Já havia anoitecido quando cheguei em casa, entrei no prédio e subi até o meu andar, o elevador se abriu e vi Megan andando de um lado para o outro como sempre fazia quando conversava com alguém ao telefone.

— Não vai nem me dar oi? – ela me olhou assustada como se nem percebesse que alguém estava ali.

— AH, MEU DEUS! LIZ!

Ela me abraçou.

— Bom, o Michael está na cozinha – ela disse. – Falei que você chegaria hoje e ele se ofereceu para fazer um jantar de boas vindas. Estávamos preocupados, sua mãe disse que você não parecia muito bem quando falou com você no telefone

— Não era nada... Mas então, você e o Philip... – olhei sugestivamente para ela, o que a fez rir.

— Você é a melhor prima que já existiu, já te disse isso?

— Am... Não. Mas não precisa, eu sei que sou.

— E você? Como está? – ela me pergunta séria.

— Não muito bem... – desabafo.

Um cheiro forte invadiu o lugar, Michael estava cozinhando algo que para mim não cheirava muito bem. Meu estomago revirou de novo e corri para o banheiro do meu quarto. Megan me seguiu e segurou meu cabelo para eu poder vomitar.

Enquanto isso, ela me encarava com atenção pensando em algo:

— O que foi? – pergunto.

— Nada... É só... Liz, é o que eu estou pensando?

Não respondo.

— Você já fez um teste?

— Megan, eu...

— Eu vou na farmácia, eu compro para você.

— Não precisa, Megan... Porque eu já fiz três testes há alguns dias.

— Então...

—x-

“Hey Upper East Siders,

L está de volta a NY!

Ah, vocês sabem o que tem acontecido aqui nesse verão? Bom, a priminha da L pegou pra ela o ex da nossa princesa; Lonely Boy continua sendo um Lonely Boy; Georgina Sparks veio para ficar, ela é o nova aluna da Constance Billard e a reforma na St. Judes parece que está longe de acabar, vamos continuar mais um tempinho juntos.

Agora as novidades de última hora: Chuck Bass é um fraco; Liz Redford, uma vadia; Serena van der Woodsen, medrosa; Dan Humphrey tem déficit de atenção; Blair Waldorf acha que engana alguém e Nate Archibald é um pobre garoto rico.

And who am I? That’s one secret I’ll never tell.

You know you love me.

XOXO, Gossip Girl.”

—x-

Nate também havia voltado para Manhattan e combinamos de nos encontrar no Central Park para conversarmos.

Cheguei um pouco mais cedo, me sentei em um dos bancos e resolvi começar a prestar atenção nas conversar ao meu redor, uma em particular me chamou a atenção.

Havia um homem com sua filha passeando por ali e a garotinha de, aproximadamente, cinco anos olhava atentamente os esquilos do outro lado:

— Papai?

— Sim, filha.

— Por que aquele esquilo está correndo atrás daquele ali? – ela apontou para as pequenas criaturas na grama.

— Porque o esquilo está apaixonado pelo outro, e quando amamos alguém, temos correr atrás.

— Então por que um está fugindo?

— Porque está com medo.

— Medo?

— Sim. Amar alguém pode ser, muitas vezes, assustador demais.

— Liz? – uma voz me desviou da conversa que estava ouvindo.

— Oi, Nate.

— Acho que me atrasei um pouco. Desculpe – ele abriu um sorriso enorme.

— Está tudo bem... Então, por que quis se encontrar aqui?

— Vou direto ao ponto... Seria ruim ir para Paris atrás da Blair? Você acha que devo esperá-la voltar?

— Voltar?! Não, você já esperou demais, Archibald. Pegue o próximo voo, você tem todo o meu apoio. E, você sabe, a Blair ama um grande gesto romântico. Não esqueça as flores quando aparecer na frente dela.

— Você tem razão... Obrigado... E você? Como tem passado?

— Bem, na medida do possível.

— Você já foi ao médico? – balanço a cabeça dizendo que não.

— Estou assustada, com medo, não sei ao certo.

— Você já decidiu o que quer fazer? Quero dizer, você vai levar pra frente? – ele me pergunta olhando minha barriga parecendo não saber ao certo como formular a pergunta. – Não deve estar sendo fácil para você, mas o que você precisar, Liz... Pode contar comigo. De verdade. Independente do que você decidir.

— Obrigada, Nate.

— Você vai falar com o Chuck?

— Vou.

Minha cabeça parecia que ia explodir, eu pensava mil coisas ao mesmo tempo.

—x-

“No Upper East Side, se existe algo em que todos parecem ter medo é se envolver... Por que é tão difícil aceitar que se ama alguém? Por que, quando estamos apaixonados, apenas fugimos dessa pessoa? Por que insistimos em colocar tudo á frente do relacionamento?

Fazemos tudo isso porque se apaixonar nos deixa vulneráveis. Nossos corações ficam expostos para ele ou ela os quebrarem.

É claro que sempre vamos temer coisas como essas, mas, ás vezes, o sentimento é maior do que o medo e finalmente nos abrimos. Alguns de nós admitem algo que demorou muito para ser aceito; uns percebem que a única maneira de ser feliz é deixar o ego de lado e correr atrás de quem se ama; outras precisam ouvir o que esteve na sua frente o tempo todo para tomar coragem e ainda tem aqueles que levam um pouco mais de tempo, porém sempre acabarão juntos.

Entretanto, tudo tem consequências. Em algum momento você pode ser deixado com o coração partido. O fato é que namoros vem e vão, todos eles te deixarão uma cicatriz até você achar a pessoa certa, mas antes de ter seu “hapily ever after” ajuda ter amigos, serão eles quem te ajudarão a se recuperar.

Bom, apesar de tudo, se tem algo que eu sempre admirei no UES é que aqui é onde se tem as melhores amizades. Tudo bem que todos vivam brigando, por trás dos escândalos existe algo que ninguém consegue quebrar. E NJBC? Eles são o maior exemplo de amizade, mesmo estando separados agora, sei que voltarão como sempre voltam.

And who am I? That’s one secret I’ll never tell.

You know you love me.

Xoxo, Gossip Girl.”

—x-

Nate’s POV

Resolvi passar no Empire para ver o Charles e, como sempre, ele estava no bar do hotel.

O contei sobre ir para Paris, o que, é claro, ele não achou uma boa ideia. Só que eu não ligava, porque o Chuck podia até ser meu melhor amigo, mas ainda era um idiota. E a Liz havia me apoiado e isso já bastava.

— E quanto a você? – perguntei.

— O que tem eu? – ele perguntou abaixando o copo.

— Por que não vai atrás da L?

— Não, Nathaniel... Tem algo entre nós e sempre terá, mas talvez não nascemos para ficar juntos.

— Você vai inventar essa desculpa sobre destino e é isso? Vai desistir?

— Não. Tudo entre eu e ela sempre pareceu tão urgente... E eu acho que se for para acontecer, vai acontecer. Eu não vou a lugar algum e ela também não. Para que apressar as coisas? Se for para ser, será.

—x-

Liz’s POV

“Existem certos momentos na vida em que fazer o certo não é uma opção.”

Lembro do meu pai dizendo isso algumas vezes. Nunca fui capaz de compreender aquilo em minha cabeça de oito anos, fazer o certo sempre seria uma opção, não é? Mas ali, andando pela 5th Avenue, olhando todas aquelas lojas e prédios enormes, sentindo o vento contra a minha pele, achei que talvez isso fosse verdade.

Peguei um taxi até o ateliê da minha mãe, conversar com ela me faria bem. Logo o carro estacionou , paguei o motorista e entrei no prédio.

— Liz! A cada vez que te vejo está mais linda – Lanie, uma das mulheres mais elegantes que já havia conhecido e que trabalhava na Redford Designers desde que nasci veio até mim. – Vou te levar até a Penélope.

— Obrigada – pegamos o elevador, caminhamos por um longocorredor e ela me deixou na sala.

— Filha, o que faz aqui?

— Queria te ver.

— Aconteceu algo?

— Não, é só que... Você acha que ás vezes nós não somos capazes de fazer o certo? – perguntei me sentando.

— Acho que podemos escolher... Isso tem a ver com o que? Sobre alguém em um certo hotel que merece uma outra chance?

— Mas...

— Não tem “mas” se você o ama.

— Só que o Chuck é um idiota igual ao meu pai – desabafo.

— Pessoas tem capacidade de mudar e você precisa acreditar que elas mudam para melhor... Segue seu coração, filha.

Pensei em tudo, mas o que estava em minha mente era o certo? Uma vez na vida seguir o coração poderia estragar tudo? Não importava. Aquilo estava fora do meu controle, sempre esteve. Independente da escolha que eu fizesse, precisaria conversar com ele.

Fui até o Empire. Parei ali na entrada, me lembrando do que tínhamos vivido... Todas as loucuras, todas as vezes que meu coração disparou...

Respirei fundo e entrei, perguntei para a recepcionista onde ele estava:

— O vi entrando no bar.

— Obrigada – agradeci e corri até lá.

Abri a porta e estava cheio de pessoas de várias idades. Corri meus olhos a procura dele e finalmente o achei, mas não do jeito que eu queria.

C estava se agarrando com uma garota.

“Que novidade.” Pensei. Mas ainda assim me decepcionei.

Engoli em seco, meu coração se contorceu doendo e todo o meu corpo começou a queimar por dentro. E doía mais do que eu podia aguentar. Senti uma pancada dentro de mim tão forte que me paralisou. Eu estava com ciúmes de Chuck Bass? Eu realmente gostava tanto dele assim pra essa cena me impactar tanto? Parecia que eu ia morrer.

Meus pés, de repente, se sedimentaram no chão. Nada a minha volta parecia existir, eu só consegui ver aquela cena; me senti indefesa sobre tudo aquilo.

Fiquei ali, sem piscar ou ter qualquer reação. Até respirar se tornou difícil. Outro enjoo repentino veio e eu precisava ir ao banheiro.

Isso me chamou de volta para a realidade.

— Srta. Liz! É um prazer tê-la aqui novamente. Aceita alguma bebida por conta da casa? – ouvi o barman falar.

Aproximei-me do balcão.

— Não estou podendo beber. Será que poderia me dizer onde fica o banheiro?

— Claro. Logo ali, virando esse corredor.

— Obrigada.

— Está se sentindo bem? Quer que chame alguém?

— Não. Não precisa.

— Quer que eu chame o Sr. Chuck?

Não tive tempo de responder, precisei ir até o banheiro. Vomitar, sem duvidas, era uma das piores coisas da vida. Ao menos o Empire era extremamente limpo.

Tudo o que eu queria era correr o máximo que conseguisse, mas eu não conseguia. Na verdade, aqueles poucos passos no corredor foram difíceis de dar.

Levantei-me, lavei minha boca, minhas mãos e chorei em silêncio me olhando no espelho. A imagem daquela garota de maquiagem borrada pareceu que jamais iria embora.

Ele já estava com outra. Era tudo o que eu repetia na minha cabeça.

Knock knock

Alguém bateu na porta.

— Liz? – a voz era do Chuck.

Fiquei em silêncio. Se ele me visse daquele jeito, ele riria.

Eu era a palhaça da história? Eu era a culpada de tudo ter chegado onde chegou?

— Liz, você aí? Está tudo bem?

Enxuguei minhas lágrimas e limpei meu rímel borrado. Respirei fundo e abri a porta:

— O que você quer?

— O barman me disse que estava aqui e que você não parecia estar passando bem... Fiquei preocupado.

— Por que ficaria?

— Porque, se você não se lembra, eu prometi cuidar de você.

— Mas da ultima vez pareceu que nunca mais queria me ver.

— Não significa que eu não me importe com você.

— Sério? – revirei os olhos – Por que não volta pra sua nova namorada? Ou seja lá o que vocês são – ele riu. – O que tem de engraçado? Você é ridículo. Estou indo embora – tentei sair, mas C bloqueou a porta.

— Está tudo bem? Você não respondeu.

— Está.

— Você sempre mente.

— Não estou mentindo.

— Jura?

— Me deixa sair!

— Não antes de me dizer o que te trouxe aqui.

O olhei e aqueles olhos... Aqueles olhos que me faziam ter vontade de largar tudo para poder tê-los todos os dias e que faziam meu coração se quebrar em mil pedaços por saber que isso nunca aconteceria... Aqueles olhos que eu amava tanto.

Eu amava cada única coisa nele. Seu cabelo, seu rosto quadrado, sua barba sempre bem feita, sua mania de só usar ternos, sua boca, seu sorriso torto, seu sorriso tarado, o jeito como seus dedos percorriam meus lábios... Eu o amava tanto que chegava queimar.

Fechei mais olhos com força balançando minha cabeça, desejando não sentir nada daquilo, mas a vida não é como um filme da Disney. Na vida real você chora e nenhuma fada madrinha aparece para te salvar ou transformar trapos velhos em um vestido perfeito, você precisa superar tudo sozinha. De todo modo eu não uma princesa frágil mesmo. Lembrei do dia em Miami... Cinderela? Eu? Ah vai se foder, Chuck Bass.

— Não importa o que me trouxe aqui, porque eu já estou indo embora.

Caminhei em direção à saída o mais rápido possível, mas antes que pudesse pisar fora do bar, Chuck segurou meu pulso:

— Pode parar de fazer isso? – chamei sua atenção. – Para de me segurar assim.

— Por que você tem que ser desse jeito?

— Desse jeito como?

— Por que tem que ser tão dona de si mesma?

— O quê?

—Você anda por aí como se não precisasse de ninguém. Odeio isso, odeio você ser tão imprudente, odeio você agir como se não me quisesse, odeio você mentir quando te pergunto se está bem, odeio ter que te impedir toda vez que vá embora porque eu não quero que você vá e você nunca quer ficar... Eu odeio ser masoquista o suficiente para, no fundo, gostar de tudo isso – não era só ele que era masoquista.

— Bom, eu sou Elizabeth Redford. Você que lide com isso.

Encaramo-nos até que aquilo se tornou torturante demais para mim suportar:

— Você é um babaca às vezes.

Puxei meu braço para poder ir embora e andando até a saída tantas coisas percorreram minha cabeça.

Chuck’s POV

Por que ela faz isso? Por que ela sempre vai embora? Quando ela vai perceber que se eu a seguro é porque a quero aqui. Já corri mais do que podia atrás dela.

Como o Nate disse uma vez: “Se uma relação não dá certo, provavelmente ela não era forte o suficiente para começar.”

Liz’s POV

Meu coração doía, doía mais do que eu pudesse explicar. Saí do hotel e respirei fundo, ainda teria que chamar um táxi.

Era incrível, Nova York pode ser a melhor cidade do mundo, mas não é somo nos filmes. Você não vai conseguir um taxi tão fácil, ainda mais se você estiver preciso muito de um. Todos eles vão estar cheios.

Caminhei por aquela longa calçada até estar no máximo dois metros do Empire. Me aproximei da rua olhando para o lado contrário da entrada e nenhum carro parava.

Senti, repentinamente, um impacto enorme contra meu corpo. Se antes minha alma doía, naquele momento meus ossos latejavam e fui levada ao chão. Senti o impacto da minha cabeça caindo contra o concreto, senti meus pulmões quererem falhar, não conseguia respirar direito.

Tudo aconteceu muito rápido. Eu só conseguia ouvir as pessoas a minha volta, eu nem sabia que estava acontecendo.

— SRTA. LIZ?!

— CHAMEM UMA AMBULÂNCIA AGORA!

— Onde está o Sr. Chuck?!

— Alô? Eu preciso de ambulância agora em frente ao Empire Hotel... Não, você não está entendendo, ela é Elizabeth Redford. Vocês tem que vir o mais rápido possível... Então a não ser que queria um processo, é melhor ter médicos aqui para nada menos que agora!

— Por que o Sr. Chuck ainda não está aqui?

— A cabeça dela está sangrando...

Eu não tinha forças para me mexer.

Eu queria ele do meu lado... Eu só não conseguia acreditar que eu tinha o perdido para sempre, porque já era tarde demais. Era tarde demais.

Eu deveria tê-lo beijado... Eu deveria ter ficado... Eu deveria ter feito tanta coisa... Mas era como se eu nem estivesse mais ali.

— LIZ!

Era ele.

Chuck correu, caiu de joelhos ao meu lado e eu ainda podia ouvi-lo.

— Liz, por favor... Eu não posso te perder, não desse jeito... Fica comigo. Por favor, Liz...

Queria responder, mas não conseguia, meu peito doía demais.

Chuck’s POV

Dispensei aquela garota e pedi mais drinks.

— SR. CHUCK! – me virei – A Srta. Liz... Ela... O senhor precisa vir aqui fora.

Meu coração se contorceu e minha garganta fechou com medo.

Assim que pisei fora do hotel cada parte de mim se quebrou. Não dava para acreditar. A mulher da minha vida estava estirada naquela calçada como se não fosse nada, como se...

Eu não conseguia respirar direito com aquela imagem... Ela sangrando...

Minha cabeça começou a rodar:

— Um carro bateu nela e... – eu não conseguia prestar atenção no que o porteiro falava.

Tantos sentimentos em frações de segundo...

— LIZ! – gritei sem ar.

Corri até ela e eu queria que aquilo fosse um sonho ruim, queria que fosse eu ali, queria dar qualquer coisa para poder voltar no tempo e tê-la feito ficar.

Parei ao seu lado e eu não tinha mais forças, meus joelhos fraquejaram e caí:

— Liz, por favor... Eu não posso te perder , não desse jeito...

Mas L fechou os olhos.

Era hora de ser responsável uma única vez na vida pelo menos.

— Por que a ambulância ainda não chegou?! – comecei a gritar.

— Está vindo.

— Quem quer que seja que estava no carro... Liguem para a policia, liguem para meu advogado. Isso não vai sair barato.

— Claro.

A sirene da ambulância foi se aproximando até que estacionou, paramédicos saíram de lá e com cuidado a colocaram em uma maca.

— Alguém vai com ela?

— Eu – falei.

—O senhor é da família?

— Não. Sou um amigo.

— O senhor não pode...

Não ouvi, entrei mesmo assim.

— Se você está preocupado de ser repreendido por desobedecer o procedimento, não fique. Eu cuido disso.

Eles colocaram alguns aparelhos nela e tudo aquilo parecia um pesadelo que eu tinha que sair... Aquele barulho pausado dos batimentos cardíacos era torturante demais.

Perdê-la para sempre não era uma opção ou algo que eu estava disposto a enfrentar, porque eu nunca conseguiria.

Aquele barulho, de repente, parou de apitar... Nada daquilo podia estar realmente acontecendo.