Elizabeth, assustada com tudo o que havia acontecido, teve a reação mais normal de todas, na cabeça dela, e saiu correndo do lugar, deixado para trás um Darcy muito surpreso e talvez um pouco incrédulo. Ela foi tão rápida que nem ao menos pagou a conta e rezou para que o colega de trabalho ao menos fizesse esse favor para ela. Colega de trabalho, era só isso que ele era, mais nada.

— Isso. – Ela disse para si mesma quando se deu conta da sorte que dera quando aquele táxi apareceu vazio.

Ela entrou e disse o endereço de seu apartamento. Estava assustada, seu coração estava acelerado e instintivamente ela pegou o celular. Precisava falar com alguém, mas quem? Não podia ligar para a irmã porque seria o mesmo que esfregar uma conquista na cara dela quando ela estava se sentindo tão vulnerável. Muito embora Liz não considerasse o que aconteceu uma conquista. Era um erro, isso sim. Um erro gigantesco e assustador. Como ela ia olhar para ele segunda-feira no hospital? Uma dança já havia deixado tudo estranho entre eles, imagine um beijo.

Sua segunda opção seria Charlotte, mas por menos que ela achasse que sua amiga combinasse com seu chefe, o sr. Collins, ela não queria atrapalhar a noite dela. Elizabeth ia ter que esperar até o dia seguinte para desabafar, enquanto isso, foi aproveitando cada segundo agonizante de sua crise dentro do carro.

Tanta coisa passou e repassou pela sua cabeça que ela quase nem se deu conta de que já havia chegado quando o táxi parou em frente ao seu apartamento. Ela pagou o motorista e saiu correndo, nem esperou para receber o troco.

Quando finalmente chegou dentro de casa, ela decidiu tomar um banho para ver se conseguia colocar as ideias no lugar, vestiu seu pijama e ficou algum tempo procurando alguma coisa para ver na tv, mas nada parecia prender sua atenção. Acabou adormecendo no sofá e foi por volta das quatro horas da manhã que ela acordou e foi para o quarto.

Naquela noite, os olhos azuis do sr. Darcy perseguiram-na em pesadelos. Ela sonhou muita coisa, mas no dia seguinte, ela não conseguia se recordar muito de nada. Ficou algum tempo na cama, olhando para o teto, tentando se convencer de que aquela saída de casa e o encontro com ele também faziam parte de um daqueles sonhos malucos.

Era tarde já, e ela decidiu que não colocaria os pés para fora de casa para evitar qualquer nova loucura. Estava preparando seu almoço de maneira precária, já que suas habilidades culinárias deixavam muito a desejar, quando o telefone tocou. Era Jane. Ela ficou um tempo conversando com a irmã, mas achou melhor não mencionar nada do que havia acontecido. Enquanto ouvia Jane falar sobre os tios, os vizinhos e o trabalho, seu coração se apertava e sua vontade de dividir suas preocupações com Jane era tanta que em determinado momento ela quase falou tudo.

Foi então que percebeu que precisava falar sobre o acontecido com alguém. Estava com um misto de euforia e medo. Por um lado, parecia tão errado, tão insensato, mas por outro tinha sido tão perfeito. Era como uma cena de filme que ficava se repetindo em sua cabeça e ela ansiava pela aprovação de alguém. Ou precisava que alguém falasse que era loucura e que ela tinha perdido o juízo. Talvez assim, ela voltasse a pensar com clareza.

Tinha decidido, ia ligar para Charlotte.

— Alô? – A amiga havia atendido com uma voz um pouco vacilante, o que inflamou Elizabeth na hora. Se Collins a tivesse chateado, ela não ia nem lembrar que ele era seu chefe. Não suportaria ver as duas pessoas de quem ela mais gostava naquele lugar sofrendo de coração partido.

— Char, é a Liz. – Ela respondeu em seu tom mais amável. – Está tudo bem?

— Oi, Lizzie. Está sim, é só que, eu acabei de acordar.

— Certeza? – Charlotte não tinha convencido com aquela resposta.

— Sim, Liz. E aí, conseguiu achar algo para fazer ontem? Fiquei preocupada, você parecia meio ansiosa.

— Ah sim, era exatamente sobre isso que eu queria falar. – Liz começou um tanto insegura. – É que ontem eu decidi sair.

— Sozinha? – Charlotte perguntou surpresa. Ela sabia que a amiga não tinha problemas em ficar em casa aproveitando sua própria companhia, mas se tinha algo de que Liz não gostava, era ir para algum lugar sozinha.

— É, acabou que me bateu uma vontade de comer, hum, alguma coisa gostosa. – Ela achou melhor não mencionar que tinha ido até o mesmo restaurante que ela. – Aí eu entrei num táxi e saí meio sem direção.

— Isso não é muito a sua cara. – A voz de Char não parecia muito animada, mas ela parecia estar se divertindo com o relato.

— Entrei num pub, encontrei o dr. Darcy, sabe? Do hospital.

— Sei, Liz. Para de enrolar.

— Então, é que a gente meio que...

— Meio que?

— Se beijou, sabe?

A linha ficou muda por alguns segundos. Com certeza aquela informação faria Charlotte sentir-se tão surpresa quanto Liz sentiu-se quando viu a amiga com o sr. Collins. Elizabeth imaginou, por alguns segundos que Charlotte ia aproveitar aquele momento para confidenciar a identidade do ”homem secreto” à Liz. Mas para sua surpresa, o segredo que a amiga revelou foi muito mais sério e chocante.

— Liz, – Ela disse com uma voz chorosa, sem ao menos comentar nada sobre o que a amiga tinha acabado de revelar. – Eu vou ser deportada.

O mundo de Lizzie pareceu ficar fora de sintonia. Aquela era a resposta mais improvável de todas à sua confissão. Charlotte só podia estar fazendo uma brincadeira e de muito mais gosto, por sinal.

— Como é que é?

— Aparentemente a carta chegou na sexta, mas eu só vi ontem quando cheguei. Ah, Liz! Foi horrível.

— O encontro? – Elizabeth ainda se recusava a acreditar.

— Não o encontro foi ótimo. Foi... Especial, mágico. Mas quando cheguei em casa e vi aquela coisa, foi como quando a gente está sonhando e do nada tudo vira um pesadelo.

— Char, eu estou indo para aí. Aguente firme.

Liz não ia deixar a amiga sofrendo sozinha. Ela pensava que podia chegar lá e juntas elas descobririam que tudo não passou de uma brincadeira de muito mal gosto de alguém. Só que quando ela chegou no apartamento minúsculo da amiga e a viu com o rosto mais inchado do que nunca, o desespero bateu. Ela arrancou a carta das mãos de Charlotte e infelizmente não era uma brincadeira. Era real e assustador. Basicamente dizia que sua melhor amiga tinha um mês para arrumar as malas e sumir dali. Não dava motivos, nem nada. Era cruel.

— Char, a gente vai dar um jeito nisso!

— Que jeito? Não tem jeito. Eu vou ter que ir embora e logo agora! – Charlotte chorava abraçada a Lizzie.

— Acredita em mim. – Liz respondeu séria. – Isso não vai acontecer. Vamos pensar em algo e até lá não vamos dizer nada à Jane.

Charlotte assentiu concordando só porque não queria chatear Jane que já estava bem vulnerável, não porque realmente acreditasse que ia conseguir reverter a situação.

— Vai dar tudo certo, Char. Nós vamos achar uma saída.