Eu me virei e o encarei. Nathan sorria pra mim enquanto se equilibrava no galho da árvore, abri a janela devagar e esperei ele entrar.
– Não tem medo desse galho quebrar? - ele sorriu.
– Se eu tivesse, acha que eu me arriscaria assim?
– É, acho que não.
– Exatamente. - Nathan sentou na minha cama e eu comecei a guardar as coisas que estavam em cima dela.
Por algum motivo desconhecido, eu senti o olhar dele em mim e estranhei. Tentei não olhar pra ele, mas a curiosidade estava me matando. Eu me virei para encará-lo e ele estava realmente olhando pra mim.
– O que foi? - perguntei e ele sorriu sem graça.
– Estava olhando pra você.
– Isso eu percebi, mas por que? - ele deu de ombros.
– Você está de short. - tentei não ficar sem graça.
– E daí?
– Nunca tinha visto as suas pernas antes. - eu sorri.
– E o que tem? São só pernas.
– Eu sei, mas elas são firmes e fazem curvas. Você malha? - eu quase gargalhei na cara dele, mas me controlei.
– Não, eu fiz balé a minha vida toda. Acho que as minhas pernas se acostumaram a ficar assim.
– Deveria mostrar mais suas pernas.
– Eu deveria deixar meu cabelo solto e minhas pernas a mostra. Anotado, tem mais alguma dica? - ele riu.
– Pensarei em alguma coisa. - andei devagar em direção a minha cama, fiquei meio receosa de sentar perto dele.
– Tem perguntas essa noite? - sentei a um palmo de distância e ele percebeu porque chegou mais perto.
– Eu não mordo, sabia?
– Ah desculpe. E então, perguntas?
– Não essa noite. Achei que a gente podia conversar apenas.
– E quer falar sobre o quê?
– Sua amiga, Charlotte, eu tenho a impressão de que não gosta de mim. - eu enrolei o cabelo no dedo.
– Não é isso, é que ela tem medo por mim.
– Como assim?
– Ela conhece o Nathan Gilbert que todo mundo conhece e acha que você está apenas se divertindo e fingindo ser meu amigo, enfim ela está com medo por mim. - ele ficou em silêncio por um tempo.
– Você contou sobre o beijo, não foi? - eu assenti sem graça.
– Ela é minha melhor amiga, precisava saber. E para falar a verdade, quem contou foi você. - ele deu de ombros.
– Então é por isso que ela não gosta de mim, porque eu te beijei? Mas pode avisar pra ela que eu me importo mesmo com você, e que jamais iria te magoar. - eu fiquei sem saber o que dizer por um tempo.
– Eu aviso sim. - eu comecei a desenhar círculos na minha perna com o dedo e ele pegou a minha mão.
– Jessica, se eu te beijasse agora você ficaria chateada comigo?
– E por que você faria isso? - ele sorriu.
– Porque sim. - eu levantei o rosto e o encarei por um momento. Somente a luz do abajur estava ligada e seus olhos castanhos pareciam brilhar na pequena luminosidade. Antes que eu me arrependesse, o beijei.
Nathan, com certeza, não esperava por isso, mas se recuperou rapidamente e me beijou com mais intensidade. Ele pegou no meu cabelo e o puxou levemente o que provocou uma sensação nova e impressionante. Coloquei as minhas mãos na sua nuca e o puxei mais pra perto com vontade, antes que eu percebesse eu estava escorregando da cabeceira e deitando no colchão. Dessa vez, Nathan nem pensou e deixou o seu corpo encostar no meu. Minha mente parecia explodir em pleno frenesi e eu queria mais, e mais, e mais.
Antes que eu pudesse protestar, para minha surpresa, ele tirou a sua blusa cinza e eu olhei para o seu abdômen provavelmente com uma cara engraçada, porque ele riu.
– Nathan, eu...
– Faz um favor pra mim, fica quieta. - eu obedeci prontamente, já que ele me beijou. E eu fiz aquilo que estava com vontade de fazer desde aquele dia da mudança. Passei os dedos devagar e pude sentir todos os músculos do seu abdômen enrijecidos. E em momento nenhum, Nathan parou de me beijar.
Eu sinceramente não esperava que aquele momento acabasse nunca. Suas mãos saíram do travesseiro e começaram a contornar o meu corpo devagar, eu tinha consciência da mão dele em cada parte do meu corpo, das pernas até a cintura onde ele começou a desenhar círculos com a ponta dos dedos suavemente. Eu sabia o que ia acontecer em seguida, então antes que as coisas ficassem perigosas, eu me afastei devagar.
– Eu só... - comecei, mas ele me interrompeu.
– Eu sei, eu sei... - ele disse me fazendo sorrir.
Nathan deitou ao meu lado e encarou o teto do meu quarto, meu coração estava acelerado e minha respiração descontrolada, pior do que se eu tivesse corrido uma maratona. Não falamos nada nesse tempo, mas ele pegou a minha mão e ficou fazendo círculos com o polegar. E a única coisa que eu pensava era: "Eu fiz tudo errado e Charlie vai me matar. E eu não posso contar isso pra minha mãe de jeito nenhum."
– Jessie? - sussurrou Nathan.
– O quê?
– Acha que eu fui longe demais? - eu sorri.
– Você lembra de me ouvir dizendo "não faça isso, por favor?". - ele sorriu e se virou para me olhar. Ficamos de frente um para o outro, mas ainda deitados.
– Acho que isso não vai fazer sua amiga gostar de mim, não é?
– Realmente Charlotte vai ficar decepcionada comigo.
Ficamos em silêncio novamente e inconscientemente passei o dedo devagar pelo seu abdômen ainda descoberto. Quando ele riu, eu fiquei tão sem graça que enterrei o rosto nas mãos.
– Desculpe, eu fiz sem pensar.
– Ei, não se preocupe com isso. - ele puxou as minhas mãos e olhou pra mim. - Eu não acho nada demais.
– Que vergonha!
– Jessica, você faz isso com tanta inocência que chega ser um pouco engraçado.
– Eu não sei se isso é algo bom ou ruim.
– É bom, acredite em mim. É diferente.
– Mas mesmo assim, eu não deveria fazer. Eu sou uma idiota.
– Você não é idiota. Acha que não tem noção de como é sexy. - eu não pude deixar de rir. Sexy é demais pra mim.
– Eu tenho noção de algumas coisas e uma delas é que eu não sou sexy.
– É sim e o fato de não saber só faz você ser mais sexy ainda.
– Ainda não acredito em você.
– Você me deixou tão maluco que quando eu percebi estava sem blusa. Eu quase me arrependi, mas aí você me olhou com desejo e medo ao mesmo tempo e a minha mente enlouqueceu de novo. - eu não sabia como responder a isso, eu não sabia como agir diante dessa informação.
– Isso sai tão fácil da sua boca.
– Acha que eu não fico sem graça? Eu só não deixo isso atrapalhar. Estamos conversando, estamos sendo sinceros.
– Na verdade, você está sendo sincero. Eu não falei nada.
– Então diga, fala a verdade. Fala pra mim o que sentiu ontem e hoje. - eu pensei em falar que gostava dele desde do primeiro ano, mas isso podia assustá-lo e eu não queria estragar tudo, então deixei apenas as palavras saírem da minha boca.
– Ontem foi diferente de hoje. Ontem foi fofo e quase romântico, eu sabia que você se controlava para não me assustar, afinal era meu primeiro beijo. Você criou toda uma cena como um filme. Mas hoje eu percebi que a última coisa que você queria era se controlar, eu senti coisas que nem sabia que eu sentia como desejo e vontade, eu esqueci que precisava respirar, na verdade eu acho que nem queria respirar... - eu fiquei vermelha assim que terminei de falar, isso que dá falar tudo o que vier a cabeça. Nathan não respondeu, apenas me encarou e eu pensei que finalmente tinha conseguido estragar tudo.
– E depois diz que não é sexy. - sussurrou e antes que eu pudesse responder, ele me beijou novamente com vontade e desejo. Eu quase podia prever seus movimentos, mas mesmo assim não deixou de ser surpreendente.
Ficamos assim por tempo indeterminado, na verdade a gente só se separou porque o meu relógio na escrivaninha apitou. Nós nos assustamos e nos separamos rapidamente, depois rimos de nós mesmos.
– Sabe, Nathan, são duas da manhã. Acho que você tem que ir embora.
– Está me expulsando?
– Não, mas uma hora você tem que ir. Senão vai dormir aqui.
– Isso é convite?
– Nathan! - ele riu.
– Eu sei, estou brincando. Pode, por favor, me dá a minha blusa? - eu assenti sem jeito e joguei a blusa pra ele.
Enquanto Nathan colocava a blusa, eu pensava no que ia acontecer agora e se isso ia virar uma rotina. Não que no fundo eu me importasse, mas mesmo assim isso ia gerar consequências e eu sabia disso.
– Jessie?
– O que?
– Boa noite. - falou, eu me levantei para abrir a janela pra ele.
– Boa noite. - antes de ir, ele beijou a minha bochecha (o que eu achei meio irônico).
Fechei a janela e depois a cortina com um sorriso, as coisas estavam tomando proporções grandes e estavam cada vez mais complicadas.
>>o
Acordei alguns minutos antes do meu despertador tocar, então me dei o luxo de ficar pensando na cama. Eu tinha que tomar uma atitude, afinal as coisas estavam ficando sérias pelo menos pra mim e eu não podia deixar isso continuar.
Assim que levantei mandei uma mensagem para Charlotte, eu simplesmente não podia ir para a escola com Nathan de novo. As coisas tinham que mudar e a mudança ia ter que partir de mim.
Tomei um banho rápido e coloquei uma roupa quente e larguinha, respirei fundo e prendi o cabelo em um rabo de cavalo. Coloquei um All Star e desci com a mochila.
– Bom dia, filha. - minha mãe estava começando a fazer o café.
– Bom dia, mãe. Dormiu bem?
– Dormi sim e você?
– Também.
– O que aconteceu? - perguntou sentando de frente pra mim.
– Como assim?
– Você está parecendo a Jessica de sempre, sem roupas mais justas, de cabelo preso. Eu achei que você estava começando a mudar. - eu dei de ombros.
– Ah, eu gosto do meu eu antigo.
– Sei, agora vamos falar a verdade. Quer se afastar do Nathan? - eu sorri.
– Quero.
– Eu sabia. Querida, faz um favor pra si mesma. Seja feliz!
– O que quer dizer com isso?
– Ah, Jessie. Você tem que fazer o que quiser. Se estiver feliz com ele, não me deixe influenciá-la. Muito menos Charlotte.
– Mas você disse...
– Eu sei o que eu disse e mantenho a minha opinião, mas mesmo assim se quiser ficar com ele eu não vou impedir.
– Pensarei sobre isso também. - ela sorriu e levantou.
– Vai com o Nathan hoje?
– Não, com a Charlotte.
– Está bem. Tenha um bom dia.
– Eu terei.
Mal consegui terminar o café antes da Charlotte buzinar, assim que saí de casa vi Nathan saindo pela porta. Eu desviei o olhar e me concentrei no carro de Charlie. Eu sabia que ele estava me olhando, mas mesmo assim eu não o olhei de novo.
– Está tudo bem? - perguntou Charlie antes que eu pudesse fechar a porta.
– Claro, por quê?
– Estou vendo o Mr. Perfect encarando o carro confuso. - eu não respondi e ela deu partida no carro.
– Nós... é...
– Vocês brigaram? - "Bem longe disso!"
– Não, é que...
– Vocês se beijaram de novo.
– Hum...
– Não foi uma pergunta. Agora eu quero saber o que aconteceu.
– Nada, nós nos beijamos e só.
– Eu te conheço, Jessica. Conte a verdade pra mim. - eu engoli em seco.
– Dessa vez o beijo foi mais...
– Intenso? - perguntou e eu assenti encarando a janela.
– Acho que eu não deveria ter feito isso.
– Foi tão ruim assim?
– Claro que não. - eu falei tão rápido que Charlie riu.
– Sei, então o que foi?
– Eu não sei aonde isso vai levar e não quero que isso continue só por fazer.
– Eu te entendo. Não se preocupe, isso é super normal. Mas você tem que falar pra ele.
– Eu sei, eu só não queria que fosse tão cedo.
– Tudo bem, qualquer coisa não abra a janela pra ele.
– Isso seria muito maldoso. Eu vou ser honesta com ele.
– Toma cuidado, tá? - eu assenti calada.
Não falamos mais nada até chegar na escola, desci do carro calada presa nos próprios pensamentos e indecisa sobre que atitude tomar.
– Ei, está tudo bem? - perguntou alguém atrás de mim. Eu me virei devagar e lá estava ele, mais lindo do que nunca.
– Está sim, por quê?
– Nada, eu só achei você estranha. - eu dei de ombros.
– Estou normal. - ele me encarou por um momento e foi embora com as mãos no bolso do casaco ainda confuso.
Charlie estava do meu lado e me encarou com um sorriso nos lábios. Eu apenas encostei a cabeça no meu armário e fechei os olhos. Como agir perto do garoto que você é apaixonada, mas que apenas te vê como amiga?
– Jessie, hora de ir para a aula. - Charlie me olhava preocupada.
– Vamos. - peguei um livro e bati a porta do armário com força.
– Você está totalmente encrencada, querida.
– Eu já percebi isso, querida.
>>o
– O que você vai fazer hoje? - perguntou Charlie.
– Acho que vou ficar em casa. - falei e ela me olhou incrédula.
– Fazendo o que?
– Arrumando meu quarto, fazendo dever de casa, não sei.
– Tudo bem, qualquer coisa me liga.
– Pode deixar.
Resolvi ir andando para casa, ia demorar mais, só que pelo menos ia me dar a chance de pensar. Fiquei tão perdida em meus pensamentos que nem percebi quando cheguei em casa. Hoje era o dia da minha mãe chegar mais tarde, então eu ficaria em casa sozinha por um bom tempo. Troquei de roupa e me preparei para um dia agitado.
Liguei o som no volume mais alto que julguei certo e comecei a faxina no meu quarto. Arrumei meu closet, varri e passei pano em cada cantinho do chão, organizei minha prateleira de livros e também a de CD's. Eu precisava manter a minha mente ocupada por um momento e para que isso acontecesse, eu abri a janela mas fechei a cortina. Não queria falar e nem ver o Nathan para poder dar certo.
Quando finalmente terminei, fiz pipoca e fui assistir a um filme de ação e aventura, com muito tiro e sangue. Eu não podia me dar ao luxo de querer a presença do Nathan comigo. O dia se passou tranquilo e só vi que a hora tinha se passado quando minha mãe abriu a porta.
– Oi, filha. Como foi a escola?
– Normal e o trabalho?
– Normal. O que fez o dia todo?
– Arrumei o quarto e assisti filme. Nada muito importante.
– Sem planos com Nathan? - eu revirei os olhos.
– Ele vai sempre entrar nas nossas conversas agora?
– Desculpe, achei que gostasse dele.
– E gosto por isso preciso que me deixe esquece-lo. - ela levantou uma sobrancelha.
– Então se decidiu.
– Sim, eu não posso ficar gostando desse garoto enquanto ele me vê como uma amiga.
– Está certa. Boa sorte.
– Obrigada.
– Vou tomar banho para fazer o jantar. Quer algo especial?
– Sim, pizza. - falei e ela sorriu.
– Ótimo, bom que eu nem preciso cozinhar.
– Como se você fosse cozinhar. - ela riu e assentiu.
Resolvi subir para fazer o dever de casa e dessa vez abri a cortina. Nathan estava fazendo flexões no chão do quarto, o que era uma covardia tremenda comigo. Ele estava sem camisa, suado e indiscutivelmente lindo. Eu tinha que me concentrar, então fechei a cortina novamente, sentei na cama e tentei fazer o exercício. E eu realmente consegui, até estudei um pouquinho antes da minha mãe me chamar para jantar.
– Estou descendo.
– Não demora, se não a pizza esfria.
Abri a cortina novamente e Nathan estava sentado na cama olhando na minha direção. Fiquei sem reação por um momento, mas antes que ele pudesse dizer algo virei de costas e saí do quarto. Desci as escadas pensando exatamente nisso, e o porquê dele está encarando a minha janela.
– O que aconteceu? - perguntou minha mãe olhando pra mim.
– Nada, vamos comer?
– Claro. Quer comer no chão da sala? - eu a encarei surpresa.
– Quer parecer legal?
– Eu sou legal. Só pensei em fazer algo diferente.
– Está certo.
Ela já tinha arrumado tudo em cima do tapete, o que me fez sorrir. Minha mãe era meio psicótica com limpeza (acho que puxei a ela), mas ás vezes tinha essas ideias para me agradar. Desde que... Enfim, ela tem sido mais legal de um ano pra cá.
– Então filha, quer conversar?
– Na verdade, não. Ah não ser que você queira falar algo específico. - ela pareceu pensar por um momento.
– Não, nada. - eu sabia que estava acontecendo alguma coisa.
– Mãe, o que aconteceu? Quer conversar comigo sobre algo?
– Não, não quero. - ela pressionou os lábios, o que significa que está mentindo. E isso não é nada bom. Mas resolvi não comentar nada, se ela quisesse me contar, contaria.
– Então está bem. - voltamos a comer nossa pizza em silêncio. Alguma coisa tinha mudado nela, mas não ousei pressioná-la.
Ligamos a televisão e começamos a ver um programa humorístico, rimos um pouco enquanto terminávamos de comer. Eu sabia que minha mãe se preocupava com o fato de que eu ia para a faculdade no ano seguinte e ela ficaria sozinha naquela casa, mas não parecia ser isso dessa vez.
– Mãe, eu vou subir. Está tudo bem mesmo?
– Claro que está. Aproveita e manda um beijo para Nathan. - eu revirei os olhos e eu podia ouvi-la rindo enquanto eu subia as escadas.
Tomei um banho tranquilo certa do que ia fazer e tentei relaxar. Nem seus olhos, nem seu sorriso ia me atrapalhar de tomar a decisão certa. Coloquei uma roupa normal, confortável e quente. Antes que eu terminasse de pentear o cabelo, eu ouvi a batida na janela, respirei fundo e saí do closet.

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