Depois que Seu Brancelha descobriu que Malicha foi enganada por um homem estranho, advertiu-a:

–Filha, quantas vezes eu já lhe disse pra não falar com estranhos?

–Mas papai, eu não falei com ele - respondeu ela- Foi ele quem se aproximou de mim e começou a falar tudo aquilo, mas eu nem dei atenção, fiquei só olhando uma revista minha.

–Foi só isso mesmo?

–Sim pai.

–Bom, então nesse caso, ele só pode ser um cara louco ou ele queria chamar sua atenção, tome cuidado com ele da próxima vez tá?

–Tá bem, da próxima vez que ele se aproximar, vou sair correndo.

–Não precisa exagerar filha, só disfarça e sai de perto.

–Tudo bem.

A viagem continuou longa, as meninas puxavam umas as outras pelo braço, pois nem todas conseguiam andar no mesmo ritmo rápido, para reconhecer o tal homem que falou mal do Justin Bieber e ir até lá reclamar, não com ele, mas com todas as mulheres do navio que gostavam do cantor, porque assim, todos poderiam expulsá-lo do navio ou algo parecido.

–Será que ele pulou do navio?- perguntou Carmen.

–Claro que não, estamos em alto-mar esqueceu?- disse Margarida- Se ele pulou e não sabe nadar, já deve ter se afogado.

–Ai, nem fale uma coisa dessas!

–Tem tantos lugares que ele possa ter se escondido, vocês têm ideia de onde ele possa estar?- perguntou Maria Joaquina.

–Eu não faço a mínima, mas a gente nem sabe também como ele é.- disse Marcelina- De que adianta corrermos atrás dele se nem sabemos como é o rosto dele?

Todas assentiram.

–É melhor a gente não continuar procurando.- disse Maria Joaquina.

–E podemos esquecer o que ele disse.- sugeriu Malicha.

–De jeito nenhum, do meu ídolo ninguém fala mal!- esbravejou Valéria.

As meninas voltaram para seus quartos e foram descansar, mas não desistiram de encontrar esse pilantra. Onde será que ele estava escondido agora?

Assim, elas decidiram que realmente seria uma perda de tempo muito grande se continuassem a procurar pelo homem sem saber como ele é, já que Malicha não está com elas e não quer arrumar confusão e problemas. sem saberem que ele na verdade, está escondido no quarto dele, que ele não divide com ninguém, só tinha uma cama lá. Mas as meninas acham que ele está por aí, contando mentiras para o pessoal do navio.

Enquanto isso, Chaves, Jaime e Botijão voltaram para seus quartos para descansarem, depois de um terem acabado com praticamente toda a comida que tinha na cozinha do navio.

–Bom, pelo menos a gente estaria fazendo um favor para os cozinheiros daqui do navio né?- disse Botijão, ao se afastarem das meninas.

–Como assim?- perguntou Chaves.

–É que agora, já que não tem praticamente nada na cozinha, elas terão que cozinhar tudo de novo, ou seja, dar mais trabalho para elas e isso vai poder fazer o capitão aumentar o salário delas, não acham?

Os dois se olharam, depois desataram a rir.

–É mesmo!- Jaime disse, sem parar de rir.

–Isso isso isso!- Chaves disse com o rosto vermelho de tanto rir.

Quando conseguiram parar de rir, os três voltaram para seus quartos. Assim que Chaves estava na porta de seu quarto, ele estava abrindo a porta, colocou a mão na maçaneta para abrir, até que viu Pópis, Paty e Chiquinha saírem do quarto delas com roupas de banho e toalha nos ombros.

–Oi Chaves.- disse Chiquinha.

–Oi Chiquinha, estão indo na piscina?- perguntou ele.

–Estamos sim, quer vir junto?

–Não obrigado, acabei de comer.

–Mas você pode ficar lá com a gente sem entrar na água, apenas nos olhando.- sugeriu Pópis.

"Essa não"- pensou Chaves. Novamente as meninas estavam dizendo que ele poderia vê-las fazendo algo enquanto ele ficaria apenas na vontade de fazer, não era a primeira vez que elas faziam isso, com exceção da Paty, mas mesmo assim, ele não queria.

–Não, podem ir.- disse Chaves, entrando em seu quarto.

As meninas não entenderam a repentina mudança de expressão e de humor dele, mas não falaram nada e foram até a piscina. Depois que ele entra no quarto, fica um tempo ali, na janela, olhando para o mar sendo jogado de lado pela borda do navio, seus olhos brilhavam. Passaram-se alguns minutos até que Jaime aparece na porta:

–Ei Chaves!- diz Jaime.

–Oi.- responde Chaves.

–O pessoal tá chamando a gente pra jogar bola lá no ginásio, tá a fim?

–Zás zás, daí eu jogo, aí eu marcava um gol e depois outro, aí depois mais outro e aí eu ganhava e zás, zás...

–Isso mesmo.

–Tá legal, vamos.

Depois de chegarem no ginásio, os meninos deixaram Chaves jogar bola com eles e em certo momento, ele acaba vendo uma chance de marcar um gol e se exalta, chutando a bola com mais força que o necessário, fazendo a bola ir pra fora do ginásio.

–Como é grosso hein Chaves?- reclamou Paulo.

–Desculpe Paulo, eu tava nervoso e desconcentrado.- respondeu Chaves.

Assim, os dois foram buscar a bola e quando a encontram, Chaves percebeu que o chute foi bem forte e acerta o Seu Barriga, que recebe uma bolada nas costas.

–Isso só pode ter vindo de uma pessoa que eu conheço muito bem, que é o Chaves!- ele disse, até que vê Chaves e Paulo saindo do ginásio para buscarem a bola. Ao ver a bola nas mãos do Seu Barriga e a expressão furiosa no rosto dele, a alegria de rever Seu Barriga foi substituída pelo espanto e Chaves logo percebe o que aconteceu.

–Foi sem querer querendo.- disse Chaves.

–"Foi sem querer querendo"- repetiu Seu Barriga- Até fora da vila você me acerta com um golpe Chaves, o que foi que eu te fiz hein?

–Desculpe Seu Barriga, eu não vi o senhor.

Logo depois, os dois meninos voltaram ao ginásio e Seu Barriga continuou sua procura pelos inquilinos, ainda com raiva do que aconteceu.

–Seu Barriga, como vai?- disse ela, admirada.

–Olá Dona Clotilde, vou bem e a senhora?- respondeu Seu Barriga.

–Muito bem, o que está fazendo aqui?

–o Nhonho viu a oportunidade de fazer esse cruzeiro e eu decidi vir com ele pra relaxar um pouco.

–Fez muito bem, é bom relaxar de vez em quando, sair do estresse.

–Exatamente. E a senhora?

–Eu o quê?

–Como têm passado? Sabe... depois da... venda da vila.

–Bem, agora eu estou morando em uma grande e linda mansão no centro da cidade.

–Mansão? Jura?

–Sim, olha aqui as fotos que tirei no dia em que muita gente foi se hospedar lá e quase acabaram com todas as vagas.

Enquanto via as fotos que Lúcio tirou no dia que todas as duas turmas se mudaram para a mansão, Seu Barriga logo percebe Jaiminho, Seu Madruga e Dona Florinda no canto da foto, o que provava que eles estavam morando na mansão.

–Quem é o proprietário dessa mansão?- perguntou Seu Barriga.

–É esse aqui- respondeu Dona Clotilde- Ele se chama Lúcio.

–Ele está aqui?

–Está sim, olha ele vindo ali.

Então, Dona Clotilde se aproximou de Lúcio e fez as apresentações;

–Seu Lúcio, este aqui é o Seu Barriga, ele é ex-dono da vila onde morava. Seu Barriga, este é Seu Lúcio.

–Prazer Seu Barriga- Lúcio estendeu a mão.

–Prazer.- Seu Barriga apertou a mão.

–Muito bem, vou deixar vocês se conhecerem melhor- Dona Clotilde disse e se afastou.

Seu Barriga e Lúcio passaram algum tempo ali, conversando, pois Seu Barriga ficou com uma dúvida na cabeça e queria muito que Lúcio lhe tirasse essa dúvida, mas para não pegar mal, preferiu primeiro conhecer Lúcio melhor para depois lhe perguntar o que queria, não ir direto ao assunto. Quando achou que conversaram o suficiente, resolveu perguntar:

–Escuta Lúcio, não quero te pressionar, nem parecer um chato, mas será que o senhor pode me passar o endereço dessa mansão?- pediu Seu Barriga.

–Posso sim, mas por quê?

–É que eu estou com saudade dos inquilinos da vila e queria visitá-los.

–Bom, aqui está o endereço, mas se você quer mesmo rever seus inquilinos, é só procurá-los pelo navio.

–Eles estão aqui?- Seu Barriga ficou surpreso.

–Sim, todos que estão nessa mansão vieram pra cá comigo.

–Ah sim, foi a promoção né?

–Exatamente.

–Tudo bem então, obrigado Lúcio.

–De nada.

Seu Barriga ficou bastante surpreso ao ver que seus três inquilinos mais atrasados estavam morando em uma mansão, já que pelo jeito que nunca tinham dinheiro para lhe pagar o aluguel, a expectativa era que eles acabassem morando na rua.

–Se eles estão morando em uma mansão como o Lúcio diz, devem estar com dinheiro suficiente para me pagar o aluguel e vão fazer isso agora!- pensou ele consigo mesmo.