que está fazendo aqui? Onde estamos?

— O mesmo que você e estamos no subterrâneo. – ela respondeu com a voz rouca, tossindo.

— Porque estou aqui? – sussurrei.

— Porque você sabe demais e é uma ameaça a Daniel Morgenstern. – Celeste respondeu enjoada ao falar o nome do meu irmão, me deixando desconfortável.

— O que você sabe sobre ele? – perguntei curiosa, além de Adam e And, quem mais estaria o ajudando? Quem mais faria algo tão ruim para os próprios colegas de faculdade?

Minha cabeça rodava com tantas perguntas.

Ela suspirou.

— Daniel me encantou o suficiente para fazer o que ele queria. – ela respondeu dez tons mais baixo, como se estivesse com vergonha de dizer em voz alta, de reconhecer o próprio erro e eu estava com medo de perguntar o que ela havia feito, estava com medo de saber porque se tratava dos meus amigos. – Desde quando ele chegou aqui eu tenho ficado com ele, passava algumas poucas horas na faculdade e precisava voltar aquela casa porque precisava estar com ele.

— Que casa? Onde Daniel estava? – perguntei lembrando da casa onde havia pegado a caixa, as fotos e os papeis. A casa onde “A” sabia que eu estaria e nos fez correr ao chamar a polícia.

— Você a conhece, você já foi lá e o roubou. – Celeste disse, um riso baixo e eu sabia que ela estaria imaginando algo, como se lembrando de algo. – Você roubou o próprio irmão.

— E-eu não sabia. – falei rapidamente um pouco me desculpando, um pouco me defendendo.

— É verdade. Mas ele ficou muito irritado. – ela disse. – Estava esperando a próxima fase do jogo para pegar suas amigas, mas uma delas caiu e Daniel não perdeu a chance.

— O que? – perguntei chocada. – Porque ele estaria esperando uma fase do jogo? – perguntei sentando-me no chão, tentando entender as inúmeras equações que apareciam em minha frente.

Daniel, o jogo demoníaco, o acidente da Manu, Adam, And e agora Celeste presa no mesmo lugar que eu.

— Você ainda não entendeu? – ela perguntou intrigada. – Seu irmão me disse que você seria a primeira a descobrir tudo, ele disse que sempre foi aguçada.

Mas eu não sou porque estou com medo. Não sou esperta quando meus sentimentos estão a flor da pele e Maxon pode está ferido em algum lugar por ai, quando minha mente é um misto de confusão e dúvidas que nunca ninguém consegue me responder.

— Ele disse que quando você visse sua imagem com a mãe iria ligar para ele, iria pedir ajuda. – Celeste estava falando. – Mas talvez ele tenha ficado com raiva por ver você correr até suas amigas, abraçar Maxon e não lembrar dele, do próprio irmão.

— O que fez isto comigo? É, eu não poderia lembrar dele. – falei irritada. – Porque essas pessoas, Celeste? Porque aqui?

— Seu irmão estava planejando isso a anos porque ele sempre invejou o carinho que seus pais davam a você e só a você. Enquanto você e suas amigas pesquisavam faculdades por aqui, ele estava fazendo quase a mesma coisa. Procurava apartamentos, lugares inativos. – eu estava chocada, os olhos arregalados tentando acreditar o quanto aquela pessoa sabia sobre mim, sobre nossa vida. – E ele foi o primeiro que convenceu seu pai a deixá-la vir, não foi? Daniel pesquisou todos os alunos da faculdade e se interessou por alguns quem ele chama de os três Ás. A princípio o plano era assustá-la, machucar seus amigos, mas não matá-los até que Adam passou dos limites e matou Dylan no hospital. Seu irmão ficou muito irritado, mas quando viu que isso te machucou, as coisas começaram a ficar mais sérias. Ele me obrigou a colocar droga na bebida de Lethicia, ele disse que a faria desmaiar e não morrer. Daniel foi esperto por ter escolhido justamente as pessoas que odeiam seus amigos, principalmente os Maddox. Adam poderia ver Aaron morto, And queria se vingar de Maxon e Aspen faria tudo para irritá-los.

— Espera. – falei ao ouvir o último nome, puxando ar com a boca por ter sido tão idiota e burra, por não ter sido inteligente o bastante para estranhar tal aproximação daquele garoto bonito e simpático. Por ter mentido para Maxon, por ter dado a Aspen o que ele queria. – Aspen Leger está ajudando meu irmão? – perguntei sem acreditar, meu estômago revirava de nojo e por um instante achei que iria vomitar.

— Sempre foi. Aspen, Adam e And os três Ás. And estava com raiva, enciumada porque Maxon não ligou de volta depois que saiu com você. E não pense que Aspen deixou de comentar seu momento com ele e infelizmente ele detalhou tudo.

Oh não.

— Porque você está contando isso para mim? Porque agora?

— Porque se depender do seu irmão, estaremos mortas até o baile.

— O baile? – perguntei nervosa. – Daniel vai fazer algo no baile? Ele está planejando algo?

— É claro! Será a reunião de todos os alunos da faculdade e como ele está imitando o tal jogo idiota, será o gran finale.

Eu estava fora de órbita longe dali e de qualquer pessoa que falava ou me queria mal ou até me ama. Estava no espaço perdida com todas aquelas informações que Celeste jogava para mim sem receio, sem hesitação. Ela poderia está perdida, tendo apenas uma opção de final mas eu não poderia acreditar que todos teriam o mesmo fim. Não poderia acreditar que Daniel faria algo tão diabólico com essas pessoas que não fizeram nada contra ele. Eu era a culpada, eu deveria está machucada, está morrendo e não os outros.

Celeste contou sobre Daniel está imitando o jogo – até então desconhecido – que ele havia espalhado por todo o campus da faculdade, ele queria fazer história transformando o jogo em realidade e eu não entendia como seria depois disso, o que aconteceria com ele ao acabar tudo.

Fama? Dinheiro? Admiração? Era tudo o que ele não teria depois de matar centenas de pessoas por um jogo idiota.