Abri os olhos devagar, estranhei tudo a minha volta. Eu olhei para o lado e Will dormia, tinha uma coberta em cima de nós e a cortina tapava a vista, mas nitidamente estava de manhã. Eu tinha dormido na casa do Will, abraçada com ele, sua mão ainda estava sobre a minha. Me mexi e ele abriu os olhos confuso.
– Não esperava te ver aqui. - falou com a voz rouca de sono.
– Eu não esperava ainda está aqui. - falei confusa.
– Pelo jeito dormimos e sua mãe não quis te acordar. - eu assenti sem acreditar.
– Será que ela também está aqui?
– Provavelmente. - dei de ombros e levantei. Will mexeu o braço que estava embaixo de mim e gemeu. - Você deixou meu braço dormente.
– A culpa não é minha, não pedi para dormir assim.
– Deveria encarar isso como uma honra. - fiz uma careta e sorri. Ele riu e levantou também.
– Onde é o banheiro? - perguntei e ele apontou.
– Dentro do closet, a única porta. - assenti em silêncio. - Ah, Jessie, tem um short seu aqui. - eu franzi as sobrancelhas.
– Por que tem um short meu aqui?
– Lembra quando estávamos saindo do cinema para ir à um restaurante? Você trocou de roupa dentro do carro e acabou deixando o short. - eu enrubesci com a lembrança e ele percebeu porque sorriu. - Não sei por que está sem graça, eu nem estava no carro enquanto você fazia isso.
– Mesmo assim é um pouco constrangedor. De qualquer maneira, eu não tenho uma blusa.
– Pode usar uma minha, se quiser. Sei que não se importa com blusas largas.
– Tudo bem, pegue pra mim o short e um moletom enquanto vou ao banheiro.
Entrei no banheiro e lavei o rosto, prendi o cabelo em um coque e me encarei no espelho. Ainda podia sentir a mão de Will na minha cintura, embora tivesse dormido em um sofá nunca tinha ficado tão confortável. Ele bateu na porta levemente.
– Aqui, espero que fique bom. - eu sorri.
– É um moletom, não tem que ficar bom. - ele deu de ombros e me entregou a roupa.
Tirei o vestido e coloquei o short, o moletom tinha o cheiro dele, um cheiro cítrico misturado com sabão em pó e lavanda. Assim que o vesti me senti confortável. Ele tinha ficado um pouco grande, mas de um jeito agradável.
Abri a porta do banheiro e ele já tinha trocado de roupa, usava uma bermuda de moletom e uma camisa simples de manga. Mesmo assim parecia charmoso. Seus olhos demoraram um pouco em mim, como o moletom era grande, cobria boa parte do meu short.
– O que foi? - perguntei sem jeito.
– Não me entenda mal, mas de certa forma isso é bem sexy. - eu sorri sem jeito.
– Eu não estou sexy, eu estou descalça e de moletom. Não tem nada sexy em um moletom.
– Não é o moletom, é o fato do moletom ser meu. Você não entenderia, só outro garoto. - eu dei de ombros e coloquei as mãos no bolso.
– Está certo, vamos descer? Estou com fome.
– Claro. Mas antes... - ele beijou os meus lábios delicadamente.
Will pegou a minha mão e nós descemos as escadas sem pressa, antes de chegar a cozinha ouvimos risadas. Minha mãe estava fazendo waffles e Richard os ovos, eles pareciam tão felizes que tive vontade de sorrir. Ela vestia um short e uma blusa de manga, não sabia se ela tinha passado em casa ou se tinha roupas aqui. Talvez tivesse, ela já tinha vindo aqui algumas vezes.
– Bom dia. - falei e eles se viraram surpresos.
– Bom dia, meus amores. Vocês estavam dormindo tão profundamente ontem que decidimos não acordá-los. - falou minha mãe naturalmente.
– Fiquei surpresa quando acordei. Você obviamente também dormiu aqui. - para minha surpresa minha mãe enrubesceu, na verdade, ela tinha ficado muito vermelha.
– Sim... - falou ela com cautela, eu ri.
– Tudo bem, não quero detalhes. - sentei na mesa e peguei uma xícara para colocar o café. Will sentou ao meu lado e piscou.
– Já que estamos aqui, vamos preparar as coisas para o piquenique, por isso não comam muito. - falou minha mãe colocando os waffles na mesa.
– Sim senhora.
– Que horas vocês vão sair hoje? - eu dei de ombros.
– Ainda não sei, talvez umas 21 horas.
– Você ainda não me falou aonde vamos. - comentou Will e eu me ajeitei desconfortável na cadeira.
– Então, daqui a pouco a gente conversa sobre isso. - ele assentiu e colocou mel sobre os waffles.
– Estou levemente curiosa sobre essa festa. - falou minha mãe.
– Não tem nada demais.
– Ainda sim.
– Mãe, me passe os ovos, por favor. - era a deixa, dizendo que o assunto estava encerrado.
– Cuidado, William, Jessica tem uma habilidade incrível para se desviar de perguntas. - ele sorriu.
– Eu já percebi. - eu o encarei sem acreditar que ele estava dando corda pra minha mãe.
Depois que desistiram de falar de mim, ficaram em silêncio. Eu pensei se Will iria aceitar, e se ele não aceitasse eu iria sozinha? Eu dei minha palavra a Nathan que ia, não que eu devesse algo a ele, mas mesmo assim...
– Jessie, Jessie. - Will estava cutucando o meu ombro levemente.
– Ah desculpe, o que disse? - ele sorriu.
– Eu perguntei se queria subir para conversar sobre essa festa. - eu assenti.
– Vamos sim. - minha mãe olhava pra mim com curiosidade, ela sabia que eu estava escondendo algo.
Will pegou minha mão e a apertou firme, ele estava ansioso. Acho que no fundo ele imaginava que tinha alguma coisa a ver com o Nathan, não sei como mas ele sabia.
– Então, vamos para o sofá das confissões. - eu dei de ombros.
– Não deveria chamá-lo assim, nós dormimos ali, nos abraçamos e depois foi bem fofo. - ele fez uma careta.
– Fofo é tão não hétero.
– Eu sou uma garota, posso falar fofo. - mas de qualquer maneira sentei lá. Will abriu as cortinas e deixou a claridade entrar, depois sentou ao meu lado e me encarou.
– Pode começar a falar.
– Bom, depois que Nathan falou aquilo tudo ontem e eu rebati, ele me chamou para a festa de aniversário dele. - Will levantou a sobrancelha.
– E por que nós iríamos?
– Porque eu falei pra que ele que nós estaríamos lá.
– Certo, mas por que nós iríamos? - eu revirei os olhos.
– Estou falando sério, Will. Eu sei que você não gosta, mas de certa forma ele me ajudou em um momento que não tinha ninguém para fazer isso. - pude perceber que seus ombros ficaram tensos.
– Mas ele também foi o motivo das suas lágrimas, Jessie. - eu não tinha como contestar isso.
– William, eu não posso não ir nessa festa. Não quero dar esse gostinho a ele, de certa forma quero provar que estamos bem e felizes. Você não quer fazer a mesma coisa para Megan?
– Na verdade não, já passei dessa fase. - eu suspirei.
– Por favor, o Austin vai está lá. Você não vai ficar sozinho. - foi a vez dele de suspirar.
– O problema não é esse, mas como você parece estar determinada a ir nessa festa não vou te deixar ir sozinha. - eu sorri.
– Obrigada, eu vou te recompensar. - ele deu um sorriso sacana, que fez meu corpo se arrepiar.
– Pode começar agora. - eu o beijei e praticamente me joguei em cima dele, fazendo a gente deitar no sofá. Estávamos nos beijando e aquilo era tão familiar pra mim quanto meu próprio corpo, mas nada tedioso.
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– Por favor, me passe o sanduíche de atum. - falei com um sorriso. Estávamos no Central Park, o dia estava ensolarado, mas não quente apenas confortável. Esticamos uma toalha à sombra e colocamos a comida. Minha mãe não parava de sorrir, fazia muito tempo que eu não a via tão feliz.
– Claro, com suco de laranja? - perguntou ela.
– Com certeza. - eu e Will estávamos um do lado do outro com os braços entrelaçados. Podemos perceber algumas crianças correndo, pessoas passeando com os cachorros, um sábado normal na grande Nova York.
– Você quer alguma coisa, William? - perguntou Rich (um apelido com um jogo de palavras bem propício).
– Pode ser o mesmo que a Jessie.
– Ah não, Will, como vamos nos beijar se os dois estiverem cheirando a atum? - falei e ele riu.
– Mas agora está equilibrado, eu vou sentir o seu e você o meu.
– Aqui, filho. Eu e Ellie vamos dar uma volta, daqui a pouco voltamos.
– Nada de desvios, hem. - falei e ela sorriu sem jeito.
– E vocês se comportem. - eu bati continência e ela revirou os olhos saindo de mãos dadas com o namorado e um sorriso enorme.
– Agora que estamos sozinhos, o que vamos fazer? - Will deu o seu melhor sorriso sacana me fazendo sorrir e enrubescer.
– Nada demais já que estamos em um lugar público.
– Jessica, Nova York já viu coisas piores que dois jovens se beijando... intensamente. - eu ri.
– Pode até ser, mas de qualquer maneira aqui não é Amsterdã.
– Isso realmente me magoa. - eu beijei sua bochecha e deitei apoiando minha cabeça na sua coxa.
– Curta o momento por um minuto. - Will não respondeu, mas soltou o meu cabelo que estava preso e começou a enrolar nos dedos.
– E se a gente saísse hoje a noite? Podemos ir a qualquer lugar. - eu suspirei.
– Eu prometi ao Nathan e a Charlie que estaria na festa. - ele respirou fundo.
– Eu não estou nem um pouco a fim de encarar o cara que gosta de você e a namorada lunática dele que é a minha ex.
– Eu sei que é uma situação meio chata, mas vai ser divertido.
– Você não pode prometer isso pra mim.
– E nem vou, mas você poderia se esforçar.
– Por você, Jessica, apenas.
– Obrigada.
– Agora, me responde, que roupa eu devo colocar? - eu pensei a respeito.
– Não faço a menor ideia, nem eu sei que roupa vou colocar.
– Acho que a sua amiga, Charlotte, não vai aceitar se você não estiver nada menos que magnífica.
– Eu sei, mas não tenho roupas magníficas.
– Por mim você poderia vestir jeans e camiseta que estaria magnífica, mas você vai se sentir bem?
– Eu vou confessar pra você que quero estar muito bem vestida, não para me sentir bem e sim para provar para Megan que eu posso.
– Você não tem que provar nada. É linda.
– E você cego, mas obrigada.
– Se é isso que você quer... - Will começou a remexer os bolsos.
– O que foi? - perguntei e ele pegou o celular sem me responder. Depois de um tempo levou ele ao ouvido e esperou.
– Pai? Onde vocês estão? - um tempo em silêncio - Vocês poderiam voltar? Eu e Jessie temos que ir à Quinta Avenida.
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"New York, concrete jungle where dreams are made of
There's nothing you can't do
Now you're in New York
These streets will make you feel brand new
Big lights will inspire you
Hear it for New York, New York, New York. "

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Selva de concreto onde são feitos os sonhos
Não há nada que você não possa fazer
Agora você está em Nova York
Essas ruas vão fazer você se sentir completamente novo
As luzes vão inspirar você
Vamos aplaudir Nova York


Toda vez que entro na Times Square, Quinta Avenida, eu lembro dessa música. Nova York tem uma aura que é só dela, ela faz você acreditar que tudo é possível, que você pode fazer qualquer coisa, ser qualquer coisa.
– Você está olhando tudo como um turista, por quê? - eu sorri.
– Nova York sempre me fascina, eu posso vir aqui todo dia e ainda vou me encantar.
– É só Nova York, Jessie. - eu sorri, acho que quando a gente mora em um lugar que todo mundo quer ir, acabamos perdendo o encanto.
– Então, agora que você já comprou suas roupas. Podemos comprar a minha? - perguntei e ele sorriu.
– Claro, não foi pra isso que viemos?
– E o que eu compro? - ele deu de ombros.
– Não faço a menor ideia. Liga para a sua amiga e pergunta.
– Nossa, você foi de grande ajuda.
– Sinto muito, mas não sou uma garota. - eu sorri e comecei o familiar número de Charlie.
– Não sinta, fico feliz que não seja. - ele riu, mas antes que pudesse responder, Charlie atendeu.
– O que queres de mim, Jessica? - seu tom de voz era irônico, com certeza ela estava com o Austin e eu interrompi algo.
– Eu sinto muito por ter atrapalhado vocês, mas eu preciso urgentemente da sua ajuda.
– O que aconteceu?
– Estou na Quinta Avenida com Will e eu não sei o que comprar para hoje á noite.
– Saia não porque não vai ficar a vontade, vestido menos ainda e a ocasião não pede.
– Quer que eu vá de calça?
– Céus, não. Vá de short. - só de pensar fiquei desconfortável.
– Você não acha que vou ficar desarrumada?
– Só comprar o short certo. É uma house party, todo mundo vai estar de short.
– Ah não sei, eu não fico muito a vontade. Não tenho tantos shorts assim e todos eles são de moletom. - obviamente não vi, mas eu podia jurar que ela tinha revirado os olhos.
– Não seja ridícula. Passe para o Will.
– Por quê?
– Porque ele é estiloso e você não. Eu vou descrever as minhas ideias e ele vai entender, até porque eu tenho certeza que ele já foi a mais festas que você. - não pude contestar isso.
– Will, ela quer falar com você. - ele franziu as sobrancelhas.
– Por quê?
– Pergunte a ela. - ainda com dúvidas ele pegou o telefone.
– Charlie? - ele foi suavizando o olhar e depois de um tempo riu olhando pra mim. Ele apenas concordava e esperou até Charlie terminar de falar para dizer alguma coisa. - Tudo bem, combinado.
– E aí? O que ela falou? - ele me olhou com um olhar divertido.
– Já sei aonde vamos.
>>o


Eu me encarava no espelho com nada mais que incredulidade, aquela pessoa ali não era a Jessica. Muito menos a Jessica que gostava de jeans e moletom, aquela Jessica jamais vestiria essa roupa.
Eu estava vestindo um short de couro preto, uma blusa bege de algodão com manchas em preto, um maxi colar prata fechava a blusa, minha maquiagem foi feita pela Charlie, um batom vermelho chamava atenção para a minha boca, de algum jeito inexplicável ela estava desenhada. A única coisa que eu pude opinar foi no calçado, eu estava com um tênis preto (mas para minha infelicidade, ele era de verniz e não de tecido).
– Está pronta, Jessie? Estou curiosa.
– Estou quase, só um minuto. - eu me encarei mais uma vez antes de abrir a porta. O batom escuro deixava meu cabelo mais preto, ele caía solto em camadas muito bem cacheadas por Charlotte. Respirei fundo e abri a porta.
Silêncio, ninguém respirava, todos me encaravam com uma mistura de surpresa, espanto e eu podia perceber no olhar de Will que se não tivesse ninguém ele iria me agarrar e me beijar. Na hora tive vontade de voltar para o closet e me trancar até eu tirar aquela roupa.
– Falem alguma coisa. - falei sem jeito.
– Nossa. - falou Will soltando o ar que ele nem sabia que estava prendendo.
– Gata. - falou Charlie com os olhos arregalados, Austin não disse nada apenas assobiou baixinho.
– Eu não sei, estou meio desconfortável.
– Desconfortável? Amiga, você está incrível. Simplesmente incrível.
– Só não parece comigo, sabe? - Charlie levantou e me encarou.
– Amiga, você não precisa vestir esse tipo de roupa todo dia. Você não vai criar um estilo do dia pra noite.
– Vestir jeans e moletom é um estilo, Charlotte. - ela revirou os olhos.
– Mas não um aceitável.
– Essa discussão está formidável, mas estou querendo ir para a festa. - falou Austin levantando.
– Vão na frente, quero conversar com Jessie. - falou Will me encarando de modo avaliativo, Charlie sorriu de um jeito sacana.
– Não demorem e por favor, não bagunce o meu cabelo nem estrague a minha maquiagem.
– O que acha que vamos fazer? - perguntei, antes dela fechar a porta se virou para me olhar.
– Exatamente o que eu faria. - Will riu.
– Não somos vocês, Charlie.
– Estão perdendo grandes oportunidades. - com essa frase de efeito ela piscou e saiu.
– Então, o que quer falar pra mim?
– Eu só queria ter certeza de que quer fazer isso.
– Eu não me arrumei toda para ficar em casa. - ele sorriu.
– Eu não estava planejando ficar em casa.
– William, podemos ir agora?
– Claro, mas antes... - para minha surpresa, ele me puxou pela cintura e segurou firme.
– O que você... - mas antes que eu terminasse, ele me beijou com vontade, eu tive que me apoiar na parede. Seu beijo era intenso e desesperado. Eu o empurrei levemente. - Não vai conseguir me distrair.
– Que pena, se eu insistir mais um pouquinho... - antes que ele me beijasse de novo, me afastei.
– Nem tente, vou passar batom de novo e você vai limpar a boca.
– Sim, senhora.
Entrei no closet e retoquei o batom, meu coração estava um pouco acelerado e minhas pernas ligeiramente trêmulas. Eu mal esperava para ver a cara do Nathan quando me visse. No fundo era só isso que eu queria, claro que ver como Will olhou para mim foi um belo bônus.
– Está pronta? - perguntou Will, eu saí do closet confiante.
– Vamos lá.