A New Life in NY I

Nothing else matters


Chuck’s Pov

Eu nunca tinha ficado tanto tempo em um hospital desde... Desde nunca, na verdade.

Não fazia nem uma hora desde que havíamos chegado e eu fiz a coisa mais difícil que eu poderia qualquer dia fazer. Parecia estar tão fora do meu alcance, parecia que pesava toneladas a mais do que eu conseguiria aguentar. Mas respirei fundo, respirei fundo de verdade. Respirei para tentar fazer meu sangue voltar a circular, para juntar forças que eu nem sabia de onde estava tirando.

Porque, ás vezes, a responsabilidade vem antes de você ou de qualquer coisa que esteja sentindo.

Permaneci sentado, minhas pernas pareciam chumbos, peguei meu celular e liguei para a casa da Liz. Eu precisava avisar a mãe dela sobre o que havia acontecido.

Anne atendeu e, com muita calma e da forma clara que eu pude encontrar disse tudo o que acabara de acontecer. Fiz isso, logo em seguida, com o Nate e depois a Serena que estava ao lado de Blair, Megan e... E eu não iria ligar para mais ninguém. Eu não conseguia. Essas pessoas eram o suficiente, elas contariam para quem mais precisasse saber.

“Eu sou um babaca.” Uma voz torturante em minha cabeça insistia em repetir.

Eu não via razão naquilo, não poderia haver. Se fosse para acontecer algum acidente de carro, que fosse comigo. Eu merecia, eu merecia estar naquela sala de cirurgia sem nenhuma certeza de que sairia de lá bem, eu...

Meus olhos estavam cheios de lágrimas, os batimentos dela haviam parado pouco antes da ambulância estacionar em frente ao hospital e por quê? Não podia esperar só mais um pouco?

Aquela imagem do médico dando choques nela para tentar fazer o coração voltar a bater e nada, nada acontecia. Eu acreditei que tinha a perdido, eu acreditei que aquela briga fora nossa ultima conversa e que “Você é um babaca” eram as últimas palavras dela que escoariam em minha mente por toda a eternidade.

E, lá estava eu, sentado no canto de um sofá naquele hospital, esperando algum médico desesperadamente; necessitando de alguma noticia sobre a cirurgia; precisando que as horas passassem rápido; qualquer coisa.

— Chuck? – uma voz me desviou dos meus pensamentos.

Me voltei para trás e era N.

Esse era o estado em que eu estava, não consigo mais reconhecer nem a voz do meu melhor amigo.

Nate’s POV

— Chuck? – o chamei assim que o avistei.

Estava ofegante, havia corrido até ali o mais rápido que podia.

Mas ele não me escutou:

— Chuck? – disse novamente me aproximando.

— Nate.

E apenas trocamos olhares, não era preciso falar nada.

Sentei-me no outro sofá e minha cabeça rodava. Aquilo não podia estar acontecendo, simplesmente não podia.

Aquilo era pesado demais para mim, carregar aquele segredo que L me contara em Hamptons.

“Mas os médicos vão saber, eles sempre sabem.” Pensei.

Só que só eu sabia, pelo menos eu achava que era apenas eu. Talvez houvesse mais alguém.

Falei que pegaria um café e chamei uma enfermeira, contei a ela que Liz estava grávida e que deveria avisar o médico que estava cuidando dela. Ela assentiu a agradeceu.

A Sra. Redford chegou em seguida sem se aguentar em pé acompanhada por Anne que a apoiava para ela não desabar no chão e elas foram, desesperadamente, questionar a recepcionista ou enfermeira, eu não pude identificar.

Mas foi quando eu estava prestes a tomar o controle da situação, porque eu sabia que não haviam mais noticias do que C havia falado pelo telefone, ele me surpreendeu.

Anne correu atrás de um médico que vinha no corredor e Chuck se levantou calmamente e foi até Penélope, eles apenas trocaram olhares e ela estava há um segundo de chorar:

— Por quê? – ela perguntou com a voz baixa e com dor em seus olhos. – Por que tinha que acontecer logo com ela?

Ele a abraçou e ela chorou. Chorou de soluçar. Chorou com tanto desespero que eu também comecei a derramar lágrimas.

Serena’s POV (Paris)

Eu encarava o chão daquele quarto no Hotel Ritz, Blair havia insistido em se hospedar ali devido a toda historia envolvendo Lady Di (já que ela era uma de suas heroínas), e eu senti meu coração se quebrar lentamente.

O celular estava no viva voz e, assim que Chuck desligou, eu não movi um único músculo. Não por não querer, mas porque meu corpo estava paralisado.

Blair me olhou nos olhos e nós duas estávamos prestes a desabar, estávamos tão longe de NY e havíamos sido tão arrogantes com a Liz.

B apenas andou com muita rapidez e em passos firmes até o cofre do nosso quarto enorme em Paris para pegar todos os nossos documentos.

—Vou ligar para o aeroporto, precisa ter algum voo para Nova York ainda hoje. Quer dizer, é Nova York! Precisa ter, certo? – ela falou tentando obter alguma confirmação de mim e com os olhos marejando.

— Acho que sim – consegui falar enquanto ela se dirigia para a porta.

— Estou indo fechar nossa estadia no hotel enquanto eu ligo pro aeroporto.

Por isso ela era Queen B, ela sempre sabia o que fazer mesmo nos momentos em que parece ser impossível dar um passo para frente.

Assenti:

— Vou arrumar as nossas malas.

E arrumar malas significava pegar o essencial e tacar dentro da mala. Nunca vou conseguir acreditar no tanto de coisas que abandonamos em baixo da cama e dos móveis para podermos ir embora o mais rápido possível sem que a camareira descobrisse tudo o que deixamos ali e nos fizessem voltar.

B conseguiu duas passagem para um avião que sairia daqui duas horas e entrar nele seria um desafio.

—x-
Chuck's POV

A cirurgia durou algumas horas, quando acabou o médico veio até a mãe da Liz para contar como ela estava, fiquei atrás dela ouvindo:

— Quando ela chegou no hospital foi preciso fazer uma cirurgia de emergência e foi uma cirurgia bem sucedida, com o impacto do carro os pulmões dela ficaram comprometidos e um pedaço de ferro perfurou o abdômen, ela perdeu uma boa quantidade de sangue. Ela também bateu a cabeça forte, isso fez com que perdesse a consciência. Na cirurgia conseguimos remover o pedaço de ferro, mas por causa do sangue perdido ela estava muito fraca, precisou de uma grande quantia de transfusão. O impacto da queda na cabeça causou um sangramento interno, então tivemos que colocá-la em um coma induzido para tentar diminuir a pressão intracraniana. Se houver melhora no estado da pressão no cérebro, os medicamentos serão reduzidos até serem retirados para ela voltar a consciência. Será uma recuperação mais lenta, mas ela é jovem, isso ajuda... E, infelizmente, com o sangramento, a ferida e o impacto não foi possível salvar o bebê, ela deve ter perdido antes de chegar no hospital.

— Ela estava grávida? – Penélope pergunta em choque.

Ela estava grávida?

—x-

Blair e Serena haviam chegado a Manhattan e foram direto para o hospital, Penélope e Anne continuavam no mesmo lugar sentadas desde ontem, Nate conversava algo com Megan e com Philip perto no bebedouro, Jenny e Dan haviam ido comprar café para todos e o Sr. Redford tinha avisado que chegaria em algumas horas.

Todo mundo estava lá, até mesmo Lily tinha vindo para ver como eu estava.

Os Humphreys voltaram com bandejas de isopor cheias de café. Dan me estendeu um copo enorme e peguei, de repente não existia nem um ressentimento entre ninguém ali. Levantei-me e andei até o corredor para ficar sozinho, mas aquilo não ia acontecer.
Parei e me virei pra Lily:
— Charles, como você está?
Ela havia mesmo feito aquela pergunta?
— "Bem" seria a ultima palavra que eu usaria... É só que eu não entendo o porquê e... E eu queria ser forte sobre isso, mas não sou.
— Você precisa ter fé.
— Não acho que depois de dezessete anos sem anos sem ao menos ir á igreja, Deus vá atender ás minhas preces.
— Sempre se pode tentar... Bom, vou deixar vocês a sós - ela falou ao ver Nate se aproximando e tomei mais um pouco de café.

Nunca fui ligado a religião e fé, nunca vi sentido nisso tudo, eu nem saberia por onde começar.

— Estou indo até o restaurante daqui do hospital. Vamos comigo? – ele me convidou.

— Não. Obrigado.

— Chuck, você está há mais de um dia vivendo á base de café. Precisa comer alguma coisa.

— Não preciso, Nathaniel.

— Escuta, eu sei que está se sentindo mal e que isso está acabando com você. Mas não é desculpa para querer ir parar internado. Eu te conheço, você é forte, só que não tanto para aguentar tanta coisa e ficar só no café.

— Eu só estou bebendo café porque não se pode trazer álcool para o hospital.

Ele apenas ficou parado me encarando. Odiava quando Nate fazia isso para eu mudar de ideia.

— Ok – respondi desistindo com um suspiro.

Pegamos o elevador até o andar onde havia uma cafeteria, me pareceu mais uma cantina. Só que aquilo não importava.

“Tanto faz.” Pensei.

—x-

Blair’s POV (duas semanas depois)

Não dava para acreditar naquilo. Simplesmente não dava.

Eu briguei com a minha mãe por causa disso. Quer dizer, eu sei que já faziam duas semanas desde o acidente e uma semana que as aulas haviam voltado, só que quem ligava?

Uma das minhas melhores amigas estava na cama de um hospital, cheia de aparelhos, em coma e minha mãe me faz vir para a escola? Entretanto não foi só a minha mãe que fez isso, a mãe da Serena e do Nate também. Só o Chuck estava no hospital e ele não saia de lá, talvez algumas vezes para tomar banho e dormir (por mais que isso tenha acontecido só na segunda semana).

Como se não fosse o bastante, eu estava na aula de educação física. A pior aula que poderia existir e se a professora achava que eu ia me levantar da arquibancada para correr embaixo daquele sol escaldante, ela estava sonhando.

Então eu estava lá, sentada na segunda fileira da arquibancada ao lado da Serena e do Nate encarando o nada e em silêncio. Ninguém havia conversado muito nas ultimas duas semanas, porque não tem o que falar. Cada um de nós sabe o que o outro está sentindo e como machuca saber que a Liz não está bem.

O médico havia dito que a cirurgia havia ido bem, mas enquanto ela não melhorasse e acordasse era difícil se sentir em paz. Eu cheguei só depois que ela já tinha saído da cirugia, não ouvi o que o medico disse e eu sentia que tinha alguma coisa que eu ainda não sabia e que o Nate e Megan também estavam me escondendo.

Flashback on

— Você não vai me contar, N?

— Não tem nada que você precise saber.

— Eu não preciso, mas quero saber.

— Blair... Desculpa, eu não posso, é não é meu lugar para contar

— Tanto faz. Se não vai me falar, então tanto faz. – falei brava.

Flashback off

Não tem sido dias fáceis.

Revirei os olhos para aqueles alunos correndo pelo campo de futebol e talvez fosse o meu mal humor ou só eu que odiasse aquela aula, mas era realmente algo entediante.

— Pegue a bola! – vozes gritavam sem parar.

— Pegue a bola!

— Pegue a bola!

Então essa frase veio em nossa direção e eu queria morrer. Será que ninguém tem mais com que se preocupar além uma bola?

— Pegue a bola!

— PEGUE A BOLA VOCÊ, SUA FRACASSADA! – explodi.

Então eles pararam de gritar.

Serena e Nate me olharam preocupados, mas eu não me importava, eles tinham ficado quietos e poderia ter um pouco mais de paz. Eu estava ficando louca?

Só que alguém podia me culpar? Eu tinha minhas razões.

“Upper East Siders,

Todos sabem o que aconteceu, não preciso postar isso no blog.

A escola não é mais a mesma, isso é fato. Nem e-mails com fofocas eu recebo mais.

L chegou em Manhattan como quem não quer nada e conquistou os corações de todos nós. Tornou-se referencia de estilo, a garota dos sonhos de todos os caras da St. Judes e o tipo de pessoa que queremos ser iguais. Claro, B e S são tudo isso, mas elas estão por aqui desde sempre.

A Redford tem algo diferente, algo que fez com que ela se tornasse parte do grupo intacto há anos que era NJBC, algo que fez com o coração de C batesse mais forte. Sim, todas nós queríamos ter esse algo a mais, só que isso não se consegue, simplesmente já nasce com você.

Acredito que tudo vá ficar bem, porque é preciso acreditar mesmo quando parece impossível encontrar uma luz no fim do túnel.

xoxo

Gossip Girl.”

—x-

Chuk’s POV

Quase três semanas, minha olheiras haviam chegado a um estado que dava medo, meus olhos estavam fundos, meu cabelo uma bagunça, minha aparência cansada e abalada era obvia para qualquer um.

Já era quatro da tarde de sexta-feira, aquele pesadelo parecia estar disposto a nunca mais ir embora. Olhei a janela, algumas gotas d’agua escorriam pelo vidro, uma suave chuva caía lá fora.

O médico entrou na sala de espera onde todos nós estávamos:

— Tenho uma boa noticia. – meu coração acelerou desesperadamente ou ver aquele enorme sorriso em seu rosto e até minha respiração não era capaz de permanecer constante.

— A pressão intracraniana foi aliviada, ela tem se recuperado bem. Vamos começar hoje a retirada dos remédios que estão a mantendo sedada. Dentro das próximas horas ela deve acordar.

Senti um peso sendo tirado de mim, minhas pernas falharam e eu caí de volta no sofá, enquanto todos comemoravam eu apenas consegui sorrir em silêncio, como se eu tivesse minha própria comemoração particular na minha cabeça.

—x-

Liz’s POV

Minha cabeça doía, eu não sabia onde estava ou por quanto tempo havia dormido, havia vários fios em mim, meu cabelo estava uma droga e eu estava fraca demais para me mexer.

A enfermeira levou um suto quando viu que eu estava com os olhos semiabertos olhando para ela e eu não a culpo, sei que estava horrível.

Quero tomar um banho, foi a primeira coisa que eu pensei. Meu corpo inteiro doía, foi a segunda. O que tinha acontecido, foi a terceira.

Minha mãe estava sentada na poltrona do quarto e correu até mim:

— Filha? Você consegue me ouvir?

A enfermeira sai para chamar o médico que logo veio até o quarto. Eu via todo mundo, eu ouvia tudo, mas eu não conseguia responder.

— Srta. Redford? – o médico me perguntou.

Balancei a cabeça com dificuldade, meu corpo estava dormente.

Apontei para a minha garganta, que ardia e minha boca estava seca, precisava tomar água. Ele entendeu e pediu para que a enfermeira buscasse uma garrafa d’água para mim.

— Você sofreu um acidente feio, ficou desacordada por mais de duas semanas, por isso sua garganta deve estar doendo e você não esta conseguindo falar, logo isso passa – ouvi o médico falar enquanto minha mãe me ajudava a tomar um pouco de água. – Você teve uma perfuração no abdômen, que já foi tratada, mas ainda está com pontos. Você teve sorte de não quebrar nenhum osso... Infelizmente, Srta. Liz, como seu amigo nos avisou sobre sua gravidez, infelizmente ela não resistiu ao trauma do acidente, não houve nada que pudéssemos fazer. O primeiro estágio da gestação é muito frágil, os primeiros três meses qualquer coisa pode prejudicar ou levar a um aborto espontâneo. Sua mãe também nos contou como você havia passado mal nas ultimas semanas, suspeito que já era uma gestação de risco pela sua idade. Talvez mesmo sem o acidente...

O homem que parecia ter uns quarenta anos, cabelos bem penteados, alto e bem grande bateu no meu ombro como se para me consolar.

— Você lembra o que aconteceu, Liz? Do acidente? – minha mãe pergunta e eu balanço a cabeça que sim.

Meu coração se partiu lentamente ali tentando assimilar tudo o que o médico tinha falado e em silencio eu chorei por dentro enquanto minha ligava para alguém para avisar que eu tinha acordado.

Nem sabia o que estava sentindo ou como me sentir. Mesmo que talvez eu nem quisesse estar grávida, não pude evitar a tristeza que me invadiu.

Meu pai entrou no quarto. Ele estava chorando? Chorando de verdade? Meu pai? Alguém estava de brincadeira comigo.

Ele me abraçou através dos fios e isso me fez chorar.

— Sinto muito – o ouvi dizer respirando fundo. – E sei que tenho sido o pior pai do mundo. Também sei que eu devia ter te dito isso muito tempo atrás e talvez seja tarde demais, só que... Eu sinto muito e... Querida, você é a pessoa mais incrível que já existiu. Quero que saiba que me orgulho de você todos os dias.

Acho que é isso o que acontece quando se está no fundo do poço, não tem mais para onde ir a não ser para cima. Quando acontece algo que faz sua vida não ter tanto sentido... Nada mais importa.