Liz’s POV

– Quer mesmo que eu vá nesse brunch? – Peter me pergunta quando entro na cozinha.

– Claro. Por que não iria querer?

– Seus amigos estarão lá, não acho que eles gostem de mim.

– Ou é você que não gosta tanto assim deles?

– Talvez um pouco dos dois.

Abro a geladeira e pego uma garrafa de vinho, duas taças que foram deixadas para secar na pia e me sento ao seu lado no balcão.

– São oito da manhã – Peter questiona

– Exatamente – respondo enchendo as taças.

– Nós precisamos conversar, não é? – ele me pergunta encarando sua taça como se não pudesse mais evitar.

– Sobre?

Sei que temos muito sobre o que conversar, mas não sei exatamente qual assunto ele quer discutir.

– Nós.

– Você poderia ser mais especifico?

O observo respirar fundo e finalmente fixar os olhos nos meus:

– Quer saber? Vá ao brunch, quando você voltar eu estarei aqui e nós conversamos.

– Você não quer mesmo ir?

– Não.

– Eu não preciso ir...

– Eu quero que você vá. Eu lembro de você me contar sobre esses brunchs dos Van der Woodsen quando começamos a namorar, você os adora.

–x-

– Onde está o Peter? – Serena pergunta quando me vê.

Eu deveria mentir, eu deveria dizer que ele está gripado, indisposto, precisou pegar o primeiro voo para a Austrália porque recebeu uma ligação de que o pai dele foi preso por atropelar um canguru e...

– Achei que não viria mais – Blair diz aparecendo no meio de algumas pessoas.

– Peter não quis vir – falo a verdade, porque eu definitivamente não sei mentir.

– Por quê?

– Serena, não tem nada a ver com você. Não quero que fique ofendida. – falo.

– Não sei por que está ofendida, ainda bem que ele não veio. – Olho para Blair a repreendendo. – O quê? Estou sendo sincera. Desculpe, Liz, eu sei que ele é o seu namorado, mas ele é... Como posso dizer?

– Ele não é o Chuck. – Nate diz trazendo uma bebida para mim.

– Exatamente! Obrigada, amor. Pelo menos você serve para alguma coisa. – B dá um tapinha em sua bochecha e ele ri.

– Do que vocês estão falando? – digo bebendo o que descubro ser suco com vodka.

– Liz, você precisa entender que você é legal, mas tem essa coisa de boa garota...

– Boa garota, Blair?

– Comparada a mim e a Serena, sim. O ponto é, essa é a razão de você e o Chuck combinarem tanto, essa é a razão de vocês dois se atraírem um pelo outro, você não vê? Ele é tudo o que você não procura em um cara, é só olhar pros seus ex-namorados: um ator que paga de bom garoto, o Philip, um médico e agora o Peter. E você, Liz, não usa um decote pra arranjar um cara no bar pra transar ou para ter homens dizendo que você está sexy, você nunca ficou com um cara desse jeito. Você é do tipo que se importa com os sentimentos, que faz os caras se apaixonarem para depois acontecer alguma coisa, e esse é o tipo de garota que o Chuck não quer, o tipo de garota que ele foge.

– Então por que ele não fugiu?

– Porque ele gosta do jogo e você estava brincando com ele desde o primeiro dia. E quando ele percebeu que tinha ultrapassado os próprios limites de envolvimento, já era tarde demais. Bom, já era tarde para vocês dois.

Olho para Serena e sei que ela concorda com tudo o que acabei de ouvir.

– Olha, Liz... – S fala. – Você pode amar o Peter, mas vocês juntos são chatos.

Ouço alguém chamar Nate, ele pede licença e sai.

– Esse é o problema, L. Você realmente o ama? – Blair pergunta e eu engulo todo o suco do copo.

–x-

Estou sentada no quarto da Serena bebendo champanhe enquanto encaro meu celular.

Peter está certo, precisamos conversar, mas seria tão mais fácil fazer isso por telefone e não pessoalmente. Só que não importa, eu não posso fazer isso por telefone.

– Liz, o que você está fazendo aqui?

– O que você está fazendo aqui? – retruco.

– Te procurando.

Chuck se senta ao meu lado na cama e ficamos quietos por um instante.

Vejo a taça em sua mão:

– Quer? – pego a garrafa do criado mudo e estendo para ele.

– Por que não? – Então o deixo encher a minha também.

– Eu deveria ir embora – digo depois de um minuto.

– Mas ainda não foi.

– Porque não quero voltar para casa.

–Você não me respondeu – o olho. – O que você está fazendo aqui?

– Decidindo o que fazer.

– Sobre?

– Sobre o meu namorado.

– Você vai terminar com ele?

– E isso importa tanto assim?

– Na verdade importa.

Paro de encarar o vazio à minha frente e olho para ele:

– E se eu terminar, o que aconteceria?

– Você sabe o que aconteceria.

– Não, Chuck. Na verdade, eu não sei.

Ele me encara:

– A Amy não precisa ser um obstáculo, se é isso...

– Eu não sei nem por que você está com ela – explodo me levantando.

– E eu não sei por que você está com o Peter – Chuck se levanta também.

– Não é a mesma coisa.

– Claro que é.

– Não, não é. Você não entende. Aquela garota... Ela é louca, perseguidora, uma psicopata.

– Do que você está falando?

– Ah, você não sabia que a sua namorada é o motivo pelo qual eu terminei com o Leonard?

– O quê?

– Você ouviu.

– Então você acha que uma garota está comigo há talvez mais um ano, que foi a pessoa que ficou quando todo mundo que importava se foi, é porque ela tem como objetivo de vida ficar com todos os seus ex-namorados? Só porque o seu namoradinho de infância era um babaca, ela é a culpada?

– Você não vai largar dela, não é?

– Não mude de assunto. Você está com tanto ciúmes assim para chegar a esse ponto?

– Ciúmes? Eu não estou com ciúmes!

Agora estamos gritando, logo alguém vai aparecer e será vergonhoso, mas no momento não me importo.

– Claro que está. E eu sei disso porque você odeia a Amy tanto quanto eu odeio o Peter.

– Não, eu...

–E sabe por que eu o odeio tanto? Porque era para ser eu com você – ele se aproxima de mim e abaixa o tom da voz – no seu quarto, todas as noites, - ele se aproxima mais – impedindo que qualquer coisa possa te machucar, te fazendo sentir segura nos meus braços, te beijando... desse jeito.

Fecho meus olhos e os dedos dele colocam uma mecha do cabelo para trás, então ele me beija.

Não sinta, Liz. Não sinta. Mas não consigo, as emoções que quero manter enterradas no lugar mais profundo possível se revelam e é tarde demais.

– Você não devia ter feito isso – digo dando um passo para trás.

Desvio meus olhos, então me sinto como Princesa Diana precisando passar por um corredor repleto de câmeras com flashes, meu rosto está vermelho, estou tímida e não queria estar ali. Não me sinto segura, porque nada daquilo é certo.

– Sinto muito, eu... Quer saber? Não. Eu não sinto muito. Eu queria desesperadamente beijar você. Liz, eu quero desesperadamente ficar com você... Diga que também quer.

– Chuck, eu... Eu disse que estava pensando, decidindo... Não me faça ter que escolher aqui, agora... – balanço a cabeça. – Eu realmente preciso ir.

Passo por ele e ele segura meu pulso.

– Achei que você ia terminar com o Peter, era isso no que você estava pensando, não era?

– Eu estava pensando se ele é quem vai terminar comigo.

– O quê?

– Chuck... Eu preciso ir.

– Você o ama tanto assim? – não respondo.

– Me deixe ir – peço.

Ele respira fundo, larga o meu braço e olhas dentro dos meus olhos:

– Por que ele?

– Am?

– Eu preciso saber a resposta, por que ele?

– C, eu...

– Liz, por quê?

– Porque... – abaixo os olhos me lembrando dos últimos anos. – Porque ele ouviu todos os CDs da minha banda preferida mesmo quando a única coisa que ele ouve é Beatles e Queen; porque eu fiquei doente na semana das provas finais dele na faculdade e ainda assim ele aprendeu a fazer chocolate quente só para poder me acordar com uma xícara toda manhã; porque nessa mesma semana ele deixou para estudar de madrugado para poder ficar assistindo Buffy na TV comigo durante a tarde; porque ele leu minha obra preferida de Shakespeare mesmo odiando livros. Porque, Chuck, o mundo pode estar acabando e ele ainda vai fazer de tudo para ver sorrir pelo menos uma ultima vez. Por isso ele... Agora, por favor, me deixe ir.

–x-

– Já voltou? – Peter pergunta quando me vê.

Ele está sentado na sala de jantar mexendo em seu notebook.

– Não consegui ficar lá.

– Por quê?

Sento na cadeira do outro lado da mesa para ficar de frente para ele e Peter desliga o computador.

– Porque fiquei pensando no que você disse sobre precisarmos conversar.

Ele apenas continua olhando para mim, então continuo:

– Você quer terminar comigo?

– O quê?

– Era isso o que você queria falar?

– Liz, eu... Eu não quero terminar com você, eu te amo... Mas nós vamos fazer isso dar certo? Porque esse é o problema, essa é a pergunta que fica voltando de novo e de novo na minha cabeça e eu não consigo achar uma resposta.

– Eu já disse que...

– Eu sei que você me disse antes de vir para cá que sim, que faríamos dar certo. Mas nós vamos mesmo? Porque às vezes parece que não.

Não sei o que falar, não sei se ao menos existe algo para falar agora.

– Liz, eu te amo e exatamente por isso eu não quero que terminemos mal.

– Então você está terminando comigo?

Tudo, de repente, se torna muito confuso. Eu fecho meus olhos, preciso respirar.

– Não. Você não está entendendo, Liz...

– Então me explique!

– Liz, eu só quero que você... – ele para de falar como se não quisesse completar a frase. – Que nós – ele corrige – voltemos a ser o que costumávamos ser antes.

Antes... Eu sei que isso nunca vai acontecer, nunca vamos voltar. Porque eu nunca fui aquela garota de verdade, a garota que ele namorou. Não sou essa Liz.

Então tudo fica mais claro.

– Peter, esse é o problema. Você é quem não entende. – Começo a falar. – Nós nunca vamos voltar ao que nós éramos, porque eu não sou aquilo que você via em Sydney. Na verdade eu sou sim a mesma pessoa que eu era lá, só que eu sou a pessoa que você fez questão de esquecer, a Liz que você conheceu e no minuto seguinte já odiava, a Liz que você quis mudar e você mudou: me fez parar de beber, me fez parar de tomar calmantes... Só que eu não sou assim, eu faço loucuras e eu bebo, eu tomo calmantes desde os doze anos quando eu os roubava da bolsa da minha mãe; eu vivo no meio de um mundo considerado por vários doentio. E o meu problema é que eu não me importo, eu gosto de viver nesse mundo. E o seu problema, Peter, é que você não entende nada disso... – respiro fundo tomando uma decisão. – Sinto muito... Mas acho nós deveríamos dar um tempo.

Saio dali e vou para a cozinha. Estou com os cotovelos apoiados na bancada e o rosto enterrado nas mãos.

E não estou assim porque acabei de terminar com o Peter ou porque depois de hoje eu e Chuck provavelmente nunca mais seremos se quer amigos. Mas porque eu não quero acreditar a que ponto eu cheguei.

Parar hoje e olhar para trás, não tenho certeza se deveria ter feito tudo o que fiz. Foram coisas, momentos tão pequenos que fizeram todo o meu futuro mudar.

– Liz – levanto a cabeça. – Eu te amo – ele está falando e sei que o magoei - e quando digo isso é realmente o que quero dizer. Eu amo você. Eu me apaixonei pela garota mimada de Manhattan, a garota com quem eu discutia quase todos os dias... Foi por essa garota americana e capitalista que eu fiquei no aeroporto com um buquê de peônias.

Ele respira fundo e continua:

– Eu não vou embora sem saber o que vai acontecer com nós.

Peter se aproxima de mim e olha em meus olhos. E nesse momento, surgindo do nada, eu percebo. Não há mais corações disparados, falta de ar, faíscas... Nada, não há mais nada. Continuar com isso só está nos magoando mais e mais.

– Eu já disse o que vai acontecer – consigo falar.

– Não. Pessoas pedem um tempo para ficarem longe uma da outra para poderem pensar. Mas eu vivo no outro lado do planeta, entende o quanto isso não faz sentido?

– Peter, eu...

– Nós acabamos? Eu só preciso ouvir isso de você.

Fico parada o olhando por algum tempo

– Eu não sei – admito.

Ele balança a cabeça e se vira indo até as escadas para arrumar as malas.

Pego meu celular: uma mensagem de voz de Chuck.

–x-

Chuck’s POV

– Onde você está indo? – Nate me pergunta enquanto caminho até o elevador.

– Embora.

– Embora? Mas o brunch não acabou.

Entro no elevador e ele entra antes que a porta se feche.

– Cara, o que aconteceu?

Não respondo.

As portas se abrem e saio, mas antes de poder chegar á porta N me para:

– Nada aconteceu, Nathaniel.

– Então?

– Esse é o problema: nada aconteceu.

– Chuck...

– Eu preciso seguir em frente. Ela está me matando.

Chego ao Empire e entro em minha suíte. Sem pesar muito, pego meu celular e, como eu previa, ela não atende. Então deixo uma mensagem de voz:

– Liz... – fecho os olhos e levo uma das mãos até a cabeça. – Dois anos atrás você quis ir embora e eu não deixei, eu continuei guardando você dentro de mim e isso nunca me deixou seguir em frente. Mas agora eu estou deixando você ir, só preciso que você faça o mesmo comigo... Sobre nosso almoço amanhã... – dou um sorriso de dor. - Acho que a nossa quarta-feira nunca vai chegar.