A New Life in NY I

I can't stay away from you anymore


Peguei o blazer da mão do Chuck e entrei no banheiro feminino. O blazer era bege e tinha um tecido fino de linho, havia uma costura no cotovelo da manga então a puxei para tirá-la, tirei também a gola, mas eu precisava de uma tesoura, então deixei-o em cima da pia e aproveitei que um garçom passava em frente ao banheiro e lhe pedi uma. Com tesoura em mãos voltei para a pia, cortei alguns dedos do comprimento para ficar do tamanho do meu vestido, tirei os botões e desfiei a barra. Tirei meu sinto, vesti o blazer, dobrei as mangas que sobraram e para não ficar tão largo o prendi no meio da minha cintura com o cinto, mas ainda não estava bom o suficiente, o vestido era muito fechado na parte da frente, então cortei um decote bem aberto e profundo o suficiente para parecer que o blazer era a única coisa que eu usava e a barra do vestido fosse só mais uma parte na mesma peça de roupa, isso cobriria a mancha. Meu Alexander McQueen estava completamente destruído. Respirei fundo me olhando no espelho, ajeitei meu cabelo e voltei para a mesa:

— Uau, Liz! Esse é mesmo o blazer do Chuck? – Hilary perguntou enquanto eu me sentava.

—Era.

— Não sei por que estou surpresa, afinal você é filha de Penélope Redford – sorri para Hilary e os dois me olhavam surpresos.

– Espero que não se incomode com o que eu fiz com o seu casaco.

— Está tudo bem... Ficou... ótimo – Chuck respondeu.

— Obrigada. Passar boa parte da vida em bastidores de desfiles, vendo tantos problemas de última hora acontecerem e os designers terem que resolvê-los em minutos, finalmente valeu a pena.

O garçom veio até nós com uma bandeja enorme:

— Boa noite. A casa está muito feliz de receber todos vocês aqui esta noite e principalmente a Srta. Redford! É um prazer enorme para o nosso chefe tê-la aqui. Ele fez questão de oferecer o prato especial de hoje para todos, espero que gostem.

— E quem é o chefe? – perguntei.

— Michael... Michael Murray. Na verdade, é o nosso subchefe, mas está no comando hoje.

— Am... Agradeça-o por mim.

Ele assentiu, colocou os quatro pratos em cima da mesa e se retirou:

— Você o conhece? – Philip me interrogou.

—Não... Eu acho que não. Talvez ele conheça meus pais.

O jantar inteiro fiquei pensando em quem ele seria, eu não me lembrava de já ter ouvido esse nome. Quando acabamos de comer pedi para ir dar meus comprimentos ao chefe, então Michael veio até nossa mesa.

Ele era bem mais jovem do que eu poderia imaginar, tinha cabelos castanhos escuros encaracolados e volumosos, olhos grades, barba por fazer, devia ter um metro e noventa, porque ele era realmente alto, era muito forte e tinha um sorriso enorme:

— Boa noite – ele disse fazendo uma reverência.

— Boa noite – todos dissemos.

— Parabéns, estava tudo perfeito hoje – agradeci.

— Obrigada, Srta. Redford.

— Pode me chame de Liz, por favor. Desculpa perguntar, mas nós já nos vimos antes? Você me parece familiar.

— Na verdade... Não. Eu conheço seu pai.

— Você parece muito novo para estar trabalhando aqui – Chuck se intrometeu e eu dei uma cotovelado nele por baixo da mesa – Ai! – C me olhou bravo.

— Eu preciso trabalhar para acabar de pagar a minha faculdade.

— Então como conseguiu um emprego no Per Se? – dei outra cotovelado nele – Ai!

Percebi Michael segurar um riso:

— Eu morei algum tempo em Paris, conheci chefs importantes que me deram aulas, decidi me mudar NY para acabar de estudar gastronomia e eles me indicaram ao dono o restaurante.

— Parabéns de novo, a comida não podia estar melhor. Bom, desculpa estar atrapalhando seu trabalho.

— Não foi incomodo algum. Foi um prazer conversar com a Srta., quer dizer... Liz.

— O prazer foi todo meu.

Ele se virou e voltou para a cozinha.

Pagamos a conta e nós saímos. Hilary entrou na limusine dele eu senti um aperto no peito, engoli em seco e entrei no carro:

— Se incomodaria de me deixar em casa? – perguntei a Philip.

— Claro que não, eu sei que você está em semana de prova.

— Obrigada – respirei fundo desejando que fosse só isso.

— Philip... Vai ter um baile de fim de ano, você vai comigo, não é?

— Claro, não precisa nem perguntar – sorri.

Era isso o que eu queria e eu o tinha com ele. Eu sabia que sempre que eu precisasse, ele estaria lá me esperando, ele não exigia nada de mim, eu me sentia confortável e livre para ser quem eu era. Com o Chuck eu não sabia direito como agir, algo nele me deixava fora de mim.

—x-

Mais um dia de aula, eu realmente precisava de férias. Respirei fundo me olhando no espelho e desci as escadas para tomar café:

— Bom dia, mãe.

— Só se for para você – ela resmungou.

— O que aconteceu?

— Não quero falar sobre isso – ela bufou e tomou uma xicara enorme de café de uma só vez.

— Como quiser – falei estreitando os olhos.

Peguei um copo de suco antes de sentar e fui até a cozinha onde Anne estava:

— O que está acontecendo? – perguntei me sentando em um dos bancos do balcão.

— Vão chegar alguns sócios e compradores importantes da sua mãe amanhã.

— Mas ela não falou nada antes.

— Porque nem ela sabia, eles avisaram de ultima hora.

— Tipo?

— Tipo hoje, agora pouco.

— E quando eles irão chegar?

— Amanhã já. Sua mãe precisa dar um almoço, mas vai ser impossível contratar um buffet de qualidade para mais trinta pessoas e todos os chefs que ela gosta não estão disponíveis. Por isso ela está nervosa.

— Qualquer um ficaria... Agora eu preciso ir. Tchau, Anne – acabei de tomar meu suco e voltei para a sala onde minha mãe estava.

— Eu acho que eu consigo dar um jeito no seu problema.

— O quê?

— Bom, talvez eu consiga, não prometo nada – falei enquanto entrava no elevador.

Depois da prova eu iria procurar aquele tal de Michael, nós precisávamos de um chef afinal.

James já me esperava em frente ao prédio, sorri ao vê-lo:

— James.

— Srta. Liz – ele abriu a porta para eu entrar e o fiz.

Só havia mais alguns dias de aula, essa era única coisa que me acalmava, não teria que ver o Chuck por um bom tempo. Meu celular tocou, era ele... Bom, é como dizem: em falar no diabo...

Era uma mensagem:

“Você tem alguma coisa para fazer no sábado?”

“Por quê?”

“Você tem?”

“Não.”

“Ok, agora você tem.”

“Do que você está falando?”

“Você vai sair comigo no sábado. Você não tem opção, passo na sua casa cinco e meia da tarde.”

“Na onde vamos em um horário desses?”

“Sem perguntas. Use uma roupa confortável, isso é absolutamente tudo o que você precisa saber.”

Revirei os olhos, acho que ele havia esquecido de ontem no Per Se.

Não aconteceu nada de diferente na Constance: cheguei, vi a B, o N, o C que não veio falar comigo, o Dan, Jenny, minha aula foi chata, fiz as provas e fui embora. Na verdade, a única coisa estranha foi a Serena, ela mal me deu “oi”, eu não fiz nada de errado com ela, eu acho.

Em vez de ir para casa, fui fazer compras. Eu precisava.

E na onde é melhor lugar para gastar dinheiro em Nova York? Na Madison. E o que tem na Madison? Oscar de la Renta e Giorgio Armani. Depois de ir em todas as lojas que eu pude, decidi ir até o Per Se. Era de tarde, o restaurante não estava aberto ainda, mas eu sei que o pessoal que trabalha na cozinha sempre chega bem mais cedo:

— James, eu não vou demorar – falei enquanto saia do carro.

Entrei e eu vi o gerente do restaurante sentado em uma mesa fazendo a contabilidade:

— Boa tarde. Eu poderia falar com o Michael? – perguntei.

— Claro. Eu vou chamá-lo – sorri agradecendo.

— Liz? O que você está fazendo aqui?

— Oi! Desculpa estar te incomodando de novo.

— Não é incomodo algum.

— Bom... Eu vim te oferecer um trabalho – ele pareceu interessado. – Minha mãe precisa dar um almoço amanhã, ela precisa de um chef e eu pensei em você.

— Obrigado, mas eu ainda trabalho como um subchefe, vocês deveriam contratar outra pessoa.

— Por favor? É algo de última hora e não conseguimos ninguém. Você conduziu o restaurante sozinho ontem, não foi? Você é mais que apto para o serviço...

— Tudo bem, eu aceito.

— Sério? Que bom. Eu sei que está em cima da hora, mas você vai ter toda a ajuda que precisar. Muito obrigada, você não sabe o quanto minha mãe vai ficar aliviada. A Anne, nossa governanta, vai te ligar para ver o cardápio. Tudo bem?

— Claro – ele pareceu feliz.

—x-

Era sexta e eu estava atrasada para ir para escola fazer minhas provas. Quem disse que vida de adolescente é fácil, sem dúvidas, nunca viveu essa parte da vida.

Arrumei-me o mais rápido possível e desci correndo para pegar o elevador enquanto colocava um cardigã por cima da blusa branca do uniforme da Constance. Eu sei, é estranho eu não vestir um sobretudo, mas NY havia acabado de entrar no verão e o clima estava cada dia mais quente. É claro que de manhã nunca é realmente calor, sempre tem uma brisa chata que te faz ficar com um pouco de frio.

Minha casa estava um caos, pessoas por todos os lados para fazer o almoço da minha mãe:

— Filha! – ela me chamou antes que eu pudesse entrar no elevador – Não se esqueça de assim que chegar em casa, tirar esse uniforme e colocar o vestido que eu vou deixar em cima da sua cama.

— Tudo bem. – respondi e saí daquela loucura o mais rápido que pude.

Não deu tempo de tomar café da manhã, mas dessa vez eu não tomaria remédios e álcool e também, hoje eu sairia mais cedo da escola devido às avaliações.

Algum tempo depois James estacionou e abriu a porta para que eu descesse:

— Ansiosa para amanhã, Redford? – Chuck perguntou assim que me viu.

— Como posso estar ansiosa para ir á algum lugar que eu nem sei onde é, Bass?

— De mau humor hoje?

— Não enche. Acho que você se esqueceu do que aconteceu no Per Se.

— O que? O Chef? Que estava dando em cima de você? Não, eu não esqueci.

— Acorda, o Michael não estava dando em cima de mim.

— Sério? – ele disse sínico.

— E se você quer saber, ele vai em casa hoje.

— Como assim?

— Você ouviu.

— Vocês se encontraram de novo?

— Ontem, na verdade.

— Por quê? – ri da expressão séria que C fez.

— Minha mãe só estava precisando de um Chef para um almoço que ela tem que dar hoje. Não é nada do que você está pensando. Não se preocupe, diferente de você, eu não durmo com todo mundo que aparece em minha frente. E você sabe do que eu estou falando, sobre a Hilary, não ache que eu esqueci. Agora eu tenho que ir. Até amanhã, Chuck... Seja lá o que você esteja planejando.

— Só uma coisa – ele segurou meu braço – Qual é o seu conto de fadas preferido?

— O que? – perguntei achando que não havia escutado direito, mas ele continuou me encarando esperando uma resposta – Hm... Cinderela? Sei lá.

— Sabia que era. Era só isso.

— Você me dá medo, Charles – ele soltou meu braço e entrei na Constance.

—x-

O sinal tocou, fiz as provas e fui embora. James já me esperava para irmos.

Cheguei em casa e fui direto para meu quarto e um vestido lindo me esperava. O vesti, escolhi um Louboutin preto e dourado que havia comprado no dia anterior e pulseiras Tiffany’s, fiz uma maquiagem para leve para o dia e estava pronta.

Desci as escadas e fui até a cozinha para comer alguma coisa, estava morrendo de fome:

— Michael! – falei ao vê-lo mexendo no fogão.

— Liz! É bom te ver.

— É bom te ver também – disse me sentando em um dos bancos da bancada.

— O que você está cozinhando? Cheira muito bem.

— Estou fazendo o prato principal.

— E o que teremos hoje?

— Raita de tomate e pepino e ceviche acompanhado de camote, como entrada; ensopado de vitela à provençal no prato principal e de sobremesa, crepe suzette.

— UAU! – ele riu.

— Está com fome?

— Você não faz ideia.

Michael pegou um prato e colocou um pouco do que estava em cima do balcão ao lado do fogão:

— Experimenta um pouco de ceviche – parecia ótimo e minha boca se encheu de água.

— Meu Deus! Esse peixe... Sem palavras. E... Camote é batata? Sabe, eu não entendo nada de cozinha, não me fale nomes difíceis – ele riu novamente.

— Ainda bem que gostou – se virou para continuar cozinhando.

— Me fala mais sobre você. Quando surgiu sua paixão pela cozinha, o que te trouxe a Nova York... – falei levando o garfo até a boca.

— Am... Eu cresci em Nova Jersey, rodeado por mulheres, minha mãe não gostava muito de cozinha... Na verdade, ela quase não cozinhava, ela trabalhava muito. Então, ou eu fazia a minha própria comida ou vivia de fast food. Acabou que eu me apaixonei pela cozinha e eu queria muito ir para Paris, conhecer melhor a culinária deles, os chefes... Mas nós nunca fomos ricos, tínhamos dinheiro suficiente para viver e ir ao cinema uma vez por semana, só que não para ela poder me mandar para outro país e pagar minha faculdade.

— E o que você fez?

— Eu comecei a trabalhar meio turno depois da aula por alguns anos, consegui dinheiro suficiente para a passagem, passaporte e visto. Tomei coragem e fui depois da formatura, com pouco dinheiro, mas fui. Chegando lá eu fiquei em um albergue e comecei a procurar por um emprego. Demorou quase um mês até eu conseguir um emprego como garçom em um restaurante. Não era o que eu queria, mas era melhor do que nada, eu precisava ganhar dinheiro para sobreviver. O melhor disso foi que eu pude ver como os chefs de lá trabalhavam, experimentar tipos de comidas diferentes que eu não podia comprar, aprender novas receitas e truques, melhorar meu francês e, principalmente, poder conhecer muita gente. Pessoas que foram muito importantes para eu chegar aonde eu chegaram. Depois de meses morando lá, um cara que trabalhava comigo tinha alugado um apartamento, queria pessoas para dividir o aluguel e eu pude sair do albergue. Por sorte eu consegui uma bolsa em uma faculdade de culinária, não é muito famosa, mas era ótima. Um dos professores era chef e dono de um grande restaurante, ficamos muito amigos e ele precisava de um novo cozinheiro, consegui o emprego e trabalhei com ele até ir embora. Todo esse tempo eu tentei juntar o máximo de dinheiro que pude. Depois de cinco anos lá, eu resolvi vir fazer meu último ano da faculdade em NY e me transferi. Acabei perdendo a bolsa, mas com esse dinheiro e meu emprego eu consigo pagá-la. Devo tudo ao Sr. Tardin, o meu antigo professor, ele já trabalhou no Per Se e é um grande amigo do dono, então que indicou quando soube que eu viria para NY e que eles precisavam de um novo subchef... – Michael me contou enquanto cozinhava.

— Mas você tem muito talento, não se esqueça disso. E por que decidiu largar Paris e vir para Nova York?

— Acho que todo mundo já sonhou com essa cidade, não é? Para falar a verdade, gosto mais daqui do que de lá... Tem várias razões para eu ter vindo... Aqui tem muitas oportunidades, uma faculdade de culinária que eu posso pagar, vou poder ficar mais perto da minha mãe, sempre que tenho a oportunidade viajo até lá e... Eu vim procurar uma pessoa. Mas e você? Fale-me um pouco sobre a sua vida.

— Não tem nada de interessante comparada com a sua – ele riu.

— A minha não é nada interessante.

— Não? Isso porque você não viu a minha.

— Então me conta.

— Já aviso que não tem nada de se aventurar por aí e sobre ter um talento – ele riu de novo. – Am... Eu nasci em Los Angeles e vivi lá até alguns meses atrás, me mudei devido ao trabalho da minha mãe, porque o ateliê principal dela é aqui. Na cabeça dela, ela teria mais tempo para ficar em casa por viajar menos, mas ela tem trabalhado mais do que nunca, mal para em casa... Meu pai vive em Washington, eu o vejo pouco... A verdade é que quem me criou foi a Anne. Ela é uma ótima pessoa, eu tenho sorte de tê-la. Eu também acho que não posso reclamar dos meus pais, eles nunca passaram muito tempo comigo, mas não é culpa deles... Eu nunca tive muitos amigos antes de vir para NY, só a Megan que é minha prima e o Philip que agora é o meu namorado.

— Você não gosta dele? – me perguntou um pouco preocupado.

— É óbvio, não é? Eu queria poder retribuir o que ele sente, mas eu não consigo... Mas tanto faz – Michel ficou quieto me esperando continuar. – Minha vida ficou bem melhor depois que eu vim para essa cidade, conheci várias pessoas especiais e é isso. Nada de interessante.

— Srta. Liz, isso acabou de chegar – Anne apareceu com uma caixa branca envolvida por uma fita vermelha.

— Obrigada – ela deixou-a em cima da bancada.

Puxei uma das pontas do laço e abri a caixa e havia um buquê de peônias brancas e rosas colocadas em cima de papel de ceda vermelho. Havia um pequeno pedaço de papel branco repousando em meio às pétalas das flores, o peguei:

“Desculpa, não estava pensando direito quando fiz aquilo com você.

C.”

—x-

Conversar o dia anterior com o Michael foi ótimo, ele era inteligente e engraçado, nós poderíamos ser grandes amigos.

Era sábado, o dia do lugar misterioso que Chuck ia me levar. Estava ansiosa, eu admito, talvez ansiosa demais. Olhei o relógio e faltavam duas horas para a o horário marcado, mas decidi começar a me arrumar. Tomei um longo banho, sequei meu cabelo fazendo uma escova, fiz uma maquiagem básica: protetor solar que nunca é demais e lá fora ainda estava sol.

Entrei em closet para escolher a roupa, Chuck disse: uma roupa confortável. Então escolhi um conjunto de moletom LV e tênis.

Estava pronta, me olhei no espelho e peguei meu celular e já era quase a hora de C vir me pegar.

Ajeitei o cabelo e desci as escadas indo até a sala:

— Srta. Liz, o Sr. Chuck já chegou e está subindo.

— Tudo bem – respirei fundo, não sabia o porque, mas estava com as mãos geladas e não era por causa do frio.

O elevador se abriu e lá estava ele:

— Oi – disse erguendo as sobrancelhas, eu adorava o ver fazendo isso.

— Oi – caminhei em sua direção.

— Eu disse para colocar algo confortável.

— E eu estou vestida com roupas confortáveis – a porta do elevador se fechou.

— Certeza?

— Absoluta. Para onde nós vamos? Acho que agora você já pode me contar.

— Cada coisa em seu tempo.

— Para que tanto suspense?

— Porque assim é mais divertido – ele riu e eu revirei os olhos.

— Só para você. Que horas nós vamos voltar?

— Voltar? Nós nem começamos, L.

— Acho que você não sabe, então deixa eu te contar uma coisinha: eu odeio surpresas.

— Que pena – foi tudo o que ele disse e eu bufei cruzando os braços como uma criança mimada que não ganhou o que queria.

— Você fica linda quando está brava.

— Eu sei, eu sou linda o tempo todo.

O elevador se abriu, saímos e entramos na limusine:

— Para o aeroporto.

— AEROPORTO? Charles, o que você está tramando? – falei nervosa.

— Nós vamos pegar um voo particular.

— VÔO? Ok, você está brincando, certo? Eu não vou sair de NY, Bass. Eu tenho mais uma semana de prova.

— Hoje é sábado, nós não vamos muito longe, se quer vamos sair do país. Eu vou te trazer de volta a tempo, ok?

— Eu tenho que estudar, Chuck.

— Liz, você sabe que de todo jeito vai conseguir ir bem nas provas. Você é inteligente.

Bufei de novo:

— Se eu for mal, a culpa é sua.

— Relaxa.

— Nós vamos ficar quanto tempo dentro do avião?

— Pouco.

Ele desviou o olhar.

— Quanto, Bass?

— Am... três horas – disse passando os dedos pelo cabelo sabendo que eu ficaria brava.

— TRÊS? Onde nós vamos?

— Eu não vou falar.

— O que eu vou fazer nessas três horas?

— Eu posso te ajudar a se divertir – ele deu aquele sorriso de segundas, terceiras, quartas e até quintas intenções e o encorei séria. – Tudo bem, eu não vou insistir... Mas se você quiser... – fechei a cara mais ainda. – Ok. Vou ficar quieto.

— Já era a hora.

— Tem alguns livros e filmes para você passar o tempo.

Fiquei quieta o caminho inteiro até o aeroporto. Chegamos e um segurança nos conduziu até nosso voo particular.

Entramos no avião que logo decolou. Haviam sofás e poltronas revestidas de couro bege, uma mesinha embutida com macarons de diversas cores. Vi alguns livros em outra mesinha e caminhei até eles, haviam clássicos até livros mais recentes:

— Não sabia que lia esses tipos de livros... – percorri meus dedos por eles os observando. – Para falar a verdade, eu nem sabia que você lia.

— Engraçadinha você – deu um riso falso.

Peguei um livro, me sentei perto dos macarons e respirei fundo, seriam três longas horas.

O livro era chato o suficiente para me fazer dormir:

— Já é hora de acordar – Chuck falou pegando uma mexa do meu cabelo caída em meu rosto e colocando-a atrás de minha orelha.

— Chegamos?

— Sim.

Levantei-me da poltrona, peguei minha bolsa e ajeitei meu cabelo.

— Minha senhora – C falou parado em frente a porta estendendo a mão para mim fazendo um reverência.

Franzi a testa:

—Você sabe que talvez a ultima vez que alguém falou isso foi no século XIII, não é? – ele fingiu não ouvir – Você é estranho, Bass.

Coloquei minha bolsa no braço, dei minha mão direita para ele descemos as escadas:

— Bem vinda à Miami.

O olhei:

— Miami? Por que Miami?

— Você logo vai entender – revirei os olhos.

Havia várias pessoas à nossa espera e dois carros estacionados ali perto:

— Chuck...

— Liz, conheça as pessoas que serão sua fada madrinha hoje.

— Prazer, Srta. Redford. Eu sou a Rose e eu serei a responsável pela maquiagem – uma mulher de cabelos pretos disse.

— Prazer, me chamo Ben e serei o responsável pelo seu cabelo.

— E eu sou Chloe, responsável pelo o que a Srta. irá usar.

— Chuck, o que está acontecendo? – perguntei me virando para ele

— Eu quero que hoje seja um dos melhores dias da sua vida.

— E como você pretende fazer isso?

— Fazendo esta noite se tornar um conto de fadas para você.

— Chuck, do que você está falando?

— Só confia em mim. Você não tem outra escolha, Cinderela.

— Cinderela? – ri.

— Agora vai.

— Você não vem?

— Você vai se arrumar e eu também, em uma hora eu te pego.

— Onde nós vamos nove e meia da noite?

— Segredo.

— Eu já estou cansada de segredos.

Eu, Rose, Ben, Chloe e um dos motorista entramos no carro.

Cerca de dez minutos depois chegamos à um hotel, subimos até o um quarto e lá haviam vários sapatos, joias, maquiagens e produtos para o cabelo.

— Vamos começar? – os três me perguntaram.

— Sim.

Começamos pelo penteado, depois a maquiagem e finalmente a roupa. Chloe me conduziu até a outra parte do quarto, onde havia um vestido longo pendurado em um cabide. Meus olhos brilharam e meu coração bateu um pouco mais rápido.

Cheguei mais perto e havia um cartão no decote, peguei-o e abri o envelope:

“Bibidi Bobidi Bu! Não é um Alexander McQueen ou o vestido que a Cinderela usou, mas é um Óscar de la Renta.

C.”

Peguei o vestido:

— Bibidi Bobidi Bu? Cinderela? – falei para mim mesma dando risada.

Estava finalmente pronta. Despedi-me das minhas “fadas madrinhas” e peguei o elevador até o térreo.

Chuck estava parado em frente ao hotel e eu caminhei até ele.

— Você é louco sabia? – disse me aproximando.

— Por quê? Só estou tentando te pedir desculpas e fazer você parar de duvidar de mim.

— Só as flores já eram o suficiente para eu te perdoar.

— Mas aí não tem graça. Flores são muito simples – revirei os olhos. – Você está incrível.

— Obrigada. Agora vamos?

Entramos na limusine e Chuck não para de me olhar, mas eu o ignorei. Meia hora depois finalmente chegamos. O motorista abriu a porta para nós e flashes de câmeras fizeram meus olhos arderem.

Era uma festa de gala e haviam muitos fotógrafos. Respirei fundo e caminhamos até a entrada. O lugar não podia estar mais cheio, parei perto da mesa de frios e o encarei:

— Você realmente me fez viajar três horas para me trazer em um festa que é fácil de ser encontrada em NY?

— Sim. Mas aqui tem uma pequena diferença.

— E qual é? - ele olhou por cima do meu ombro.

— Liz, eu quero que conheça uma pessoa – me virei para ver quem era e eu não conseguia acreditar. – Liz, Channing Tatum e Channing, esta é a Liz que eu te falei.

— Prazer – ele disse e eu estava de boca aberta.

Me recompus:

— O prazer é todo meu.

— Lembra o que você me disse aquele dia? Por isso eu te trouxe até aqui. Nunca mais duvide mim, Redford. Agora eu vou pegar uma bebida – ele se virou e foi até o bar.

— Bom, eu acho que eu te devo um beijo.

— Sua namorada não vai ficar brava? – falei dando risada, que situação mais absurda.

— Ela disse que estava tudo bem, claro que ela não sabia você que era tão linda. É fácil ver o porquê do Chuck estar apaixonado por você.

— Apaixonado? – eu não conseguia parar de rir de toda a situação.

— Dá para ver pela forma como ele te olha... Pronta?

Balancei a cabeça rindo. Ele se aproximou devagar até nossos lábios se tocarem e eu sei que eu devia estar pensando em algo como: “Ai meu Deus! Eu estou beijando Channing Tatum!”, mas eu só conseguia pensar no que ele havia acabado de me falar. Chuck estava apaixonado por mim?

Demos um selinho e sussurrei:

— Obrigada – ri.

— O prazer foi todo meu – ele fala rindo também.

Olhei para o Chuck, ele virou o copo para tomar o resto da bebida de uma vez e veio até mim.

— Acho que você está me devendo alguma coisa. Esse era o preço pelos seus pensamentos, lembra? – ele me fala quando me aproximo.

— Vamos lá fora – o puxei até o jardim do lugar que ficava atrás do salão.

— Então?

— Eu estou pensando que às vezes você é o cara mais incrível que eu já conheci e... – senti um nó na garganta, não sabia se ia conseguir dizer aquilo em voz alta – E... Eu não aguento mais ter que ficar longe de você.

— Você vai terminar com o Philip? – ele me pergunta se aproximando de mim e me puxando para perto dele.

— Vou – sussurro sem folego enquanto ele beija meu pescoço.