Acordei sorrindo, não lembrava do que tinha sonhado, mas tinha uma ideia. A noite anterior ainda fervilhava na minha mente, eu sabia que Nathan teve boas intenções, mas mesmo assim se ele soubesse o que estava fazendo comigo, será que faria? Como eu ia parar de gostar dele se a nossa relação estava cada vez mais próxima e íntima?
– Jessica, já acordou? - perguntou minha mãe batendo na porta.
– Já, pode entrar. - minha mãe estava pronta para trabalhar, sempre que ela entrava no meu quarto abria as minhas cortinas e encarava o céu, e dessa vez não foi diferente.
– Não vi louça na pia, o que fez para jantar?
– Na verdade, eu jantei na casa do Nathan. - ela pareceu surpresa e depois deu um sorriso que eu conhecia.
– Sério?
– Nem pense nisso, mãe. Ele é apenas meu amigo e os pais deles me convidaram para jantar lá.
– Sei, sem problemas. Gosto da mãe dele.
– Ah e falando em jantares, que horas você chegou ontem? - ela ficou sem graça. Espera, por que ela ficou sem graça?
– Eu sou a mãe aqui, não tenho que dar satisfações.
– Sei, sem problemas. Só espero que tenha juízo. - ela riu e saiu fechando a porta do meu quarto. Olhei a hora e percebi que eu ia chegar atrasada, tirei a blusa e sai procurando a minha toalha.
– Sabe, Jessica, eu sei que a gente se beijou ontem, mas não sei se estou pronto para essa etapa. - quando levantei o rosto vi Nathan me encarando pela janela. Olhei para o meu corpo e percebi que estava só de sutiã, entrei em pânico e me escondi atrás da cortina.
– Eu... Ah meu Deus, eu não...
– Não se preocupe, se você quiser, eu quero.
– Nathan! - pirei. Ele estava rindo muito, mesmo.
– Eu estou brincando, Jessie. Prometo ficar de costas para você fechar a cortina.
– Obrigada. - eu fechei a cortina, mas ainda conseguia ouvir a sua risada ao fundo.
Tomei o banho mais rápido do mundo, eu nunca me atrasei tanto para ir à escola. Escolhi a primeira roupa quente que vi e vesti correndo, me encarei no espelho e resolvi deixar o cabelo solto para experimentar. Peguei a minha bolsa e desci as escadas correndo.
– Estou saindo de casa e agora que você vai tomar café. O que aconteceu? - perguntou minha mãe com tom de surpresa.
– Desculpe, eu me atrasei e não sei por que. Pode ir sem mim, eu dou meu jeito.
– Tudo bem. Não se atrase muito mais, vou tentar chegar cedo em casa hoje. - ela me deu um beijo e saiu com a chave do carro na mão, antes que eu pudesse pegar uma coisa pra comer, ela voltou. - Jessie, por que você está de cabelo solto?
– Eu resolvi experimentar. - falei e ela deu de ombros fechando a porta.
Peguei um iogurte e uma maçã para comer no caminho, fechei a porta e saí quase correndo para dar tempo de pegar o ônibus. Eu mal andei alguns metros quando um carro parou ao meu lado.
– Você podia ter simplesmente pedido carona. - falou Nathan com o vidro aberto.
– Desculpa, eu não sabia se você já tinha ido.
– Eu nunca, nunca chego cedo. Entra logo. - não discuti já que estava muito atrasada. Assim que fechei a porta ele acelerou.
– Obrigada pela carona de verdade, eu estava com medo de não chegar a tempo da primeira aula.
– Ninguém se importa. - falou e eu o encarei séria. - Acho que talvez alguém se importe.
– Exatamente. - tomei o meu iogurte enquanto ele ainda estava silêncio.
– Jessie, não pude deixar de notar que você deixou o cabelo solto. Está tentando me impressionar?
– Na verdade não, eu quero ver se consigo beijar um garoto mais humilde agora. - ele ficou tão surpreso que freou o carro.
– Você está fazendo piadas? E está sendo irônica? O que aconteceu com você? - perguntou e eu ri.
– Não sei, acho que estou passando muito tempo com você.
– Será que eu passei um pouco da minha personalidade pra você ontem quando te beijei?
– Acho pouco provável. Agora nós podemos ir? Estamos realmente atrasados. - Nathan assentiu e acelerou em silêncio, voltei a tomar o meu café da manhã improvisado.
– Sabe, Jessie, gosto mais de você assim. - revirei os olhos.
– Assim como?
– Brincando e não ficando constrangida com tudo o que eu digo.
– Acho que estou me acostumando com a sua presença.
– E o que tem demais na minha presença?
– Ah não sei, você é um garoto bonito e não deixa ninguém esquecer isso. - ele sorriu e deu de ombros.
– Obrigado, mas me elogiar não vai fazer com que eu não te zoe.
– Não achei que fosse fazer.
– Ótimo.
Quando chegamos na escola, eu ainda estava terminando a minha maçã, Nathan abriu a porta do carro e saiu com um sorriso engraçado.
– Ainda somos o assunto da escola, Jessie. - eu levantei o rosto para olhar para as outras pessoas e realmente estavam olhando pra gente.
– Eles vão acabar se acostumando. - falei e ele me encarou.
– Quer dizer que vamos ficar sempre juntos? - eu dei de ombros.
– Espero que sim, já que você tem carro. - ele sorriu e voltou a andar.
– Isso foi maldoso. - apenas ri, antes que ele pudesse responder encontramos Charlotte me esperando em frente ao meu armário.
– Você sabia que está atrasada? - perguntou ela.
– Sabia sim. Eu dormi até um pouco mais tarde.
– O que estava fazendo ontem a noite? - perguntou Charlie me deixando sem graça, infelizmente Nathan respondeu na minha frente.
– Nós estávamos nos beijando loucamente, acabamos dormindo tarde. Você sabe como é. - ele piscou e saiu rindo me deixando para trás com uma Charlotte vermelha.
– Ele estava brincando?
– Sim.
– Você me contaria se vocês estivessem se pegando?
– Não.
– Jessica!
– Está bem. Nós nos beijamos. - falei em um sussurro. Charlotte arregalou os olhos surpresa e ficou sem ação por um momento.
– Você prometeu pra mim que ia parar de gostar dele.
– Na verdade, eu prometi que não ia ter esperanças e realmente não tenho.
– Ah é? E como seus sentimentos estão depois que beijou ele? Mais claros? Mais fáceis de entender? - não respondi, apenas peguei meu material e fechei o armário. - Eu sabia! Faz um favor a si mesma e acaba com isso.
– Charlotte, eu gosto da amizade dele. Ele é um garoto incrível.
– Eu não tenho problema com sua amizade com ele, mas se você souber separar a amizade do sentimento, não tem nenhum problema. - mais uma vez não respondi e ela riu de um jeito engraçado, sem humor. - Espero que saiba o que está fazendo.
– Eu também espero.
>>o
– Engraçado o Nathan não falar com você hoje. - falou Charlotte e eu a encarei.
– Como assim?
– Eu vou explicar: Além do fato de terem chegado juntos, ele nem olhou pra você. Não acha isso esquisito?
– Na verdade não, ele não tem a obrigação de passar o dia todo grudado comigo.
– Sei, eu só quero que você preste atenção. O garoto que você conhece é bem diferente do Nathan Gilbert que todo mundo conhece. - eu parei pra pensar um pouco nisso.
– Eu sei, mas mesmo assim acha que ele vai me ignorar na escola? Ontem ele falou comigo e foi bem legal até.
– Eu lembro, Jessie. Mas por favor, pensa nisso. Nathan Gilbert não é o príncipe que você pensa.
Eu não queria dar razão a ela, mas pensei no que ele me falou sobre a poesia. Ele amava o livro, e não contava pra ninguém por que as pessoas podiam criticar.
Voltei a almoçar em silêncio e Charlie sabia que eu não falaria nada, o problema de ter uma amiga que te conhece bem é que ela te conhece bem.
– Não fica chateada comigo, eu te amo. E por isso falo a verdade.
– Eu sei, Charlotte. Eu sei. - ela suspirou.
– Agora que estamos sozinhas, me conta como foi o seu primeiro beijo. Finalmente, né? Achei que fosse entrar na faculdade sem nunca ter beijado ninguém.
– Sabe que chegou uma hora que eu também pensei assim?
– Vai me conta. - e eu contei, em detalhes. Cada segundo do que aconteceu, tentei colocar em palavras pra ela e toda hora a minha mente voltava na noite anterior.
Depois de todo o meu monólogo, ela suspirou e se abanou me fazendo rir.
– Pelo que você me disse, esse garoto tem talento.
– Charlotte!
– Estou falando sério, você não tinha como ter um primeiro beijo mais memorável.
– Eu sei, eu sei. Se eu soubesse que beijar era assim, já tinha feito isso antes.
– Mas aí não ia ser a mesma coisa. Pra começar o garoto ajuda. O meu primeiro beijo, por exemplo, foi terrível. Eu fiquei toda babada e o menino ainda falou pra todo mundo que eu beijava mal.
– Isso foi na quinta série? - perguntei e ela deu de ombros.
– Por aí, eu só sei que foi horrível. Se dependesse dele, eu nunca mais beijava na vida. Mas depois você pega o jeito. - eu sorri e enrolei o cabelo no dedo, Charlie arregalou os olhos. - Eu sabia que tinha uma coisa diferente em você.
– O que foi?
– Você está de cabelo solto. - eu sorri.
– E daí?
– Como assim "e daí"? Acho que nunca tinha te visto de cabelo solto em público.
– Eu sei, Nathan falou que eu ficava mais bonita assim ontem e eu comecei a gostar.
– Aí está esse garoto de novo. Pelo menos dessa vez ele influenciou você para algo positivo. - eu dei de ombros. - Esse menino ainda vai mudar sua vida toda. Não respondi, mas pensei: "Espero que sim!"
>>o
Antes que eu pudesse ir embora, minha mãe me ligou e pediu para encontrar com ela no shopping. Quando ela me ligava assim no meio do dia, era por que queria conversar. Isso era sempre (SEMPRE) um problema.
Pedi para Charlotte (que tinha carro e dirigia) me levar ao shopping rapidamente antes que minha mãe surtasse.
– Obrigada. - falei assim que saí do carro dela.
– De nada. E Jessie, por favor, pensa no que eu disse.
– Tudo bem. Até amanhã.
– Qualquer coisa me liga. - eu assenti e ela saiu com o carro.
Eu entrei no shopping devagar, eu não gostava muito de ir até lá porque comprar roupas não fazia muito meu estilo. Na verdade, eu nem sabia se tinha um estilo.
– Jessica? - chamou minha mãe em frente a primeira loja.
– Mãe. Como vai?
– Estou ótima e a escola? - ela beijou o topo da minha cabeça e eu sorri. Desde que eu era bem pequena, ela faz isso.
– Normal, nada de novo.
– Pensei em comer alguma coisa. Vamos?
– Claro, mas porque não está trabalhando?
– Eu terminei o que precisava fazer e me liberaram.
– Ah sim e você resolveu comer comigo apenas?
– O que você achou que eu queria fazer?
– Toda vez que a gente se encontra no shopping é porque você quer saber algo. - ela riu.
– Talvez seja verdade. - eu sorri.
– Eu sabia, mas antes vamos encarar um hambúrguer.
>>o
– Pode começar. - eu estava comendo a batata frita calmamente e esperei ela falar o que ela queria de verdade.
– Então, o que você tem com esse nosso novo vizinho? - eu ri tanto que o gás do refrigerante saiu pelo nariz.
– Eu sabia, mãe. Eu já esperava essa pergunta mais cedo ou mais tarde.
– Isso não é exatamente uma resposta, Jessica.
– Eu não tenho nada com ele, Mrs. Lowe.
– Tem certeza? Porque ele está no seu quarto todo dia. - eu a encarei surpresa e foi a vez dela de rir. - Achava mesmo que eu não sabia disso?
– Era exatamente o que achava.
– Não se preocupe, eu confio em você. Mas gostaria que você me contasse. - eu sorri.
– A gente... hum... Nós... - eu não sabia como falar pra ela. Eu e minha mãe não éramos muito chegadas, mas depois do último ano...
– Vocês se beijaram? - eu assenti encarando a minha batata. - Jessie, isso é ótimo.
– Eu não sabia como falar isso. Sei lá, parece tão pessoal.
– Não se preocupe com isso. Não sou uma pessoa tão antiquada assim. Mas me conte, como foi?
– Mãe!
– O que foi, Jessica? Eu estou curiosa, ele é tão bonito. - eu ri.
– Ele é lindo mesmo.
– Jessica, foi o seu primeiro beijo?
– Foi. - minha mãe me olhou surpresa.
– Com essa idade?
– Mãe! - eu não estava acreditando que estava conversando com a minha mãe sobre isso. De repente, Mrs. Lowe estava querendo virar a Charlotte.
– Desculpa, eu não vou julgar. Só quero detalhes. - e para minha surpresa, eu falei. Contei (quase) todos os detalhes e ela ouviu calada, tinha horas que ela sorria, mas no geral só ouviu.
– E foi isso.
– Impressionante. Agora uma outra pergunta.
– Pergunte.
– Você gosta dele? - eu pensei sobre o que responder. Eu pensei em mentir, mas resolvi falar a verdade.
– Gosto, gosto sim.
– Eu já sabia, percebi isso quando Samantha os apresentou.
– Ficou tão nítido assim?
– Só porque eu sou sua mãe.
– Mas por que a pergunta?
– Porque se ele não gostar de você também, eu como mãe digo que você tem que dar um jeito de isso... Sabe? Acabar.
– Está falando como a Charlotte.
– Nós duas te amamos e só queremos o seu bem, então acredita na gente.
– Farei o possível. - ela me encarou e tenho certeza que não acreditou no que eu disse.
– Só quero que seja feliz. - eu sorri.
– Não quero que se preocupe com isso, agora eu quero saber como foi o jantar? - e de novo, minha mãe ficou vermelha. A minha mãe estava sem graça.
– Ah, você sabe. Mr. e Mrs. Eaton podem falar bastante, mas no geral a comida estava gostosa.
– Sei, e por que está vermelha? - minha mãe pareceu surpresa.
– Não estou vermelha.
– Sim, você está. E ficou sem graça também. Quero saber o porquê.
– Não quero que se preocupe com isso. - falou e eu sorri.
– Isso aí, jogando as minhas palavras contra mim.
– Aprendi isso com o mestre.
>>o
– Foi ou não um dia divertido? - perguntou minha mãe assim que chegamos em casa.
– Foi sim. Agora eu vou tomar um banho e fazer o dever de casa.
– Está bem e oh, pensa no que eu disse.
– Farei isso.
Subi as escadas sem animação, não estava ansiosa para o resto do dia/noite. Mesmo que Nathan fosse no meu quarto hoje, o que ia acontecer? Não sabia como agir com ele agora que eu fui tão avisada para não beijá-lo, nem chegar perto dele direito.
Enchi a banheira e liguei a música, eu precisava pensar um bom tempo no que fazer agora e como agir agora. Não que eu pensasse em beijar Nathan de novo, mas eu pensava nisso, até porque foi um primeiro beijo memorável e eu quero muito (MUITO) de novo.
Não sei se cochilei ou se estava tão perdida em pensamentos que não vi a hora passar, mas quando percebi já era de noite e a água estava fria. Saí de lá e coloquei uma roupa, resolvi fazer o dever de casa antes que minha mãe me chamasse para jantar. Espalhei os livros pela minha cama junto com o caderno e o notebook, de alguma forma estranha tinha um feito muito bom em mim. Sempre me animava.
– Jessica, vem jantar.
– Estou indo, me dá alguns minutos.
Depois de oito minutos terminei o exercício e desci para jantar, minha mãe sorria e encarava a mesa como se estivesse perdida em pensamentos.
– Está pensando em que? - minha voz pareceu assustá-la, o que foi ligeiramente engraçado.
– Jessie, quase morri de susto.
– Isso porque estava perdida em pensamentos. No que estava pensando?
– Ih, eu não tenho privacidade nem dentro da minha mente.
– Nossa, que exagero. Desculpe, fica a vontade. Só quero jantar.
– Muito bem, vamos comer lasanha. - eu a encarei surpresa.
– Você que fez?
– Claro que não, eu comprei e esquentei.
– Imaginei, seus talentos na cozinha se limitam a café e waffles.
– Sabe, Jessica, assim você me ofende. - eu sorri e comecei a me servir.
Nós jantamos em silêncio e eu sabia que a minha mãe estava apenas de corpo presente ali, porque sua mente estava longe. Eu não sabia o que estava acontecendo com minha mãe, mas alguma coisa tinha.
– Mãe? Mãe? - ela me olhou com atenção.
– O que foi?
– Eu já terminei, vou para o meu quarto.
– Ah sim, boa noite.
– Boa noite pra você também.
Eu não queria ficar investigando a vida dela, mas agora que nós só tínhamos uma a outra, eu me preocupava em dobro com ela e acho que ela também comigo.
Eu entrei no meu quarto e me encarei no espelho, eu estava vestindo uma roupa extremamente confortável e larga. Eu me sentia um garoto, no começo essa era a intenção, mas mesmo com todos os conselhos parte de mim queria que Nathan me olhasse de um jeito diferente. Então entrei no meu closet e peguei um short de moletom que eu nunca tinha usado porque não parecia muito comigo, troquei de blusa para uma mais justa e soltei o cabelo. Voltei a me encarar no espelho e tive vontade de rir, quem era essa pessoa que me encarava de volta? O engraçado era que eu nem sabia se ele ia aparecer de novo. Eu me senti tão idiota que me virei para trocar de roupa de novo, quando ouvi uma batida na janela que me fez sorrir.

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