Mais tarde, Nelly foi até a minha casa para fazer a cópia. Chegando lá, procuramos na estante o DVD, mas não o encontramos. O sol já se punha enquanto procurávamos desesperadas, sem sucesso algum. Minha mãe chegou mais tarde naquele dia e quando perguntamos para ela onde estava aquele DVD, ela disse que o filme era da minha tia, e que ela tinha devolvido.

- Não se preocupe Nelly, a gente viu o filme a noite, por isso ainda teremos algum tempo. Amanhã bem cedo nós vamos lá e pedimos o DVD da tia Miriam emprestado - falei tentando tranquiliza-la.

- Tudo bem.

No dia seguinte Nelly não foi para a escola. Depois da aula fui à sua casa tentar descobrir o que tinha acontecido. Confesso que estava muito preocupada, mas tentava me acalmar, lembrando-me que aquele ainda era o sexto dia. Cheguei em sua casa e fui recebida por sua mãe que em lágrimas me contou o que ocorrera na noite anterior.

- Eu acordei no meio da noite assustada por um grito de Nelly me chamando. Corri até seu quarto e encontrei-a deitada na cama, toda multilada. Perguntei o que tinha acontecido, mas ela não me respondeu, segundos depois encontrei uma faca cheia de sangue ao lado do seu travesseiro. Mal pude acreditar que a minha filha, que eu criei com tanto amor estava fazendo aquilo consigo mesma. Os cortes eram tão profundos, que talvez ela estivesse tentando se matar, mas desistiu na última hora.

- Nossa. E como ela está?

- Ela foi levada de ambulância para um hospital e agora está na UTI, porque além de cortar alguns órgãos vitais, ela perdeu muito sangue. Até o momento em que eu saí de lá e vim para casa buscar algumas coisas, ela estava desacordada e corre um risco de vida muito grande. Eu estou voltando para o hospital agora, gostaria de vir comigo?

- Claro, Senhora Collins.

Enquanto Amanda Collins dirigia pelo lento tráfego de Seattle, eu tentava formular um plano para livrar a minha melhor amiga da maldição do filme, mas tudo o que eu planejava parecia impossível, seria muito complicado entrar em um quarto de UTI e fazer com que ela, gravasse o tal DVD.

Chegamos ao Hospital Municipal de Seattle e eu ainda não tinha conseguido pensar em um plano para salvar Nelly. Ao tentar entrar no corredor que dava acesso à UTI, fui barrada pelo segurança que só permitia o acesso de visitantes maiores de idade na Unidade de Terapia Intensiva. Andei a pé pela rodovia até a casa da tia Miriam, enquanto finalmente tive uma ideia para ajudar a minha amiga.

- Tia, você está com aquele DVD que você tinha emprestado pra minha mãe?

- Estou sim, por quê?

- Você pode me emprestar ele?

- Eu estava planejando assistir ele hoje. Um amigo meu da faculdade gravou ele para mim, mas eu ainda nem tive tempo de vê-lo. Se você quiser nós podemos assistir juntas.

Desesperei-me ao ouvir isso, afinal não podia deixar que a minha tia também assistisse o maldito filme.

- Eu queria mostrar ele pra uma amiga hoje e amanhã eu te devolvo, pode ser? - planejava fazer uma cópia e depois destruir o CD, mas tia Miriam não precisava saber disso.

- Não, Heloise. Eu vou ver ele hoje, se quiser amanhã te empresto e você leva para sua amiga.

- Eu preciso de outro favor, tia.

- O que foi agora?

- Você pode me emprestar seu notebook?

- Pra quê?

- É pra um trabalho de escola. Amanhã eu trago ele de volta.

- Você está doida? É claro que não.

- Tudo bem então, eu já vou indo.

Saí pela porta da frente e fiquei espiando pela janela, até o momento em que ela entrou no banheiro. Imediatamente abri a maçaneta que deixei destrancada e em silêncio peguei o notebook e o filme da minha tia. Coloquei tudo na minha mochila e caminhei novamente até o hospital. Eu não me sentia bem por ter roubado a minha própria tia, mas me sentiria pior ainda se não fizesse o que estivesse ao meu alcance para salvar minha melhor amiga.