Eu sabia que não conseguiria entrar como visitante na ala da UTI do hospital, por isso, ao chegar lá, adentrei a porta dos fundos, por onde entravam os funcionários e troquei o meu uniforme da escola por um uniforme de faxineira. Que estava empilhado em uma das prateleiras. Peguei um carrinho desses que as faxineiras usam, com um balde, um rodo e um pano e também coloquei, na parte de baixo, as coisas que roubei da tia Miriam e o CD virgem que peguei na minha casa, deixando a minha mochila escondida em um cantinho da pequena sala onde ficavam os produtos de limpeza.

Percorri um longo caminho até a ala sul do hospital, passando rapidamente e sem fazer contato visual por todos os seguranças. Finalmente me senti aliviada ao ler o letreiro escrito: Unidade de Terapia Intensiva. Por sorte, não encontrei com nenhuma faxineira no caminho, pois obviamente descobririam que eu era uma impostora.

Espiei pela janela de vidro de todos os quartos de um imenso corredor, já estava perdendo as esperanças de encontrar Nelly, quando no número 512, pude vê-la ainda desacordada.

Imediatamente entrei no quarto e fechei a porta. Coloquei o notebook ao seu lado na cama e liguei-o.

Enquanto o maldito Windows 8 carregava, uma enfermeira passou pelo corredor e parou por alguns segundos para me olhar pelo outro lado da janela. "Merda, eu preciso ser rápida." Foi o que eu pensei naquele instante.

Quando o notebook ligou, peguei a mão de Nelly e a arrastei ao touchpad. Com certa dificuldade consegui fazer com que "ela" abrisse o programa de gravar vídeos.

Peguei o DVD com o filme na parte de baixo do carrinho, coloquei-o na mão de Nelly e levei seu dedo à gravadora de CD que já tinha sido aberta pelo próprio programa.

A enfermeira que me viu, chamou os seguranças do hospital. Eles entraram de repente no quarto e me arrastaram para fora, antes mesmo do fim da gravação.

Fui levada a uma pequena sala com um homem careca sentado atrás de uma mesa.

- A senhorita pode me explicar o que estava fazendo no quarto de uma paciente que estava sob ordem de isolamento por tentar o suicídio? Alguém autorizou a sua entrada?

- Não senhor.

- E o que você está fazendo com esse uniforme? Com certeza você não trabalha aqui.

- Não. Eu só queria ver a minha amiga. Eu sei que parece loucura, mas eu tinha um bom motivo para entrar naquele quarto.

- E que motivo seria esse?

- Eu não posso contar, até porque ninguém acreditaria.

O chefe da segurança disse que não me deixaria ir embora enquanto algum responsável não viesse me buscar.

Horas depois minha mãe apareceu, já estava tarde e eu já não tinha mais nenhuma esperança de salvar Nelly.

- Por que você fez isso? - minha mãe me perguntou assim que entramos no carro.

- Olha mãe, eu sei que você não vai acreditar, mas eu estava tentando salvar a vida dela, mas os seguranças não deixaram.

- Você pirou de vez menina? Que história é essa? E esse notebook na sua mão é o da sua tia?

Eu tentei explicar, sem dar muitos detalhes. Até porquê minha mãe é do tipo cética e não acreditaria que um filme poderia matar uma pessoa. Ela também me fez devolver o computador da minha tia e pedir desculpas a ela.

No percurso para casa, comecei a imaginar o que aconteceria com a minha amiga, ao mesmo tempo, tentava afastar o pensamento de que talvez ela já pudesse estar morta. As lágrimas invadiram os meus olhos e eu não pude conter o choro, pois no fundo me sentia culpada por não conseguir convencê-la à gravar aquele filme.