A MELHOR VERSÃO DE MIM

Batendo Contra o Mundo - Parte Três


Armando olhou para Beatriz e mandou que ficasse na cozinha, enquanto ele ia verificar o que se passava.

Ao chegar na sala, deu com Marcela que se servia de um whisky no bar, agindo como se fosse a dona do lugar e isso irritava Armando.

— Marcela, o que pensa que está fazendo, invadindo a minha casa? – Armando a olhava com raiva. Ainda estava furioso com o que aconteceu na Ecomoda mais cedo.

— Como assim o que faço aqui, meu amor? Eu tenho a chave, sou sua noiva. – Replicou Marcela com uma voz sedutora, enquanto caminhava em direção a Armando.

— Você só pode estar completamente louca, Marcela! Nós não temos mais nada, não somos mais noivos. – Afirmou Armando alto.

— Armando, como pode jogar uma relação tão bonita como a nossa, de tantos anos, por um casinho com uma mulherzinha vulgar e sem classe como aquela Garfield! – Marcela falou com um sorriso debochado. – Olha, eu entendo que você tenha ficado curioso pela mudança de aparência dela, mas agora que já teve a sua feia, crie juízo e volte a razão.

— O quê?! – Gritou Armando. – Escuta aqui, Marcela Valencia, eu nunca voltarei para você. Beatriz Pinzón Solano é minha namorada e eu a amo, como jamais amei alguém em toda a vida. Ela é a mulher da minha vida e é com ela que eu quero e vou ficar. – Fez uma pausa e a olhou com ódio antes de prosseguir. – E você nunca mais vai ofender a mulher que eu amo. Nunca mais, ouviu bem?!

— Seus pais nunca concordarão com isso. Nunca. Eles estão vindo para Bogotá para fazê-lo colocar a mão na consciência. Quero ver você enfrentá-los e desistir de tudo que ama e o que é por essa mulherzinha.

— Então quer dizer que você já foi criar intrigas com meus pais! Você é tão baixa, Marcela. Fala o tempo inteiro sobre classe e dignidade, mas adora fazer escândalos e recorre a métodos de chantagem para me manter ao seu lado... Não passa de uma manipuladora. A Beatriz, embora seja de origem humilde, tem mais classe que você. – Amando cuspiu as palavras amargas. Estava com ódio da ex pelas coisas que fez e falou de sua Betty e por sempre tentar manipulá-lo usando seus pais para isso.

— Você vai se arrepender de ficar com essa mulher. Vai perder sua presidência e até sua família e amigos por esse capricho. – Ameaçou Marcela.

— Se meus pais ficarem ao seu lado e não me apoiarem, é a prova contundente de que se importam mais com você e as aparências do que com a minha felicidade. – Disse com pesar na voz. - Eu não vou sacrificar minha vida ao lado de uma mulher que eu não amo e perder a mulher da minha vida. Eu amo a Beatriz e, se me fizerem escolher, a escolha será ela.

Betty escutava em choque o confronto entre Marcela e Armando. Não queria causar tudo aquilo. Pôs a mão sobre o peito, sentindo um peso e nesse momento Rex chegou perto dela e começou a latir e pular nela e ela tentava acalmá-lo para parar com o barulho.

Marcela escutou a movimentação e perguntou quem estava lá na cozinha.

— A minha namorada está comigo. Estávamos guardando as compras, quando você invadiu o meu apartamento. – Armando respondeu cruzando os braços e a encarando em desafio. – Aliás, se você puder deixar a chave da minha casa e ir embora daqui, eu agradeço.

— E ela está na cozinha se escondendo de mim?! – Debochou Marcela alto.

— Não, dona Marcela. Estou bem aqui. – Respondeu Beatriz entrando na sala. - Mas, como bem disse o Armando, quem não deveria estar é a senhora.

— Escuta aqui sua desclassificada, você não tem direito de dizer se eu devo estar aqui ou não. – Berrou Marcela.

— Quem não tem direito aqui é a senhora. Não tem o direito de estar aqui fazendo cobranças, não é mais a noiva do Armando. – Betty declarou com firmeza, assustando Marcela e orgulhando Armando. – Não percebe o papel ridículo a que se presta, invadindo o apartamento de um homem que já lhe disse que não a ama e não a quer?! Armando está comprometido comigo e nos amamos. Juro que me solidarizo pelos seus sentimentos, mas o fato de entendê-la não significa que eu vou ficar passiva diante de seus desacatos. Deveria mostrar dignidade e ir embora.

Marcela ficou irada com as palavras de Beatriz e se lançou para cima dela, com o intuito de bater nela. Armando rapidamente a conteve e passou a empurrá-la em direção a porta, enquanto a ex bradava xingamentos para Betty.

— Deixe ela, meu amor. Deixe que ela me bata. Mas esteja ciente que não apanharei calada. Detesto violência e tão pouco gosto de espetáculos, mas revidarei, se for necessário. – Afirmou Betty um pouco mais alterada pelo nervoso.

— Marcela, saia da minha casa já! Ou eu chamo a polícia. – Gritou Armando.

— Vocês me pagam! Vou convocar a diretoria. Vou tirá-lo da presidência Armando e também faço questão de escorraça-la sua desgraçada. – Berrava Marcela, enquanto Armando trancava a porta.

Assim que fechou a porta, foi até o interfone e solicitou que chamassem um chaveiro para seu apartamento e também notificou que Marcela Valencia não era mais sua noiva e que não tinha permissão de estacionar dentro do prédio ou de subir sem ser anunciada. Ligou em seguida para o síndico e pediu que ele reforçasse a orientação com todos os funcionários, ameaçando processar o condomínio caso ela subisse sem autorização.

Ao desligar o telefone, foi até Beatriz e a abraçou forte. Odiava fazê-la passar por aquele tipo de situação. Ele já estava acostumado com os escândalos de Marcela, mas sua Betty não. Ela era tão doce, tão delicada... Queria protegê-la de tudo e todos.

— Eu sinto muito, meu amor. Você não deveria ter que lidar com toda essa situação desagradável. – Lamentou Armando a abraçando forte. – Mas fiquei tão orgulhoso de você, em como se defendeu.

— Acho que deveria sair da Ecomoda. – Julgou Betty com pesar. – Ela não vai me deixar em paz e, de todo modo, seus pais e os outros Valencia ficarão ao lado dela. Serei colocada para fora de um jeito ou de outro.

— Eu não vou permitir isso, Beatriz. – Afirmou nervoso. – Vou agora mesmo resolver essa história. Me espere aqui, enquanto faço uma ligação.

— Se não se importa, acho que gostaria de um banho quente. – Pediu Betty.

Armando a levou até o banheiro da suíte e lhe entregou uma toalha. Enquanto isso, foi até o escritório e ligou para seu pai.

Roberto estava aflito sem saber o que acontecia e Armando tratou de explicar-lhe. Ele foi claro com o pai, como jamais pensou ser na vida. Disse que não amava a Marcela e que jamais poderia ser feliz casado com ela e que acabaria por torná-la infeliz também. Confessou que se apaixonou verdadeiramente por Beatriz e que tinha uma relação séria com ela, que ela era a mulher de sua vida.

Armando contou tudo ao pai e implorou para que ele o apoiasse, mesmo que não entendesse.

— Papai, não é justo que a Marcela sempre os use contra mim, como ferramentas de manipulação e chantagem. Eu jamais seria feliz ao lado dela. Não posso ser feliz com mais ninguém que não seja a Beatriz. Eu a amo verdadeiramente. – Armando fez uma pausa e retomou com a voz embargada. – Papai, mais do que nunca, eu necessito do apoio do meu pai. Será que conto com o senhor? – Pediu apreensivo.

— Meu filho, estou ao seu lado, não se preocupe. Eu amo a Marcela, mas você é meu filho e minha prioridade é você e sua felicidade. Estamos indo para Bogotá e chegaremos pela manhã. Conversarei com a Marcela e vou ficar ao seu lado. Você conta com o apoio do seu velho pai.

— Obrigado, papai. Eu te amo.

— Eu também te amo, meu filho.

— Mas e a mamãe? Preciso falar com ela!

— Eu tratarei de conversar a sua mãe. Deixe que com ela eu me entendo. Ela ficará ao seu lado, não se preocupe. Até amanhã, meu filho.

— Até amanhã, papai. – Despediu-se aliviado. Como era bom contar com seu pai.

Quando Armando entrou no quarto, viu que Beatriz usava um robe de seda rosa clarinho com rendas que ia até um pouco acima do joelho e aquilo o despertou. Estava aflito para saber o que havia por baixo do robe. Se aproximou dela e beijou seu pescoço, enquanto ela terminava de secar e escovar os longos cabelos negros.

— Meu amor, estou muito curioso com uma coisa. – Sussurrou Armando no ouvido de Betty, enquanto a abraçava por trás, de frente para o espelho.

— Ah, e com o quê seria? – Disse manhosa, aproveitando os beijos que ele distribuía pelo seu pescoço.

Armando sorrindo maliciosamente, desfez o laço do robe e o abriu e viu que ela usava uma camisola curta de seda rosa com rendas nos seios e na barra, que tinha uma leve fenda na lateral. Ficou louco e sedento por ela.

Ele a tomou nos braços e a levou até sua cama, onde a amou com amor e doçura.

******

Muito longe de Bogotá, em Londres, Roberto conversava com Margarita sobre a conversa que teve com Armando. Ele lhe mostrava com toda a paciência e amor que não podiam atrapalhar a felicidade do próprio filho, em favor de Marcela, e que deveriam apoiar Armando.

— Margarita, meu bem, não podemos obrigar o Armando a ficar com a Marcela. Ele não a ama. Seriam ambos infelizes. – Argumentou Roberto. – Olha, Armando me confessou que ama essa moça e está disposto a enfrentar tudo e todos por ela. Ele nunca fez isso por mulher alguma e ele praticamente suplicou pelo apoio de seu pai. Querida, eu não posso virar as costas ao meu próprio filho, em favor da Marcela. Eu a amo, mas o Armando tem razão quando diz que ela nos usa para manipulá-lo e isso não está certo, Margarita. Eu não posso responder por você, mas eu ficarei ao lado do meu filho. Não posso perder o amor e carinho do Armando, como perdi o de nossa filha Camila. Esse erro eu não cometerei mais.

— Você está certo, meu querido. Se Armando está decidido e feliz com essa moça, cabe a nós o apoiarmos. Também não suportaria brigar e perder o afeto de nosso menino, como perdemos de Camila. Amo a Marcela, mas está na hora de tratar nossos filhos como prioridade. Vamos a Bogotá, mas para apoiar o Armando. E Marcela irá me escutar. Ela não pode mais nos usar para chantagear o Armando.

— É isso, minha querida. Nossos filhos devem ser nossas prioridades agora. E acho que assim que resolvermos as coisas em Bogotá, devemos procurar nossa menina e nosso neto e nos redimir.

— Você está certo, Roberto. Vou pedir que Armando nos ajude com Camila e peça a ela que nos deixe visitá-la. Quero tanto abraçar minha filha e conhecer meu neto. - Disse com a voz embargada.

— Faremos isso, Margarita, não se preocupe. – Disse Roberto afagando o rosto da esposa com carinho. – Nós teremos nossa família unida novamente e trabalharemos pela felicidade de nossos filhos e nosso neto.

— Quanto a aquela moça, a Beatriz... Bom, se o Armando a ama e quer estar com ela, eu a receberei na nossa família. Mesmo que me custe um pouco, estou disposta a ter uma boa relação com ela.

Eles terminaram de arrumar suas coisas e se dirigiram ao aeroporto.

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Em Bogotá, no apartamento de Armando, Betty havia cozinhado. Ela se esmerou na tarefa e fez arroz de coco, patacones e ensopado de peixe, conforme sua mãe havia lhe ensinado. Esperava que Armando gostasse, ela não tinha tanta prática quanto a mãe, mas havia aprendido algumas coisas e até Nicolas aprovou nas raras vezes que ela se atreveu a cozinhar para ajudar a mãe por estar indisposta.

Betty já havia colocado a sobremesa na geladeira para servir depois do jantar. Ela havia feito sua sobremesa favorita, pudim de leite.

Armando havia tentado argumentar, dizendo que ela não precisava cozinhar, que ele poderia pedir algo, mas ela insistiu. E quando ele se dispôs a auxiliá-la na cozinha, ela o dispensou, o mandando tomar banho e assistir algo na TV. Assim, sem opção, ele tomou um banho e colocou um pijama confortável, já que Betty estava de camisola e robe e depois foi para a sala assistir o futebol, enquanto aguardava. O cheiro que vinha da cozinha estava delicioso e ele já estava morto de curiosidade.

Beatriz arrumou a mesa e foi até Armando o chamar para jantar.

— Meu amor, venha jantar, já pus a mesa. Só não peguei um vinho, porque não sei escolher essas coisas. Deixei para você escolher, se não se importa. – Betty sorriu.

Armando se levantou do sofá sorrindo para ela e lhe segurou pela cintura, lhe plantando um beijinho delicado nos lábios.

— Claro que não me importo de escolher o vinho, meu amor. Vamos ver o que você preparou e aí posso escolher o melhor para combinar. A propósito, o cheiro está incrível, estou faminto.

— Ai, meu Deus! Não vá reparar, não sou especialista em cozinhar como minha mãe. Não é nada demais. – Declarou tímida.

— Pelo cheiro maravilhoso, impossível que não esteja bom, doutora Pinzón. Vamos lá e ver o que você andou aprontando na cozinha, minha espertona. – Armando a puxou em direção a mesa de jantar, sorrindo.

Quando chegaram a mesa, Armando ficou impressionado em como Betty era organizada e arrumou tão bem a mesa. Mas ela era tão brilhante em tudo que fazia, que ele não deveria ficar surpreso. Quando olhou para as travessas de comida, ficou admirado que ela tenha preparado tudo aquilo.

— Meu Deus, espertona, não é só o cheiro que está incrível, a aparência está ótima também. Vou pegar um vinho branco incrível que tenho para combinar com o peixe, me espere um momento.

Armando voltou com a garrafa de vinho e serviu nas taças. Estava feliz em desfrutar daquele momento com sua Betty. E estava realmente curioso e ansioso para experimentar a refeição que ela havia preparado.

— Beatriz, essa é a melhor coisa que já comi. – Armando afirmou fazendo um som de prazer e contentamento ao fechar os olhos e desfrutar de mais uma garfada da comida.

— Ai, imagina! Não seja exagerado, Armando. – Respondeu encabulada.

— Não é exagero nenhum. Meu Deus, isso está delicioso. – Disse dando um grande sorriso.

Eles seguiram conversando animadamente, enquanto jantavam. Beatriz já estava um pouco ruborizada por conta do vinho.

— Armando, esse vinho é uma delícia mesmo, e olha que não gosto de beber. – Ela lhe deu seu belo sorriso. – Você já terminou de comer?

— Sim, meu amor. Estava perfeito, obrigado. – Ele lhe devolveu o sorriso.

— Ótimo, vou trazer a sobremesa. Espero que goste, é a minha preferida. – Disse Betty enquanto retirava os pratos.

— Como assim, temos até sobremesa? E o que é, meu amor? – Perguntou com os olhos brilhando em empolgação.

— Pudim de leite. Meu favorito.

— Nossa, é minha sobremesa favorita também. – Armando revelou com um amplo sorriso.

— Espero que esteja bom então. Já volto.

Eles apreciaram a sobremesa favorita dos dois e nada poderia estourar a bolha de amor em que estavam.

Quando terminaram, Armando mandou que Beatriz fosse para a sala escolher algo para assistirem, enquanto ele lavava a louça e guardava as coisas. Ela tentou argumentar, mas ele foi inflexível na decisão, dizendo que era o mínimo que poderia fazer, depois da deliciosa refeição que ela preparou com tanto carinho.

Quando Armando terminou de lavar e guardar tudo, foi até o sofá se juntar a sua Betty. Ela havia escolhido um filme, que estava para começar e ele se aconchegou no sofá a puxando para ficarem abraçados. Assistiram ao filme Um Homem de Família, com Nicolas Cage.

Armando jamais imaginou que estaria tão feliz curtindo um programa caseiro. Mas a verdade é que, ao lado de sua Betty, se sentia tranquilo e completo.

Eles terminaram de assistir o filme e depois foram para o quarto, onde se amaram mais uma vez apaixonadamente e dormiram abraçados e extremamente felizes.