Eu fiz um coque no cabelo e fui abrir a janela, por algum motivo Nathan não estava com o sorriso confiante de sempre e isso me preocupou. Depois me lembrei que isso não deveria me preocupar.
– Olá. - falei.
– Olá. - respondeu apenas. Ele entrou e sentou na minha cama com cautela. Eu sentei ao seu lado com alguns centímetros de distância.
– A gente precisa conversar. - falei e ele suspirou.
– Imaginei que fosse falar isso.
– Eu posso saber como?
– Você não falou comigo o dia todo, eu estranhei. Na verdade, você estava estranha. Não olhava pra mim, não falava comigo, eu fiquei até preocupado de você não abrir a janela pra mim hoje. - eu encarei meus pés.
– Eu só precisava passar esse dia pensando.
– Sobre?
– Eu não posso beijar você. - Nathan me encarou sem entender por um momento e continuou me olhando em completa confusão.
– Por quê?
– Porque somos amigos e amigos não se beijam. Fiquei com medo que eu pudesse confundir as coisas e acabar gostando de você mais do que devia. Então acho melhor acabar antes de começar para ninguém se machucar.
– Por que você e não eu? - foi a minha vez de olhá-lo confusa.
– Como assim?
– Por que você iria se apaixonar por mim e não ao contrário? - continuei confusa.
– Ah, não sei. Porque você já fez isso antes, já deve ter beijado várias garotas e provavelmente não se apaixonou por elas.
– Nem tantas.
– Sei, mas a questão não é essa. Só tem dois caminhos para isso: Ou nós paramos ou continuamos. E se continuarmos as coisas vão ficar sérias e eu terei que pensar em namoro, creio eu que você não tenha pensando tão longe, então escolhi a outra opção por você. - para minha surpresa Nathan sorriu.
– Você realmente pensou em tudo.
– Por isso que eu me afastei de você hoje. Eu vim andando da escola até em casa exatamente para isso, pensar.
– Se é isso que você quer...
– É isso que eu quero. - falei confiante.
– Tudo bem, seremos bons amigos. - ele estendeu a mão pra mim e eu apertei firme. - Certo e agora?
– Como assim, e agora? Vamos conversar como antes.
– Sobre o que quer falar? - perguntou e eu o encarei.
– Minha vez de fazer as perguntas.
– Justo, pode começar.
– Qual a sua música preferida?
– Here Comes The Sun - The Beatles.
– Beatles, é? Interessante.
– Obrigado.
– Qual o seu sentimento preferido?
– Como assim? - eu sorri.
– Qual é o sentimento que você mais gosta de sentir? - ele pensou um pouco e depois sorriu.
– Amor. - eu o encarei incrédula.
– Por quê?
– Acho que o amor engloba os outros melhores sentimentos: felicidade, paixão, desejo, saudade...
– Entendi. - falei apenas, mas estava pensando no quanto o garoto que estava na minha frente era incrível. - Qual o seu lugar preferido?
– Central Park, Nova York.
– Não vou perguntar que lugar sonha visitar porque eu dei uma olhada nas suas fotografias. O que você mais gosta de fazer?
– Ouvir música, sem dúvida.
– Toca algum instrumento?
– Guitarra, mas tenho vontade de tocar piano. - eu sorri sem graça.
– Eu toco piano e tenho vontade de tocar guitarra.
– Sério?
– Sim, estranho, não? - ele deu "aquele" sorriso.
– Não acho. - tentei não beijá-lo imediatamente, respirei fundo e encarei meus pés.
– Eu queria que você lesse a sua poesia preferida daquele livro.
– Tudo bem, me empresta seu exemplar.
Enquanto eu caminhava em direção a minha prateleira, eu pensei se aquela amizade ia dar certo. Se eu ia conseguir olhar dentro dos seus olhos e não sentir vontade de beijá-lo. Voltei pra cama e entreguei o livro tomando o cuidado para as nossas mãos não se tocarem. Ele foleava as páginas com calma e eu o avaliava sobre a luz do abajur.
– Achei. Vou ler E Se...

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E se Romeu não amasse Julieta?
E se Leonardo não pintasse a Monalisa?
E se Beethoven não escrevesse Pour Elise?

E se Eros não tivesse Psiquê?
E se Shakespeare não falasse de amor?
E se Helena não começasse a Guerra de Tróia?

E se Camões não escrevesse Sonetos?
E se Cleópatra não conhecesse Júlio César?
E se as princesas não encontrassem seus príncipes?

De uma coisa tenho certeza
O mundo não é o mesmo sem amor
E eu não sou o mesmo sem você.

Silêncio no quarto, a voz dele ficava tão melodiosa quando ele lia, de alguma forma Nathan passava uma emoção que eu não entendia para a poesia.
Nos olhamos dentro dos olhos um do outro, nem piscamos, mal respiramos. Eu não sabia o que ele estava pensando, mas se fosse o mesmo que eu, as coisas iam tomar outro rumo.
– Essa poesia é realmente linda. - falei e ele sorriu.
– Sim, é mesmo. Um dia quero sentir a mesma coisa que o autor sentia quando escreveu isso.
– Acredita no amor verdadeiro?
– Claro, se eu não acreditasse não faz sentido lutar tanto pela felicidade.
Eu cheguei perto dele, tão perto que podia sentir a sua respiração na minha pele, eu agia de acordo com o meu coração e ignorei o meu racional por alguns minutos. Encostei os meus lábios no dele devagar, sem pressa, me afastei com cautela e voltei a encarar seus olhos, eles brilhavam.
– Você disse... - começou.
– Eu sei o que eu disse. - falei apenas.
Eu o beijei de novo com calma, o beijei devagar e ele seguia o mesmo ritmo. Não tinha pressa, medo, só o desejo de estar junto por estar. Seu beijo era doce e eu tinha a sensação de olhar para um pôr do sol sobre o mar de verão, sereno e eterno.
Dessa vez não nos beijamos com o corpo e sim com a alma, foi romântico e fofo, e eu não sabia o quão ele era assim até aquele momento, dentro do meu quarto.
Quando nos afastamos e eu olhei pra ele, o seu olhar era de confusão e surpresa, o que me surpreendeu. Eu não sabia exatamente o que esperar dele, mas com certeza não era isso.
– Eu... - comecei, mas ele me interrompeu.
– Por favor, Jessica, não estraga tudo. - eu não sabia o que ele queria dizer, mas também não estava disposta a discutir. Então fiquei em silêncio e ele também. A única coisa que se ouvia era a batida dos nossos corações em um só ritmo.
– Acho que eu tenho que ir. - eu assenti. Levantei devagar e abri a janela.
– Boa noite, Nathan. - sussurrei, ele me deu um beijo demorado na bochecha.
– Boa noite, Jessica.
Depois que eu fechei a cortina e deitei na minha cama, repassei as imagens da última noite na minha cabeça repetida vezes até entender o que tinha acontecido, mas eu não conseguia achar motivos. Eu tinha dito algo e depois mudado de ideia, isso não fazia o menor sentido. Alguma coisa estava acontecendo e eu não sabia se queria descobrir.
>>o
Era de manhã, alguns raios de sol passavam pela cortina e eu não sabia muito bem como agir com o Nathan. Antes eu estava tão decidida sobre o que fazer e tinha dado tudo errado (ou tudo certo?). De qualquer maneira, acho que nada saiu como o esperado e eu não sabia como agir com ele de novo. Por que tudo tinha que ser tão confuso?
Respirei fundo e levantei, já era sexta feira e pensar que quatro dias antes eu pensava sobre como fazer Nathan olhar pra mim. Sorri diante da constatação idiota.
Não parecia estar tão frio, então coloquei um casaco mais fino e abri a janela. Nathan colocava um moletom e estava com o olhar fixo em alguma coisa que eu não conseguia ver. Peguei minha bolsa e desci as escadas.
– Bom dia, desceu cedo. - comentou minha mãe colocando os sapatos.
– Bom dia, é que eu quero carona. Pode me levar na escola?
– Claro, só temos que sair daqui cedo.
– Sem problemas. - comentei, peguei minha tigela e cereal.
– Jessie, aconteceu alguma coisa ontem a noite? - eu tentei agir naturalmente.
– Como assim?
– Ah não sei. Você está com o cabelo preso, mas com as roupas mais justas. Achou um equilíbrio? - eu sorri (aliviada).
– Acho que sim. Eu realmente comecei a gostar delas, não preciso provar nada para o Nathan para usá-las.
– Tudo bem, então.
Não nos falamos mais, saímos de casa em completo silêncio. Eu resolvi não pensar em nada, desde que Nathan e eu viramos "amigos" a única coisa que eu tenho feito é pensar.
– Por que pediu carona pra mim hoje? - perguntou minha mãe assim que ela acelerou o carro.
– Porque você tem carro e mora comigo.
– Agora, a verdade.
– Não queria pedir carona para a Charlotte, nem para Nathan, mas também não queria ir de ônibus ou andando, então só sobrou você.
– Muito gentil da sua parte. - eu dei de ombros e voltei a encarar a janela. Minha mãe se ajeitou desconfortavelmente no banco e tossiu para chamar a minha atenção.
– Aconteceu alguma coisa? - perguntei.
– Eu... é... não vou jantar em casa hoje. - eu a encarei.
– Por quê?
– Porque tenho um jantar marcado com um dos investidores. - falou e eu sabia que ela estava mentindo, mas a pergunta era por que?
– Sei, e quem são?
– Investidores chineses para a empresa.
– Aham, e os nomes? - ela levantou uma sobrancelha.
– Você é jornalista ou da polícia? - eu ainda não tinha acreditado, mas sabia que ela não ia falar mais nada.
– Desculpe. Então, sei lá, diverta-se. - falei apenas.
– Obrigada. Não me espere acordada. - eu assenti em silêncio.
Antes de descer do carro, beijei o topo da sua cabeça, acho que por algum motivo estávamos nos aproximando muito no meu último ano em casa, o que era meio irônico.
– Tenha um bom dia. - falou e eu sorri.
– Você também.
Caminhei em direção ao meu armário pensando exclusivamente na minha mãe e no que ela poderia estar escondendo de mim, da sua única filha. A única pessoa que ela tem.
– E aí? Que cara é essa? - perguntou Charlotte parando ao meu lado no armário.
– Acho que minha mãe está escondendo alguma coisa de mim. - Charlie me encarou surpresa.
– Por que sua mãe esconderia algo de você?
– Eu não sei, é isso que eu quero saber.
– Você não está paranoica?
– Não, ela está diferente, estranha.
– Ah Jessie, dá um tempo pra ela. Vocês passaram por momentos difíceis no último ano. - eu respirei fundo.
– Você tem razão.
– Normalmente, eu tenho. - eu dei um soco leve no seu braço sorrindo.
– Último dia de aula da semana, vamos?
– Gracias a Dios! Vamos.
>>o
Antes que eu pudesse pensar em ir embora de ônibus, Nathan apareceu com seu sorriso e seu casaco de moletom.
– Então, Jessie, planos para hoje a tarde?
– Na verdade não. Por quê? Quer que eu arrume seu quarto de novo?
– Tentador, mas não. Eu só quero dar uma volta. Tomar uma bebida quente e conversar. - eu sorri.
– Tudo bem, vamos lá.
Pela primeira vez íamos conversar em lugar diferente do habitual, o que era um passo e tanto. A gente mal se falava na escola e acabava que conversávamos apenas no meu quarto, quando a gente conversava.
– Aonde quer ir, Jessica? - perguntou Nathan assim que entramos no carro.
– Você que está dirigindo.
– Eu só queria te dar o poder da escolha, sua insensível.
– Ah desculpe. Starbucks? - ele sorriu.
– Achei que você fosse menos óbvia.
– Você pediu para eu escolher.
– Está certo, culpa minha. Que seja, Starbucks.
Não conversamos muito no caminho, apenas ouvimos música e cantamos. Mas mesmo assim, o tal jantar da minha mãe não saía da minha cabeça.
– Aconteceu alguma coisa?
– Não, por quê?
– Estava encarando o vidro.
– Eu estava pensando. - ele soltou uma risada curta.
– Achei que tivesse aprendido que isso não funciona. - não me permiti ficar sem graça.
– Eu não estava pensando em você, humilde. Eu estava pensando na minha mãe.
– Certo, o que tem a sua mãe? - Nathan estacionou o carro a alguns metros de distância da cafeteria e eu esperei a gente sair do carro para responder.
– Acho que ela está mentindo pra mim.
– Por que acha isso?
– Porque toda vez que eu faço umas perguntas ela fica sem graça, vermelha e desvia o assunto.
– Tem algum palpite em mente?
– Na verdade, não. Eu achei que ela me contasse tudo.
– Todo mundo guarda segredos, Jessie. - não respondi. Entramos no Starbucks e fizemos logo os nossos pedidos, sentamos em uma mesa afastada da porta, bem mais quentinha.
– Quer falar sobre o quê? - perguntei.
– Vai se candidatar a quais faculdades ano que vem?
– Acho que a Harvard, Yale, Princeton e Universidade de Nova York. - ele riu.
– Parece que você não sonha baixo mesmo. - eu sorri meio sem jeito.
– Eu tenho nota pra isso, então por que não arriscar?
– Está certíssima. Eu só não tenho a mesma sorte.
– Vai se candidatar para quais? - ele pareceu pensar.
– Não sei. Tenho que pesquisar ainda.
– Não tem nenhuma ideia?
– Não. - eu o encarei surpresa.
– Coragem.
– Eu sei, eu confesso que quero pensar nisso mais daqui pra frente, o ano letivo mal começou.
– Está certo. Você é do tipo que curte o presente?
– Sim, eu sou.
– Acha isso algo bom?
– Acho sim, não que eu não ache que pensar no futuro não é importante, mas quando você não planeja tanto você se decepciona menos. - eu tentei pensar sobre isso por um momento, mas desisti.
– No fundo até que pode está certo. - ele deu de ombros, mas não respondeu.
O resto da tarde foi agradável, conversamos muito sobre o futuro e o presente. Terminamos de beber nossa bebida quente e resolvemos dar uma volta de carro sem rumo certo. Rimos e cantamos bastante, acho que conhecemos melhor um ao outro.
Quando finalmente decidimos ir para casa já era de noite, como minha mãe não ia pra casa eu não fiquei preocupada. Porém algo me chamou atenção quando começamos a chegar perto da minha casa.
– Aquela é a minha mãe?
– Espero que sim, já que está saindo da sua casa.
Era mesmo ela, com um vestido longo e salto alto, eu não precisava estar perto para saber que ela estava usando maquiagem.
– Passa direto, eu quero ver quem ela está esperando.
– Você vai espionar sua mãe?
– Já que ela não me conta o que está acontecendo.
– Você que manda.
Nós passamos pela minha casa e estacionamos em frente a casa do vizinho de frente do Nathan, eu não sabia muito bem o que esperar, mas a minha mãe parecia ansiosa.
– Jessie, você não acha loucura?
– Não, não acho. - antes que ele pudesse responder um carro parou em frente a minha casa. Um homem de terno que parecia ser até bem bonito da distância onde eu estava andou em direção a minha mãe e beijou a sua mão.
Eu tentei entender a cena que se passava com cautela, não queria tomar conclusões. Antes que eu pudesse tirar a ideia da minha mente, o tal homem beijou a minha mãe. BEIJOU A MINHA MÃE NA BOCA! Imaginem a minha surpresa com tudo aquilo.
– Jessie, eu... - eu não ouvi o que Nathan dizia, eu só encarava aquela cena confusa.
– Minha mãe tem um namorado. - sussurrei e ele ficou quieto.
– Jessie, você não...
– Minha mãe tem um namorado. - eu não estava conseguindo assimilar aquilo.
Antes que eu decidisse o que fazer, minha mãe e o tal homem entraram no carro e partiram para o tal jantar. Eu não conseguia acreditar que a minha mãe tinha um namorado e não me contou. Eu abri a porta do carro e saí em direção a minha casa, Nathan veio atrás de mim.
– O que você está fazendo? - perguntou.
– Eu não sei. A minha mãe tem um namorado.
– Quer conversar?
– Na verdade, eu quero ficar sozinha. Tudo bem?
– Claro, eu te vejo mais tarde? - perguntou ele apontando para a janela.
– Tudo bem, no horário de sempre. - ele assentiu e voltou em direção ao carro.
Eu entrei em casa sem saber ao certo o que fazer, a minha mãe tinha um namorado. A minha mãe tinha um namorado. A minha mãe tinha um namorado. A minha mãe tinha um namorado.
Resolvi tomar um banho, afinal era a única coisa que me relaxava por completo. Enchi a banheira e me permiti descansar sob a água quente. Tentei assimilar o que eu tinha acabado de descobrir, tentei entender porque ela não tinha me contado, tentei entender tudo o que estava acontecendo.
Como era de costume, eu acabei dormindo e acordei algumas horas depois. Faltava apenas uma hora para Nathan chegar e eu não tinha nem comido. Saí do banheiro e coloquei a primeira roupa que vi, não estava no clima. Desci as escadas e fui esquentar o que tinha sobrado da pizza.
Comi mais rápido do que de costume e voltei para o meu quarto e escovei os dentes, enquanto me encarava no espelho pensei no motivo de ter ficado tão brava com ela por não ter me contado e tudo veio novamente. O último ano.
Quando Nathan bateu na minha janela eu o encarei com lágrimas nos olhos.

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