Mais uma vez, meus pais arranjaram um príncipe para que eu me casasse. Eu perdi as contas de quantas vezes eles tiveram de procurar pelos reinos em busca de alguém “perfeito” para mim. Este por sua vez, viria do reino Multan, famoso por sua belíssima criação de cavalos belgas, os mais bem cuidados da região. Meus pais estavam ansiosos como sempre e empolgados por mais uma tentativa de um casamento arranjado. Digamos que meu histórico começava a ficar bem longo com todos os noivos já eliminados. Alguns, optei por ofender os pais do príncipe de modo que eles desistissem da união; outros, entrei extremamente bêbada no altar a ponto de entrar em coma alcóolico antes do sim; e ainda teve aqueles que eu mandei alguém dar um sumiço. Nunca matei ninguém, mas diria que um rápido sequestro forjado, sim.

—É o décimo primeiro príncipe, Emma. – Minha mãe me olha como reprovação enquanto ajeita os meus cachos com os dedos – E eu tenho certeza de que irá se encantar por este. Ele é moreno, forte e é extremamente carinhoso.

—Nossa, agora sim me convenceu. – Ironizo, desviando das mãos de minha mãe.

—Emma...

—Prontas? – Meu pai bate a porta. – A carruagem chegou.

—Por favor, mantenha a elegância. Coluna ereta, cabeça...

—...Cabeça erguida, ao sentar cruzar as pernas, manter o peito estufado, elogiar e bajular os pais. – Digo com desdém – Já ouvi isso... Quantas vezes? Ah, perdi as contas....

Depois do olhar de reprovação, descemos as escadas até o saguão principal. Podia jurar que o Príncipe poderia me engolir viva com os olhos a medida em que me aproximei. Aquilo já me consumiu por dentro de um jeito que todos os outros haviam feito. Eu estava solteira por opção, mas a atitude masculina de tratar as mulheres apenas como objetos me irritava de forma que eu não conseguia me imaginar com alguém. Todos sempre se demonstravam muito pomposos, mas nada além disso.

—Apresento-lhes o Rei Gesper de Multan e sua esposa, a Rainha Lauren. – Meu pai diz orgulhoso, olhando para mim com esperanças.

Apenas aceno com a cabeça e um sorriso de canto, perdida em meus pensamentos sobre a forma da qual me livrarei daquele príncipe, que por sua vez, dá um passo a frente e estende-me a mão, curvando-se levemente enquanto me olha nos olhos.

—Permita-me apresentar. – Ele diz, e ao ver que permaneci relutante, endireita-se – Príncipe Daniel, ao seu dispor. É uma honra conhece-la pessoalmente.

—Que rapaz educado. – Minha mãe sorri largamente – Não vai dizer nada, Emma?

Analiso-o por um momento, entediada com a situação.

—Seu cadarço está desamarrado.

Volto-me para a mesa de jantar, onde seria servido o banquete. O cadarço dele não estava desamarrado, até porque seu sapato era de couro totalmente fechado, mas me diverti ao vê-lo olhar para o chão, desnorteado. Aliás, esses casamentos arranjados até me divertiam.

Falaram muito sobre seus reinos, sua criação esplêndida de cavalos belgas, sobre os antepassados... até chegarem no assunto do casamento. Eu ouvia tudo com muita paciência, enquanto bebia a taça de vinho a minha frente. Daniel não parou um segundo sequer de me olhar e aquilo era um saco! A Rainha me bajulou algumas vezes em relação a minha aparência, até que ela chegou no assunto sobre filhos.

—Imaginem só, os filhos de vocês com esses cachos loiros?

—Como é? – Encarei-a, incrédula.

—Após o casamento, virão os herdeiros! – Ela continua empolgada, olhando para todos na mesa com brilho nos olhos.

—Isso é demais pra mim. – Levanto-me da mesa – Vou encher a cara.

Afasto-me da mesa ouvindo murmurinhos.

—Emma! – Ouço meu pai me chamar.

—Vou tentar não arrumar confusão no bar hoje, prometo. – Digo ainda em direção a porta, segurando-me para não rir, imaginando a cara feia de meus pais.

Saio assobiando pela porta do castelo e então corro até Pingo, meu mascote e melhor amigo desde a infância, e cavalgo até a taverna de pedra. Era o bar que eu mais frequentava e onde eu espairecia; as vezes sozinha e as vezes arrumando alguma confusão. Todos me tratavam com normalidade depois de eu implorar para que não me tratassem com todas aquelas frescuras da realeza, o que acabou me trazendo muitos amigos bêbados e cai entre nós, eles são os melhores, me conheciam como ninguém.

—Mais um casamento pro saco? – Jolly, o dono do bar me cumprimenta detrás do balcão, alcançando-me uma cerveja.

—Espero que sim. – Sorrio, virando o copo.

Todos urram por um momento. Nunca sei se estão felizes como eu, ou se eles tem a esperança de um dia serem eles os escolhidos e novamente cai entre nós, meus pais não os escolheriam.