Lorena

Na hora combinada, Ed e Alice chegaram e levamos tudo para a clareira juntos. Todos nas trilhas a caminho da clareira usavam roupas coloridas e leves. O céu limpo prometia uma noite quente, apesar da brisa que fazia as folhas farfalharem.

Quando cheguei, parei um instante para olhar ao redor. Sempre me distraía com a clareira preparada para a noite do festival. Todas as árvores enormes ao redor tinham seus galhos cheios de velas acesas. A cera já tinha começado a derreter e escorrer em direção ao chão. Havia anos de cera acumulado lá: quando uma vela se apagava, outra era colocada por cima, sem retirar o que já tinha escorrido e voltado a endurecer. Por isso, todos os galhos ao redor pareciam cobertos com uma barba branca e cheia que ficava mais comprida a cada ano, mas que só ganhava vida mesmo quando as velas nas copas voltavam a ser acesas. Quando isso acontecia, os fios de cera brilhavam com a mesma luz do fogo.

Um fogo tão bonito que não me fazia tremer de medo.

— Lóris — ouvi Alice me chamando.

Sacudi minha cabeça e olhei para os dois, que tinham parado, bem à frente, para esperar que eu os alcançasse.

— Já estou indo.

Dei três passos apressados e logo estávamos lado a lado de novo.

Continuamos em direção aos tecidos coloridos amarrados entre três das árvores mais velhas e saudáveis, formando uma cobertura sobre a mesa forrada. Já havia um pouco de comida lá, principalmente pescados, mas não demorou para algumas cabeças se virarem ao sentirem o cheiro da comida de Dorothea.

Ed olhou para as cabeças atentas e depois para mim.

— Ei, Lóris, a Dorothea separou alguma coisa pra gente, né?

Fiz que sim, batendo na trouxa pendurada no meu cotovelo.

— Ufa... — Ed soltou tudo o que carregava na mesa. — Pela cara deles, não acho que vá sobrar nada pra gente.

Ri baixinho.

Depois, levando nossa própria comida, fomos pra fogueira. Nos sentamos no lugar de sempre, um pouco mais atrás, mas de onde ainda podíamos ver tudo que acontecia ao redor do fogo. Havia um aglomerado de pessoas esperando sua vez na frente da fogueira – que ficava numa das extremidades da clareira, mas alguns passos distante do anel de árvores –, para fazerem seus pedidos para os Espíritos. E muitas outras pessoas, como nós três, tinham se sentado para assistir às solicitações que deviam ser feitas em voz alta, diante de todos.

Um casal deu um passo adiante, em direção à plateia, quando chegou a vez deles na fogueira. Os dois avançaram de mãos dadas, um encarando o outro, tão focados que nem sei como não tropeçaram. Não deviam ser tão mais velhos que a gente, mas já eram adultos, eu acho. A menina, que eu me lembrava, tinha dezoito anos.

O rapaz encarou as pessoas ao redor, e depois olhou de volta para a menina. Não parecia nada confortável, ou corajoso. Não era legal estar sob os olhares de todos assim. Eu sabia. Mas ele teria que superar. Se não falasse alto, os Espíritos não o ouviriam.

Os dois apertaram as mãos um do outro ainda mais forte, levantando-as, e ele pigarreou, tomando fôlego.

— E-eu te amo! — Ele gaguejou, apertando as mãos dela com força.

Ela segurou o riso e balançou as mãos dele, que segurava com cuidado.

— Eu também te amo! — Respondeu.

Todos aplaudiram quando o casal se abraçou e beijou. Ao meu lado, Ed fez uma encenação exagerada de que iria vomitar, e lhe dei uma cotovelada nas costelas. Alice riu.

Ele esfregou o lugar com as mãos.

— Doeu... — Resmungou.

Várias outras pessoas também fizeram o mesmo depois do casal: mais pessoas apaixonadas, uma mãe pedindo a benção dos Espíritos para seu filho recém-nascido, um senhor doente...

Depois de todos fazerem seus pedidos, música começou a tocar e vários casais se levantaram para dançar diante do fogo, assim como aquele casal tímido que tinha acabado de jurar amor na frente de todos. Toquei o amuleto que Byakko tinha me dado. Já tinha um tempo que eu me habituara a usá-lo pendurado no meu pescoço, por baixo da roupa. Ainda mais depois de ter descoberto a magia dentro dele. Pouco tempo depois do meu aniversário, Byakko tinha me explicado que ele não era apenas um amuleto, mas um talismã com magia de verdade. E o poder de invocá-lo.

— Você deve usá-lo sempre — ele disse. — Não há perigo algum na magia que ele carrega. Na verdade, é um pequeno feitiço de proteção. Uma benção.

Esfreguei as ranhuras nas costas do animal esculpido. Será que era naquela palavra que estava a magia?

— De quem era o amuleto? — Perguntei, curiosa. — Foi de alguém da cidade destruída?

Byakko olhou para cima, e depois pros próprios pés, com suas mãos escondidas atrás do corpo.

— De certa forma... — ainda era uma resposta evasiva, mas que me deixou feliz, já que sua resposta padrão para quando eu tocava no assunto da cidade em ruínas era resposta nenhuma.

Byakko colocou o cordão ao redor de meu pescoço, roçando os dedos frios na minha pele. Por um longo minuto ele encarou o amuleto sobre o meu peito, sorrindo discretamente.

— Por que você está sorrindo, Byakko?

Ele olhou nos meus olhos e piscou devagar.

— Ah, é, desculpa. Eu acabei me lembrando de algo.

Ele deu um grande passo para trás, me encarou e continuou:

— Você disse alguma coisa...?

Suspirei. Podia já estar acostumada a ter que repetir algumas coisas pra ele, ou até mesmo explicar outras, mas tinha hora que ficava cansativo.

E, algumas vezes, eu achava engraçado.

Desisti de fazê-lo se abrir e continuei a conversa:

— Como funciona a magia do amuleto? — Perguntei. — Ele levanta um escudo ou algo assim? Porque isso seria muito legal.

Ele riu, sacudindo sua cabeça.

— Não, não, nada disso.

Revirei meus olhos.

— Então o que o amuleto faz, afinal?

— Ela chama um guardião.

Que?!

— Que guardião?

Agora ele sorria como se zombasse de mim.

— O único que tem o nome gravado no amuleto.

Ele voltou a se aproximar, um pouco devagar, e pegou o amuleto com a corda ainda em volta do meu pescoço. Ele o virou, apontando as ranhuras nas costas do animal esculpido.

Ah, então era isso que os símbolos significavam.

— Se você estiver em perigo, ou com medo, você deve segurá-lo assim — Byakko pegou minhas mãos entre as dele e as colocou em volta da pedra, apertando-a —, e então chamar por mim. Chamar pelo meu nome.

Pisquei os olhos devagar e olhei para frente. Um movimento, fora do anel de árvores ao redor da clareira, me chamou a atenção. Estreitei os olhos, tentando enxergar entre as pessoas que rodopiavam perto do fogo e por entre as árvores cobertas de velas e toldos coloridos. Eu podia jurar que tinha visto, com o canto do olho, algo meio branco passar por ali. Então, uma cabeça prateada espiou por trás do tronco grosso de uma árvore. Nossos olhares se cruzaram e Byakko e acenou.

Suspirei e sussurrei para mim mesma:

— Ele ainda vai acabar matando alguém de susto...

Comecei a me levantar quando alguém me pegou pela mão e me chamou.

— Lóris? Você tá me ouvindo?

Oh, droga... Eu nem tinha percebido que, enquanto eu me lembrava de Byakko explicando como o amuleto funcionava, Ed estava falando comigo.

Olhei para o lado e depois de volta para Ed. Alice também não estava mais com a gente e eu nem percebi quando foi que ela saiu.

Voltei a me sentar. Você prometeu passar a noite com seus amigos, lembra?, me recriminei.

— Ahn? Não... Desculpa, Ed. O que você disse?

Ele instantaneamente corou e ficou bastante desconcertado. Soltou-me, cruzou os próprios braços na altura do peito e se virou para não me olhar diretamente.

— Eeh, bem.... Então, eu queria saber se...

Lorena?, a voz de Byakko soou no meio dos meus pensamentos. Está acontecendo alguma coisa?

— Para com isso. Você sabe que eu odeio quando você entra na minha cabeça!

Ed me encarou, de boca aberta.

— O quê...? — Ele estava confuso.

Claro, afinal com quem eu estaria falando além dele...

Estava com os ombros tensos. Olhei para as árvores com o canto do olho, mas Byakko tinha voltado a se esconder. Depois, encarei meu amigo.

— Ed, desculpa.... Esquece o que eu disse, eu só...

Você sabe que não precisava ter respondido em voz alta, não é?

Tive vontade de manda-lo calar a boca.... Mentalmente. Mas isso seria lhe dar a razão.

— Desculpa, Ed. Tenho que fazer uma coisa. Daqui a pouco a gente conversa, tudo bem?

E saí correndo antes de ouvir sua resposta.

Byakko

Lorena se levantou e veio marchando na minha direção. Ela parou na minha frente e cruzou os braços.

— O que você acha que está fazendo?! — Ela perguntou.

Recuei um passo, levantando minhas mãos.

— Eu não estou fazendo nada, foi você quem me chamou.

Lorena descruzou os braços e colocou as mãos na cintura.

— Eu não te chamei coisa nenhuma!

Apontei o amuleto.

— Eu vi você segurando. Estava pensando em mim?

Ela corou.

— N-não! — Lorena cruzou os braços e virou o corpo, desviando o olhar. — Não estava não.

Sorri.

Mab, que estava ali por acidente – já que eu segurava seu braço quando desapareci do templo e reapareci aqui, trazendo ela comigo sem nem pedir licença – e que estivera distante o bastante para Lorena nem perceber sua presença, rebateu:

— Estava sim, que eu sei!

Depois, ela desapareceu de onde estava e se materializou na frente de Lorena, que deu um pulo e quase tropeçou, caindo para trás. Quando parou de ofegar, a menina olhou de Mab para mim, deu de ombros e bateu o pé com força no chão.

— Não sabe de nada. Eu nem estava dormindo.

Sonho cruzou os braços e levantou uma sobrancelha.

— Até parece que não sabe o que é sonhar acordada — ela disse.

Então, depois de sustentar sua cara séria durante um minuto silencioso, Mab sorriu e relaxou o corpo, soltando os braços. Também ri baixinho.

Depois de respirar fundo, Lorena perguntou:

— O que vocês estão fazendo aqui?

Apontei para o peito dela, onde sabia que o amuleto estava escondido abaixo das roupas.

— Eu vim porque você me chamou.

Ela encarou Mab.

— Foi um acidente — Sonho respondeu, cruzando os braços e olhando para mim.

Lorena me olhou de cima a baixo, desconfiada. Depois, fechou os olhos, suspirou, e só os abriu de novo depois de abaixar a cabeça para fitar o chão.

— Você tinha me dito que não podia vir...

Encarei ela por um longo momento, sem entender porque ela parecia tão amuada. Nós já tínhamos conversado sobre isso antes, quando ela, inocentemente, me convidara para vir. Ela tinha dito que entendera, que tudo bem. E ainda assim...

Estendi a mão na direção de Lorena.

Ela só está chateada, Byakko, ouvi Mab dizer apenas para mim, na minha cabeça.

Não é assim que gente conversa, Lorena dizia. Mas era assim que os Espíritos conversavam.

Encolhi meus dedos e recuei.

Só queria saber o que está acontecendo..., respondi.

Pensando bem, eu parecia um mentiroso. Eu tinha dito a ela que não poderia vir, mas aqui estava eu, quando a verdade era que eu podia, sim, estar aqui e só observar, como tinha feito nos últimos séculos. Mas eu não podia estar lá, na fogueira, com Lorena. Eu não podia aparecer para os outros e fingir que era parte daquilo. Porque eu não era mais parte daquilo... Eu não podia participar.

Se eu viesse, Lorena teria que ficar afastada, apenas para estar comigo.

E eu não queria arruinar sua noite por isso.

— Me desculpe...

Ela me encarou, levantando as sobrancelhas. Continuei:

— Bem..., eu realmente não vinha — Passei a mão na nuca, puxando os cabelos. — Quer dizer..., eu não poderia participar.

Acenei com a cabeça para a direção do fogo cercado de pessoas.

— Não poderia estar com você.

Lorena corou.

— Além disso — Mab deu um passo para frente até ficarmos lado a lado. — Byakko e eu temos que encontrar Tâmi. Não é?

A Serpente..., ela completou, encarando-me.

Fecho os olhos e aperto os punhos com tanta força que meus dedos estalam. Então, eu suspiro.

— Ah, sim.

Já tinha quase me esquecido da Serpente. Alguns minutos conversando com Lorena e eu já tinha baixado minha guarda... Mas Mab estava certa: ainda tínhamos que ir até Tâmi, esclarecer o que, afinal, ela tinha visto ou não.

— Poxa, queria poder ver a Tâmi também — Lorena comentou. — Mas...

— Todo mundo ficaria preocupada se você sumisse no meio do festival — Mab completou.

Lorena anuiu.

Sonho se aproximou e pôs a mão no ombro da menina.

— Não perca o festival por nossa causa, mocinha. De qualquer forma, é sempre um prazer encontrar você — Mab passou a mão pelo rosto de Lorena, sorriu, e sumiu, deixando nós dois sozinhos.

Lorena encarou a clareira, depois se virou para mim e apontou o fogo.

— Eu preciso ir.

Ela abaixou a mão que tinha usado para apontar e, sem perceber, apertou o amuleto que tinha escapado de dentro da blusa. Do mesmo jeito que tinha feito quando acabara me chamando por acidente. Bastava que seu pensamento divagasse para mim outra vez, e eu ouviria seu chamado, através da magia no amuleto. Avancei um passo na direção dela até estar perto o bastante para alcançar sua mão e puxar seus dedos com cuidado.

— Você precisa tomar mais cuidado com isso — Eu disse.

Ela corou quando olhou nos meus olhos. Então, Lorena encarou nossas mãos dadas e pareceu entender que eu estava falando do amuleto. Ela o soltou, e o Talismã caiu de volta para dentro das suas roupas. Depois, puxou sua mão de dentro da minha, esfregando com os dedos a pele onde nossas mãos tinham se tocado, como se tivesse levado um choque.

Depois de um segundo, ela voltou a sorrir.

— Até amanhã, Byakko.

Só essas palavras triviais, que ela dizia sempre que ia embora, já me aqueceram por dentro.

— Até amanhã.

Lorena se virou e voltou para a clareira antes de me ver acenar para ela.

Observei ela voltar para a fogueira. Ela chegou até o banco de onde tinha saído, mas não encontrou ninguém. Então, olhou de um lado para o outro, procurando pelos seus amigos.

Por mais que eu quisesse ficar aqui e vigiá-la de perto, eu não podia. Mab ainda estava me esperando para irmos até Tâmi. A Serpente, pensei. Precisávamos ter certeza. Então, vasculhei a clareira em busca de Damon. Conhecendo-o, ele não estaria muito à vista, mas ainda assim estaria perto o bastante para vigiar a menina, como eu tinha lhe pedido. Apurei os ouvidos e escutei um ronrom baixo vindo do alto das árvores. Levantei o olhar e vi, do outro lado da clareira, o gato empoleirado num galho alto, mantendo sua vigília. Ele me encarou, meneando sua calda de um lado pro outro, e então se espreguiçou sem bocejar, como se se abaixasse para fazer uma reverência solene.

Não tinha porque eu me preocupar agora. Lorena não estaria sozinha.

Suspirei. E, num piscar de olhos eu estava ao lado de Sonho, à meio caminho do rio. Afastados o bastante para podermos conversar um pouco antes de encontrar o Espírito do rio.

Assim que sentiu minha presença, Mab se virou na minha direção e esperou que eu acompanhasse seu passo.

— Você anda mais ansioso do que de costume... — Ela comentou.

— Por que acha isso?

Ela fez uma espécie de bico com os lábios.

— Você correu logo até a menina, mesmo sem ela tê-lo chamado, propriamente.

Ela tinha me chamado. Só não conscientemente.

— Estou preocupado... Seus sonhos têm sido cada vez mais frequentes... Quando surgiram, não passavam de pesadelos eventuais, mas agora eles ocorrem quase todos os dias. E ainda não descobrimos porque eles acontecem... Ela não deveria se lembrar de nada, Mab, muito menos sonhar com seu passado. E agora a Serp...

Mab parou de caminhar e me interrompeu com um grunhido.

— Você, Byakko, mais que ninguém, deveria saber que existem maneiras pouco convencionais de se afetar a mente de alguém — ela rebateu. — E você não precisaria se preocupar com isso se simplesmente lhe devolvesse as memórias que tirou!

Encolhi-me, jogando meu capuz sobre a cabeça.

— Eu não posso... — Disse, com a voz falhando.

Mab puxou o capuz de volta para baixo, para olhar em meus olhos.

— Por que acha que ela não está preparada? — Ela me provocou.

Sacudi minha cabeça.

Ela levantou uma sobrancelha.

— Por quê, então?

Hesitei.

— Porque acho que ela nunca vai me perdoar...

Lorena

Voltei para a clareira, para o banquinho de madeira onde estava sentada antes de Byakko aparecer de repente, mas não havia ninguém lá. Alice tinha saído mais cedo, quando eu estava distraída, e não vira para onde ela tinha ido, mas nem Ed estava mais lá. Ao invés disso, o banco estava vazio e eu não o via em lugar nenhum. Fui até a comida imaginando que ele poderia estar lá se servindo com um pouco a mais, mas não. Voltei para a fogueira e vi um relance do cabelo de Alice atrás do fogo. Fui até ela.

Ela estava dançando com um garoto e ria muito alto, provavelmente de algo que ele tinha acabado de dizer. Quando a chamei, ela se assustou e pisou no pé do coitado. Em seguida, deve ter pedido desculpas e licença para conversar comigo, porque ela se afastou rapidamente e veio até mim, mesmo que sem tirar os olhos do garoto com quem dançava.

Revirei meus olhos.

— Alice, você viu Ed em algum lugar?

Ela bufou.

— Não, ele já voltou pra casa.

Ah, droga...

Alice botou as mãos na cintura e me encarou com as sobrancelhas franzidas, me repreendendo com seu tom mandão:

— Você sumiu por um tempão. Ele parecia bastante chateado quando me avisou que já estava indo. Disse que não tinha conseguido falar com você e nem te encontrava em lugar nenhum!

Suspirei. O garoto com que Alice tinha dançado nos encarava pelas costas, esperando sua parceira de volta.

— Ah... tudo bem — eu disse, esfregando a minha cabeça. — Obrigada, Alice.

Eu me afastei. Sentei-me observando os casais que dançavam, por um instante me sentindo... sozinha. Tinha tirado a noite para ficar com meus amigos e até nisso tinha falhado. Byakko tinha ido embora com Mab, Ed não tinha aguentado esperar por mim depois de eu tê-lo deixado falando sozinho e Alice claramente estava em melhor companhia. Que bela amiga eu era...

Dorothea se aproximou e sentou ao meu lado. Tirando meu cabelo do rosto, ela perguntou:

— O que está fazendo aqui, querida, tão sozinha?

— Ah, Alice está dançando — apontei para ela. — Ed já foi pra casa, pelo que me disseram. Eu tô só vendo as pessoas se divertirem.

Ela levantou uma sobrancelha.

— E por que não dança também?

Suspirei, deixando meus ombros ainda mais caídos.

— Não sei se eu quero dançar...

Dorothea olhou ao redor.

— Alice parece estar se divertindo.

— Não é isso... — gesticulei com a mão algo parecido com um “deixa pra lá”.

Ela me abraçou pelo ombro, trazendo-me para perto de seu peito.

—Então o que é?

Apoiei minha cabeça no seu colo.

— É que... não tem ninguém com quem eu queira dançar. Não... na verdade, não tem alguém com quem eu queira dançar. Não aqui. Quer dizer, eu não sei se existe alguém, ele só não... Argh!

Suspirei.

— Isso faz algum sentido?

Dorothea riu baixinho.

— Faz sim, querida.