– Então o que faremos primeiro? - perguntei.
– Nós vamos dançar. - eu sorri.
– Eu não danço em público.
– Não foi uma pergunta. Nós vamos ao Catch Roof, provavelmente você não sabe o que é.
– Não, não sei mesmo.
– O térreo funciona como um restaurante, mas o último andar funciona como uma boate. Só que as pessoas de Nova York são preconceituosas, você não paga em lugar nenhum para entrar, mas só deixam entrar se você estiver bem vestida. - eu o encarei sorrindo sem graça.
– Então quer dizer que não vão me deixar entrar?
– Não. Eu só estou explicando que tênis não é exatamente a roupa mais adequada para uma festa.
– Você está dizendo que a minha roupa não é apropriada?
– Jessie, você fica uma gata de saia, o que pode acontecer é barrarem por causa do tênis. Mas na minha opinião faz parte do seu charme. - eu sorri sem graça.
– Eu não uso salto alto.
– Você não precisa disso. - eu não sabia o que falar diante de tantos elogios. O sorriso dele é incrível, os olhos maravilhosos e sinceramente, mais gato que o Nathan.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


>>o
Eu não sabia muito bem como agir, o lugar que estávamos entrando era totalmente diferente da minha realidade. As pessoas estavam tão bem arrumadas que eu fiquei meio sem graça.
– Will? - sussurrei no seu ouvido e ele virou pra mim com um sorriso.
– O que foi?
– Tem certeza que é uma boa ideia? Eu estou me sentindo meio deslocada aqui.
– Não se preocupe com isso, você está linda! Quero que tenha experiências, Jessie. Vai dar tudo certo.
– E se eles não me deixarem entrar? - ele não respondeu, apenas seguiu andando e eu fui atrás. Antes que chegássemos na porta, ele chegou perto de mim e sussurrou no meu ouvido.
– Você é uma boa atriz? - eu dei de ombros.
– Posso ser, por quê?
– Vamos entrar sem pagar. Só faça o que eu mandar! - eu assenti e ele me deu as instruções, sorri por dentro.
– Boa noite! - falou William para o segurança meio rindo, meio sério. Ele estava segurando firme minha cintura, eu ria e falava gracinhas no ouvido dele. O segurança piscou para Will e nos deixou entrar, para a minha surpresa.
Eu encarei tudo com fascinação, eu já estava animada só de olhar para as pessoas que dançavam grudadas com os caras ou com as amigas, tinha homens e mulheres lindos. A música não deixava seu corpo ficar parado, e eu reconhecia até algumas batidas.
– Que tal? - perguntou Will.
– Incrível. - ele sorriu e pegou minha mão.
– Quer beber alguma coisa?
– Eu não bebo. - falei e ele levantou uma sobrancelha.
– Tranquilo, não quero te deixar bêbada. Mas você tem que provar algum drink, Jessie. - eu pensei um pouco, eu estava aqui para ter lembranças.
– Qual o drink mais doce? - ele sorriu.
– Vamos lá.


>>o
Eu dancei como se não houvesse amanhã, bebi apenas um drink até porque não sabia como ia reagir no meu organismo, mas de qualquer maneira eu me diverti como nunca antes. Will me deixou sozinha apenas um momento para ir ao banheiro e rapidamente um garoto chegou perto de mim dançando comigo, não estava em condições de falar nada apenas dancei com ele.
Ele era um garoto bonito e sabia dançar, depois de vários sorrisos trocados ele foi chegando mais perto e eu sabia o que ia acontecer, antes que eu pudesse sequer me afastar, ele me beijou. Foi engraçado beijar um completo desconhecido, mas ao mesmo tempo intrigante já que a minha experiência era de apenas um garoto. Assim que nos separamos, eu não sabia o que dizer, mas não precisei, Will chegou e sorriu para ele:
– Desculpa, cara, mas não posso deixar você continuar com a minha irmã.
– Tranquilo, cara. - o garoto virou pra mim e piscou. - Foi um prazer!
Eu sorri e pisquei de volta, o garoto foi embora e eu me virei para encarar o William que para minha surpresa estava rindo.
– Eu vou ao banheiro por alguns minutos e você já arranja alguém?
– Desculpa, eu nem vi o que aconteceu direito.
– Não tem que se desculpar, eu só fiz ele ir embora porque ele não ia querer parar no beijo. - eu arregalei os olhos e suspirei.
– Ah sim...
– Fica tranquila, te livrei dessa. Infelizmente temos que ir embora, temos muita coisa pra ver ainda. - eu peguei meu celular e olhei a hora: 2:45 da manhã.
– Você já olhou o relógio? - ele sorriu e pegou minha mão.
– Não porque não faz diferença. - eu ri apertando a mão dele, caminhamos a passos rápidos para fora dali. Eu não tinha a menor ideia do que a noite me esperava, mas eu estava ansiosa para descobrir.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


>>o
– Nós vamos para um rooftop bem bacana, na Quinta Avenida. Dessa vez vamos relaxar em uma área externa com vista para o Empire State. Você vai adorar.
– Está certo. - eu sentei no banco do carro e me olhei no espelho. Eu estava suada, mas a maquiagem continuava no meu rosto.
– Então, Jessie, como foi beijar um completo desconhecido pela primeira vez? - eu levantei uma sobrancelha.
– Quem disse que foi a primeira vez? - ele riu.
– Eu tenho certeza que foi a primeira vez. - eu suspirei.
– Foi... interessante!
– Imagino. Mal começou a noite e você já teve experiências antes inéditas, como ir em uma boate, beber e beijar um desconhecido.
– Impressionante, o que mais você tem em mente?
– Algumas coisas, não quero estragar a surpresa. Por isso só o que precisa saber é que essa noite vai ser memorável.
– Sei, então vamos ver Nova York de cima agora?
– Mais ou menos isso.


>>o
Dessa vez pagamos para entrar, sentamos em uma mesa perto da beirada e eu fiquei olhando por um tempo para a vista á minha frente. Eu olhava todas as luzes e prédios imponentes de NY e lá estava ele o Empire State.
– Sabe, Jessie, eu gosto daqui porque é um dos únicos lugares de Nova York que você consegue ver as estrelas. - eu olhei pra cima e tentei ver por cima de todas as luzes sintéticas e lá estavam elas: as estrelas.
– Lindo.
– Então, Jessie, o quanto esse Nathan é importante pra você? - eu não desviei os olhos do céu, apenas suspirei.
– Eu estou apaixonada por ele, mas se o que você falou for verdade não tem porque eu continuar com isso.
– Tem um jeito de saber se é verdade. - dessa vez eu o encarei.
– Como?
– Ciúmes. - eu ri.
– Isso é coisa de criança.
– Na verdade, eu tenho certeza que ele está esperando você voltar, ainda olhando pela janela.
– Isso seria ridículo. - ele chamou o garçom e pediu dois drinks.
– Na verdade, Jessie, isso é a verdade. Eu tenho um plano e acho que pode funcionar.
– Sabe o que é engraçado? Não tem nem um dia que a gente se conhece e você quer me ajudar? - ele deu de ombros.
– Na verdade, eu já sinto que faço parte da sua vida. Afinal, já realizamos coisas juntos, Jessie. - eu sorri.
– Pode até ser, mas ainda não sei nada de você. - ele deu de ombros.
– O que quer saber?
– Tudo, você já sabe algo que eu tento esconder todos os dias, te contei coisas pessoais. Me conta alguma coisa.
– Minha história amorosa é meio sem graça... - eu ri.
– Ah para, você é um gato. - depois que eu falei me permiti ficar desconcertada.
– Obrigado, mas isso não me ajudou muito.
– Conte-me.
– Eu namorava e desde que a minha mãe morreu eu tinha meio que sobrecarregado ela com as minhas frustrações e ela me traiu com o meu ex-melhor amigo. Imagina a minha decepção quando descobri e desde então tento ter novas experiências e conhecer novas pessoas para tirar ela da cabeça. - eu fiquei um tempo em silêncio digerindo o que ele tinha acabado de me dizer.
– Mas que vaca! - falei e ele riu.
– Acho que pode colocar dessa maneira.
– E você ainda gosta dela. - ele suspirou.
– Eu sei, uma grande idiotice.
– Na verdade, é até natural. O fato dela ter decepcionado você não muda muita coisa só a raiva que tem de si mesmo por ainda gostar dela. - ele me analisou sem tirar os olhos dos meus.
– Como você pode saber?
– Todos os garotos são iguais. - ele riu.
– Você está certíssima. Acho que esse namoro dos nossos pais pode fazer bem pra gente também. - eu dei um sorriso muito sincero. Will era um garoto que mesmo sem me conhecer direito tinha me ajudado e me mostrado parte do Nathan que eu não conhecia.
– Nossos pais se aproximaram porque passaram pela mesma coisa, acho que esse é um motivo muito bom para fazermos o mesmo. - Will deu um sorriso de canto de boca e beijou a minha bochecha.
De um jeito ou de outro isso foi o começo de alguma coisa, que eu não sabia ao certo o que era, mas ia descobrir bem em breve.


>>o
– O que faremos agora? - perguntei.
– Pois bem, vamos a lugar especial meio reservado no Queens.
– E o que exatamente faremos?
– Irá descobrir quando chegarmos.
– Você é sempre misterioso assim ou só comigo? - ele riu.
– Hoje eu estou especialmente misterioso. Acho que você despertou esse lado em mim. - tentei mudar de assunto.
– Então, como é o seu relacionamento com a tal vaca agora?
– Ela tentou voltar comigo várias vezes, pediu desculpas, chorou, foi lá em casa e implorou. Foi bem patético. Mas não dei o braço a torcer e acho que desistiu.
– Qual o nome dela?
– Megan. - eu prendi a respiração. Será que...? A Megan que eu conhecia realmente tinha um namorado ano passado.
– Cabelos castanho claro, olhos verdes, corpo escultural? - ele franziu as sobrancelhas.
– Mas como...
– Essa é a garota que o Nathan vai sair. - ele suspirou.
– O azar é todo dele.
– Ela é linda.
– Mas não vale nada. O azar continua sendo dele, sou muito mais você. - eu sorri sem graça.
– Obrigada. - ele não respondeu apenas encarou o nada.


>>o
– Nós vamos patinar no gelo? - perguntei e ele sorriu.
– Por quê? Não gosta?
– Gosto, mas são 4:30 da manhã. - ele deu de ombros.
– Isso é Nova York, tudo funciona 24 horas por dia.
– Por que não?
Para minha surpresa o lugar não estava vazio, tinha música eletrônica tocando e Will deu um cartão na entrada, pelo jeito o lugar era mesmo reservado. Enquanto eu olhava cada cantinho daquele lugar, ele pegou os nossos sapatos e nos levou para o canto da pista.
– Sabe, Will, eu estava pensando que a minha roupa não é muito apropriada pra isso.
– Não se preocupe. Não vai acontecer nada.
– Espero mesmo.
– E o mais importante é: Você sabe patinar no gelo? - eu sorri.
– Está brincando? Eu sou muito boa nisso. - ele riu.
– Sério?
– Pode apostar, agora vamos ver se você é bom nisso. - ele não respondeu apenas levantou e me ofereceu sua mão.
Mal entramos na pista, ele deslizou com leveza, para minha surpresa. Ele era realmente bom nisso. Tocava uma música agitada e nós começamos a dançar juntos, um se apoiando no outro para não cair. Nunca tinha passado por uma experiência dessas, mas foi... surpreendente. A situação foi tão engraçada que as pessoas que estavam na pista começaram a dançar conosco, rimos tanto que eu escorreguei e cai com tudo no chão, o que só fez com que eu risse mais.
– Você está bem? - perguntou Will com olhar preocupado.
– Estou ótima. Não tem que se preocupar, lembra?
– Se você diz... - ele me ajudou a levantar um pouco forte demais e eu acabei ficando de cara com ele. Seus olhos me encaravam com curiosidade.
– Desculpa. - falei sem jeito.
– Não tem que se desculpar. A culpa foi minha. - eu assenti e saí de perto para pensar. O meu mais novo "irmão" era lindo e se eu não tomasse cuidado ia acabar me envolvendo com ele mais do que gostaria.
– Jessie?
– O que?
– Está pensando demais. Vem pra cá. - eu sorri.
– Desculpe, eu só...
– Promete pra mim que vai parar de me pedir desculpas?
– Tudo bem.
– Ótimo. Agora, vamos a um outro lugar antes de amanhecer. - eu assenti.
– O que será dessa vez?
– Terá que descobrir.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


>>o
Eu não sabia o que Will estava pensando, mas o silêncio no carro era constrangedor. Mas de uma coisa eu tinha certeza: o fato de termos ficado próximos demais um do outro mexeu com ele, e obviamente comigo.
– Jessica, vamos? - eu o encarei surpreso.
– Onde estamos? - ele sorriu.
– Vamos invadir o campo da minha escola. - eu ri nervosa.
– Como assim?
– Você sabe o significado da palavra "invadir". Faz um tempo que eu e meus amigos roubamos a chave do zelador e fizemos uma cópia.
– Meu Deus, eu estou andando com um delinquente. - ele revirou os olhos.
– Não exagere. Vamos logo. - minhas mãos suavam, eu nunca tinha infringido uma regra na minha vida, muito menos algo que era crime.
– O que tem nessa sacola? - eu não tinha percebido até aquela hora que ele estava carregando algo.
– Comida. Acha que iríamos passar a noite toda sem comer?
– Não pensei muito nisso, mas acho que estou mesmo com fome. Desde quando essa sacola está no carro?
– Você sempre faz muitas perguntas?
– Vou ficar quieta agora.
– Então, vem.
William abriu a porta e pegou uma lanterna escondida em um buraco atrás da porta.
– Will, eu... - comecei, mas ele me interrompeu.
– Nem começa, Jessie. Não diz nada, só me acompanha. - eu suspirei. Era meio estranho ver um campo de futebol americano assim, vazio e escuro.
Will se encaminhou para o meio e sentou na grama, fiquei relutante mas o acompanhei.
– Agora nós vamos descansar depois de uma noite agitada. - eu sorri.
– Nós invadimos uma escola.
– Não necessariamente, porque eu tenho a chave. - eu ri.
– Então vamos comer.
Tinha vários sanduíches e duas garrafas de suco, não sei quando ele comprou isso mas não quis perguntar de novo.
– Eu estava pensando a respeito do Nathan. - eu suspirei e o encarei.
– O que tem ele?
– Bem, você pode até achar ciúme coisa de criança, mas é extremamente eficaz. - eu comi o sanduíche e encarei a arquibancada a minha frente.
– O que você tem em mente?
– Vamos deixar ele me conhecer.
– Como assim?
– Segunda vou aparecer na sua escola para te buscar.
– E daí?
– Deixa o resto comigo. - eu o encarei confusa, mas resolvi deixá-lo fazer o que quiser. Pior do que está não vai ficar.
– Tudo bem, faz o que quiser. Só espero que dê certo. - ele sorriu.
– Vai dar certo.
– E a Megan? - ele ficou sério.
– O que tem ela?
– Ela vai estar lá.
– Melhor assim, é bom que ela veja que eu já não me importo com ela.
– O que é mentira.
– Sim, mas ela não precisa saber disso. - os raios do sol começaram a aparecer no horizonte. O céu começou a ficar alaranjado e eu sorri de um jeito meio bobo fechando os olhos.
– Minha cor preferida. - eu disse.
– O laranja?
– Sim. Você não acha magnífico?
– Acho, é realmente lindo. - eu deitei na grama e Will deitou ao meu lado. Eu estava curiosa a respeito de uma coisa, até podia acabar o clima mas eu precisava saber.
– Will? - nós encarávamos o céu com leveza.
– O que?
– Como sua mãe morreu? - ele suspirou.
– Câncer de pulmão. - eu temia essa resposta, fiquei sem saber o que dizer. - E o seu pai?
– Acidente de carro. Não é tão dramático. - ele suspirou.
– Na verdade, o seu é pior. - eu virei para ele surpresa.
– Por quê?
– Porque, Jessie, eu pude me despedir. Eu já esperava isso, não quer dizer que não fiquei triste, mas ainda sim...
– É... eu entendi... - meus olhos se encheram de lágrimas.
– Vocês eram próximos?
– Muito e você e sua mãe?
– Também. Quanto tempo faz que o seu pai...
– Um ano e sua mãe?
– Dois anos.
– Fica mais fácil? - Will suspirou e pegou minha mão.
– Nem um pouco. - essa altura eu já estava chorando. Ficamos um tempo assim, chorando de mãos dadas olhando o céu clarear aos poucos.
– Jessie?
– Oi?
– Você não odeia quando as pessoas dizem que sentem muito?
– Sim, nunca parece verdadeiro. - ele apertou a minha mão.
– Eu sinto muito. - eu sorri.
– Eu também. - ele me abraçou e ficamos um tempinho assim sem falar nada, só sofrendo e curtindo o luto.