Era tarde da noite quando me encontrava em um lugar totalmente estranho, sua aparência lembrava-me meus piores pesadelos, um ar denso, pesado, uma neblina forte, a escuridão ocupava quase todo o lugar e aquele medo que pairava solto no ar chegava a arrepiar minha pele. Ouço passos trás de mim, viro-me para ver quem vem vindo, mas a neblina me impedia, conseguia ver apenas borrões. Decido então correr pra longe dali, achar um local seguro, se é que havia algum lugar por ali que fosse seguro. Escondo-me atrás de uma árvore, que era grossa o suficiente para impedir que me vissem. Então consigo ver, são dois homens, um é loiro, magrelo e alto o outro não consegui distinguir suas feições, ele estava um pouco longe. Os ouço conversando ...

“Eu vi, tô te falando cara, ela foi por ali” Diz o loiro magrelo.

“Cara, não tem ninguém ali, são apenas as arvores ... Vamos, temos que encontrá-la. Temos que achar ela, viva ou morta.” Retruca “o desconhecido”.

“Mas eu te falando que eu vi alguém ali, perto das árvores” O loiro responde. Estremeço ao ouvir aquilo, será mesmo que eles me viram?!

Eles então dão meia volta e seguem em direção oposta a minha, um alívio percorre meu ser, decido sair dali o quanto antes, o mais rápido possível, tendo o maior cuidado para não fazer barulho algum que pudesse chamar a atenção deles, andando em ponta de pé, quando piso em um galho seco e um estralo fino e estridente percorre o lugar. “Droga, já não bastasse está em um lugar totalmente desconhecido, perdida e ainda tem essa droga de galho pra fuder tudo.” Penso. Quando olho para ver se algum deles tinha ouvido o barulho, eles já estão na metade do caminho, correm em minha direção como se suas vidas dependessem de minha captura, ou como se estivessem caçando um animal. E o loiro magrelo gritando em meio a sua pesada e cansada respiração ...

“Eu não te falei que ela tinha ido por aqui, eu te falei cara, eu disse que tinha alguém atrás das arvores, eu te falei ... cara eu sei das coisas” Fala o loiro, com tom de deboche em sua voz.

“Porra, vai ficar enchendo a paciência com isso?” Diz “o desconhecido”

Corro, corro o mais rápido que posso, uso toda a minha força. E é então que percebo, estou numa floresta ... Entro em meio a densa escuridão que é guarda em seu interior.

Não consigo ver nada em minha frente, mas continuo correndo, correndo pra longe daqueles homens que por algum motivo me querem. Sinto um ardor em minha bochecha esquerda ... algo me cortou, não paro para ver se o corte foi profundo, mas posso sentir o sangue quente que escorre por ele e chega até minha boca, sinto umas pequenas pontadas de dor vindo do corte, mas realmente resolvo ignorar. Salvar minha vida, isso é a prioridade. Quando percebo que já estou alguns metros a mais na frente deles paro para conseguir recuperar meu fôlego, afinal estou correndo sem parar a mais ou menos duas horas. Ainda era noite, mas não havia mais aquela escuridão, a noite tornou-se clara, estava amanhecendo, passei quase um dia inteiro correndo, pude então finamente vê onde estava. Uma floresta de arvores altas e baixas, a vegetação em volta era muito densa, se não estivesse tão cansada e delirando um pouco por causa da fome podia jurar que tinha visto uma girafa, a neblina ainda se fazia presente mas já não era tão densa, galhos finos saiam por entre os troncos das arvores, como se fossem pequenos braços, braços finos e tortos, devo ter me cortado em um desses enquanto corria.

Barulho. Levanto-me rapidamente para ver se eles haviam conseguido me alcançar, e para minha sorte estavam mais perto do que poderia imaginar, volto a correr, minhas forças já haviam ido embora, minhas pernas doíam, meu corpo pedia por descanso, mas não iria desistir, continuo correndo. Quero viver. Correr para longe seria a decisão mais sábia a se fazer nessas horas. É o que faço, corro e corro, até que uma claridade invade minha vista e fico desnorteada e paro por alguns instantes, até que minha visão se acostume novamente com a luz, havia passado muito tempo no escuro, meus olhos doem. Passados os instantes, minha visão volta ao normal e consigo enxergar onde estou, no meio da floresta e em minha frente, encontrasse algo impossível de se explicar, uma fenda na terra, não uma simples fenda. Uma larga, enorme e gigantesca fenda. Metros e metros de profundidade, isso se tiver fim, sua largura era aproximadamente do tamanho de dois campos de futebol e eu estava ali, parada à beira desse precipício.

Passos rápidos atrás de mim, ouço vozes, são eles. Um medo percorre minha espinha, minha pele está arrepiada e começo a suar frio. Tentando me salvar, acabei correndo para minha morte, seria hoje, agora e aqui que o que tinha de mais precioso seria tomado de mim da forma mais bruta e cruel que se poderia imaginar. Corro de um lado para o outro tentando achar uma saída, uma solução, mas sabia que era algo impossível de acontecer. Eles estão mais perto, meu coração bate em um ritmo cardíaco tão acelerado chegando quase a parar e o simples movimento da respiração fazia meu peito doer. Podia sentir minha vida se esvaindo. Não podia morrer ali, não daquela forma.

Estou de frente ao precipício pensando em que tipo de morte seria a mais rápida e menos indolor. É quando escuto ...

“Não tão rápido delicia, o chefe te quer viva você morta não vale de nada” Diz “o desconhecido”, que já não era mais desconhecido, com a claridade pude finalmente vê-lo. É um homem moreno, com músculos definidos, mais ou menos medindo 1,80 de altura, uma cicatriz na testa em forma de “X” e uma tatuagem no braço direito que dizia: “A morte é um presente, aceite-o.” Gelei quando li aquilo.

“É isso mesmo, o chefinho te quer vivinha!” Diz o loiro magrelo. Eles se entreolham e começam a gargalhar como se a situação a qual nos encontrávamos fosse algo engraçado.

“Quem são vocês e o que querem de mim? O que eu fiz a esse tal “chefinho”?” Grito em bom e alto som.

Os dois param de gargalhar e começam a andar em minha direção, seus olhos são puro ódio, rancor e fúria. Podia jurar que vi chamas em seus olhares.

“Parem, ou eu me jogo nesse precipício e vocês terão que se resolver com o chefe de vocês.” Digo em um ato desesperado de fazer com que eles parem, mas nada os fazia parar. É como se soubessem que eu não pularia.

Em passos lentos e metricamente calculados eles se aproximam, não há para onde correr, não há para onde fugir, a minha única salvação era o precipício que se encontrava atrás de mim. Não deixaria que pusessem as mãos em mim, se fosse para morrer, morreria. Mas não morreria daquele jeito, não pelas mãos deles ou do seu chefinho. E em um ato de puro medo e desespero mergulho para dentro do profundo abismo. Antes de cair pude ver a cara de desacreditados dos dois homens.

Caindo, caindo, caindo ... quando de repente.

BANN ...

“NÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃO ...” Acordo assustada, suada, meu estômago dói e com o coração prestes a explodir dentro do peito, levanto da cama, vou ao banheiro, ligo a torneira lavo meu rosto e me olho no espelho. Minha face estava assustada, estava pálida, melhor dizendo esbranquiçada e gelada. Fico por alguns minutos observando meu reflexo no espelho e tentando entender o porquê daquele sonho, não era a primeira e nem a segunda vez que tinha esse pesadelo, de uns tempos para cá esse pesadelo estava se tornando algo frequente. Deveria está acostumada, mas todas as vezes o medo era diferente, a sensação de que algo ruim iria acontecer era mais real. Decido voltar a dormir, amanhã o dia vai ser cansativo e longo. Olho no relógio são 4:30 da manhã.