Acordo com um clarão repentino no meu rosto e apenas depois de longos segundos eu consigo abrir os olhos. Dou de cara com a minha mãe de braços cruzados ao lado da janela, que refletia o intenso sol vindo de fora. Naquele segundo havia esquecido sobre ontem, mas a dor de cabeça me fez relembrar...

—Precisamos conversar.... De novo. – Diz ela, ainda plena.

—Mãe...

—Você por um acaso gosta de mulheres?

Aquilo me pega de surpresa e eu acabo soltando uma gargalhada. Eu estava programando minhas respostas prontas para tudo o que ela poderia me falar naquele momento, pois essa cena se repetiu muitas vezes, mas isso... Nunca iria me passar pela cabeça que ela pudesse me perguntar assim. Minha mãe, a Rainha de Storybrook era uma figura de muita elegância e compostura, raramente eu a via furiosa; claro que todas as vezes foi por minha causa.

—Não, mãe. E não tenho nada contra os homens que vocês escolhem. Na verdade, na maioria das vezes tenho sim, mas... Isso não é pra mim. Eu não consigo acreditar que isso vá me deixar feliz. Você e o papai não foram assim, por que eu tenho que ser?!

—É diferente.... Precisamos prosseguir com o nosso reino, e por mais que há primos que moram longe e poderiam assumir, nós queremos muito que seja você, filha.

—E por que não posso assumir sem um rei? Os tempos mudam, não é?

—Você não daria conta.

—Então vocês duvidam da minha capacidade? Entendi!

Levanto-me da cama num pulo e calço as minhas botas ainda com a minha camisola. Aquelas palavras ditas por mim me golpearam tão forte que eu não pude acreditar que a fonte de todo o problema era exatamente esse.... Eu não sou capaz de governar sozinha.

—Filha, não me entenda mal, mas eu estou com seu pai há anos e sei como é duro lidar com os problemas de todo um reino! Seu pai faz a maior parte, porque eu não faço ideia de como....

—Exato! Você não faz ideia de como fazer tudo sozinha. Não queira definir os outros a partir de você, mãe! Eu sou feliz sendo eu mesma e vivendo sozinha! Há 24 anos é assim! Já lutei numa guerra ao lado do pai, resolvi problemas financeiros indo eu mesma para o vilarejo e ajudei as pessoas mais carentes que você imagina. Eu sei quanto é injusto o salário de um cocheiro da realeza e um dono de bar que trabalha as 24h do dia. Realmente, eu não entendo nada do reino!

Visto minha jaqueta vermelha de couro e saio do meu quarto batendo a porta. “Encare seu destino e vá viver” eram as palavras de Regina que não saíam da minha cabeça enquanto eu pegava um dos cavalos para correr sem rumo. Meu destino não é aqui, talvez não agora. Eu sinto como se o mundo estivesse a disposição pra mim esperando meu passo inicial.

Galope, meu cavalo companheiro desde a infância toma velocidade e eu apenas sinto meu cabelo livre e o vento no meu rosto. Meu corpo estava tomado pela sensação de liberdade e adrenalina, eu não podia ver a hora de... As árvores começam a se mexer e os galhos tentam me alcançar numa tentativa de impedir minha saída. Alguns, chegam a me machucar enquanto eu me debatia sobre eles como se fossem lâminas. Galope estava parando de correr e também levou um corte e aquilo fez a minha raiva aumentar... Meus pais enfeitiçaram o castelo para que eu não pudesse fugir... eles previam isso.

—Emma! – Ouço alguém exclamar por entre os galhos.

Instantaneamente, os galhos de alguma forma se afastam bruscamente de nós dois e eu então consigo ver Regina no meio do caminho com suas mãos erguidas. Ela usou sua magia para me ajudar e naquele momento, eu tive certeza de que eu havia conseguido ela no meu time. Ela apenas sorriu me encorajando e eu segui caminho com o Galope.

O primeiro lugar que me veio a mente foi a taverna, é claro. Amarrei Galope do lado de fora e dei algumas moedas para um senhor idoso ficar de olho nele enquanto eu estivesse lá dentro. Correndo para dentro, vejo que todos os homens sem exceção olham imediatamente para mim e então eu me dou conta de que fugi usando a camisola de pijama. Corada, vou até a mesa de Robin, que no momento estava cantando uma jovem moça.

—Preciso de um lugar pra ficar.

Ele rapidamente me analisa e para seus olhos nos meus, constrangido. Nunca o tinha deixado sem palavras, e agora ele conseguiu apenas concordar e dispensar a moça completamente sem jeito. A mulher não reagiu bem, é claro, e lhe deu um tapa bem dado na cara.

—Eu espero que valha a pena. – Ele apenas diz, massageando o rosto. – E o que aconteceu com você? Esses arranhões....

—Eu fiz o que há tempos queria fazer.... eu fugi de casa e preciso de um lugar pra ficar.

—Ah.... – Ele olha ao redor e nota os olhares curiosos dos outros homens – Continuem fazendo suas coisas! Que falta de respeito com essa dama!

—Já podemos ir?

—Calma, deixa eu pensar.... – Ele leva a mão ao queixo, reflexivo – você ficar comigo é muito óbvio, eles vão me procurar de primeira.

—Eles não vão poder me levar a força de volta!

—Eles vão. – Ele me olha com sinceridade – Mas.... Talvez eu conheça alguém que possa te ajudar, mas não sei se você vai gostar da companhia....

Franzo o cenho tentando ler suas expressões, mas não me vinha nenhum nome a qual fizesse um sentido até ele terminar de falar.

—Capitan Hook. – Ele usa seu sotaque gringo para pronunciar, fazendo um gesto de gancho na mão.

—O ladrão? – Pergunto, incrédula.

—Ninguém desconfiaria dele. – Robin ergue os ombros, mostrando que estaria disposto a tentar.