A Máscara e a Rosa

Capitulo 5 – A Recuperação


Shaoran abriu os olhos devagar. Sentiu uma impressão num dos olhos antes de focar o lugar onde estava. Era um quarto de hospital.

Uma mulher vestida de branco veio ter com ele. Era uma enfermeira. Sorriu quando o viu acordado. Examinou a sua ficha e chamou o médico. Um homem alto de cabelo castanho-escuro e olhos da mesma cor vestido com uma bata branca aproximou-se da cama.

— Vejo que já acordou.- Pediu a ficha á enfermeira.- Foi uma sorte não ter ficado com mazelas maiores.- Disse, olhando para um dos olhos do rapaz.

Shaoran continuava confuso. As caras dos médicos quando olhavam para ele eram de dor mas ao mesmo tempo de um certo orgulho pelo trabalho bem feito. «O que se passa?» Pensou. Nem o médico nem a enfermeira pareciam preocupar-se em contar-lhe o que lhe acontecera. A sua memória estava confusa. Lembrava-se de estar com os pais no carro peto de uma ravina depois de terem estado na zona costeira. Depois disso, só se lembrava de ter acordado ali com uma impressão esquisita no olho direito. Quando lhe quis mexer, sentiu uma mão a impedi-lo. Era a enfermeira.

— Não pode tocar até estar completamente sarado.-

Baixou a mão e deixou-se ficar quieto na cama. A enfermeira saiu acompanhada pelo médico. Fecharam a porta do quarto. Do outro lado, ecoavam vozes que mal conseguia distinguir, mas que pareciam não ser só do médico e da enfermeira. Não conseguia perceber com clareza o que diziam mas percebeu que estavam a falar de si. Ouviu palavras como «órfão», «instituição» e «cuidado». Sentiu as lágrimas a correrem-lhe pela cara mas apenas do lado esquerdo enquanto se apercebia da sua situação.

Entretanto, em casa do Kinomoto, Sakura estava diferente desde que vieram da zona costeira. Não conseguia deixar de pensar no que vira ou pensara que vira no caminho de regresso. A imagem do carro e dos vultos não lhe saía da mente. Muitas vezes acordava a meio da noite com pesadelos e parecia-lhe ver a sombra da ravina refletida na janela ou no armário. Os pais estavam preocupados. Até Tomoyo. Já tinham chamado vários médicos mas nenhum conseguia detetar o que se passava. Sakura passara de uma rapariga alegre para alguém apático que só sorria por favor e mal falava. Ia para a escola quase obrigada. Se não fosse Tomoyo a ir com ela mal saía do quarto.

— Precisa de mudar de ares.- Sugeriu, um dia, Fujitaka. Estava com a mulher na sala de visitas da casa.

— Concordo.- Disse Nadeshiko.- Este ambienta não lhe está a fazer bem. Aquilo que viu foi muito forte para ela.-

Durante o tempo que esteve n hospital, Shaoran manteve-se sempre bem-disposto e recetivo aos tratamentos. Pelo menos durante o dia. Á noite, tudo vinha ao de cima: o acidente, os pais e as palavras que ouvira. Tudo ressoava na sua mente, fazendo com que acordasse quase todas as noites encharcado em suor e com o olho húmido. Podia parecer bem fisicamente, mas a sua mente estava frágil. No meio daquela angústia, a imagem da mãe vinha-lhe ao pensamento, mas não já não era aquela que tinha durante a infância de uma mulher fria. Esta sorria-lhe e dizia-lhe que ia tudo correr bem. Queria acreditar que sim, mas tudo lhe parecia tão tenebroso que dificilmente poderia ficar melhor.

Um dia, recebeu a visita de um homem. Era de uma instituição para rapazes órfãos e chamava-se Sebastian. Era magro e alto. Estava vestido de preto e usava uns óculos minúsculos na ponta do seu nariz retorcido. Parecia um personagem de ficção.

Shaoran assustou-se quando o viu. Sentou-se na cama muito direito como se tivesse engolido uma tábua. Era um hábito que adquiria em casa.

Sebastian estava sentado numa cadeira ali perto e, sem se mexer, começou a falar num tom de voz profundo:

— Meu jovem, estou aqui como representante da instituição Albert for Children para te comunicar que, quando receberes alta, virás comigo, visto que não tens pais nem tutores legais que possam cuidar de ti.-

Já tinha ouvido falar daquela instituição. Foi fundado pelo Rei Albert há mais de 20 anos para acolher crianças desprotegidas. Assentiu com a cabeça. Não tinha grandes alternativas. Sebastian levantou-se e saiu sem dizer mais nada.

— Mas mãe, ainda sou muito nova para viajar! Não seria melhor esperar até terminar a escola?- Protestou Sakura.

Estavam reunidos na sala de estar. Discutiam a possibilidade de ela ir para o estrangeiro terminar os estudos.

— Muito bem.- Disse Fujitaka, levantando-se.- Se é assim que queres, vamos esperar até terminares a escola e depois podes decidir onde queres ir.-

Sakura sorriu a abraçou o pai.

— Obrigada, pai.-

Depois de se retirar, Nadeshiko mostrou-se preocupada:

— Não sei se á boa ideia deixá-la ir sozinha. Ainda vai ser muito nova quando terminar a escola.-

Fujitaka sorriu:

— Não te preocupes. Provavelmente irá convidar a amiga para ir com ela.-

Nadeshiko pareceu mais aliviada:

— Sim, tens razão. Talvez faça isso.-

Passado algum tempo, Shaoran saiu do hospital e, tal como previsto, Sebastian estava à sua espera.

Entrou no carro que o iria levar á sua nova casa.

Continua…