Depois do jantar fomos todos para a sala, minha mãe e Richard entraram em uma conversa tão animada que eu e William ficamos meio sem graça de participar. Sinalizei para que saíssemos da sala e eles mal perceberam.
– Acho que não vão sentir nossa falta. - falei e ele sorriu.
– Pelo jeito, não mesmo.
Subi as escadas em direção ao meu quarto com ele atrás, me senti engraçada por um garoto tão bonito estar realmente querendo minha companhia. Abri a porta e deixei ele entrar primeiro.
– Bom, meu quarto. Não é exatamente o que eu faço quando eu conheço uma pessoa, mas você parece confiável. - ele riu.
– Vou interpretar esse gesto com cautela, não se preocupe. - eu sorri.
– Não estou preocupada. - William olhou pra mim e deu um sorriso de canto de boca que fez meu coração palpitar. Como seria conviver com um garoto desses? Já era difícil conviver com o Nathan, mas de alguma forma William parecia menos... real.
Ele andou pelo meu quarto com olhar investigativo, encarou os bichos de pelúcia em cima da estante (de repente me senti uma criançinha), encarou os posters, os DVD's, os Cd's e parou nos livros.
– Você gosta de ler? - perguntou com um olhar engraçado.
– Gosto muito e você? - perguntei receosa.
– Adoro, na verdade. - Oh God, Thanks!
– O que gosta de ler?
– De tudo um pouco. Acho que um pouco de mistério, romance, uma pitade de humor também.
– Acho que você descreveu a maioria dos meus livros. - ele sorriu.
– Então acho que vamos nos dar muito bem.
– Espero que sim. - falei e ele riu, fiquei totalmente sem graça. - Quer dizer já que nossos pais estão namorando...
– Não tem que explicar, Jessica.
– Me chame de Jessie.
– Só se me chamar de Will. - eu sorri.
– Tudo bem. - sentei na ponta da cama e ele sentou na cadeira do computador.
– Como é morar em Nova Jersey? - eu dei de ombros.
– Normal, nada de novo acontece por aqui. Eu basicamente vou pra escola, faço dever de casa, leio e vou a cafeterias.
– Você tem que conhecer Nova York.
– Eu conheço Nova York. - ele levantou.
– Não a Nova York para turistas, a verdadeira Nova York. E eu vou te ajudar nisso. - eu ri.
– E como pretende fazer isso?
– Bom para começar nós vamos sair, quero que conheça a madrugada de Manhattan. - eu o encarei confusa.
– Você está brincando? - ele me encarou.
– Claro que não, vamos logo. - ele começou a sair do quarto e eu fui atrás pegando o seu braço.
– Eu não posso ir para Manhattan agora, já são 23 hrs da noite. Que horas vou voltar? E aliás acabei de te conhecer. - ele riu.
– Mas mesmo assim me trouxe para o seu quarto.
– Will...
– Jessica, por favor, uma chance.
– Para quê?
– Me dá apenas uma chance que eu consigo convencer a sua mãe a deixar você sair comigo agora. - eu dei de ombros.
– Boa sorte. - ele piscou e desceu as escadas com confiança. Segui atrás dele totalmente incrédula.
Para a nossa surpresa, minha mãe e Richard estavam se pegando no sofá, o que era totalmente constrangedor já que eles não eram mais adolescentes. William tossiu e eles se afastaram constrangidos.
– Com licença. - falou ele.
– Ah desculpe, eu é... - começou Richard, mas Will sorriu.
– Não tem que explicar nada. Eu quero falar com a Ellie. - minha mãe parecia um tomate. Seu rosto estava todo vermelho.
– William, eu é... Hum...
– Você também não tem que me explicar nada. Eu quero falar com você sobre outra coisa.
– Diga. - Will olhou pra mim e eu retribui seu olhar desacreditada.
– Eu e Jessie podemos ir à Nova York? - minha mãe olhou pra mim e depois pra ele.
– Quando?
– Agora. - ela olhou para Richard que sorria olhando pro filho.
– Por quê?
– Jessie simplesmente não gosta de sair. Pelo menos do jeito que ela fala da própria vida provavelmente é totalmente sem graça. Então quero que ela crie lembranças, que conheça lugares... - eu tentei não ficar ofendida com o que ele disse. Mas aí eu vi o olhar da minha mãe e eu já sabia que ela tinha deixado.
– Conhecer lugares?
– Sim, não posso deixar ela entrar na faculdade com o mínimo de conhecimento de mundo. - minha mãe sorriu.
– Bom, vocês pretendem voltar hoje?
– Não sei, pode demorar um pouco fazer a Jessica ter uma vida. - eu ri e empurrei o ombro de Will levemente, ela suspirou.
– Estaremos bem aqui. - eu corri para abraçá-la.
– Você é a melhor mãe do mundo, não vai se arrepender.
– Estou te dando um voto de confiança, não me decepcione.
– Não vou. - falei levantando do sofá.
– E você, por favor, não exagera. - falou Richard apontando para o filho, que levantou os braços na defensiva.
– Ei, Rich, relaxe! Agora, se você puder fazer a gentileza. - o pai dele revirou os olhos e jogou a chave do carro para o filho que o pegou no ar com uma mão.
– Jessie, acho que tem que pegar um casaco.
– Ah sim, só um minuto.
– Claro, vou subir com você para eles voltarem de onde pararam. - eu ri e subi as escadas com ele no meu encalço.
Entrei direto no meu closet e encarei as minhas roupas indecisa, eu não sabia me arrumar para ir à escola como eu ia saber o que vestir para ir à Nova York?
– O preto. - disse Will na porta me encarando.
– O que disse? - ele entrou e pegou o sobretudo que estava no fundo do armário.
– Vista esse. Vai ficar ainda mais linda. - eu sorri sem jeito.
– Obrigada. - eu olhei para cima e fiquei brincando com o cabelo. - Hã... Will... Hum... Acha que eu devo passar maquiagem?
Ele me encarou de todos os ângulos me deixando totalmente sem graça, mas não respondeu. Apenas sorriu.
– Você quem sabe, mas se fizer, faça por você. Apenas por você. - eu sorri com a resposta.
– Será que pode me esperar do lado de fora?
– Claro. - ele saiu fechando a porta atrás de si. Rapidamente peguei meu telefone e solicitei uma chamada de vídeo com a Charlotte que prontamente atendeu.
– O que aconteceu? - perguntou curiosa.
– Eu preciso fazer uma maquiagem bonita. Estou indo à Nova York e preciso da sua ajuda. - ela me encarou incrédula.
– O que está acontecendo, Jessica?
– Não tenho tempo para explicar. Só me ajuda com a maquiagem que te explico tudo depois. - ela me encarou mais um tempo desconfiada.
– Está bem, você tem pó de arroz?
>>o
Antes de sair me encarei no espelho e sorri, eu estava diferente e estava contente com a mudança. Eu estava usando batom, batom vermelho, lápis de olho (que eu quase enfiei dentro do meu globo ocular) e rímel. Rímel, senhoras e senhores. O que pra mim era algo tão estranho que quase não me reconheci no espelho. Respirei fundo e abri a porta, William estava lendo um livro meu.
– Ah desculpa, eu peguei... - assim que me viu parou de falar e ficou me encarando.
– Então, ficou tão ruim assim? - eu encarei o chão.
– Uau. - eu sorri sem graça, levantei o olhar e olhei direto para o Nathan que me encarava de boca aberta pela janela.
– Obrigada. - disse apenas, mas ainda estava olhando para o Nathan. Ele não piscava, mas eu sabia que estava me encarando.
– Então, Jessie, vamos? - eu olhei para Will e sorri.
– Claro. - dei uma última olhada para o Nathan antes sair do quarto.
>>o
– Estamos indo, por favor, juízo vocês dois. - falou Will e eu ri.
– O mesmo para vocês. - falou o pai dele.
– Divirtam-se. - falou minha mãe.
– Até mais tarde. - falei seguindo Will pela porta.
Enquanto Will manobrava o carro, eu olhei para a janela do quarto de Nathan e percebi que ele me encarava. De alguma maneira, eu sabia que ele estava olhando diretamente para mim e isso por algum motivo me deixou feliz. Se ele podia "conversar" com essa Megan, por que eu não poderia "conhecer melhor" o meu mais novo "irmão"?
– Então Jessie, pronta para se divertir de verdade? - eu sorri.
– Acho que sim. - entrei no carro e coloquei o cinto. - Quanto tempo vamos levar?
– Bom, se eu for rápido acho que uns 30 minutos.
– Will, que horas pretende chegar em casa? - ele acelerou, depois de um tempo me olhou e sorriu.
– Quem disse que eu pretendo voltar? - eu arregalei os olhos.
– Como é?
– Hoje! Quem disse que eu pretendo voltar hoje? - eu ri.
– Você pode até ter conseguido a confiança da minha mãe, mas se eu fosse você não abusava.
– Relaxe, Jessie. Eu sei o que estou fazendo, agora vamos falar sobre o garoto que estava olhando a gente pela janela. - eu prendi a respiração.
– Hum... É...
– Qual o problema dele?
– Acho que o problema dele sou eu.
– Como assim?
– Uma longa história.
– Nós temos meia hora. - eu suspirei.
– Bom, eu meio que sou ou estou apaixonada por ele. - não sei porque falei isso, talvez tenha sido o olhar dele que me demonstrava confiança.
– E o que mais?
– Ele virou meu vizinho, viramos amigos, nos beijamos e agora eu não sei exatamente o que está acontecendo. - ele ficou um tempo sem responder, mas depois riu.
– Sei e ele mencionou alguma garota? - eu o olhei surpresa.
– Infelizmente sim. Eles estão conversando, acho que vão sair. Mas como sabia disso?
– Todos os garotos são iguais, Jessica. Ele agiu de um jeito estranho quando você mencionou que o namorado da sua mãe tinha um filho? - eu não respondi, mas ele riu. - Eu disse que todos os garotos são iguais.
– Isso quer dizer que você sabe o que está se passando na cabeça dele? Porque eu preciso saber! - ele deu de ombros.
– Antes mais uma pergunta: Ele por acaso, é o que chamam de "popular"?
– Totalmente. - Will deu um sorriso sem humor.
– E você não é, certo? Típico! E eu tenho certeza que essa garota é... - eu o fitei curiosa.
– Como pode saber?
– Você não percebe Jessica? A história sempre se repete. Hollywood tem muita inspiração com as escolas americanas.
– Se você contasse o que está acontecendo eu agradeceria muito.
– Eu posso até falar, mas você não vai gostar da resposta.
– Seja sincero comigo. - ele suspirou.
– Pelo jeito ele está se apaixonando por você. - eu esperei a informação fazer sentido na minha mente.
– E por que isso seria ruim?
– O ruim é que ele não vai fazer nada. Se ele levar em consideração tudo o que os amigos dele falam, não vai ficar com você em público. - eu de repente fiquei sem ar.
– Você não o conhece. - sussurrrei.
– Jessica, eu simplesmente o descrevi e você acha que eu não o conheço? Os amigos devem estar fazendo a maior pressão para ele sair com essa garota e ele vai porque provavelmente, ele não quer ficar sozinho.
– Mas ele não ficaria sozinho. - Will suspirou.
– Jessie, garotos assim não fazem sentido. São patéticos, e eu tenho certeza que alguém já te disse isso.
– Charlotte.
– Sua melhor amiga?
– Sim.
– Eu sinto muito. Esse cara pode até ser legal com você, mas quando chegar na frente das pessoas ele vai mudar.
Eu fiquei em silêncio, não queria ouvir mais nada. Eu não queria aceitar que Nathan era esse garoto idiota que todos achavam que ele era. Mas no fundo eu sabia. Sabia que o Nathan Gilbert que eu amava, não era o Nathan que saia nas ruas.
– Jessica, não fica assim. Vamos nos divertir hoje e você vai esquecer esse cara, pelo menos por enquanto. Eu prometo! - eu sorri. Will era um cara legal (e lindo) que parecia ser o que eu precisava no momento, em vários sentidos.
– Obrigado de verdade, você até que pode ser um irmão legal. - ele fez uma careta.
– Por favor, não fala essa palavra com a letra i.
– O que? Irmão?
– Exatamente, porque se você colocar esse título em mim certas coisas serão consideradas pecados e enfim... - eu me permiti enrubescer.
– Está certo, então você é o que meu? Amigo?
– Por que eu preciso ter um título? Estamos nos conhecendo, Jessica. Eu não preciso ser alguém ainda. Certo?
– Tudo bem, estou cansada disso também. Não quero me preocupar. Não hoje. - Will sorriu.
– Ótimo. Vamos nos divertir!
Antes que eu pudesse responder, comecei a ver as luzes de Manhattan, a cidade que nunca dorme. Os prédios pareciam ganhar vida diante das luzes e cores, o barulho de milhões de buzinas começou a surgir.
– Bem vinda a Nova York, Jessie.

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