A Ilusão da Realidade

Tinha Gosto de Menta


— Eu vi quando você saiu correndo, Mel. O que aconteceu? Você está com uma cara péssima. Aquele cara fez alguma coisa que você não gostou?

Emily continuou a explicação que eu nunca pedi, mas eu não queria ouvir nada daquilo. Aquelas palavras me fizeram sentir uma coisa que eu não conseguia descrever. Que, talvez, eu nunca tivesse sentido antes e nunca tivesse percebido antes.

— Claro, porque eu nunca ia gostar de dançar com um cara, né? Eu sou a certinha e sem graça que não vai gostar se acontecer alguma coisa?

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Os olhos grandes de Emily ficaram ainda maiores. Ela provavelmente não esperava que eu fosse ser direta assim. Eu finalmente tinha encontrado a minha coragem e, pelo jeito, Emily não contava com isso.

— Do que é que você está falando, Mel?

— Isso mesmo que você ouviu — respondi com a voz mais firme que eu consegui encontrar. — Você não vai mais me fazer de idiota, Emily. Nem você e nem ninguém.

— Você tem certeza? É por isso que você fica andando por aí com a Olívia?

Os lábios de Emily estavam contraídos e, agora, os olhos dela fugiam dos meus. No entanto, ela também não parecia estar querendo se segurar.

— E por que você se importa? Ou só você pode me fazer de idiota?

Eu não sabia de onde estavam vindo aquelas palavras. Eu nunca tinha falado assim na minha vida; pelo jeito, nem eu mesma aguentava mais a minha idiotice. Botar aquilo para fora era libertador. Por que Emily achava que podia querer falar alguma coisa depois do que me fez?

— Melissa... — Eu quase não ouvi o murmúrio abafado pela música que vinha da casa. — Olha, eu sei que você está com raiva de mim, eu entendo. Só que eu não sabia que a Larissa é a sua irmã, eu juro pelo que você quiser.

— Eu não quero que você jure nada, eu cansei de ouvir promessas. Sempre acaba do mesmo jeito — afirmei com firmeza. Era difícil parar agora que eu tinha começado a dizer o que pensava. — Eu só quero ficar sozinha.

Emily pensou por um segundo e então assentiu:

— Tudo bem. Mas, se você precisar, é só me procurar, ouviu?

Não respondi. Não havia o que dizer. Depois do que houve, Emily era a última pessoa que eu iria querer procurar. Ela me encarou por alguns instantes, talvez esperando por uma resposta que eu não tinha, e voltou para dentro. Eu sentia algo que eu não entendia e nem sabia explicar, mas que me dava uma vontade imensa de socar uma parede até quebrar os dedos ou arrancar os cabelos da minha cabeça até não ter mais o que puxar.

Era assim que todos sempre iam me ver? Era isso que eu sempre ia ser? Uma menina idiota que todo mundo acha que é frágil, lerda e criançona? Bom... eles não estavam errados, estavam? Pelo menos, eu tinha uma vida inteira de lembranças constrangedoras e estranhas para provar que não havia engano algum. Eu nunca ia saber ser outra coisa e isso nunca tinha me feito sentir tanta raiva antes. Havia uma pequena parte de mim com raiva de Emily, mas eu sabia que culpar os outros nunca mudaria nada. Eu precisava encarar a verdade. A única pessoa que merecia a minha raiva era eu, e aquela Melissa idiota e boba ia sumir de vez naquela noite.

Me virei e voltei para dentro da casa antes que a coragem me abandonasse.

— Mel, aonde você vai? No que você está pensando? Mel, volta aqui! Mel? Melissa!

A voz de Roy me chamando de volta para a razão dentro da minha cabeça foi ficando cada vez mais distante conforme eu me aproximava da música. Eu não tinha mais tempo para aquela bobagem. Era hora de deixar os amigos imaginários para trás e mostrar para todo mundo, principalmente para mim mesma, que eu era mais do que aquela estranha toda errada.

Assim que entrei, percebi que estava cercada por rostos borrados e desconhecidos. A música agora era uma batida pop alegre e animada que eu também não sabia se conhecia, mas era boa para dançar. Na verdade, eu estava começando a sentir vontade de dançar e não queria pensar muito além disso.

Fui andando entre as pessoas ao meu redor e mexendo o corpo conforme o ritmo da música até que finalmente achei Jonas. Ele abriu aquele mesmo sorriso da foto, o sorriso alegre que me cumprimentara mais cedo e eu respirei aliviada. Pelo menos, ele ainda não estava rindo de mim, nem me achando um caso perdido.

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Eu fui para perto dele ainda dançando e, assim que nos aproximamos, juntei o meu corpo ao dele. Eu não queria pensar, muito menos falar nada. Só ia deixar tudo ainda mais estranho e constrangedor. A música continuou tocando e o refrão veio enquanto as mãos dele deslizavam pelas minhas costas me seguravam com firmeza. Tentei me mexer, então balancei o quadril e imitei o que eu esperava que fosse um rebolado. Jonas imitou o meu movimento, e eu fui acompanhando. Nossos corpos continuavam juntos, colados um ao outro, se movendo naquela coreografia improvisada com uma facilidade que eu não conseguia entender. Não, não era hora de pensar nisso. Não era hora de pensar. O calor do corpo dele não me deixava pensar em nada, de qualquer forma. Ele estava tão perto, tão perto… era informação demais, eu não conseguia acreditar que aquilo estava mesmo acontecendo. Que ele estava tão perto de mim, os braços fortes me segurando com confiança, a respiração morna ao pé do meu ouvido…

Os lábios de Jonas se colaram nos meus, e a língua dele invadiu a minha boca sem aviso, sem pedir licença. Jonas deslizou uma mão pela a minha cintura, me puxou ainda para mais perto e, enquanto isso, brincou com uma mecha do meu cabelo com a outra mão. Estávamos nos beijando, simplesmente assim. Era úmido, quente e tinha gosto de menta, e língua dele brincava com a minha.

Será que ele estava gostando? Era assim que eu tinha que fazer? Será que ele ia saber que eu nunca tinha beijado ninguém antes?

— Uau, menina… — ele falou ao meu ouvido e suspirou. — Esse seu jeito é de quietinha, mas você é um furacão.

Ele me beijou de novo e eu continuei apenas acompanhando o ritmo. Da música, dos lábios dele, das mãos que me acariciavam e me seguravam com confiança. Aquilo estava acontecendo mesmo? Aquele garoto alto, bonito, charmoso e interessante, que poderia ficar com qualquer outra menina aqui, estava mesmo me beijando?

Senti os lábios mornos de Jonas no meu pescoço e o meu corpo se arrepiou inteiro. Quantas coisas novas eu ainda ia sentir naquela noite?

— Ei, chega aqui pertinho… — ele voltou a falar baixo perto do meu ouvido, as mãos firmes me guiando pela cintura. — Que tal irmos para um lugar mais à vontade?