“Às vezes ficamos tanto tempo correndo atrás de certas coisas que acabamos por toná-las nosso ideal de felicidade, nossa única maneira de alcançar total satisfação. Mas desejar por tanto tempo não é algo que faça bem para nossa saúde mental.

Bom, talvez por algum tempo faça bem, o que seria de nós sem nenhum objetivo na vida? Ainda assim, todos nós temos um limite – o limite de até onde é possível querer sem ter, o limite de até onde somos capazes de chegar quando parece que tudo conspira contra você – e quando menos notamos, estamos sendo destruídos por tal vontade.

Então, como uma lâmpada já há muito tempo queimada que decide acender, percebemos que o melhor a se fazer é deixar tal coisa (ou pessoa) ir, não importa o quanto você queira ou o quanto chegue a doer. Porque quando o nosso limite é testado desse jeito não há mais nada a se fazer, exceto se perguntar: “Vale a pena?”

E a pior parte é quando você decide que não.

Acho que um certo cavaleiro negro cansou de correr atrás da princesa que uma vez fugiu.

And who am I? That’s one secret I’ll never tell.

You know you love me.

Xoxo, Gossip Girl.”

–x-

Liz’s POV

Voltamos para casa e nossos pais ficaram bebendo enquanto conversavam sobre negócios no escritório do Sr. Redford.

Eu roubo uma garrafa de vinho da geladeira e duas taças da cozinha e me sento nas escadas da entrada da casa com Brad.

Apesar de escuro, as luzes dos postes da rua iluminam o suficiente para podermos enxergar, a maioria das casas tem uma ou mais janelas iluminadas e a rua está bem quieta hoje.

– Você vive em Washington agora? – pergunto enchendo nossas taças.

– Mais ou menos. Eu terminei a faculdade esse ano em Nova York e desde então estou aqui. Mas e você?

– O que você quer saber?

– Como é a vida de Elizabeth Redford?

Dou risada:

– Conturbada e complicada. Isso descreve bem a minha vida.

Ele ri e ficamos um minuto em silencio.

– Então, você não tem mais namorado? – Brad me pergunta

– Não... Eu terminei com ele essa semana.

– O que ele fez para você terminar?

– Nada, essa é a pior parte. Mas você não quer falar sobre isso.

– Na verdade eu quero – o olho sem acreditar. – É reconfortante ter alguém que também está na fossa. Vamos, me fale sobre aqueles dois caras e eu te falo sobre minha ex.

Ele abre um sorriso acolhedor e começamos a desabafar sobre nossas fracassadas vidas amorosas.

Estamos falando baixo como se alguém pudesse nos ouvir, como se tudo aquilo fosse algum tipo de troca de confissões e pela primeira vez em muito tempo me sinto leve, sem culpas ou algum peso em meus ombros. Talvez fosse o vinho ou ele, não sei, mas esse momento foi a única coisa boa daquela semana.

O Governador já havia ido embora e meu pai ido dormir enquanto nós dois continuamos conversando.

Tiro meus sapatos e toco meus pés na grama, a sensação é surpreendentemente boa e pouco familiar, crescer em um apartamento em uma grade cidade te tira certas coisas como essa. Respiro o ar úmido da madrugada que se mistura com cheiro fresco das folhas das arvores, da grama e dos jardins da vizinhança.

– Sabe, - digo após um momento – esses últimos dias eu tenho me perguntado muitas coisas e na maioria das vezes eu não sei responder, pelo menos não tenho conseguido chegar na resposta certa.

– Sobre o que você tem se perguntado?

– Sobre a minha vida basicamente. Coisas como por que eu reagi daquele jeito com o Peter ou por que eu tenho me sentido tão sozinha.

– E o que você acha?

Uma brisa fria sopra em nossa direção e eu abaixo meu s olhos:

– Acho que porque tudo está diferente agora. Quero dizer, eu não esperava ficar dois anos fora e quando eu voltasse tudo seria o mesmo. Mas acho que também não esperava que tudo mudasse. Antes eu, a Blair e a Serena éramos melhores amigas e agora... Não que não sejamos mais amigas, mas não é o mesmo, entende? Desde que eu voltei nós não agimos da mesma forma uma com a outra... Sei que elas estão tentando, todos estão tentando me fazer sentir que ainda somos amigos, sempre seremos. Só que parece que quanto mais eles tentam, pior eu me sinto.

Paro um instante pensando e continuo:

– Desde que eu voltei tudo tem sido uma loucura, eu não tive tempo para nada. O casamento da minha mãe, a faculdade... Eu mal cheguei e tudo já aconteceu. Então eu tenho ignorado, ignorado que as coisas mudaram, ignorado o que estava muito claro para mim o tempo todo... Que ir embora como eu fui, ficar dois anos longe e termos praticamente perdido o contato nesse tempo não é algo que possa ser apagado. Não é algo que eles possam me perdoar da noite para o dia, porque no fim a culpa foi toda minha. Eu que deixei de ligar, eu que parei aos poucos de mandar mensagens, eu que estraguei tudo. E isso tem me feito tão mal que eu falei tudo aquilo para o Chuck e falei tudo aquilo para o Peter, eu cheguei em um ponto que eu precisava explodir... E eu estou estragando tudo para variar.

– Estragar não significa destruir, Liz. Você pode concertar.

Então meu celular vibra e sei que é um alerta da Gossip Girl. Desvio meu olhar para o aparelho e depois de alguns segundos decido ignorar.

– Pode ver o que é – Brad diz tomando o resto do liquido escuro em sua taça.

Suspiro, eu quero desesperadamente ver o que ela está falando. Eu definitivamente nunca vou conseguir superar esse mundo no qual fui inserida alguns anos atrás. É como uma droga, depois que você experimenta não tem mais como voltar atrás, você já está contaminado.

“Hey, Upper East Siders

A maioria de nós ouviu a vida inteira que ninguém pode ter tudo, mas então o colegial chegou e nós fomos estudar na Castance Billard e na St. Jude’s para descobrirmos que não é bem assim que as coisas funcionam. Porque, talvez para simples mortais, ter tudo não seja uma opção, mas para pessoas como Blair Waldorf, Chuck Bass, Liz Redford, Nate Archibald e Serena Van Der Woodsen ter tudo sempre foram suas realidades.

Porem foi preciso que o colegial acabasse e que o sol nascesse inúmeras vezes para finalmente podermos ver que às vezes até mesmo essas pessoas podem não ter tudo o que elas querem. E hoje o sol amanhecerá com um tom diferente, porque ele verá nossa tão amada e odiada – mas sempre a nossa favorita – elite desmoronando.

E aqui estão as últimas notícias... Parece que nossa princesa L precisou escolher entre o certo e o errado, mas – como tudo é uma questão de ponto vista – acho que o julgamento dela se enganou e o cara que ela julgou ser o certo subiu no cavalo e foi embora, provavelmente sem olhar para trás. Ah, querida L, você tinha dois caras perfeitos e os deixou escapar.

S vai ganhar um novo padrasto? Isso não seria novidade para ninguém, mas e se eu disser que isso tornará Lonely Boy seu mais novo meio irmão? Ah, e não vamos esquecer que esse é o ano dos retornos e depois da princesa que fugiu de seu castelo, temos mais alguém voltando. Alguém ainda lembra do irmão caçula da S? Qual era mesmo o nome dele... Erik?

Enquanto isso, vocês tem notado Queen B? Ela não está um pouco magra demais? Tanto tempo depois e ela teve uma recaída? Hora de ir para rehab, B.

Quanto ao N, não foi só seu melhor amigo que perdeu o pai, ele também. Mas diferente de Bart Bass, O Sr. Archibald não conseguiu fugir. Como é ter um pai presidiário, Golden Boy?

E C, depois de decidir seguir em frente e esquecer uma certa Redford, prevejo a volta do caderninho preto dele. Trair sua namoradinha, Bass? Uma hora isso vai acontecer, eu sei disso... Pobre Amy, se nem a L conseguiu mudar um Bass, por que você conseguiria?

And who am I? That’s one secret I’ll never tell.

You know you love me.

Xoxo, Gossip Girl.”

– O que aconteceu? – ouço Brad perguntar e sei que a preocupação e o desespero são claros em meu rosto.

Não consigo responder, na verdade eu não me importo em responder. A pergunta passa por mim como um pássaro que não tem a intenção de voltar e eu sequer percebo sua sombra.

– Liz.

Quando tudo isso aconteceu? Quando as coisas mudaram na vida deles e eu não percebi? Eu não percebi que tinha algo de errado? Não, claro que não. Porque eu tenho sido egoísta, eu tenho me preocupado só comigo e com o mundo que existe a um palmo do meu nariz.

– Eu... Eu preciso voltar para Nova York – digo sem conseguir levantar meus olhos.

– Agora?

– Agora.

–x-

Serena’s POV (mais cedo naquela noite)

O elevador se abre no meu andar e Dan e eu saímos. Jogo minha bolsa perto das escadas e tiro meus saltos, estou extremamente cansada e precisando beber alguma coisa.

– Então, o que você quer... beber? – pergunto olhando para ele e sua expressão não é nada boa.

Sua testa está franzida, seus olhos cerrados em confusão com algo, então acompanho seu olhar e vejo minha mãe. Minha mãe se agarrando com...

– Mãe? – digo com certa vontade de vomitar.

– Pai?

– Daniel, eu... – Rufus começa a falar, mas Dan volta para o elevador.

– É melhor eu... Ir.

Rufus diz e passa por mim para esperar elevador voltar.

– Filha... – minha mãe tenta falar comigo quando passo por ela para chegar ao meu quarto.

– É tão difícil para você parar de pegar o pai de todo mundo que eu conheço? Sério que precisava até o pai do meu namorado?

Me tranco no quarto e tento ligar para Blair de novo e de novo, mas ela não me atende. Ela nunca fica longe do celular.

As luzes já estão apagadas do outro lado da porta do meu quarto após alguns minutos, então pego um casaco e vou até as escadas, volto a calçar meu sapatos, pego minha bolsa e entro no elevador.

–x-

Blair’s POV

– Srta. Blair? – Dorota bate da porta do banheiro.

– O quê?

– Está tudo bem?

– Está. Pode ir dormir agora, não precisa se preocupar comigo.

– Tem certeza?

– Tenho!

Ouço-a se afastar.

Estou encarando o vaso a minha frente... Eu comi tanto no jantar. Eu...

Alguém bate na porta:

– Dorota, eu já disse que é para você ir...

– Blair, sou eu.

– Serena?

– Abra a porta.

Obedeço.

Meus olhos estão vermelhos e inchados e S me olha por um segundo com preocupação, então me abraça:

– Você devia ter me ligado, B.

–x-

Liz’s POV

Subo as escadas para o meu quarto depois de insistir para Brad ir embora e dizer que eu não precisava de sua ajuda:

– Nós nos encontraremos depois. Não será a ultima vez que eu virei para cá e você sempre pode ir para Nova York, certo? É sério, você pode ir para casa agora, eu mesma ligo para o aeroporto.

– Tem certeza?

– Sim.

– Então, vejo você em breve.

– Em breve – repeti e nos despedimos.

Subo para o meu quarto e começo a arrumar minha mala para pegar o próximo voo.

– Liz, o que você está fazendo? – meu pai pergunta aparecendo na porta.

– Estou voltando para NY.

– Posso saber por quê?

– Coisas aconteceram lá, preciso voltar – respondo enquanto continuo a arrumar minhas coisas.

– Não, você não vai voltar.

Paro o que estou fazendo e me viro para ele:

– O quê?

– Você me ouviu, você não vai voltar.

– Agora eu quero saber o por quê.

– Você quer voltar por causa do filho do Archibald, não é? Eu não vou deixar você voltar, não quero você perto dessas pessoas.

– Nate é meu amigo.

– Eu não me importo. O pai dele foi preso.

– Exatamente, o pai dele e não ele.

– Dá no mesmo.

– Não, não dá.

– Escute, Liz – ele fala entrando no meu quarto e fechando a porta. – Eu serei sincero com você.

– Do que o senhor está falando?

– Eu quero que você fique longe de todos aqueles seus amigos.

Minha expressão de surpresa é incontrolável e ele continua:

– Principalmente de Charles Bass. – Estou abrindo minha boca para falar, mas meu pai não me deixa protestar. – Sei que vocês dois tem uma história, sei que ele pode significar muito para você, sei que vocês dois querem ser apenas amigos agora... Mas não me importo, você precisa parar de vê-lo, parar de conversar com ele, você precisa cortar qualquer tipo de relação ou vinculo com aquele garoto.

– Pai, o que há de errado com você? O que está acontecendo?

– Eu só quero te proteger.

– Ajudaria muito se você me explicasse do quê.

– Bart Bass não desapareceu por nada, ele desapareceu porque fez coisas que ele não devia ter feito.

– Isso não afeta o Chuck.

– Sim, afeta.

– Como?

– Ele não merece você, Liz. Ele é filho daquele ladrão, ele tem o mesmo sangue correndo pelas suas veias, a mesma capacidade de manipular o que ele quiser. Então, corra pelo seu próprio bem, querida. Corra, acima de tudo, sentimentalmente... Eu sou o seu pai, eu não quero te ver machucada e eu quero o que é melhor para você, mas nesse exato momento Chuck Bass é a ultima coisa que te faria bem. Então, seja lá o que você estava pensando quando decidiu ficar longe dele por tanto tempo, mantenha isso em mente. Só que primeiro fuja para o mais longe possível que Manhattan te permitir dele, porque quando Bart voltar, todos que estarão perto de um Bass se queimarão. A bomba cairá mais cedo ou mais tarde e você não precisa ser uma dessas pessoas.

Fico em silencio, não sei o que pensar. Então faço a única pergunta que consigo:

– Como você sabe de tudo isso?

– Algumas pessoas na Casa Branca foram interrogadas, as coisas estão começando a vir à tona.

Não quero dizer o que estou prestes a dizer, mas preciso.

– Pai, você está env...

– Não, filha. Eu não estou envolvido em nada disso, de nenhuma maneira. Mas eu sei que pessoas na Casa Branca estavam e que é algo grave, é tudo o que posso te contar.

De algum modo meu cérebro não consegue mais funcionar cem por cento.

– A Blair teve uma recaída – finalmente digo.

– O quê?

– Bulimia, a B sofria de bulimia. Ela teve uma recaída... Pai, eu preciso voltar, ela precisa de mim.

– Elizabeth...

– Pai, não me peça para ficar longe delas também. Não posso fazer isso... Quando eu sofri o acidente, elas não me deixaram sozinha. Preciso voltar.

– Você me liga?

Concordo com a cabeça e ele se levanta para sair.

– Pai, e o Michael?

– Ele é maior de idade, ele não aceita o meu dinheiro, ele não quer nosso sobrenome e ele não me escuta. Falar com ele seria o mesmo que não falar... Se algo chegar a acontecer, eu posso arranjar os melhores advogados, eu posso dar um jeito. Não se preocupe.

–x-

Ouço a ultima chamada para o meu voo e finalmente me levanto. Sento em meu lugar e o avião começa a decolar, então olho para o meu braço.

A pulseira ainda está lá, eu a tirara quando havia ido embora, mas por alguma razão voltei a pô-la.

Eu gostava dela, para alguns até poderia ser ultrapassado, mas eu não me importava. Quer dizer, desde quando eu me importo com o que as pessoas iriam pensar?

Passo meus dedos pela fita de ouro e penso no que meu pai disse, penso no que Chuck me disse esta semana pelo telefone, penso em dois anos atrás e penso em quando C me deu o bracelete.

Mas antes de tudo eu precisava me concentrar em Nate e em Blair.

Assim que aterrissamos na cidade saio do aeroporto vejo James a minha espera:

– Anne pediu para que eu te levasse para casa.

– Mas eu preciso encontrar...

– Eles estão esperando lá.

Corro para o elevador assim que James estaciona e quando saio na cobertura vejo Chuck sentado com o rosto afundado em uma das mãos apoiando o cotovelo no braço do sofá, Nate deitado no chão olhando o teto, Blair sentada nas escadas e Serena em pé olhando pela enorme janela da sala de estar.

– Oi – digo parando e olhando para cada um deles:

Eles olham para mim:

– Eu não aguento mais ficar perto da minha mãe – S fala.

– Eu não consigo mais mentir para a minha mãe e para a Dorota – B diz

– Eu descobri que meu pai é um viciado em cocaína – N se pronuncia com a voz baixa de quem está com sono.

– O Empire está rodeado por carros de policia – C fala com os olhos cansados olhando para mim.

Aproximo-me deles e meu coração está partido vendo-os daquele jeito. Então digo:

– Por que não vamos tomar um chocolate quente?

E talvez assim eu possa conversar com a Blair depois e dizer o que ela precisa ouvir, ligar para a mãe da S e dizer que ela está bem, falar com o N que eu sei que o quanto famílias são complicadas e... E falar também com o Chuck, mesmo ainda não tendo certeza do quê.

–x-

“A vida gosta de nos pregar peças, é o passatempo preferido dela. Na verdade acho que ela chega a ser viciada em fazer isso, porque as coisas costumam acontecer todas ao mesmo tempo.

E então descobrimos que até mesmo quando uma coisa ruim acontece, outras igualmente ruins vêm de acompanhamento.

Dessa vez acho que a responsabilidade de resolver essas coisas está em suas mãos, L.

Xoxo, Gossip Girl.”