Pov. Renesmee

Estava um temporal horrível lá fora, do tipo de assustar. As árvores lutavam umas com as outras, trovões e raios. Avisos na televisão sobre não sair de casa, e possibilidade de um furacão passar por ali.

Eu nunca tinha visto nada disso aqui antes.

O problema é que... Eu sentia que algo estava errado.

Eu estava na reserva com Jake, e meu coração estava apertado, meu corpo todo doía. Aparentemente sem motivo.

Quando eu ficava assim, era um aviso.

Algo não estava bem, e não era comigo que eu estava preocupada, mas com Elizabeth.

Deve ser a tal ligação de gêmeas. Sentimos o mesmo que a outra quando uma não está bem.

—Tenta ligar - sugeriu Jake vendo meu desconforto.

Eu tentei, mas não dava. Não tinha sinal com o temporal que estava lá fora.

—Ah Jake vou para casa - disse decidida. - Não importa que o mundo esteja acabando lá fora, eu não posso ficar aqui.

Essa foi a primeira vez que dei as costas a Jacob sem esperar ele me responder.

Cada minuto que passava era uma agonia em mim.

O caminho foi perverso e traiçoeiro, eu nem sei como consegui chegar viva.

Uma árvore caiu no caminho quase me atingindo, eu sofri com os galhos e folhas voando contra mim. Mas consegui.

Eu estava lá.

—Elizabeth! - a gritei assim que entrei na mansão.

Senti cheiro de sangue na casa e corri desesperada pelos cômodos, quando não obtive resposta de ninguém.

Encontrei minha irmã em seu quarto, deitada numa poça de água se contorcendo de dor.

—Ai meu Deus.

—Nessie - ela suspirou aliviada ao me ver. Ela definitivamente não estava bem. - Ness, chegou a hora, ele está vindo.

—Ai meu Deus - repeti em choque.

Ok. O bebê ia nascer.

Meu sobrinho ia nascer e eu estava sozinha com Elizabeth na mansão...

Corri até ela a tirando do chão com cuidado.

A levei para o consultório de Carlisle e a deitei na maca que tinha ali. Ela não parava de se contorcer de dor e eu não sabia o que fazer agora.

—Onde você estava? - perguntou me olhando.

—Na reserva. Oh meu Deus Liza, o bebê vai nascer - disse pulando de alegria e desespero.

—É, eu sei - ela gritou com o cabelo molhado de suor grudado em seu rosto. - Cade o Nicolas? Liga para o Carlisle, liga para o papai. Estou tendo contrações a cada 3 minutos.

—Ok, calma. É só respirar fundo que vai dar tudo certo... - disse tentando acalma-la.

Não rolou.

— Isso não está funcionando droga! - ela afundou as unhas no colchão enquanto tentava respirar fundo.
— Me dê anestesia. Eu quero anestesia!

—Eu já volto.

Simplesmente deixei ela lá sozinha e sai correndo, pedindo a Deus para que o telefone fixo estivesse com sinal.

Por sorte, estava.

No segundo toque meu pai atendeu. Expliquei com pressa o que estava acontecendo e pedi que eles voltassem logo, e que ele avisasse Nicolas.

Quando desliguei o telefone voltei a sala. Elizabeth estava mais uma vez se contorcendo na maca enquanto gemia de dor.

Eu não sabia o que fazer.

—Liza, se acalma ta bom. O papai já esta vindo...

[...]

Pov. Nicolas

Eu estava tentando arrumar um jeito de chegar a mansão dos Cullens. Mas uma árvore imensa tinha acabado de cair em cima do meu carro.

Eu desci para olhar o estrago, e ver se dava para salvar alguma coisa, mas ela quebrou todos os vidros e afundou o capo do carro.

Que ótimo. Que belo dia.

—Acho que a natureza está sentindo que hoje é um grande dia - ouvi a voz surgir atrás de mim.

Fiquei tenso no mesmo momento. Quando virei mal dava para enxerga-lo direito, devida a chuva forte.

Mas era ele.

Vestido numa capa de frio preta, parado de frente para mim com um sorriso enorme.

—Ícaro - cerrei os punhos com ódio.

Meu celular começou a tocar no bolso, mas eu estava tomado pela raiva.

—Como você ousa aparecer aqui...

—Roller, não percebe o que está acontecendo? - ele disse abrindo os braços enquanto o caos se intensificava a nossa volta.

Meu celular voltou a vibrar e agora eram mensagens. Eu peguei o telefone com pressa.

"Volte! Elizabeth entrou em trabalho de parto."

"Nicolas onde você está? Precisamos de você aqui."

"Nicolas?"

Varias mensagens de pessoas diferentes me avisando que meu filho estava chegando ao mundo, no mesmo momento em que o cara que queria mata-lo, resolveu aparecer.

—Eu vou acabar com você! - disse voando na direção dele quando percebi o motivo dele estar aqui.

Nos dois caímos no chão e rolamos na chuva, enquanto Ícaro se desviava de meus ataques.

Ele conseguiu se soltar e se afastar.

—Não vim para brigar - ele levantou a mão quando fiz menção em ataca-lo novamente.

—Vai embora!

—Calma Roller, esta tão na defensiva.

Meu Deus, meu filho estava nascendo e ele queria conversar.

—O que você quer Ícaro?

Nos dois nos assustamos quando um pedaço de árvore passou voando pelos ares, em seguida um raio caiu perto de nós fazendo um barulho ensurdecedor.

Nos fomos parar do outro lado da estrada.

—Não percebe? - ele apontou em volta de novo. - A natureza não está feliz com o que está acontecendo. Vocês estão desequilibrando nosso mundo.

—Do que você está falando?

—Do seu filho - disse tirando o capuz de sua capa. - Ele é uma ameaça. Não sabemos o que ele pode se tornar, até a natureza sente isso. - ele apontou para os lados, onde o mundo se acabava ao nosso redor. - Ela sente o presságio da mudança, das coisas ruins que ele vai trazer quando nascer.

—Cala a boca...

—Ah Roller, você e a Cullen estão desequilibrando nosso universo. Ela por si só já é um desequilíbrio. Começou com os pais dela. Eles quebraram regras. Depois vocês dois, também quebraram regras. São erros atrás de erros. Elizabeth é fruto de um erro, e vai dar a luz a outro erro. Você sabe bem do que eu estou falando. Ah, sabe sim.

Eu cerrei os punhos sendo invadido por um desespero repentino.

Meu celular não parava de vibrar e a chuva estava piorando, o vento forte estava tirando as coisas do lugar.

—Erros atrás de erros, geram consequências. - ele disse - Essa criança é o caos, vai trazer o caos para todas as espécies. Eu não sou o único que vai querer extermina-la, mas ainda sou o líder dos Filhos da Lua. Então termina isso, ou eu vou terminar.

Ícaro colocou seu capuz de volta e sumiu na chuva forte me deixando mergulhado em tantas emoções e pensamentos, que fiquei alguns segundos parado na chuva sem saber o que fazer.

[...]

Pov. Renesmee

Parte da minha família tinha acabado de chegar e eu estava aliviada. Só o papai estava aqui comigo por enquanto, Carlisle ainda não tinha chego.

Eles achavam melhor não ter tanta gente assim por perto no trabalho de parto. Isso estava estressando ela.

—Dá pra tirar ele logo!? - Elizabeth gritou totalmente sem controle.

Já fazia algumas horas que ela estava sofrendo. Meu pai já tinha feito exame de toque, mas ela ainda não estava completamente dilatada desde a última hora que ele viu.

—Calma Liza, respira. - disse com toda paciência do mundo. Ela me puxou pela gola da camisa me assustando.

—Eu. Não. Quero. Respirar. - disse pausadamente - Isabella mentiu para mim!

—O que?

—Ela disse que o parto era mágico. - riu em meio as lágrimas - Mágico aonde? Mentirosa!

Ela gritou sabendo que minha mãe estava ouvindo no andar de baixo.

—Liza, isso é tão lindo! - disse me emocionando com toda aquela situação.

—Lindo? - ela arregalou os olhos - Estou morrendo aqui e você diz que isso é lindo?

—Olha pra mim. Faça como Carlisle ensinou você a fazer. Respira e solta. - disse tentando manter a calma.

—Vou respirar e soltar minha mão na sua cara. Isso não adianta nada...

Ela estava me assustando. Sim, ela estava me assustando muito.

—Elizabeth, não me deixe mais nervosa do que já estou. - falei com lágrimas nos olhos.

—Você está... - Ela me olhou Incrédula - Você está chorando?

Eu não acredito, mas sim, eu estava.

—Seque essas lágrimas agora Renesmee Carlie. E me ajude a parir essa criança! - gritou e logo em seguida começou a gritar de dor.

Ela estava em um estágio onde ela não gemia mais, ela gritava.

[...]

Pov. Lucy

—Chegamos - disse abrindo as portas da mansão Cullen com o coração na boca.

Finalmente, o momento que a família toda esperou por meses, tinha chegado.

—Meu Deus - Lauren disse ao ouvir os gritos vindo do último andar e arregalou os olhos.

—Que bom que chegaram - Bella veio nos receber. - Cadê o Nicolas?

—Ué, ele já não esta aqui? - Meu pai perguntou bem atrás de mim.

Os Cullens negaram com a cabeça. Todos pareciam muito preocupados e eu também fiquei.

Era para ele estar aqui.

—Faz tempo que ele saiu de casa - Lauren disse preocupada também. - Vou atrás dele.

Lauren saiu descendo as escadas, quando eu ia impedi-la por conta da chuva, assim que alcançamos a entrada da casa, meu irmão apareceu.

Nicolas estava todo destruído, sujo de lama e grama, molhado da chuva. Seu rosto era de poucos amigos.

Eu e Lauren nos entreolhamos quando ele chegou mais perto.

—O que aconteceu com você? - Lauren perguntou medindo ele de cima a baixo.

—Prefiro não falar agora... - sua voz saiu fraca. Só que ele estava todo tenso. - Mas a gente tem que conversar.

—Nicolas o que houve? - eu perguntei aflita, vendo que ele não estava bem.

—Não - ele apontou pra cima e disse só com os lábios "Ela vai ouvir". - Só fiquem de olho nos arredores.

Nicolas passou por nós sem falar mais nada, me deixando agora mais do que antes, ansiosa e preocupada.

Disse para Lauren subir enquanto eu vigiava a casa daqui de baixo, ela ficava de olho no perímetro lá de cima.

Hoje era para ser um dia feliz, e eu não sabia o que estava sentindo depois desse encontro com meu irmão.

[...]

Pov. Elizabeth

—Ele está me matando - gritei - Nunca mais vou ter filhos. Ninguém me avisou... Que essa parte... Doía tanto. Eu achei que fosse... Exagero do cinema!

—Calma, eu estou aqui. - Ness disse chorando do meu lado, aquilo estava me deixando louca.

—Ah claro, isso muda tudo. - revirei os olhos.

Veio outra contração infernal, por instinto eu puxei a mão dela e a apertei com toda força que tinha.

Puta que pariu!

—Esta machucando minha mão. - disse enquanto eu gritava de dor. Logo Renesmee gritou junto comigo. - Solte a minha mão Elizabeth Cullen!

Ela tinha uma expressão indecifrável, e sua mão já estava perdendo a cor quando eu a soltei.

—PAI! - gritou aterrorizada quando eu peguei sua mão de novo. As contrações estavam vindo uma atrás da outra agora. - Liza, não estou sentindo minha mão...

—Cala essa boca! - falei trincando os dentes.

E quando começou a contração, nos duas gritamos de dor.

Meu pai apareceu na porta com um olhar preocupado.

—Qual das duas está em trabalho de parto? - ele perguntou vendo Nessie chorar. - Carlisle chegou, e não vai dar tempo para anestesia. Vamos começar o parto agora.

Nessa hora meus olhos encheram de lágrimas e várias inseguranças me atingiram. Eu estava no meu estado mais frágil e animal agora.

Estava prestes a dar vida a alguém que eu ia amar pelo resto da minha vida.

Meus olhos estavam vermelhos, mas eu me sentia tão fraca e vulnerável agora.

Nicolas apareceu na porta e eu finalmente pude respirar fundo.

Ele estava detonado, mas eu nem liguei para isso, ele veio até mim pegando minha mão.

—Eu cheguei, me desculpa, desculpa... - ele pedia enquanto beijava meu rosto.

Eu não estava nem ai que ele chegou agora. Só me importava que ele estava aqui.

Eu comecei a chorar quando vi Carlisle aparecer no consultório com coisas de parto.

Era real.

Me desesperei completamente. Estava mesmo chegando a hora.

—Não estou pronta - sussurrei enquanto chorava.

[...]

Pov. Renesmee

Fui dispensada da sala depois de quase perder minha mão.

Deixei meu pai, meu avô e Nicolas com Elizabeth. Desci as escadas para a sala que estava lotada de gente, com toda a minha família e os Roller.

Lucy eu podia sentir que estava lá em baixo e Lauren não saia da varanda, estava de olho do lado de fora da casa. Os Roller pareciam estranhos.

Tio emm tinha em mãos vários ursos de pelúcia, e Alice vários balões azuis.

A tempestade não estava dando trégua, e a luz estava começando a falhar.

—Vou ver como estão os geradores - Tio Jazz avisou. - Não queremos ficar sem luz enquanto Liza tem o bebê.

Ele saiu para resolver isso, mas mesmo assim era um trovão atrás do outro. Nunca tinha visto isso antes em Forks.

Mesmo Liza estando no último andar, dava para escutar seus palavrões absurdos.

—Deus, como ela consegue? - perguntou Rose.

—Pensei que ela fosse saltar da maca e matar meu pai.

—Vou buscar um gelo para sua mão querida. - disse Esmee.

—Será que ela está sofrendo muito? - perguntou Alice preocupada.

—Com a força que ela está? Com certeza não deve estar sendo tão agradável - disse pegando a bolsa de gelo da mão de esmee - Obrigada vovó.

—Isso não é certo. - minha mãe se levantou do sofá agoniada. - Eu sou a mãe dela. Tenho que estar lá.

[...]

Pov. Elizabeth

Não conseguia enxergar direito, estava tudo girando. Era tanta dor que eu sentia que eu parecia não estar ali.

E eu não tinha mais forças.

—Não fique com medo. Estamos aqui - minha mãe estava bem ao meu lado agora, segurando minha mão. - Hoje você vai sentir o maior amor da sua vida. Você vai dar vida a ele.

—Você consegue - Nicolas disse do meu outro lado e me beijou. - Eu te amo.

Eu não queria que fosse diferente. Estava sendo do melhor jeito possível e eu me sentia segura, com meu pai e Carlisle a minha frente fazendo meu parto, minha mãe e Nicolas me dando apoio.

Por um momento eu esqueci minhas inseguranças e foquei no que estava acontecendo.

—Sei que está cansada querida, mas preciso que faça força na próxima contração. - Carlisle mandou.

Eu segurei a mão de Nicolas e na próxima contração fiz força e meu Deus, aquilo estava doendo demais.

Ele estava me rasgando ao meio.

—Muito bem, muito bem, ele está vindo, não pare... - incentivou meu pai.

Continuei empurrando durante as contrações, passaram alguns minutos e mesmo cansada eu sabia que estava chegando a hora.

Desisti algumas vezes. Chorei e voltei a me desesperar. Minha respiração estava assustadoramente sufocante.

Eu já não tinha mais tanta força como antes, mas ele precisava sair e eu não estava mais aguentando.

—Elizabeth, ele esta quase, na próxima preciso que faça a maior força que puder. - meu vô pediu.

Eu não conseguia parar de chorar, não queria mais fazer força, não queria mais nada.

Mas todos me incentivaram e em um último ato de desespero na próxima contração fiz a maior força que pude.

Empurrei enquanto meu pai e Carlisle gritavam dizendo que ele estava vindo, foi a sensação mais louca do mundo...

Eu senti...

Senti exatamente na hora que ele saiu de mim e foi parar nos braços ágeis do meu avô.

Um chorinho baixo invadiu a sala logo em seguida.

—Nasceu - Carlisle disse emocionado.

Eu estava completamente em choque.

Ele passou o bebê para o meu pai que o limpou, enquanto minha mãe chorava sem lágrimas.

Nicolas ainda segurava minha mão.

—Conheça seu filho Elizabeth - meu pai me entregou ele todo embrulhado em um pano branco.

Eu estava tremendo quando ele o colocou nos meus braços.

Quando o peguei parece que o mundo ficou em silêncio. Eu não ouvia mais nada além do chorinho dele.

Ele se encaixou perfeitamente em meus braços. Como a peça de um quebra cabeças.

Uma peça minha, uma parte de mim.

—Ele é perfeito - suspirei tocando as partes do corpo dele. - Tem certeza que ele saiu de mim?

Quando olhei para Nicolas, ele estava tenso e olhava para a janela.

De repente entendi o porque do silêncio repentino.

A tempestade tinha parado, assim como a ventania, os raios e os trovões.

Estava silencioso lá fora. O céu que antes estava nublado não estava mais.

Uma pequena luz bem clara entrou pela fresta da janela. Era a Lua iluminando o quarto.

Era a Lua cheia.

Engoli em seco e olhei para o meu pacotinho em meus braços, que não parava de se remexer. Ele abriu os olhos e diretamente encontrou os meus.

Foi como um encontro de almas. Mas naqueles olhinhos inocentes, estavam a certeza do que antes eu não podia saber.

Eram azuis.

Azuis demais para um recém nascido. Mas não era só isso.

Se você olhasse bem, tinha um fundo vermelho naquele azul do mar. Um vermelho sangue.

Eu suspirei e chorei.

Chorei olhando para eles imaginando um futuro incerto, imaginando que eu tinha passado um karma para ele.

Isso definitivamente seria um problema. Mas não enquanto ele fosse meu. Só meu.

—Eu te amo filho - dei um beijinho em sua testa - E vou amar enquanto eu viver.

Nicolas sentou na maca ao meu lado e passou o braço por nos dois, tocando o bebê pela primeira vez.

Ele não disse nada. Não parecia em condições, só me beijou e observou o bebê do mesmo jeito que eu também estava olhando.

Por que ele não era só um Filho da Lua, mas ele era o meu filho.