Orléans, 04 de maio de 1807.

Estava na residência de seu primo Luís Filipe, o Duque de Orléans. O autoproclamado Rei Luís XVIII havia conseguido atravessar seu país e chegar até um lugar de confiança. Sua esposa Maria Josefina de Saboia estava dando a luz. Ao certo, Luís não sabia o que queria, por um lado almejava muito ter um filho ou uma filha, mas por outro, não se era tempo para ele ter uma descendência, não agora visto tudo o que a França estava passando. Além de seu primo, sabia que poderia contar com mais um amigo dentro de seu território. Já estava com todo o plano em sua cabeça: ninguém saberia sobre o nascimento de seu filho ou filha, depois que sua esposa já estivesse disposta eles iriam diretamente e discretamente para Caen, que era mais perto do que Calais e embarcariam para a Inglaterra. Seus pensamentos foram interrompidos por seu primo anunciando que a Casa Bourbon tinha mais um descendente, ao chegar ao quarto, se depara com Maria Josefina com um olhar cansado e triste. Mesmo com medo, foi para mais perto a fim de ver seu filho e se ajoelhou perto da esposa.

- Me perdoe Majestade – ela disse e, sem entender Luís a questiona – Não é um menino.

- Não tem problema – ele diz – Você sabe que não faço distinção entre homem e mulher, é a nossa filha. A princesa da França! – termina tranquilizando sua esposa e pegando sua filha.

- Como quer chamá-la meu Rei? – seu primo pergunta.

- Parece-me que ela será a mais bela mulher em toda França... Podemos lhe dar o nome de Belle. O que acha Maria? – pergunta olhando para ela.

- Acho perfeito Luís. – ela responde.

Depois de quase dois meses do nascimento de Belle, eles finalmente estavam seguindo seu destino. Utilizaram a mesma estratégia que da última vez, se vestiram da maneira mais simples que podiam e utilizariam uma carroça para seguir viagem. Sua carruagem real seria uma distração, enquanto eles se dirigiam ao norte da França, a carruagem começaria a se dirigir a leste, em direção à Áustria. Tempos depois já estavam em Chartres e junto com eles estava um soldado particular para protegê-los e entrar um contato com outro soldado, assim saberiam se as tropas de Napoleão estavam por perto. Já estavam viajando muito tempo sem parar e por isso decidiram fazer um descanso. Luís e Maria estavam aproveitando para observar ainda mais a filha, parecia quase surreal, eles finalmente tinham uma criança. Poucos minutos depois o soldado volta com uma carta direcionada a Luís e com muito receio à pega. Não pôde conter o enorme alívio ao ver que aquela carta era de seu amigo.

- O que aconteceu Luís? De quem é essa carta? – Maria pergunta, ajeitando Belle em seu colo.

- Lembra-se daquele amigo de quem lhe falei? – ele pergunta e ela concorda com a cabeça – Então, ele está nas redondezas e quer falar comigo. Ele diz aqui que tem tropas vindo de encontro com nós.

- Ele está certo senhor. – o soldado disse

- Mas e se for uma emboscada Luís? – Maria pergunta

- Se me permite senhora, eu acho melhor fazer o que diz na carta – o soldado fala novamente – Se for uma armadilha, sinto em lhe dizer Majestade, estaríamos encurralados, já que há mesmo tropas vindo em nossa direção.

- Mande nossa resposta Pierre. Vamos nos encontrar com ele. – o Rei fala

Já no dia seguinte, Luís já estava chegando ao local combinado. Pierre se adiantou um pouco e ao voltar disse que estava tudo bem. Chegando lá, disse a Maria para que esperasse um pouco mais atrás e para que Pierre ficasse com ela enquanto ele iria de encontro com seu amigo e depois de andar mais um pouco se deparou com ele.

- Jean! Que bom vê-lo meu amigo! – disse indo para um abraço

- É bom vê-lo também meu Rei. – ele respondeu – Temo que a França não será segura para você e sua esposa por um bom tempo.

- Eu também acredito nisso. Mas como você está se virando no meio de tudo isso? – perguntou

- Não está sendo fácil, mesmo eu não sendo um nobre todos sabiam da minha aproximação com você. Tive que entregar alguns nobres para aqueles loucos do Marat e do Robespierre. Eles guilhotinavam quem eles quisessem. Foi terrível. – Jean fala

- Posso imaginar. Jean, eu tenho que lhe dizer uma coisa, ou melhor, lhe mostrar uma coisa. – ele fala e Jean não entende – Maria, pode vir – Luís grita e pouco depois sua esposa acompanhada por Pierre aparece. Quando a Rainha vai mais perto Jean faz uma reverência e nota algo nos braços dela. Luís se aproxima e pega sua filha nos braços e mostra a seu amigo – Esta é Belle, a princesa da França.

- Eu... eu não sei o que dizer – Jean fala

- Só prometa que irá guardar esse segredo para nós. Pelo menos até que eu consiga assegurar o meu trono. – Luís responde

- É claro Majestade – Jean fala e se ajoelha – Se me permite meu Rei, eu tenho uma ideia para a proteção da princesa – ele diz e olha para cima. Ao ver o olhar encorajador de Luís se levanta e continua. – Eu estou de mudança para a minha casa Évreux, com minha esposa e meu filho que nasceu em janeiro.

- O que você está propondo senhor? – Maria pergunta

- Vocês estão indo por um caminho muito perigoso, qualquer caminho para vocês é perigoso. Deixe a princesa Belle comigo, pelo menos por enquanto, vão para seu destino, se fortaleçam e quando for o momento certo vou mandá-la para onde vocês estiverem – ele fala e vê Luís ponderar a proposta – Dou-lhes a minha palavra que ela terá uma boa educação enquanto estiver comigo.

- Bom, e se alguém perguntar quem é ela? – Luís pergunta

- Falo que é minha sobrinha. Minha amada irmã morreu há pouco tempo dando a luz para essa linda menina. – Jean responde.

- Querido, acho que é a melhor coisa para se fazer. – Maria se pronuncia

- Você está certa. – Luís fala – Cuide muito bem da minha filha Jean, confio muito em você.

- Vou cuidá-la com a minha vida Majestade.

- Diga-me uma última coisa, qual o nome do seu filho? – o rei pergunta

- Enjolras. O nome dele é Enjolras.