A Máscara e a Rosa

Capitulo 4 – O Acidente


10 Anos depois

O dia amanheceu cinzento. As nuvens cobriam o céu dando-lhe um ar triste.

Como sempre, Jonathan era o primeiro a levantar-se. Tomou o pequeno-almoço, depois de se vestir, e saiu para a empresa. Viviane já estava acordada, mas fingia estar a dormir para não ter de fazer companhia ao marido ao pequeno-almoço. Detestava aquele teatro. Assim que ouviu a carruagem afastar-se, levantou-se. Saiu do quarto ainda em camisa de dormir. Sorriu como não sorria há muito tempo.

Passou pelo escritório antes de se dirigir á sala para tomar o pequeno-almoço. Daí a pouco, Shaoran juntou-se-lhe.

Na casa dos Kinomoto, o dia começava sempre alegre. Todos se juntavam á mesa para tomar o pequeno-almoço, ainda em pijama mas sempre em festa.

Naquela altura, Sakura tinha 10 anos e uma amiga chamada Tomyo. Conheceram-se na escola e era frequente ela ir a sua casa para brincarem. Tomoyo tinha os olhos roxos- escuros e o cabelo comprido cinzento-escuro. Usava um vestido simples rosa e um laço na parte de trás da cabeça. Era de uma família de operários que trabalhavam numa fábrica pelo que os seus pais chegavam sempre de noite a casa, que ficava num dos muitos bairros operários da cidade.

Naquela manhã, iam passear á zona costeira pois havia previsão de que o sol fosse aparecer. Sakura convidara a sua melhor amiga para vir com eles e ela aceitara. Os pais de Sakura iriam levá-la a casa quando regressassem. Estavam a pôr os sacos com as merendas na parte de trás de carruagem, já que o carro continuava avariado.

— Estou tão excitada!- Exclamou Tomoyo, enquanto entrava na carruagem e se sentava ao lado da melhor amiga. – Nunca vi o mar!-

Sakura sorriu. Agarrou-lhe nas mãos e disse:

— Vais ver que vais gostar.-

Depois, entraram os pais de Sakura e a carruagem arrancou.

Depois de uma manhã atarefada, Jonathan voltou para casa por volta da hora de almoço. Tinha prometido á família levá-los num passeio de carro pela zona costeira. O carro tinha sido uma prenda de casamento dos pais de Viviane. «Para se manterem atualizados» dissera Elisa com o seu sorriso falso. Nunca tinha sido utilizado pelo que ainda estava em bom estado. Jonathan tirou-o da garagem anexa á casa e rodou a manivela para fazer funcionar o motor. O barulho não tardou a fazer-se ouvir. Chamou o resto da família e puseram-se a caminho.

Naquela altura, a zona costeira de Londres era muito frequentada. Tinha um paredão de pedra virado para o mar e uma série de barracas que vendiam todo o tipo de coisas. Quase parecia Verão, apesar de estarem no Outono. A família Li sentou-se num café fino com esplanada virada para o mar. Jonathan pediu um copo de whisky enquanto Viviane e Shaoran pediram um sumo de fruta.

Um pouco mais abaixo, na zona das barracas, a família Kinomoto e Tomoyo deliciavam-se com a comida e bebida. Apesar de terem trazido de casa, gostavam sempre de experimentar as especialidades locais.

Do alto da varanda da esplanada, Viviane e Jonathan observavam a cena.

—Francamente! Não sabem comportar-se em sociedade!- Comentou Viviane. – São uns simplórios! Ainda por cima misturados com as gentes do povo! Onde já se viu!-

Shaoran olhou de relance e disfarçou o sorriso. Queria juntar-se aquelas pessoas nem que fosse só por uma instante, mas sabia que iria contra as regras impostas pela mãe, por isso permaneceu no seu lugar.

Lá em baixo, junto á praia, Tomoyo e Sakura molhavam os pés na água fresca enquanto corriam pelo areal com as saias a esvoaçar ao vento.

O dia passou depressa demais para as raparigas. Queriam ter ficado mais um pouco a brincar á beira-mar.

— Não vão faltar oportunidades.- Disse Nadeshiko, sorrindo. – Da próxima vez, trazemos os teus pais. Tenho a certeza que vão gostar.-

Encaminharam-se para a carruagem e esta arrancou de imediato.

Shaoran e os pais seguiram por uma estrada alternativa para evitarem a confusão que se gerara com a vinda das pessoas de regresso a casa. A estrada ficava próxima de uma ravina muito ingreme. Viviane, que seguia ao lado do marido, não pôde deixar de se sentir um pouco assustada. Olhou para o banco de trás. Shaoran dormia profundamente. Sorriu sem que o marido notasse. Quando se virou para a frente do carro, um flache de luz branca atravessou-se no caminho.

A carruagem atravessou uma estrada estreita com cuidado para não assustar os cavalos. De repente, parou. Fujitaka pôs a cabeça de fora da janela e perguntou ao cocheiro:

— O que aconteceu? Porque parámos?-

O cocheiro, um homem de meia-idade, vestido de preto, com o cabelo grisalho, veio até á janela e respondeu:

— Parece que a estrada está cortada, senhor. Houve um acidente com um carro ali á frente e a polícia está a pedir para darmos a volta e irmos por outra estrada.-

Fujitaka deu sinal para que seguisse as indicações. Retomaram a marcha. Com a agitação, Sakura acordou e espreitou pela janela. De relance, conseguiu ver a silhueta de um carro tombado numa ravina. Perto dele, dois vultos jaziam no chão já sem vida. Um outro, mais pequeno, foi transportado de maca para uma ambulância.

Depois, a carruagem seguiu o seu caminho e Sakura voltou a adormecer ao lado de Tomoyo.

Continua…