Capítulo 8
– Você pode me contar a história direito? - eu respirei fundo, sentei ao seu lado e contei. Falei sobre a história que minha mãe contou e o motivo para Nathan dormir no meu quarto e joguei tudo em cima dela.
Charlotte levou alguns segundos para assimilar tudo com clareza, a única coisa que ela fazia era arregalar os olhos.
– Então agora sua mãe namora? - eu levantei uma sobrancelha.
– Não achei que esse fosse o primeiro assunto que quisesse falar.
– Só responde a minha pergunta.
– Sim, ela namora. Com um tal de Richard que tem um filho mais ou menos da minha idade.
– Então você já sabe, se ele for gato me apresenta.
– Combinado. Agora pode mandar, estou ouvindo. - ela olhou dentro dos meus olhos e suspirou.
– Jessica, você prometeu pra mim. Você prometeu que não ia ter esperanças, que ia dar um fim nisso, você prometeu.
– Eu sei, Charlie. Eu sei. Mas as coisas aconteceram, e eu não quero acabar com a amizade dele. - ela levantou da minha cama e encarou a janela que estava fechada.
Nathan estava deitando na cama, lendo alguma coisa com os fones no ouvido e de algum jeito parecia mais bonito que nunca, só por estar natural.
– Jessie, eu já fiz o meu papel. Já falei, aconselhei e briguei, agora está por sua conta. Só se lembre que não tem como brincar com fogo e não se queimar. - encarei o chão.
– Eu sou apaixonada por ele. - sussurrei, ela sorriu sem humor.
– Você é ou está? - parei pra pensar na pergunta. Eu realmente não sabia o que dizer.
– Hã...hum...
– Antes de tomar conclusões, Jessica. Pense a respeito. Sinta! Fale a verdade e veja como ele reage, depois tome decisões.
>>o
– Obrigada pelo almoço e tudo mais. - falou Charlie saindo da minha casa.
– De nada, obrigada pelos conselhos e tal.
– Estou aqui pra isso, depois me conte o que decidiu, o que fez...
– Pode deixar. - ela beijou minha bochecha e andou em direção ao seu carro.
Fechei a porta com a mente longe, a minha conversa com Charlotte foi mais difícil do que eu imaginava. Ela realmente me deu o que pensar.
– Jessie? - gritou minha mãe da cozinha.
– O que foi?
– Será que tinha como Richard vir aqui hoje? - eu sorri.
– Claro. - eu não podia ver, mas sabia que ela estava com um sorriso enorme.
– Você tem apenas algumas horas antes de prepararmos o jantar.
– Aproveita esse tempo, mãe, para procurar alguma receita que você saiba fazer. - ela suspirou.
– Vou ter que buscar na internet. - eu ri.
– Boa sorte.
Subi ao meu quarto para pegar um casaco, estava decidida a ir à casa de Nathan. Talvez ver o filme, talvez conversar se eu tivesse coragem de dizer algo. Avisei minha mãe aonde estava indo e saí de casa com o coração na mão.
– Eu sabia que era você. - falou Nathan abrindo a porta.
– E eu posso saber como?
– Eu ouvi o carro da Charlotte indo embora e eu pensei que era questão de tempo até você aparecer aqui.
– Você está ficando mesmo convencido. - ele deu de ombros e eu passei pela porta.
– Quer ver algum filme em especial?
– Não, pode escolher.
– Aventura? Ação? Romance? - fiz uma careta para a última opção e ele riu.
– Não gosta da melação de Hollywood?
– Não muito. Gosto mais da melação dos livros.
– Está certo, então. Vamos ver uma aventura. - ele subiu as escadas e eu fui atrás.
– Onde está sua mãe? - perguntei e ele apontou uma porta.
– No escritório fazendo alguma coisa que eu não faço ideia.
– Devo falar com ela?
– Melhor não, quando ela se tranca lá dentro odeia ser interrompida.
– Então tudo bem. Vamos ver o filme aonde?
– Pode ser no meu quarto se você não ficar muito intimidada. - eu suspirei.
– Sua cama não me intimida. - ele deu de ombros.
– Então estar tão perto de mim é o verdadeiro motivo. - foi a minha vez de dar de ombros.
– Talvez seja isso. - ele me encarou, mas não respondeu.
>>o
– Nathan, eu acho que não me convidei para vir. - ele me encarou confuso.
– Como assim? - perguntou.
– Você está digitando no celular desde que sentamos para ver o filme, se não quisesse a minha presença não precisava ter convidado. - Nathan ficou sem graça e encarou o celular.
– Eu estava conversando com... é... - levantei uma sobrancelha.
– Com quem?
– Megan. - eu fiquei sem saber o que falar. Megan é simplesmente a garota mais bonita que eu conheço, tem um corpo incrível, anda como se o mundo fosse dela e ninguém pudesse ultrapassar o seu caminho. Na verdade, o Nathan estar com ela faz todo o sentido do mundo.
– Ah... é... Ela parece ser uma garota legal. - falei apenas.
– Não, ela não parece. Mas pelo incrível que pareça ela é. Estamos conversando a tarde toda.
– Sei... - eu tentei deixar o clima menos constrangedor. - Então, vai chamar ela pra sair?
– Ainda não sei, estou pensando. - ele estava visivelmente desconfortável. Eu sou uma idiota!
– Não tem por que desperdiçar a oportunidade, não é? - Nathan me olhou nos olhos com sentimentos que não consegui decifrar.
– É, acho que não... Então, acha que eu devo?
– Com certeza, ela é muito bonita. - meu coração ficou do tamanho de uma noz e eu não podia falar nada pra ele.
– Ela é mesmo. - o silêncio reinou no quarto. Voltamos a olhar para o filme e ele não mexeu mais no celular.
>>o
– Obrigado pelo convite, mas agora eu tenho mesmo que ir. - falei.
– Ah por quê?
– Tenho que ajudar minha mãe com o jantar para o namorado dela.
– Então é hoje que você vai conhecer o tal Richard?
– E o filho dele. - comentei propositalmente. Nathan diminuiu o sorriso com o comentário e o meu coração deu um pequeno salto.
– Certo, e o filho. Não quero que se atrase para o tal jantar.
– Não vou. - dei um beijo na bochecha dele e abri a porta. Enquanto caminhava pensei no que queria dizer o fato dele conversar com a Megan. Será que eu perderia meu melhor amigo? E pior, será que perderia o coração dele que já não era meu?
– Jessica, está atrasada. Preciso da sua ajuda. - gritou minha mãe da cozinha assim que fechei a porta.
– Desculpe, já estou indo.
Quando cheguei na cozinha, minha mãe encarava o notebook perdida com vários ingredientes em cima da bancada e as panelas em cima do fogão. Eu sorri.
– Está tudo bem, mãe?
– Não, estou desesperada. Não sei cozinhar nada que preste.
– O que pretende fazer?
– Por enquanto nada. Apenas receitas ao acaso.
– Por que você não escolhe uma coisa fácil?
– Tipo o quê, exatamente?
– Macarrão. - falei e ela revirou os olhos (nem sabia que ela fazia isso).
– Macarrão é muito simples, Jessica.
– Por isso que você pode procurar um macarrão com algum molho com nome bonito que seja fácil de fazer. - eu peguei o notebook enquanto ela considerava a questão.
– Acho que pode funcionar. - eu sorri.
– Achei um. Macarrão ao molho Carbonara. Não é difícil de fazer e tem um nome bonito. - minha mãe beijou minha testa.
– Você é brilhante.
– Eu sei, agora vamos trabalhar.
>>o
– Mãe, vai se arrumar. Já está quase tudo pronto, eu termino pra você. - ela encarou as panelas mais uma vez.
– Tem certeza?
– Absoluta. Agora vai se arrumar. - ela sorriu e subiu as escadas correndo.
Não podia deixar de pensar no quanto a minha mãe parecia feliz com esse cara, eu só esperava que ele fosse realmente um cara legal. Não queria que ela se magoasse. E por falar em mágoa, lembrei do Nathan e no quanto eu poderia me magoar.
Pensei em ligar para Charlotte, mas não estava no clima para ouvir um "eu te avisei", então apenas deixei a suposta frustração escondida pra mim.
Assim que o macarrão ficou pronto, subi as escadas e bati na porta do quarto da minha mãe, antes que eu pudesse me vestir queria saber o que ela queria que eu vestisse.
– Pode entrar! - abri a porta e dei de cara com a minha mãe, maquiada, perfumada e bem arrumada.
– Uau. - disse apenas e ele sorriu.
– Obrigada, não acha muito exagerado?
– Com certeza não. Eu vim perguntar sobre minha roupa, mas acho que vamos nos arrumar.
– Sim, nós vamos. Por favor, se você puder colocar aquela saia. - eu não precisava perguntar. Eu já sabia de que roupa ela estava falando, havia meses que eu me recusava a usar aquela saia rodada e minúscula, mas se era para a felicidade da minha mãe...
– Está bem, mas só dessa vez. Por favor... - ela me abraçou.
– Obrigada, filha. Você não sabe o quanto isso significa pra mim.
– Sim, eu sei. Agora vai arrumar a mesa que eu vou tomar banho.
>>o
Como eu já estava atrasada, tomei um banho bem rápido e encarei a saia no meu closet. Eu não queria vesti-la, me sentia meio sem jeito com ela, mas se era o que a minha mãe queria. Se a Charlotte não tivesse usado ela uma vez, eu não saberia com que blusa usá-la, mas graças a ela eu tinha uma ideia.
Penteei o cabelo e deixei ele solto, não sabia me maquiar, mas passei um batom para deixar minha mãe feliz e passei perfume. Encarei para os sapatos de boneca que estavam no fundo do closet, mas achei que já era demais. Sorri e peguei um All Star. Antes que eu terminasse de calçá-los, a campainha tocou. Pude ouvir a voz da minha mãe meio cantada, meu Deus ela estava mesmo apaixonada. Suspirei e me encarei no espelho.
– Boa sorte! - gritou Nathan me dando susto. Ele me encarava pela janela.
– Obrigada, acho que vai dar tudo certo.
– Espero que sim. E Jessie, você está simplesmente incrível. - eu sorri sem graça e saí do quarto.
>>o
Desci as escadas devagar, meio sem jeito de conhecer o novo namorado da minha mãe, mas acho que devia um sorriso por ela.
– Jessica? - chamou minha mãe e eu sorri.
– Desculpa o atraso. - eu tinha razão. O homem que me encarava era bonito, tinha os olhos castanho claro que pareciam bondosos, era um pouco grisalho, tinha um sorriso branquíssimo e bem bonito, as rugas ao redor dos olhos o deixava mais charmoso.
– Sem problemas, quero que conheça alguém. - eu me aproximei e ele abriu mais o sorriso. - Esse é o Richard, Richard essa é minha filha, Jessica.
– É um grande prazer, sua mãe fala bastante de você. - eu sorri.
– Ás vezes ela pode ser bem tagarela.
– Ela tem orgulho de você. - sorri sem graça. Antes que eu precisasse responder, ouvi a porta do banheiro batendo e me virei a tempo de vê-lo.
– Ah, Jessica. Esse é o meu filho William. - eu sorri sem jeito.
Minha mãe tinha esquecido de mencionar que o William era um gato. Ele tinha os olhos claros (não sei dizer se são verdes ou azuis, acho que uma mistura dos dois), o sorriso tão lindo quanto o do seu pai, ele vestia uma camisa social que definia mais o seu corpo que parecia musculoso, o seu cabelo bem cortado era castanho claro.
– É um prazer conhecê-la. - falou ele beijando a minha mão. Sim, ele me beijou a minha mão, senhoras e senhores.
– Igualmente.
– Agora que estamos devidamente apresentados, vamos jantar?
>>o
– Então, Richard você trabalha com a minha mãe?
– Sim, nós dois somos do mesmo setor.
– Ele está sendo modesto. Ele é diretor e eu a gerente.
– Então, você é o chefe dela? - ele sorriu meio sem jeito.
– Não exatamente.
– Não precisa explicar com detalhes. Mas vocês são de Nova Jersey?
– Não, somos de Nova York. - eu sorri. Eu simplesmente amava Nova York.
– Que lugar? - perguntei.
– Manhattan. - ah meu Deus, eles eram de Manhattan.
– Fantástico, adoro Manhattan. - falei e William sorriu.
– Já tem motivos para ir pra lá. - eu tentei entender a frase enquanto a minha mãe ria.
– A Jessica tem dificuldade em desapegar da casa. - falou e eu tentei entender a minha mãe.
– Ele estava falando de visita, mãe. Não morar em Nova York.
– Mas a New York University não está na sua lista? - eu dei de ombros.
– Está sim.
– Então pronto! - eu sorri e voltei a comer.
Esse jantar ia ser extremamente encantador!

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