A MELHOR VERSÃO DE MIM

Batendo Contra o Mundo - Parte Um


Após todos os interrogatórios, a manhã seguiu tranquila na Ecomoda.

O Quartel, seguindo o pedido da amiga, resolveu evitar comentários pelos corredores e reuniões no banheiro. Patrícia passou a manhã inteira tentando entrar em contato com Marcela. Por fim, resolveu deixar um recado para ela no hotel e no correio de voz, avisando que Armando havia tornado pública sua relação com Betty e que ela deveria ligar de volta se quisesse detalhes.

Durante a manhã, Armando havia tido um problema e precisou correr para uma reunião no clube. Antes de sair, foi até a sala de Beatriz e lhe disse que precisaria ir a um almoço de negócios no clube e a convidou, no entanto ela estava as voltas com um relatório financeiro detalhado e disse que só poderia almoçar mais tarde.

— Mas, meu amor, até o Quartel já está indo almoçar. Ao menos vá com elas. – Armando preocupou-se.

— Se eu for com elas, elas não me deixarão voltar tão cedo. Prefiro ir almoçar mais tarde, assim que termine isso. Ficarei mais sossegada.

— Mas fico preocupado de te deixar assim, Beatriz... Ao menos prometa que assim que termine, vai sair para almoçar de verdade.

— Está bem, eu prometo que irei almoçar. Não se preocupe. – Betty lhe deu um lindo sorriso, enquanto o abraçava.

Armando com um beijo doce, se despediu dela, prometendo que retornaria tão logo resolvesse tudo.

Enquanto esperava o elevador, esbarrou com Mário, que saía de dentro do mesmo.

— Já vai almoçar, meu irmão? – Perguntou Mário a Armando.

— Já, Mário. Tenho um almoço de negócios no clube.

— E a Betty não vai?

— Não. Ela está as voltas com um relatório financeiro detalhado. Sabe como ela é eficiente... – Respondeu Armando orgulhoso. – Mas e você, já almoçou?

— Não, na verdade estou voltando de umas visitas as lojas. Vou almoçar mais tarde, assim que termine umas coisas.

Armando se despediu de Mário e foi em direção ao seu compromisso no clube e Mário seguiu para sua sala.

Após uns instantes, Marcela Valencia saía do elevador e adentrava o setor administrativo da Ecomoda. Ela não havia dito a ninguém que estava retornando, nem mesmo a Patrícia, mas escutou sua mensagem no correio de voz, enquanto estava pegando sua mala na esteira do aeroporto.

Entrou na Ecomoda lívida de ódio. Pensava que Armando não poderia trocá-la por uma mulherzinha sem berço e classe.

Assim que entrou, viu Patrícia, que não havia saído para almoçar por falta de dinheiro.

— Marceee! Graças a Deus você chegou. Isso aqui se tornou um circo. Tentei te contactar de todo o jeito, até recado na recepção do hotel eu deixei. – Falava afobada Patrícia.

— Patrícia, peguei seu recado, na minha caixa postal, quando ainda estava no aeroporto. Que história é essa?

— Marce, ontem, depois que a Garfield voltou da semana de férias que tirou, Armando a promoveu a Vice-presidente Financeira da Ecomoda e a instalou na sala que era do Olarte.

— O quê?! – Gritou Marcela com espanto.

— Sim, Marce. E não é só isso! Ontem eu o vi a levando a um coquetel e depois, recebi uma ligação da Monica Agudelo, dizendo que Armando apareceu lá se exibindo com a Garfield e que estavam bem íntimos e eles até trocaram beijos. E tem mais, Marce! Ela contou que Armando disse a todos, que perguntavam por você, que não haveria mais casamento e que vocês dois não tinham mais nada. O que você acha disso hein Marce?! Não sei porque você foi se ausentar... Na sua ausência a transformada aí te destronou, amiga.

Marcela estava fervendo de ódio. Queria matar Armando e Beatriz. Principalmente Beatriz.

— Patrícia, porque disse que ele a assumiu? – Perguntou Marcela.

— Porque hoje de manhã os dois chegaram juntos e de mãos dadas. Ele a beijou e a chamou de “meu amor” na frente de todo mundo. E quando eu fui questionar, ele gritou comigo e disse em alto e bom som que aquela lá era sua namorada. Quando perguntei por você, ele disse que vocês não tinham mais nada. – Respondeu Patrícia.

— E onde estão estes descarados? – Exigiu Marcela aos berros.

— Armando foi a uma reunião no clube e a Garfield está na Vice-presidência Financeira.

— Essa mulher me paga, Patrícia! Vou acabar com ela agora mesmo. – Afirmou irada, se dirigindo a Vice-presidência Financeira.

Durante esse ínterim, Mário estava saindo da sua sala com a intenção de ir almoçar e ouviu Marcela e Patrícia. Se preocupou quando viu Marcela marchando rumo a sala de Betty. Ele ligou para Armando, mas ele não atendia.

Marcela abriu a sala de Beatriz e passou a humilhá-la. Betty se assustou com a entrada repentina e se encolheu diante das ofensas de Marcela, que estava completamente descontrolada.

— Você é uma desclassificada, Beatriz. Sabia do meu compromisso com o Armando, mas ainda assim quis seduzi-lo. Até mudou de aparência para isso, não é?! – Acusava aos berros. – Você não passa de uma mulherzinha vulgar e vai acabar como todas as outras, descartada por Armando, depois que ele se saciar e encher de você em sua cama.

Betty chorava e até tentou falar, mas era sempre silenciada pelos gritos e acusações de Marcela.

Mário Calderón resolveu intervir e praticamente arrancou Patrícia de sua frente e escancarou a porta da Vice-presidência Financeira com violência, assustando Marcela e Beatriz.

— O que pensa que está fazendo, Marcela? – Gritou Mário com autoridade, espantando as duas mulheres, que nunca o tinham visto assim.

— Não se meta, Mário. Estou colocando essa desclassificada no seu lugar. Você não tem nada com isso. – Vociferou Marcela.

— Escuta aqui, Marcela, não vou permitir que você invada a sala da Betty para ofendê-la. Ela é Vice-presidente Financeira desta empresa e a namorada de Armando, presidente da Ecomoda e meu melhor amigo. Portanto, eu não vou tolerar que você ofenda a Beatriz dessa maneira.

— Você vai defender essa mulherzinha vulgar!? Claro, você deveria saber dela já! – Gritou Marcela.

— Olha, Marcela, a única aqui com um comportamento vulgar é você, agindo de uma maneira tão baixo nível. – Acusou Calderón. – O que eu sei é que a Beatriz e o Armando estão juntos e que você não é mais a noiva dele, portanto, você não tem o direito de estar nesta sala ofendendo a Betty.

— Eu sou acionista da Ecomoda e não quero ela na minha empresa. Vou tirá-la daqui pelos cabelos. – Gritava Marcela, indo em direção a Betty.

Mário se pôs rapidamente na frente de Betty, segurando Marcela e a impedindo de agredir Beatriz. Ele a empurrou para o canto da sala e berrou como nunca havia feito na vida.

— Você não vai expulsar ninguém daqui. A Betty é Vice-presidente Financeira por vontade do Armando, que é presidente e acionista e por minha vontade, que sou Vice-presidente e acionista também e apóio a decisão do Armando, que tem direito de escolher o quadro executivo como bem desejar. – Mário estava colérico como nunca havia ficado na vida. – E tem mais! Se você continuar ameaçando a Betty, eu chamo a polícia. Não permito que você coloque um dedo nela, ouviu bem!? Agora saia daqui imediatamente. – Ordenou Mário, empurrando Marcela para fora da sala.

Mário fechou a porta e caminhou até Betty, tirando um lenço de seu paletó. Se ajoelhou em frente a ela, lhe oferecendo o lenço para que secasse as lágrimas, e segurou em seu ombro, com o intuito de lhe transmitir algum conforto.

— Betty, por favor, se acalme. Já acabou. Não vou permitir que ela lhe faça nenhum mal.

Betty olhou para Mário ainda assustada pela atitude dele, mas profundamente agradecida. Ainda com lágrimas nos olhos, mas muito mais calma, ela agradeceu a Mário por tê-la defendido daquela maneira.

— Escuta, Betty, não precisa me agradecer. Eu sempre gostei de você e agora você está com o meu irmão e ele te ama profundamente, então não vou permitir que ninguém lhe faça mal e a destrate. – Ele sorriu para Beatriz e suspirou, tentando colocar em ordem o que deveria dizer. Não era muito bom em reconhecer erros e pedir perdão. – Olha, eu sei que agi mal contigo e peço perdão. De coração, Betty. Será que pode me perdoar? Gostaria de ser amigo da mulher da vida do meu irmão.

— Escuta, seu Mário, eu jamais poderei agradecer o suficiente pelo que fez por mim agora. Jamais. – Disse sorrindo, com a voz embargada. – Não se preocupe pelo que passou. Eu não guardo rancor, ainda mais agora, depois do que o senhor fez por mim.

— Betty, não precisa me agradecer. Já disse que fiz porque gosto de você e porque você agora é a mulher do meu melhor amigo. Mas, se quer me agradecer, comece me chamando apenas de Mário. – Disse amigavelmente para Beatriz. – E, bom, para selarmos a paz e uma bonita amizade entre nós, que tal se almoçarmos juntos? Te convido e não aceito não como resposta. Não posso deixá-la sozinha aqui na empresa, com a louca da Marcela e da Patrícia espreitando.

— Está bem, então, Mário. Vamos! – Aceitou Betty sorrindo.

Mário saiu da sala na frente e não viu nem Marcela e nem Patrícia a vista, então fez sinal para que Betty saísse da sala e a conduziu até seu carro na garagem. Partiram em direção ao Medalhão, restaurante preferido dele e de Armando. Lá, tiveram um almoço agradável.

Mário passou o almoço querendo fazer Betty se sentir melhor. Prometeu a Armando que cuidaria dela e não gostava de ver moças chorando, isso partia seu coração. Além disso, Betty sempre foi boa para eles, os salvando de problemas.

Mário contava piadas e histórias sobre suas aventuras malucas para distrair e alegrar Beatriz. Betty, por sua vez, perdia o ar de tanto rir das piadas e histórias absurdas de Mário. Entendia porque Armando gostava tanto dele. Apesar de canalha quando se tratava de mulheres, Mário Calderón era um amigo leal e uma pessoa extremamente divertida. Assim, estenderam o almoço um pouco, pois Mário queria se certificar de dar um bom tempo para que Armando chegasse a Ecomoda.

Enquanto os dois almoçavam, o celular de Mário tocou, era Armando. Ele rapidamente atendeu, sob os olhares de Betty.

— Alô! Armando?!

— Sim, Calderón. O que foi? Estou saindo do clube agora e vi uma dúzia de ligações suas...

— Irmão, a Marcela chegou de viagem hoje.

Armando imediatamente enrijeceu todo o corpo ao escutar as palavras de Mário. De repente estava aflito.

— E a Betty, onde está? – Perguntou Armando apreensivo.

— Calma, ela está aqui comigo no Medalhão. A trouxe para almoçar, não queria deixá-la sozinha.

Armando soltou a respiração que havia prendido desde o momento em que Mário contou sobre o retorno de Marcela.

— Te liguei, irmão, porque Marcela chegou enlouquecida. Patrícia contou tudo e ela partiu furiosa para o escritório de Betty. – Resumia Mário para Armando. - Como você não atendeu o celular, então, precisei intervir. Tive que ser duro com a Marcela, ou então ela teria agredido fisicamente a Betty, porque verbalmente ela a agrediu... E muito.

Quando Armando escutou Mário dizer que precisou intervir para que Marcela não agredisse Beatriz, seu sangue ferveu. Ele tinha vontade de confrontar Marcela, mas, ao mesmo tempo, sentia necessidade de ver Beatriz e a confortar.

— Calderón, fique com a Betty aí me esperando. Estou indo para o Medalhão.

— Está bem. Te esperamos.

Durante o caminho até o Medalhão, Armando resolveu executar uma ideia que teve assim que desligou o telefone.

Ele pegou o celular, ligou para uma conhecida jornalista e lhe contou em primeira mão que estava namorando sério com a nova Vice-presidente Financeira da Ecomoda, a senhorita Beatriz Aurora Pinzón Solano, e que estava profundamente apaixonado por ela, que com ela conheceu o amor verdadeiro e que ela era a mulher de sua vida. Contou também a jornalista que estava definitivamente separado de Marcela Valencia e que só após o rompimento eles engataram o relacionamento. Finalizou a ligação combinando de se encontrarem mais tarde no Jardim Botânico para tirar uma foto do casal para publicar junto a matéria.

Armando detestava esse tipo de publicidade da vida privada, mas Marcela havia ido longe demais, atacando sua Betty e, se era um escândalo que Marcela queria, era isso que ele lhe daria. Iria escancarar definitivamente sua relação com Beatriz. Todos saberiam que ela era a mulher de sua vida não importando o que tivesse de enfrentar.

Ele então acelerou o carro, rumo ao Medalhão e ao encontro do amor de sua vida.