A Ilusão da Realidade

Diário da Mel: Extra 1


Olá, tudo bem com você? Será que eu deveria te chamar de alguma coisa? Acho que vou escolher um nome depois…

Desculpa, é que eu acho que não escrevo um diário nem faço nada parecido desde que eu era criança e estou sem saber por onde começar direito. O pior é que a minha mãe jogou todos os meus diários antigos fora quando nos mudamos para cá porque era “um desperdício de espaço”, senão eu até poderia dar uma olhada para procurar ideias. Aposto que também seria engraçado ver como eu escrevia e no que eu estava pensando anos atrás…

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Opa, acho que estou perdendo o foco. Talvez eu fale mais sobre a minha família e explique tudo isso outra hora, mas hoje quero falar de algo que simplesmente preciso compartilhar com alguém. Eu não sei se conseguiria confiar o suficiente em uma pessoa para falar sobre isso e, mesmo que eu fosse capaz de dizer a verdade, quem a ouviria? Eu estou cada dia mais sozinha. Me sinto uma estranha nessa casa que está sempre fazendo tudo errado e deixando tudo mais difícil, principalmente para a minha irmã. Os meus amigos me deixaram para trás bem antes de eu sair da nossa cidade antiga e eu nunca consegui fazer amigos de verdade aqui. Ou melhor, eu até acreditei que as coisas estavam começando a melhorar, mas…

Acho que estou esquecendo do principal de novo. Não quero falar (ou escrever) sobre nada disso hoje. O que eu preciso é falar sobre os meus amigos de verdade que não são reais. Não, você não leu errado. Eles só existem porque eu os criei e tem dias que saber disso dói até mais do que me sentir sozinha assim e começar a criar amigos para conversar…

Hoje eu vou te apresentar o Roy. Ele é alto, forte, tem cabelos negros e criou um hábito irritante de sempre bagunçá-los mais do que eles já são bagunçados por natureza. Seus olhos também são escuros e ele tem um olhar de menino, de garoto que está sempre alegre e nunca se deixa abalar por nada. O sorriso torto e debochado de alguém que sabe que está sempre certo também ajuda nessa impressão, eu acho, e ele também é uma consciência insuportável que nunca me deixa esconder nada de mim mesma. Às vezes eu sinto que queria ter coragem o suficiente para expressar pelo menos metade do que eu penso do jeito articulado e fácil dele. Eu não sei como ele consegue, mas sei que eu nunca conseguiria dizer a maior parte do que eu penso em voz alta. Isso é um problema gigante. Espero que ele consiga me ajudar a melhorar…

O Roy “nasceu” de uma forma desesperada de tentar lidar com tudo o que estava acontecendo na minha vida. Eu não gosto de lembrar dessas coisas, nem de ficar pensando nisso…

Quando nos mudamos para cá, eu demorei para me adaptar ao ritmo de um colégio novo e muito maior, mais forte do que a escola da minha cidadezinha antiga. Foi um começo bem difícil e o pessoal ao meu redor também não pegou leve. Eles sempre riam de mim e faziam brincadeiras sem graça, do tipo forçar fala de caipira forçado apesar de eu mal ter sotaque ou me perguntar se eu conheço coisas simples e comuns porque “eles não sabiam se já tinha chegado lá na roça.” Eu nunca nem morei em nenhum local tão remoto assim, mas quem disse que preconceitos fazem sentido? Eu só nasci em uma cidade pequena (daquelas que tudo fica perto e todo mundo se conhece) com uma fama meio estranha por conta de histórias de bruxas e fantasmas que já se passaram há muitos séculos, porém ainda são contadas. É claro que não tínhamos a infraestrutura (e nem muitas facilidades da vida urbana) da capital e as coisas demoravam um pouco para chegar lá, mas isso não significa que eu sou ignorante! Também não sou uma bruxa só por ter nascido lá e de vez em quando faziam peadas sobre isso, mesmo assim. Aliás, e se eu fosse do interiorzão, qual o problema? Eu nunca entendi e acho que nunca vou entender…

Ah, droga, estou me perdendo no assunto de novo. Acho que eu tenho mais para falar do que eu imaginei…

Uma amiga muito especial para mim uma vez me encontrou chorando porque as meninas da minha turma roubaram o meu boletim e leram em voz alta para fazer piadas. Ela não estava na mesma turma que eu e eu também prefiro não falar muito sobre essa pessoa agora. Naquele dia, ela me disse para imaginar a pessoa ideal que pudesse cuidar de mim, me proteger e me falar o que eu precisasse ouvir se eles fizessem coisas assim quando ela não estivesse por perto de novo. No começo, eu achei uma ideia meio estranha, só que se sentir sozinho e ver que você é a pessoa mais esquisita do mundo bagunça a nossa cabeça, não é mesmo? Pensando bem, essas soluções criativas eram exatamente o que eu esperava dessa pessoa, mas isso é uma conversa para outra ocasião…

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Roy sempre faz tudo parecer ser simples e fácil e eu preciso ouvir o que ele diz antes de enlouquecer com os meus próprios pensamentos, às vezes. O problema é que agora ele simplesmente não para de falar até o que eu não quero ouvir e não consigo esconder de mim mesma. Acho que Roy e eu temos relação meio estranha, mas ele é como um irmão para mim. Tipo aquele irmão pentelho e teimoso que ri da sua cara e implica com você o dia inteiro, porém nunca te deixaria na mão nem se você precisasse só de um lápis. Não sei o que eu faria sem as verdades que Roy não me deixa esconder…

Está ficando tarde. Também quero falar sobre a Liesel, mas acho que também vai ter que ficar para outro dia…

Obrigada por me ouvir !

Melissa