P.O.V. Molly

Poucos sabem que na verdade eu preciso de óculos para ler, não exatamente preciso, mas é bem menos cansativo ler com óculos. Nuca realmente contei para ninguém, apenas usava quando precisava e se alguém me visse e perguntasse a respeito eu explicava, por isso que em 16 anos de vida as únicas pessoas que sabiam que eu tinha um óculos guardado no fundo da bolsa eram a minha irmã, a Nick e o Fred.

Agora, o que isso tem a ver com o que vai acontecer? Nada.

O único motivo dessa explicação toda é o nervosismo. Vocês devem saber como é que é, muitos suam quando estão nervosos, ou até ficam agitados, mas eu não, claro que não, eu só começo a falar tudo que vem a minha cabeça. As situações mais constrangedoras ainda são quando estou perto de outras pessoas, por exemplo, uma vez eu estava esperando o resultado de um teste e comecei a falar dos “incríveis” fatos curiosos sobre Sapintose para a menina ao meu lado, pode-se dizer que não foi uma conversa muito agradável, principalmente porque a menina saiu correndo depois do meu comentário sobre o que poderia acontecer com a garganta de um infectado.

Agora isso sim tem a ver com o que vai acontecer. Afinal, acho que nunca tinha estado tão nervosa.

Veja bem, ontem chegamos na toca, nos arrumamos, fomos para a festa e depois voltamos para casa morrendo de cansaço, resumindo, meu pai ainda não teve tempo de falar comigo sobre tudo que aconteceu e que me levou a perder o cargo de monitora, até agora.

É aí que paramos. Comigo escondida no meu quarto para evitar a eminente briga com o meu pai e falando coisas sem sentido na minha mente. Que maravilha, estou ficando louca.

- Certo... Respira... Vai dar tudo dar certo...- Tentava respirar fundo como todos sempre dizem para fazer quando se está nervoso, obviamente quem disso isso pela primeira vez era um idiota e não sabia de nada, porque sinceramente, não está ajudando em nada! - Relaxa... Vai dar tud...

- Molly! Você não vai acreditar!!! - Lucy definitivamente ignorou todos os pedidos de privacidade que eu já fiz pra ela. - A Sophie acabou de me contar que a Lulu tá hospedada na casa do Scamanders!

Levei algum tempo para assimilar o que ela disse. As vezes parece que a Lucy esquece que eu não tenho a mesma idade que ela e não estou no mesmo grupo de amigos que ela.

- Pera... Ela não tem uma rixa com o Lysander?

- Exatamente! - Lucy movimentou os braços de modo frenético - Por isso que eu estou indo buscar o Hugo e a LIly agora, antes só tenho que mandar uma mensagem pro Louis...

- Lucy, espera, não acho que é uma boa...- Até tentei avisar, mas ela já estava saindo do quarto verbalizando o plano para ninguém em específico.

Dei de ombros, tenho mais coisas com que me preocupar no momento, tipo os argumentos que eu vou usar ou então as possíveis perguntas que meu pai vai me fazer, como eu vou entrar na sala dele ou então como vou começar a falar... Merlin! Eu não pensei no que vou falar em primeiro lugar! Eu começo com desculpas ou então não falo nada? Talvez se eu...

- Você é muito parecida com o seu pai, até mesmo na necessidade de pensar em todos os detalhes. - Paro de andar de um lado pra outro e encaro a minha mãe que está sentada na beirada da minha cama, como ela chegou lá eu não sei. - Percebeu que estava falando em voz alta? Acho que essa é a única coisa que você puxou de mim, bom, isso e os olhos castanhos.

- Eu não percebi. - Digo e me sento ao lado da minha mãe na cama.

Eu sabia o que ela ia fazer, ela ia falar algumas coisas como se não fosse nada demais e ela soubesse exatamente tudo que ia acontecer, o que ela provavelmente sabe. Como ela mesma disse, eu e ela temos muito pouco em comum, ela tem olhos castanhos e cabelos morenos, um nariz pequeno e arredondado e uma habilidade incrível de descobrir tudo de todos, já eu, tenho olhos castanhos e cabelos ruivos, um nariz fino e delicado e, como ela acabou de dizer, uma necessidade de pensar em todos os detalhes, nossa maior coisa em comum seriam os olhos. Mas eu ainda assim amo minha mãe, e adoro os conselhos que ela dá, por esse simples motivo eu me sento ao seu lado e espero para receber algum conselho que esperançosamente vai me dar alguma iluminação.

- Vocês são realmente muito parecidos, em personalidade e em aparência, tenho certeza que se você tivesse nascido menino seria muito difícil diferenciar vocês, tenho que admitir que as vezes olho para você e vejo seu pai quando mais jovem. - Ela olhava para mim com aquele olhar de mãe, como se soubesse exatamente tudo o que eu estava pensando. – Sabe, quando seu pai era mais novo ele sempre vez o que achou que era certo e sempre dentro das regras, esse caminho acabou custando muito pra ele, mas mesmo assim ele continuou, porque na visão dele ainda era o melhor, seguir as regras e fazer tudo dentro dos limites, até que uma hora ele percebeu que tudo isso que ele achava certo, tudo o que ele achava que era melhor pra ele e para todos, na verdade não era, então ele mudou, fez o que era certo, seu pai pode ter demorado mais para perceber o que precisava ser feito, e quando ele percebeu, a família estava lá para apoiar ele. Igual a como nós vamos estar aqui para você, se você não quiser mais ser monitora e fazer pegadinhas, nós vamos apoiar você, por mais que doa um pouco, - Ela fez uma careta me fazendo rir. – Ou então se você ainda quer ser monitora e quer estudar horrores e ficar trancada na biblioteca, nós vamos te apoiar também, talvez mais o seu pai que eu, mas isso não importa. O que importa é que nunca vai ser tarde se você quiser mudar, se você acha que outra coisa vai ser melhor para você, então vá lá e faça ela, entendeu onde eu quis chegar?

- Acho que sim. – Sorri e assenti com a cabeça ao mesmo tempo em que ela me abraçava de lado e beijava minha cabeça.

- Ótimo, agora que tal você sair desse quarto e talvez tomar um café, sim?

Apenas sorri mais ainda, minha mãe sabia do meu pequeno vício em café, e ela também sabia que eu não recusaria uma xícara nem mesmo que pra isso eu tivesse que sair da falsa segurança do meu quarto.

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Felizmente consegui tomar uma xícara de café antes do meu pai aparecer na cozinha. Ele estava obviamente bravo, dava para ver nos olhos azuis a vontade de dizer mil e uma coisas sobre como eu fui irresponsável, mas eu também sabia que ele estava se controlando. Percy Weasley quase nunca perdia a paciência a ponto de gritar ou então brigar muito feio, sempre que questionam isso sobre ele, ele apenas responde que depois de um tempo com tantos irmãos como ele tem, ele teve que começar a se controlar, se não já teria matado todos. Mas para compensar esse controle em não se jogar pra cima dos outros e estrangular eles, Percy Weasley se tornou mestre em sermões, o que sinceramente é tão ruim quanto, se não pior, ele consegue de algum jeito te fazer sentir mil vezes mais culpado do que antes e ainda arranca um pedido de desculpas de você, ele não brinca em serviço.

Quando minha mãe descobriu que Lucy estava indo pra sei lá aonde fazer sei lá o que, ela saiu correndo e junto com ela levou a minha pequena proteção imaginária. Agora estavamos só eu e meu pai, e isso se resumia na coisa que eu mais temia, o sermão.

- Você gostaria de me explicar o que aconteceu antes? - Ele disse enquanto sentava na mesa, bem à minha frente.

Engoli em seco. Eu não era muito bom em explicar as coisas que eu tinha feito de errado, principalmente quando alguém me perguntava em tom recriminador.

- Eu... Ahnn... - Respirei fundo e soltei a xícara de café para agora então esfregar as mãos nas pernas – Foi por um bom motivo.

- Um bom motivo? - A sobrancelha esquerda dele agora formava um arco perfeito – Existe algum motivo bom o suficiente para fazer outros alunos passarem mal?

- Ehn.. É... Fo-Foi um bom motivo, juro que foi, Goyle tinha feito algo horrível! Ele merecia bem mais do que vomitilhas... – Falei a última parte um pouco mais baixo ao ver como ele me encarava.

- Ele merecia mais...? Bom Merlin, você está falando igual ao Jorge – Ele tirou os óculos e passou o antebraço pelo rosto – Quando foi que você ficou assim? Por acaso foi influência dos seus primos?

Abaixei a cabeça. Uma onda de raiva passou por mim. Quer dizer que eu só poderia ter feito isso por conta de influência dos outros?! Quer dizer que eu não poderia ter feito por vontade própria?!

- Por que isso teria que ser influência dos meus primos?! Eu não posso ter feito por vontade própria?!

Ele recuou um pouco a cabeça, um tanto assustado com a mudança do meu tom.

- Você perdeu o seu título de monitora por conta disso Molly, não acredito que isso seja algo que você fosse querer, você sempre quis...

- Quem disse?! Sabe, talvez eu tenha feito por vontade própria! Talvez eu tenha me divertido! Talvez eu não me importasse em perder o meu título de monitora! Talvez eu nem quisesse ser monitora no princípio!

Meu pai recuou ainda mais a cabeça quando eu me levantei de onde estava sentada, mas apenas por um instante, então ele se recompôs e levantou também, sendo possível ouvir o barulho dos pés da cadeira arrastando no chão.

- Você não queria ser monitora? Você sempre disse que queria ser uma monitora...

- Eu não sei! Eu simplesmente não sei! Não faço ideia se realmente quero ser monitora de verdade! Não consigo distinguir se virei monitora por que quis ou se foi porque você sempre quis que eu fosse! Eu me conformei em ser monitora antes mesmo de ir pra Hogwarts porque o senhor sempre falava da monitoria e de como ela era importante! Mas você nunca perguntou se eu queria ser!

- Você não quer ser monitora mais?! Você deu vomitilhas para outro aluno?! O que deu em você Molly? Você não era assim...

- Você não poderia saber! Não poderia!

Foi então que eu fiz, muito provavelmente, a coisa mais estupida da minha vida. Eu sai da cozinha e subi as escadas correndo (o que demorou um pouco já que a escada é uma grande espiral e eu não sou exatamente a do tipo atlético), abri a porta do meu quarto com um baque e comecei a enfiar um monte de coisa na minha mochila sem nem ver o que era, estava tão brava que não pensei em nada, nem um plano, nem mesmo um destino. Nem me dei ao trabalho de trancar a porta da frente ao sair de casa.

P.O.V. Rose

Certo, certo, tá tudo bem, foi só uma coruja... Uma coruja dele! Pelo amor de Merlin! Quem no universo decidiu que a coruja devia chegar bem naquele momento?! E eu nem podia ler a carta! Claro que não, óbvio, porque estávamos saindo de casa e não dava pra ler a bendita carta quando todos estavam me olhando! Daí ainda por cima vem o boca aberta do meu primo querer falar coisa que não deve! Se meu pai descobrir que eu estou virando amiga, ou pior, algo mais, de um Malfoy... Não quero nem pensar.

- Você tá me devendo uma em priminha – Alvo olha pra mim com um sorriso zombeteiro, como se ele pudesse me chantagear nesse momento, mas com o olhar de gelo e ódio que devolvi para ele o sorrisinho dele já sumiu do rosto - Tá bom, esquece o que eu disse.

- Nem pra calar a boca né Alvo!- Falo num sussurro para nossos pais não ouvirem enquanto caminhamos pelo Beco Diagonal.

- Mas eu calei a boca! Nem disse que a coruja era do Scorpius! - Alvo fala praticamente berrando e eu dei um tapão na cabeça dele.

Sorri amarelo quando minha mãe virou para trás com um olhar questionador, dei um cutucão no Alvo pra ele fazer algo que não fosse reclamar do tapa que dei nele, então quando ele percebe que minha mãe estava nos observando ele sorri amarelo também. Ótimo, dois adolescentes sorrindo amarelo com uma cara possivelmente assustadora, nada suspeito. Quando ela finalmente parou de olhar para nós, eu soltei um suspiro aliviada e depois é claro me virei pro Alvo com uma cara ainda mais brava que antes, e ele, como o bom sem noção que é, apenas deu de ombros e disse um “Ops”.

- Certo, primeiro vamos na Madame Malkin comprar uma nova calça para James que decidiu queimar a dele... - Tia Gina falou com se não fosse nada, mas todos sabemos que ela quer pegar no pé de James por ter estragado com a calça novinha.

- Ah mãe! A culpa não é minha se o Frank não consegue fazer um Incendio direito! - James rebateu levantando os braços.

Tio Harry tentou segurar uma risada, mas ela não passou despercebida pela minha tia que deu um tapinha no braço dele.

- Ai Gina! Desnecessário - Ele passou a mão pelo braço onde ela tinha batido, obviamente fazendo drama, ela nunca bateria tão forte, e Al tinha que ter puxado essa alma de astro de cinema ruim de algum lugar.

- Falando em Frank... Aquele não é o Frank? - Falei apontando para um menino alto e moreno olhando para a vitrine de joias – E a Alice também!

- Agora você pode apresentar ela oficialmente como sua namorada Alvo! - Jay falou batendo no ombro do irmão e deixando um silêncio total entre nós.

- Eita, esqueci... - Jay fala coçando a cbeça.

- Na-namorada? - Minha tia Gina encarou perplexa o Alvo, como se ele tivesse criado chifres – A Alice é a sua namorada?

- Melhor, você tem uma namorada?! - Tio Harry falou perplexo levando de novo um tapa da tia Gina – Ai Gina! Para com isso! Só não acredito que ele conseguiu uma namorada... - E levou outro tapa da tia Gina.

- Valeu pai – Alvo falou encarando o pai com um olhar emburrado - Agradeço a confiança.

- Não venha com sarcasmo! Como assim você namora com a Alice agora e não nos contou?! - Tia Gina fala apontando o dedo para o meu primo que sorri amarelo, pela milionésima vez nesse dia.

- Hehehe... Eu não contei pra vocês...? - Al diz esfregando as mãos - Hehehe.... É, eu e a Alice... Hehe... Estamos, ahn... He... Namorando...

- Oh minha nossa! Alice! Alice! - E assim tia Gina começou a ir em direção a Alice berrando o nome dela.

- Gina! Não berre tão alto! - Mamãe foi atrás dela tentando convencer a tia de fazer menos escândalo.

- Mione pode até falar pra Gina fazer menos barulho, mas se fosse o Hugo escondendo que estava namorando ela estaria fazendo bem pior – Meu pai falou rindo da reação da irmã e da minha mãe.

- Sinceramente – Tio Harry disse - Não duvido - Então ele se virou pro Alvo – Mas vem cá filho, quando que isso aconteceu? E, sério, tinha que ter começado a namorar antes do James, tinha apostado nele!

Engasguei um pouco quando ouvi isso. Como assim apostado?

- Pera, você apostou que o James ia namorar antes que eu? Como assim vocês apostam isso? - Al perguntou tão indignado quanto eu.

- Esse não é nem as maiores apostas, a família inteira tem apostas sobre os relacionamentos de vocês! - Papai falou e minha boca caiu.

- Como assim vocês têm apostas?! Vocês apostam de todos?! - Perguntei ainda chocada. Não era possível que eles tivessem apostas sobre mim... Certo?

- Bom, não sobre todos... Depende muito da situação - Tio Harry coçou a cabeça - Não levem pro lado ruim, mas vocês são nossos filhos e então uma discussão levou para outra...

- ... E quando vimos já tinham uma tabela de apostas! - Meu pai levantou os braços e deu um sorriso, como se apresentasse um novo produto.

- Claro que eu não levo pro lado mau... - James balançou a mão e fez um “Pfft” e sorriu bem do jeito James – Massssssss, quais são as apostas sobre mim?

- Foi mal filho, mas concordamos em não dizer! - Meu tio disse.

- Mas vocês já disseram que tem as apostas! Não deve ser tão ruim agora disser com quem! - Jay tentou argumentar fazendo meu pai e meu tio fazerem caretas um para o outro, como se pensassem seriamente se podiam dizer.

- Nheee... Acho que só se a aposta fechar, se não vai influenciar no resultado – Meu tio disse e deu de ombros enquanto James fechava a cara.

- Hmmm, só quando a aposta fechar, então só quando os casais acontecerem! - Disse e depois apontei pro Al – O Alvo tá namorando agora! Vocês podem falar quais eram as apostas pra ele!

- Isso! - Alvo sorriu, mas depois fez uma expressão confusa – Pera, eu não sei se quero saber...

- Gina tinha apostado que o Alvo ia namorar uma menina que ninguém sabia primeiro – Meu pai riu – Ela não achava que você teria coragem de chamar a Alice para sair, foi mal Alvo.

- O que?! Como assim! Óbvio que eu teria coragem! Eu sou... - Ele parou e pensou um pouco, depois apenas abaixou o rosto - Tá bom, eu não sou muito corajoso, mas eu consigo convidar uma menina pra sair!

- Que menina? - Uma voz perguntou e quando nos viramos para trás vimos que era Alice batendo o pé e tentando fazer uma cara de brava, e falhando miseravelmente, óbvio.

- Alice! - Alvo abraçou e ela e deu um beijo na sua cabeça, acho que ele não queria mostrar mais que isso na frente de todo mundo - Você acredita que eles não acharam que eu ia ter coragem pra pedir você em namoro nunca?!

- Ahnn... - Lice deu um sorrisinho fofo dela, o que impede todo mundo de ficar com raiva dela. - Eu também não esperava que você pedisse tão cedo... - Com a cara indignadíssima, e devo dizer exagerada, do Alvo, Alice acrescentou logo em seguida balançando as mãos. - Mas isso é bom! Quer dizer que você surpreendeu todo mundo, ninguém esperava isso! Você não adora fazer coisas que ninguém esperava?

Meio contrariado Alvo deixou um sorriso aparecer no seu rosto, como se não tivesse pensado nisso antes e agora que Alice falou em voz alta ele gostou da ideia. Meio doido né? Até hoje não entendo o que passa na cabeça desse garoto.

- Esquecendo esses dois... - Jay disse se virando para tia Gina. - Ô mãe, com quem vocês apostaram que eu vou ficar?

Tia Gina encarou James com olhos arregalados e depois olhou com raiva para o meu pai e meu tio enquanto minha mãe começou a tossir feito uma louca. Bom, isso ia ser engraçado, sempre era engraçado quando o tio Harry e o Pai faziam algo errado e depois minha mãe descobria, com a tia Gina junto tudo só melhorava. Ou piorava, depende de qual lado você está.

- Apostas... O que vocês dois estúpidos falaram?! Não é possível que não possamos deixar eles com vocês por dois minutos que os dois cabeças ocas começam a abrir a boca e falar coisa que não devia! - A tia não estava brincando em serviço.

- Ah vai Gina, eles já iam descobrir uma hora ou outra! - Papai falou em defesa dos dois. - E além do mais, o que que tem? Não é como se tivéssemos contado com quem apostamos eles.

- O que foi muita maldade por sinal. - Jay tinha que abrir a boca e se meter, senão não seria ele.

- Bom, pelo menos isso. - Minha mãe deu um suspiro aliviada e foi ai que eu percebi...

- Pera! Você também apostou mãe?! - Olhei incrédula pra ela, esperava isso de todos os meus parentes (talvez menos do tio Percy), isso é bem cara dos Weasleys, mas da minha mãe?! - Você?! Eu definitivamente não esperava essa.

- Eu não... - Mas ela parou no meio da frase e fez uma careta. - A culpa é do seu pai.

- Como é que isso é culpa minha mesmo? - Meu pai perguntou confuso.

- Foi você que ficou me incomodando com essas apostas – Ela apontou um dedo pra ele de forma acusadora. - Sem contar que você ficou me provocando falando que eu só não apostava porque sabia que ia perder!

- Ah é, verdade! - Papai riu e balançou a cabeça, ignorando totalmente o olhar acusatório da minha mãe.

- Tá, mas... Você apostou em mim? - Perguntei pra ela de um jeito calmo e sem muita emoção, pra ela não perceber que eu estava morrendo de curiosidade por dentro. Na mesma hora meu pai parou de rir e minha mãe deu um sorriso mínimo, como se ela estivesse provocando ele com algo.

- Ahh eles têm! - Tio Harry disse rindo e a tia Gina riu junto, fazendo a carranca do meu pai aumentar igual ao sorriso da minha mãe. - Mas não se preocupe com isso Rose, eles têm essa aposta mais para contrariar um ao outro do que outra coisa!

- Mas vocês também têm sobre mim? - Perguntei para meus tios.

- Bom, sim. - Tia Gina respondeu com um aceno de mão. - Mas eles são a atração principal nessa aposta, o resto da família é mais pra adicionar mesmo.

- Calma, então TODA a família tem apostas sobre mim?! - Meu Merlin, já era ruim o suficiente meus pais apostando sobre meus não existentes relacionamentos amorosos, mas ter a família toda era ainda pior! - Até... Até o tio Percy?! E a tia Angelina?! E... e o tio Carlinhos?!

- Na verdade, acho que você é a única em que todos tem apostas... - Tio Harry coçou o queixo pensando. - Ah não, acho que todos também tem apostas no James...

- Em mim? Como assim em mim?! Com quem?! Me diga com quem!! - Jay falou chacoalhando o braço do tio. Agora quem estava fazendo cena era o James, o drama deve ser de família, bom, da família deles né, porque eu não sou dramática. Eu acho... Não, não! Né...?

- Nem vem! Já falaram demais por hoje! Vamos comprar logo comprar uma calça pra você James antes que você tenha a chance de queimar outra! - Tia Gina falou decidida puxando o marido na direção da loja e logo todos estávamos no encalço.

- Eu já disse, a culpa foi do Frank! - Jay falou apontando para o moreno que eu nem tinha percebido que estava ali.

- Ei! - Frank disse depois de acordar do mundo dos sonhos que ele estava. - Não venha me culpar, você que se meteu na frente!

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Depois de um dia longo de correria e empilhamento de compras, sem contar as competições de quem conseguia correr mais rápido com mais compras, nós finalmente paramos no Caldeirão Furado para comer algo. E com um delicioso sanduiche de frango defumado da mãe da Alice o meu estômago não parecia mais um monstro que ia devorar o mundo, nem fazia barulhos do tipo, sinceramente, o que é mais constrangedor do que o seu estômago decidir se manifestar que nem um ogro do nada no meio de um monte de gente?

- Acho que agora já estamos finalizados, fizemos tudo que devíamos certo? - Jay perguntou quando se esticou sobre o banco em que estava deitado apoiando a cabeça no apoio e soltando um arroto disfarçado.

- Acho que sim. - Tia Gina tomou um último gole de suco e fez a mesma coisa que o filho, menos a parte de arrotar, ela tem alguma consciência do que passa dos limites da educação. - Também não podemos deixar o Hugo e a Lily tanto tempo sozinhos, se não vão acabar queimando a casa.

- Nem fale, a última vez já foi o suficiente! - Mamãe disse e mexeu no cabelo, numa tentativa um pouco falha de ajeitá-lo.

- Certo, vou pagar a... - Meu pai estava levantando do assento quando o telefone tocou, ele olhou confuso para o celular por um tempo, ele ainda não estava acostumado a receber ligações pelo celular, só andava com ele porque minha mãe obrigava e dizia que era um jeito bem mais fácil de se comunicar. Mas depois de uns dois segundos de paralisia ele atendeu o celular. - Percy? - Uma pausa, provavelmente o tio Percy estava falando, mas desde quando o tio Percy tinha um celular? - Ahn? Não, não. Acho que não. - Ele então fez uma careta depois de alguns segundos. - Tá, tá! Não, não vimos ela, tenho certeza! Não sou idiota! - Mais alguns segundos. - Ei! Só fale logo o que aconteceu e pare de me xingar! - Então esperamos por alguns minutos, todos estavam agora olhando pro meu pai e para as expressões que ele fazia, até que por fim seu rosto ficou preocupado e sério. - Ela...? Ah certo, vamos procurar por aqui. Já ligou pro Jorge, talvez ela esteja lá... - Uma pausa. - Tá bom, se encontrarmos ela ligamos de volta.

Todos encaramos meu pai curiosos para saber o que aconteceu, esperando ele finalmente explicar o que tudo aquilo foi.

- A Molly fugiu de casa. - Ele finalmente disse. - Ela saiu de manhã e não voltou até agora, e ela também não está atendendo o celular.

O quê?! Meu cérebro parou por um segundo de pensar e interpretar tudo o que os outros falavam, não fazia sentido. A Molly?! A nossa Molly, fugiu de casa?!