Após uma longa semana de trabalho, as garotas Bennet e Charlotte decidiram sair para comemorar. Escolheram um restaurante novo que elas nunca tinham ido e estavam quase pedindo a sobremesa quando Lizzie notou que sua irmã estava um pouco pálida e já não falava fazia algum tempo.

— Jane, você está bem? – Perguntou com preocupação, afinal Jane era sempre tão alegre e vivaz e durante todo o dia ela esteve mais calada que o normal.

— Estou bem, Liz. Só meio cansada, trabalhei que nem uma doida essa semana. – Ela respondeu com um fio de voz. – Vou até o banheiro dar uma jogada de água no rosto e já volto.

Ela pediu licença a Charlotte para sair de seu lugar, mas antes que escapasse a amiga puxou-a pelo braço.

— Tem certeza de que está bem mesmo? Acho que você está meio quente.

Jane puxou o braço, deu um sorriso e disse para as duas pararem de se preocupar que ela só estava cansada mesmo. No entanto, algo em Lizzie dizia que sua irmã não estava bem e após alguns minutos sem que Jane voltasse, ela decidiu ir até o banheiro checar. Quando chegou lá, deparou-se com uma senhora amparando a irmã que parecia mole nos braços dela. A mulher estava colocando um pouco de água fria na testa e na nuca de Jane e parecia estar assustada.

— Jane! – Lizzie gritou e foi correndo ao encontro da irmã. – Jane, querida, o que está acontecendo?

— Está doendo... – Sua resposta foi um murmuro baixinho.

— Onde, Jane? Onde dói?

Ela não respondeu, apenas continuou gemendo de dor. Então, a mulher que estava apoiando ela, começou a contar o que tinha acontecido.

— Eu estava retocando a maquiagem quando ela saiu da cabine, estava branca, toda estranha. Aí ela se apoiou na pia e quase caiu! Foi quando eu vim ajudar, mas ela só fala que está doendo! Pobrezinha, pedi para uma mocinha que estava entrando chamar ajuda.

— Lizzie, Jane! – Charlotte entrou correndo no banheiro. – Ouvi uma garçonete falando que tinham chamado o resgate porque tinha alguém passando mal no banheiro. Vim correndo, o que ela tem? – Perguntou assim que bateu os olhos na amiga quase desfalecida.

— Não sei, Char, ela está reclamando de dor, mas não fala onde. – Lizzie respondeu desesperada. – Jane, por favor me diz, onde dói?

Jane não respondeu, apenas colocou uma das mãos sobre o lado direito do abdômen e continuou se contorcendo nos braços da mulher e de Elizabeth que agora estava ajudando a estranha a segurá-la.

Pareceu demorar uma eternidade, mas os paramédicos finalmente chegaram. Lizzie respondeu algumas perguntas e assistiu sua irmã recebendo o atendimento e sendo colocada na maca. Eles disseram que ela teria de ser levada para o hospital e perguntaram quem iria com ela, ao que Lizzie prontamente respondeu que seria ela. Combinou com Charlotte de encontrá-la no hospital, já que a amiga teria que ir em seu carro até lá e seguiu os paramédicos através do restaurante. Quase todo mundo parou de comer para observar o que estava acontecendo e aquilo só deixou Lizzie mais nervosa. Ela só percebeu algumas lágrimas descendo pelo rosto naquele momento.

— Ei, podemos ir para o St. Mercy? – Elizabeth perguntou esperançosa para uma das socorristas.

— Desculpe, ela está em crise. Precisamos levá-la para o hospital mais próximo, o Hopkins.

Lizzie concordou a contragosto e entrou com a irmã na parte traseira da ambulância. Apesar de trabalhar no Hopkins agora, tinha muito mais conhecidos no St. Mercy e se sentiria mais confortável e segura se a irmã fosse para lá. Só que eles tinham razão, o hospital mais próximo era o Hopkins e a julgar pelo estado de sua irmã, ela precisava de tratamento imediato.

Mais rápido do que ela imaginara, a ambulância chegou ao destino e os paramédicos passaram pelas portas de vidro da emergência correndo com Jane na maca. Lizzie foi logo atrás.

— Mulher, 27 anos, fortes dores abdominais. – Foi a última coisa que Lizzie ouviu antes de ser barrada por uma moça vestida de azul que pediu para que ela esperasse do lado de fora.

– Eu trabalho aqui, sou intérprete, por favor...

– Eu entendo. – A mulher respondeu com calma, enquanto guiava uma Elizabeth muito nervosa até uma área de espera. – Mas por enquanto não tem mais nada que você possa fazer por ela. Só sentar e esperar, assim que eu tiver qualquer notícia venho te avisar.

Lizzie fungou e puxou as mangas de sua blusa de lã. Na pressa esquecera seu casaco na mesa do restaurante, e agora tremia de frio. De relance viu um par de olhos azuis atrás do balcão para onde a moça que tinha acomodado ela ali havia voltado. Ela se contorceu e virou o rosto, ele era a última pessoa do mundo por quem ela queria ser vista em um estado tão vulnerável como o que se encontrava, e embora ela torcesse para que ele não a tivesse reconhecido, não demorou muito para que ele se materializasse bem na sua frente com um semblante preocupado.

– Srta. Bennet? O que houve? – Ele perguntou, sua voz áspera soava preocupada, o que acabou deixando Lizzie ainda mais inquieta.

– Agora não, Darcy... – Ela balbuciou. – Minha irmã, minha irmã, não sei o que está acontecendo. Trouxeram a gente para cá.

Ela mesma não estava entendendo nada do que tentava falar, como ele poderia? Estava tão assustada! Então, sem dizer mais uma palavra, ele deixou-a sozinha novamente. Ela suspirou aliviada, estava tentando se acalmar um pouco, mas assim que visualizou as mensagens de Charlotte no celular perguntando se elas já haviam chegado e para qual hospital foram, a sensação de desespero tentou dominá-la novamente. Ela respirou fundo algumas vezes.

Lizzie estava respondendo as mensagens da amiga quando ele voltou e entregou a ela um copo. O cheiro adocicado da bebida quente invadiu as narinas dela e a acalmou um pouco. Ela agradeceu e tomou um gole devagar.

— Não sabia se você gostava de café, então o chocolate quente me pareceu a melhor opção.

— Claro. – Ela respondeu. – Nada me acalma mais do que um doce, você acertou em cheio. Obrigada. – A seriedade em sua voz não era mais tanto pelo nervosismo, e sim, porque apesar de estar grata pelo gesto, ele continuava sendo a última pessoa do mundo, ou talvez do universo, que ela queria ver naquele momento.

— Então, o que aconteceu? – Darcy parecia totalmente alheio aos sentimentos de Lizzie, então sentou-se ao lado dela, o que a fez se retrair um pouquinho.

— Jane passou mal, ainda não sei o que houve. Estava tudo bem e aí ela caiu e agora estamos aqui.

— Entendo. – Ele fez um movimento como se fosse pegar a mão livre de Elizabeth, e então, acabou desistindo. – Mas não se preocupe, nossa equipe é muito qualificada, tenho certeza de que ela será muito bem cuidada.

Elizabeth não respondeu. Não queria saber se a equipe era qualificada, ela sabia que até os melhores médicos perdiam pacientes, às vezes independia deles. Por tanto, nada do que ele falasse a acalmaria, apenas ver sua irmã. Ela tentou ficar brava com ele, mas Darcy parecia mesmo ter um pouco de dificuldades na hora de consolar alguém, ela viu ele abrindo a boca para tentar dizer alguma coisa, para então desistir e não emitir nenhum som, inúmeras vezes. A situação já estava ficando muito estranha e ela queria colocar ele para correr, só não achava uma maneira educada de fazer aquilo. Para sua sorte, logo Charlotte passou apressada pela porta de vidro da emergência e foi direto para o balcão. No momento em que foi perguntar para a atendente alguma coisa, Lizzie a chamou e sua amiga correu apressada até ela.

— Liz! Como ela está? – Perguntou ao mesmo tempo que entregava a Elizabeth o casaco que ela havia esquecido no restaurante.

— Não sei de nada ainda.

— Srta. Bennet, agora que tem companhia, vou deixá-la. Preciso voltar para o trabalho. Melhoras para sua irmã. – Darcy que apesar de quieto tinha permanecido ao lado de Lizzie até então, desculpou-se por não poder ajudar mais e saiu.

Charlotte lançou um olhar questionador para Lizzie e ela respondeu com um balançar de ombros.

— Ele apareceu aí, disse que a equipe era qualificada, como se isso fosse me acalmar. – Lizzie preferiu não dizer que o chocolate quente que ela bebericava tinha sido ele quem trouxera.

— Ele é engraçado, todo formal. – Charlotte comentou na tentativa de distrair Lizzie, mas ela preferiu não responder. Não estava com paciência para conversar sobre o sr. Darcy grosseirão agora. Não seria um copo de chocolate quente que o redimiria por tudo o que ele fizera e principalmente, pelo que dissera para ela.

Antes que ela precisasse responder qualquer coisa para a amiga, a moça que havia conversado com ela assim que Jane dera entrada no hospital a chamou.

— Olá. – Ela sorriu com simpatia, como quem diz que tudo vai ficar bem. – O médico quer falar com você.

— Claro! – Elizabeth se levantou apressada e foi atrás da moça, Charlotte a seguiu.

Em frente a porta por onde haviam levado Jane, o tal médico a aguardava. Era ninguém mais, ninguém menos que o sr. Bingley. Elizabeth soltou o ar que nem percebera que estava prendendo, de alívio. Por algum motivo, ela confiava naquele médico, mesmo conhecendo-o apenas superficialmente.

— Srta. Bennet...

— Elizabeth, pode me chamar de Elizabeth.

— Elizabeth, – Ele deu um sorriso que fez com que Lizzie confiasse ainda mais nele. – Sua irmã vai ficar boa, mas ela vai precisar de uma cirurgia.

— Cirurgia? – Ela repetiu abobalhada, detestava aquela palavra.

— Sim, precisaremos retirar o apêndice. Mas não se preocupe, não é um procedimento complexo nem nada, ela só vai precisar ficar aqui por uns dois dias e depois já volta para casa.

Como ela não tinha se tocado? No dia anterior ele havia dito para ela que era cirurgião.

— Quando? – Ela perguntou, embora soubesse da resposta. Imediatamente.

— Já vamos preparar ela para o procedimento, se vocês quiserem entrar para falar com ela agora, eu posso levá-las até lá.

— Claro!

Elizabeth e Charlotte seguiram o dr. Bingley até o quarto em que Jane estava. Apesar de prestes a enfrentar uma cirurgia, ela disse que estava se sentindo bem melhor, provavelmente por causa de algum medicamento que os médicos já tinham dado para ela. Jane se desculpou por tê-las preocupado e disse que assim que ficasse boa, elas sairiam de novo e a sobremesa seria por conta dela. Então, as garotas a abraçaram e desejaram boa sorte. Lizzie, é claro, brincou com a irmã, disse que Jane deixou todo mundo preocupado só para ver Bingley de novo. A irmã sorriu e foi essa imagem dela que Elizabeth guardou antes de se retirar do quarto e passar as próximas horas em agonia, esperando notícias de sua amada irmã.