Liz’s POV

Chorei. E quando digo isso significa que chorei por quase uma hora ao lado de Anne e meus pais. Mas não foi o suficiente, parecia que quanto mais eu chorava, mais eu queria chorar. Primeiro chorei porque vi todos eles chorando por eu estar bem, depois chorei porque tudo doía em mim, chorei com minha mãe contando sobre como todos meus amigos ficaram ali por mim, e então, chorei por luto de algo que nem sabia quem era, que talvez nunca chegaria a esse mundo de qualquer jeito.

Assim que deu o horário para visitas minha mãe fala que Chuck já está lá para me ver:

— Não sei o que falar para ele, mãe – sussurro com a voz rouca ainda.

— Ele veio com você na ambulância, ele que ligou para todo mundo, ele foi a pessoa que passou mais tempo nesse hospital depois de mim e foi ele que se ofereceu não uma, mas várias vezes para ficar aqui para eu, seu pai ou a Anne podermos ir para casa dormir ou comer ou tomar banho. Liz, ele se preocupou com todo mundo, menos com si próprio. Precisa conversar com ele, precisa contar o que aconteceu... Foram três semanas difíceis. Não precisa falar sobre aquilo agora, ele vai entender. Mas não o ignore.

Suspirei.

— Amigos são importantes, filha. Não é porque você perdeu alguém que tem que castigar outras pessoas por isso... Eu sei que seu coração deve estar doendo, mas um coração quebrado, assim como um corte, cicatriza... Leva tempo e nem para todo mundo esse tempo é igual, ás vezes levam semanas, meses ou anos. Mas não tenha pressa e... Acredite em mim, você nunca vai conseguir se levantar sozinha, ninguém é forte o suficiente para isso. Você tem oito amigos que não tem feito nada, exceto se preocupando com você e sabe o por quê? Porque eles só querem te ajudar e você precisa deixa-los fazer isso.

Minha mãe saiu e foi chamá-lo, ele logo entrou e se encostou na porta com os braços cruzados me olhando. O cabelo dele estava um desastre, ele tinha olheiras, olhos inchados e um semblante cansado.

— Oi – falei com a voz rouca e senti minha garganta arranhando.

— Oi – ele respondeu e sorriu de lado.

Sorri de volta:

— Você não parece nada bem – falo.

— Você também não.

— Eu sei, faz quase três semanas que não penteio o cabelo – isso o fez rir.

Ele faz uma pausa em silêncio me encarando.

— Você me assustou quando te vi caída no chão aquele dia... – ele diz baixinho.

— Não foi culpa minha – respondo meio manhosa.

— Eu sei, meus advogados já cuidaram do culpado. Foi um cara bêbado.

Ele se aproxima de mim:

— De perto dá para ver como seu cabelo está uma droga, Chuck.

— Ah é? – dei risada.

Olhei em seus olhos e mesmo não parecendo aquele Bass que eu conhecia, não liguei.

— Por que fez tudo isso? Por que ficou aqui e se preocupou?

— Te contaram?

— Sim.

—Prometi cuidar de você, não foi?

— Obrigada.

— Não precisa agradecer.

Levanto a mão com os fios agarrados para que ele me dê sua mão e a seguro.

— Senti sua falta – digo apertando sua mão.

— Não faça isso – ele sussurra.

— O quê?

— Não faça isso, não diga que sentiu minha falta.

— Mas eu senti.

Ele acariciou minha mão e suspirou:

— Eu também senti... Achei que você tinha seguido em frente, desculpe não ter te deixado explicar. Desculpe por aquele ultimo dia no Empire também. Deve ter te magoado muito.

Ele aperta a minha mão.

— Estou feliz que esteja bem, Liz. De verdade... Obrigado por estar bem.

Sorri para ele:

— Obrigada por ter feito tanto por mim – apertei sua mão de novo.

Ele me olha por um tempo.

— Eu te amo, eu não devia ser tão difícil de lidar assim, não é?

— Faz parte da diversão – falo brincando na tentativa de aliviar a tristeza nos olhos dele. – Eu também te amo, Chuck Bass.

Ele sorri, mas seus olhos ainda parecem tristes.

— Tem mais gente que quer te ver, então vou embora agora.

— Você não vai perguntar sobre...

— Não – ele responde antes de eu terminar de falar. – Quando você quiser e se sentir confortável a gente pode conversar, prometo que vou respeitar e entender o seu tempo.

Ele solta a minha mão e saí do quarto.

Logo a porta se abriu e Megan, Philip e Nate entraram.

Eles não pularam de alegria, não gritaram, não comemoraram... Eles só me abraçaram.

— Sinto muito – Megan sussurrou quase chorando.

— Vai ficar tudo bem – N falou.

— É claro que vai – minha prima insistiu. – Ah, estamos tão feliz por estar aqui, L.

— O que você precisar nós estamos aqui – Philip falou.

—A Megan é a garota mais sortuda desse mundo... Desculpa as coisas não terem dado certo entre nós, eu realmente queria que tivessem.

— A Megan é a garota mais sortuda desse mundo... Desculpa por tudo.

— Não precisa se desculpar.

— Não?

— Liz... Ás vezes nós passamos a vida inteira querendo algo e quando finalmente conseguimos, percebemos que... Que aquilo nunca nos pertenceu. Obrigado por apoiar eu e a Megan.

— Tem muita gente ali fora. Estamos indo, não queremos te cansar – Megan diz enquanto Michael entrava no quarto.

— E aí? – ele diz.

— Oi, Mike. E eu antes que diga alguma coisa, eu vou te chamar assim não importa se não gostar.

— Pode me chamar como quiser.

Revirei os olhos:

— Se não sabe brincar, não brinca.

— O quê?

— É sua função de irmão implicar comigo.

— Desculpa, vamos começar de novo. É melhor me chamar pelo nome ou...

— Ou o quê?

— Ou nada – nós rimos.

Eu estava tentando parecer o melhor possível, não queria ninguém triste.

— Como você está?

Uma vontade de chorar veio imediatamente. Mentir em perguntas como essas não seria possível como era antes.

Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e Michael me abraçou. Todo mundo estava me abraçando e eu não ia reclamar, porque eu realmente estava gostando daquilo.

Sentia que estava sensível demais, não sei se eram os remédios ou o fato de meu corpo estar tão dolorido. Ele me abraçou até eu parar de chorar e me consolou.

— Quero que saiba que fiquei preocupado e me deixa feliz saber que você saiu dessa. Não podia perder minha irmã assim, você mal chegou na minha vida.

Tentei me recompor antes que outra pessoa entrasse.

— Vamos conversar depois. Pode me ligar a hora que quiser, ok?

Assenti enquanto o vi sair.

—Ah, meu Deus. Nunca mais faça isso comigo, sabe o quanto me deixou preocupada? Sabe o quanto preocupou todo mundo? Você não pode simplesmente quase morrer, Redford.

—Blair? – ela parou de falar – Oi. É bom te ver também.

Serena riu e B respirou fundo.

— Ah, Liz... – S disse me abraçando – Estou tão feliz por estar bem.

Blair também me abraçou logo em seguida e, sabe... As pessoas podiam fazer isso sempre, ficar me abraçando.

— Desculpe por aquilo, Serena.

— Tudo bem, eu e Dan estamos conversando sobre isso, eu sei que não foi culpa sua.

— Blair...

— Esquece aquilo, L. O importante é que você está bem.

Eu contava? Não contava? Seria melhor contar... Mas eu não queria ter que falar tudo de novo, eu estava cansada. Ok, eu havia dormido por três semanas, mas eu estava cansada.

— Desculpa atrapalhar, mas a paciente precisa descansar. – uma enfermeir entrou na sala.

— Está tudo bem. – me intrometi – Preciso conversar com elas.

— Você já recebeu muita gente hoje.

— Por favor.

— Srta. Redford...

—Sério, por favor.

—Só mais cinco minutos e depois você pode dar um oi para os outros e só.

Concordei.

—O que está acontecendo? – B me interrogou – O que todo mundo sabe menos nós?

Contei tudo a elas.

— O quê? – Serena disse estupefata.

— Liz, sinto muito que tudo isso aconteceu com você. Você tem passado por muita coisa.

Eu estava tão cansada, com sede e eu queria chorar outra vez.

— Era do Chuck, não é?

Assenti.

— Vocês deveriam conversar sobre isso – S diz.

— Não agora. Se concentre em se recuperar primeiro – B fala.

—Liz? – a enfermeira voltou – Tem mais pessoas que querem te dar um oi.

— Pode entrar – respondi os vendo ali atrás. – Jenny!

Little J me deu um abraço acompanhado de um suspiro de alivio.

— Você nos deu um susto enorme.

— Eu sei. Desculpa... Lonely Boy?

Outro abraço.

— Sinto muito por... Você sabe.

— Tudo bem. Mas você não deveria ter feito isso com a Serena.

—x-

(Um mês depois)

Tantas coisas aconteceram ou talvez nem foram tantas coisas assim.

Deitei na cama com fones no ouvindo musica, encarando o teto, comecei a pensar em tudo o que mudou na minha vida desde que saí do hospital.

Passei mais alguns dias internada, fui liberada com a condição de ficar em repouso por mais algum tempo até meus pontos sararem e eu pudesse me recuperar da cirurgia. Tenho feito dos deveres da escola de casa pelas ultimas semanas com a ajuda de Megan.

Bom, meu pai está mais presente do que nunca. Todo dia ele faz questão de me ligar para perguntar como eu estou e como foi o meu dia e também está tentando vir para NY mais. Pedi para que ele se reconciliasse com Michael, o que se mostrou uma tarefa árdua e eu entendo, não é fácil para o Mike.

Algo estranho foi minha mãe arrumar um namorado. Quer dizer, ela meio que tinha um, mas eles terminaram. Não sei quando, mas terminaram. A Sra. Penélope arranjou outro e até que eu o achei legal. Tudo bem que ele me tentou comprar com um lindo par de sapatos Vivier quando voltei do hospital, mas eu gostei dos sapatos.

Hoje eu finalmente voltaria para a escola e por alguma razão estava nervosa sobre isso. Acordei cedo para me arrumar, tomei um longo banho, coloquei um robe e fui tomar café da manhã com minha mãe:

— Acordou cedo – ela comentou enquanto bebericava sua xicara de café.

— Não consegui dormir mais.

Peguei uma torrada com geleia e uma xicara de café com leite. Meu apetite tem voltado aos poucos.

Despedi da minha mãe enquanto ela pegava sua bolsa para ir trabalhar.

— Tenha um boa aula hoje, querida. Qualquer coisa é só ligar – disse assoprando um beijo por cima dos ombros e entrou no elevador.

Subi para me trocar escolhi uma camisa azul marinho de seda, um blazer quadriculado cinza, uma saia preta e botas de cano alto. Tirei meu robe e não pude evitar encarar o machucado no meu abdômen que mal acabara de cicatrizar, era a primeira cicatriz que havia feito, ainda estava me acostumando a tê-la ali e olhar para ela me incomodava. Balancei a cabeça, não queria pensar naquilo, terminei de arrumar e desci ao térreo para encontrar James.

Quando cheguei na Constance todos pararam para me olhar, acho que para ver o que o acidente havia afetado em mim, como se eu fosse algum animal em um circo. Revirei os olhos e entrei na escola, Georgina apareceu do nada atrás de mim e isso me assustou:

— E aí, colega?

— Georgina, esqueci que você se mudou pra cá.

— A mais nova aluna da Constance – ela cantarolou. - Já era hora de você voltar, tudo o que a Gossip Girl diz é como essa escola não é mesma sem você.

Revirei os olhos. Ela falava como se nada tivesse acontecido, como se eu houvesse apenas voltado de uma viagem, nem ao menos quis saber como eu estava. Talvez ela era uma má influencia como Chuck disse.

— Bom, eu tenho que ir para a minha primeira aula. Beijo, beijo, Lizinha.

Também fui para a minha, atravessei a sala com todos me encarando, Chuck estava sentado na mesma mesa que eu sempre sentava, ele tirou a mochila da cadeira ao lado na mesa dupla e eu me sentei.

— Tudo bem?

Assenti. Tirei meu casaco e o coloquei nas costas da cadeira e abri meu livro enquanto ele me encarava:

— O que foi? – perguntei.

Ele riu:

— Nada, só é bom ter você de volta. Até a Gossip Girl sentiu a sua falta - revirei os olhos.

— Puff, até parece, ela está é com saudades de ter fofocas sobre mim, é diferente.

— Como é estar de volta?

— Não sei. Bom. Ruim. Não gosto que todo mundo me olha como se eu estivesse prestes a quebrar.

— Logo isso passa, é só o primeiro dia.

— Como está a escola? Novidades?

— Hm... – ele pensa. – Acho que só a Blair que anda muito nervosa com a ideia da Georgina ter voltado.

— Vocês realmente não gostam dela, não é?

— Ela também não gosta da gente – ele deu de ombros.

— Por quê? Tem mais alguma razão além do eu já sei?

— Ela é desonesta, Liz – ele diz como se fosse algo óbvio. – Não confie demais nela. Se confiar você vai descobrir por si mesma que ela não vale sua amizade. Evite se machucar com ela.

Eu mal conhecia a Georgina, mas conhecia Chuck e Blair e talvez eu devesse confiar neles sobre isso.

“Good morning, Upper east Siders!

Que dia lindo para começarmos algo novo, não concordam? Nossa querida princesa L está de volta, confesso que bateu uma leve inveja do quão linda ela estava esta manhã, ser uma Redford não é para todo mundo, isso é um fato.

Flagrada: Georgina e L conversando nos corredores, elas são amigas? Cuidado para não ser trocada pela sua inimiga, Queen B. E vocês viram L e C hoje parecendo grandes velhos amigos? O que aconteceu que eu perdi?

And who am I? That’s a secret I’ll never tell.

You know you love me.

XOXO, Gossip Girl.”

No intervalo eu e Chuck fomos até B e S para ver Blair de braços cruzados para mim:

— É melhor você não se meter com aquela menina, você está avisada, Elizabeth Redford. Você não é minha amiga?

— Claro que sou.

— Eu te avisei que ela não ia gostar – Chuck sussurrou e eu dei uma cotovelada nele.

— Então estamos conversadas. – B disse relaxando a postura. - Como você está?

— Como tem sido o primeiro dia de volta? – S pergunta.

— Estou bem. Obrigada por perguntarem.

— É por ter você de volta – Serena diz me abraçando.

—x-

Eu havia começado a fazer terapia, depois da aula James me levou até o consultório do Dr. McCord. Eu não via muita razão em fazer terapia, mas estava sendo obrigada.

James logo estacionou, o consultório não era longe. Entrei no prédio e a recepcionista me pediu para esperar que em um instante seria atendida e foi o que fiz, havia outra escolha?

Esperei uns dez minutos e a mulher me chamou:

— Srta. Redford? – me levantei e caminhei até a sala.

— Liz, é bom vê-la novamente- sentei-me no sofá. – Então, na ultima consulta falamos sobre sua relação com o seu pai, um pouco do Michael e sobre o Philip e a Megan.

— Sim.

— Mas não conseguimos terminar esse ultimo assunto.

— Eu sei.

— Então, chegou um momento que decidiu com quem queria ficar. Mas se amava tanto o Chuck, por que escolheu o Philip?

— Porque... O Philip não me deixaria, o Philip não dorme com toda mulher que passa por ele... Não tem ideia do quão difícil é amar alguém sabendo que partirá seu coração.

— Só que depois você acabou terminando com ele.

— Terminei, porque o Chuck foi a pessoa mais... Incrível comigo e... E chega um momento na vida que você olha em volta e pensa: “Por que não arriscar tudo? Por que não tentar?” Então você tenta e acaba quebrando a cara.

— Ele fez algo que te magoou? Que fez vocês terminarem?

— Sim... Quer dizer, não. Foi o que ele não fez... Ele não teve coragem de dizer que me amava e ok, vai parecer idiotice, mas por que ficar com alguém e a cada dia se envolver mais para que a qualquer momento você se decepcione se você nunca teve certeza do que ela sentia por você? Não faz sentido.

— Às vezes correr o risco não vale a pena?

Odiava quando o Sr. McCord fazia isso, não sei responder a essas perguntas.

— Talvez... Não sei.

— Você tem medo que ele te decepcione?

— Acho eu não confio nas pessoas, eu tenho sempre a impressão de que elas vão me abandonar.

— Nem todas as pessoas são assim.

— Eu sei disso agora.

— Bem, suas aulas voltaram hoje. Melhor, você é quem voltou hoje. Como foi?

— Foi... Difícil com todo mundo curioso me observando, não quero que as pessoas pensem que sou frágil, porque não sou. Fiquei desconfortável. Mas... O Chuck me fez companhia hoje, isso foi bom.

—x-

“Hey, Upper East Siders

Como é triste quando as férias acabam e com ela lá se vai o verão. Algo que dizem é que quando o tempo aquece, fica fácil esquecer os problemas. Mas é tudo mentira, assim como contos de fadas.

Problemas continuam sendo problemas esteja frio ou calor, nevando ou um sol escaldante, Manhattan ou Hamptons, Upper East Side ou Paris.

De todo modo, percebemos nas ultimas semanas que os laços que realmente nos une são aqueles que escolhemos. É sempre bom ter amigos, eles são os que fazem a diferença, o que fazem sentido em meio ao desastre.

Mas falando sobre namoros, por que certas pessoas fazem questão de tornar tudo mais complicado do que realmente precisa ser? A vida não espera por ninguém, meu amores, e isso é tudo o que precisam saber. Corram atrás, arrisquem-se, divirtam-se, partam seus corações, ria, chore... Faça de tudo, a ultima coisa que quer é se arrepender de não ter feito. Acredite, é melhor se arrepender por ter corrido o risco.

Ok, talvez relacionamentos em NY não deem muito certo, mas podemos ser a exceção. Pelo menos, temos que confiar nisso.

And who am I? That’s one secret I’ll never tell.

You kow you love me.

Xoxo Gossip Girl.”

—x-

Cheguei em casa de um dia cansativo e, para minha surpresa, lá estava meu pai esperando por mim.

Minha mãe fez questão de que todos jantássemos juntos, mas me recusei a ter que me arrumar para sair de casa. Então ela pediu pizza no Tre Giovani, pizza era uma das melhores coisas do mundo.

Uma hora depois a pizza chegou e nos sentamos a mesa para comermos como se fossemos uma família normal, ao menos na cabeça da Sra. Redford nós éramos. Eu, minha mãe, o namorado dela, meu meio irmão, Anne e meu pai.

Sim, éramos mesmo uma família muito normal. Tanto eu estou apaixonada por um Bass.