A ideia era péssima, mas diante das circunstâncias eu resolvi aceitar, já que eu havia assumido o plano de apenas viver a vida para ver onde ela me levaria. Eu poderia ser morta a qualquer instante, mas a sensação de liberdade me fazia querer cada vez mais. Robin me entrega um capuz carmim para que não chamasse tanta atenção para minha camisola, e então me acompanha até a porta, quando ouço alguém gritar lá de dentro.

—É a princesa noiva! Ela é minha!

Olho para Robin assustada e ele rapidamente me coloca sobre Galope e assume as rédeas enquanto eu me agarro na sua cintura e vejo alguns homens correndo atrás do cavalo na tentativa de me perseguirem. Galope acelera e de repente sob o comando de Robin e depois de alguns metros, tudo se acalma aos redores. A paisagem do vilarejo começa a se transformar em apenas floresta e o mar azul ao longe. Robin não havia dito uma única palavra desde a taverna e eu estava desconfiada, partindo do princípio de que é um tagarela sem fim sobre coisas fúteis.

—O gato comeu sua língua? – Sorrio, enquanto Galope agora apenas caminha sobre as trilhas de barro batido.

—Só estou preocupado.

—Você? Com o quê?

—Com você, é claro. – Ele olha para mim por cima de seu ombro.

Depois de alguns segundos tentando associar o que dizia, Robin para o cavalo e desce. Em seguida ergue a mão para me ajudar a descer também e olha para o mar por algum tempo antes de olhar pra mim novamente.

—Por que não se casa?

—Sério que você me perguntou isso?!

—Emma, eu não sei se vale a pena se arriscar tanto.

—Você quem deu a ideia! – Começo a rir.

—Por mais que Gancho é como um irmão pra mim, depois de hoje na taverna com os homens...

—Robin, eu sei me cuidar muito bem, não precisa bancar o irmão mais velho. – Vejo sua nítida indignação – Ah! E o Pinóquio? Ninguém desconfiaria dele também!

—Jura? – Ele me olha incrédulo – Na primeira pergunta que fizessem a ele já entregaria o jogo.

—Verdade.... Tudo bem, entendi que não temos outra escolha mesmo. E você tem que entender que eu não vou voltar para o castelo sem ter certeza que não me forçarão a mais nenhum casamento.

—Você é quem dita as ordens, mas por garantia.... – Robin retira seu cordão envolto no seu pescoço e o coloca em mim – Fique com isso.

—O que é isso?

—É a minha garantia de que vá ficar bem.

—Posso saber mais detalhes?

—Na hora certa, sim.

—Para de ser tão enigmático, Robin!

—E você, pare de ser tão curiosa. Vamos, precisamos chegar antes de anoitecer. O navio parte hoje ainda.

—Pra onde?! Eu achei que eu ficaria apenas escondida no barco!

—Surpresa! – Ele sorri e logo respira fundo – Entendeu porque eu estou preocupado agora?

—Eu adoro uma aventura mesmo...

Chegando perto do trapiche de embarcação, havia apenas algumas pessoas rodeando por ali, retirando a rede de pesca dos barcos, limpando peixes ou chegando para atracar no porto. Não eram muitos, mas dentre eles, o maior navio que eu já havia visto.... O Pérola Negra. Desço do cavalo sozinha e olho-o incrédula ao ver onde eu entraria em poucos minutos.

Não demora para que um homem me veja e comece a assoviar para os outros me notarem. Os segundos seguintes foram inesperados. Um pescador havia surgido por entre as árvores agarrando-me por trás, gritando “eu vou ser o noivo!” quando Robin lança seu punho contra o rosto do mesmo que me solta instantaneamente. Vejo mais dois correndo na minha direção, e então eu saco a faca que Robin guarda em sua bota e aponto para eles, que param rapidamente erguendo as mãos.

—A noiva está armada! – Um deles grita.

—E você não sabe onde posso enfiar isso!

—Pode começar comigo, gosto das perigosas. – O outro diz.

Encaro-o furiosa e num golpe que aprendi na guerra, faço um corte na sua perna e dou-lhe uma cotovelada para que caia com as costas nas pedras.

—Tudo bem, já chega. – Diz Robin.

Alguém bate palmas e me viro confusa. Capitão Gancho se aproxima ao lado de um de seus marinheiros, que após um sinal do mesmo, para de bater palmas. Vejo que Gancho havia se aproximado, numa tentativa de me ajudar caso precisasse e por mais que eu estivesse tremendo um pouco por conta da adrenalina, eu estava no controle.

—Contratei ele pra isso, já que.... – Ele mostra o seu gancho e dá de ombros, me olha de cima a baixo – Fiquei impressionado com....

—Gancho, mais respeito! – Robin se posiciona – É a princesa Emma!

—Oh! – Ele finge espanto e ironiza – Quase não a reconheci de camisola. Eu sei quem ela é! Inclusive, estou a seu dispor....

Ele faz uma reverência assim como o marinheiro coadjuvante, porém um tanto debochada e sorri para mim. Se não fosse tão arrogante eu até poderia dizer que ele também tem um belo sorriso.

—Gancho, ela está nas suas mãos, não faça com que eu me arrependa! – Robin o encara.

—Está comigo, está com.... deixa pra lá.

—Vamos ir logo ou preciso esperar outro ataque de tarados?

—Por mim.... – Gancho diz com indiferença.

Viro-me para Robin e o abraço forte, como se fosse o último. Como não havia previsão de voltar, aproveito ao máximo e o aperto com força. Sinto seus braços firmes em volta de mim, sua pele suada e o cheiro de cerveja que impregnava sua roupa. Por um momento eu quase desisti de partir, porque não imaginava um futuro sem Robin ao meu lado, até porque eu quase cresci junto com ele e me descobri como uma mulher independente graças a todas as experiências que já passamos.

—Se cuide, pequena. – Robin finaliza o abraço com um beijo na minha testa e então sorri. – Agora vai antes que eu fique emotivo.

Após uma troca de sorrisos, corro até o navio a qual Gancho já estava embarcando. Não havia ideia de onde estava indo, mas sentia que precisava ir.