Só há um pequeno problema quando entro naquela taverna. Eu não sei o que acontece, mas sempre que eu passo por aquela porta eu nunca volto sóbria e nesse momento eu agradeço por não usar coroa, já que eu quebraria todas que usasse por falta de equilíbrio ou confusões de bar. Acredito que Robin Hood tem uma baita parcela de culpa nisso tudo, por ser meu grande influenciador do álcool.

Não resisti e ali estávamos nós dois novamente na competição de cerveja. Jolly, o dono, havia um copo de tulipa de 1 litro e hoje eu tentava bater o meu record de 15 segundos que inclusive, foi ideia dele. Robin me entrega a tulipa cheia com um sorriso desafiador e antes de tomar, respiro fundo. No momento, virei a atração da noite e todos voltavam seus olhares para mim, o que sinceramente me deixava constrangida, porém entusiasmada com a ideia de me superar e ter testemunhas para fazer o meu legado.

—Vira, vira, vira.... – Todos repetiam.

Uma das técnicas principais para a agilidade dos goles é deixar a garganta bem aberta e respirar nos tempos certos e nisso eu já tinha prática. Mas chegando no fim, lembrei que não havia comido direito antes e senti meu corpo pender para trás da banqueta a qual eu estava sentada, quando senti alguém me segurar.

—Foi por pouco, princesa! – Reconheço a voz de Daniel.

Solto-me de seus braços, agitada.

—Tire suas mãos de mim!

—Você o conhece?

—Perdão, princesa. É que você estava caindo e.... – Daniel tenta se explicar.

—Tirem-no daqui!

Robin levanta-se quase que imediatamente e o empurra para fora do bar, enquanto eu tento me manter em pé. Olho para minha tulipa ainda em mãos e vejo que havia deixado alguns goles e isso quebra minha empolgação. Não foi hoje que consegui vencer Robin Hood.

—Não deveria estar em outro lugar?

Aquela voz eu conhecia bem. Regina Mills, os olhos dos meus pais. Ela fica na minha cola desde meus 15 anos, quando eu comecei a fugir do castelo em busca de aventuras e nos últimos anos, ela é quem esteve indo atrás de mim todas as vezes que tento burlar um casamento. Regina no início era sempre muito certinha e não me deixava sequer usar a roupa que eu queria vestir, mas ela já tem melhorado muito e a minha missão é convertê-la para o meu lado de uma vez por todas.

—Depende... – Eu percebia que meu raciocínio não estava tão rápido, então tento disfarçar usando palavras complexas para não notar meu baixo nível de sobriedade -... a questão a ser enfatizada está na perpendicularidade a qual a situação sempre há de terminar.... Aqui...

Ela parece segurar o riso, porém se mantém firme. Sua pose madura e correta sequer se perde enquanto ela permanece de pé na minha frente. Eu explodo em gargalhada e sento-me na banqueta novamente depois de quase cair de novo e retomar meu equilíbrio corporal. Ela ajeita seu belo vestido antes de continuar a falar comigo.

—Emma.... Não vou conversar com você sobre isso agora, mas você precisa tomar o seu rumo de uma vez por todas.

O olhar dela foi diferente de qualquer outro que ela já tenha me dado. Não foi nem perto de ser uma espécie de repressão, raiva ou desapontamento, ela parecia mesmo estar me incentivando a seguir o que eu realmente queria. Ninguém mais do que ela para me conhecer tão bem, após me acompanhar por anos nas minhas encrencas, desabafos ou aventuras. Ela permanecia me olhando daquele jeito com um leve sorriso de canto.

—Eu.... Isso é o que eu estou pensando? Você vai ter que ser mais clara, não estou em condições de....

—Emma, eu cansei de te ver fugindo. – Ela dá de ombros – Encare o seu destino e vá viver!

—Pronto! – Robin volta extasiado – Menos um!

—O que vocês fizeram com ele? – Regina pergunta, preocupada.

—Eu disse que eu era seu namorado. – Robin olha para mim e eu tenho outra crise de riso – Claro, depois de termos sem querer dado uma lição...

Robin comprime os lábios ao relembrar dos segundos atrás e logo ergue a sobrancelha na tentativa de se livrar de seus pensamentos. Regina apenas revira os olhos, repreendendo-o por tanta violência e o mesmo apenas a ignora.

Robin e Regina tiveram um caso anos atrás, antes dela ser olheira dos meus pais. Os dois se davam muito bem e pareciam um perfeito casal, até que ele começou a beber muito e passou dos limites de todas as formas com ela. Já conversei sobre isso com ele e apesar de arrependido, Regina ainda parece não ter o perdoado, sempre deixando o clima meio pesado quando se reencontram.

—Gente.... – Seguro o braço para me equilibrar e acabo vomitando no chão.

—Essa é a minha garota... – Robin segura o meu cabelo e ri da situação toda.