Estava escutando alguns gemidos e rastejos. Não apreciam humanos e muito menos barulhos que animais seriam capazes de fazer.

Eu era míope mas não tinha pensado no fato de estar sem óculos todo esse tempo. Tirei meu boné por alguns instantes para enxugar o suor da testa e reparei que algo caíra no chão. Meus óculos! Eu os peguei e havia um trinco em quase toda a lente esquerda mas mesmo assim já ajudava.

Assim que coloquei os óculos reparei que as coisas que faziam aqueles gemidos estavam vindo na minha direção. Eram pálidas e sem vida, tinham vários buracos e por eles escorria uma gosma verde. Pareciam zumbis, apesar de me recusar a acreditar que o que estava vendo eram zumbis.

Não pensei duas vezes e sai correndo de lá, desci os degraus para o primeiro andar mas vários outros deles estavam cercando a saída. Pensei em uma coisa absurda e desci para a garagem. Talvez houvesse algo que eu pudesse usar a meu favor lá. Encontrei muitas vagas vazias e poucos carros. Peguei o que parecia estar em melhores condições. Era um mustang antigo vermelho. Por sorte, seu antigo dono havia deixado as chaves na ignição. Consegui ligar o carro com muita dificuldade e arranquei para fora do prédio.

Começei a andar de carro pela cidade. Estava completamente vazia e abandonada, sem qualquer e nenhum sinal de vida. Começara a crescer plantas em todos os lugares e tudo havia apodrecido. Eu me perguntara se havia passado mais de semanas que eu havia dormido.

Segui para longe da cidade, para estrada, quando reparei que começara a entrar em um deserto. Continuei seguindo pelo deserto para ver se encontrava algo. Liguei o rádio, talvez houvesse alguma estação funcionando. Não tive sorte, mas o sujeito que fora dono do carro tinha bom gosto para música. Peguei um CD do porta luvas que dizia: "Melhor seleção do David". Coloquei pra tocar. Conhecia algumas musicas e segui pelo resto do dia no carro.

Ao som de R.E.M., vaguei até precisar acampar para dormir. Aquela noite, não conseguia tirar a voz de Stipe da cabeça repetindo para mim a mesma frase, como se não houvesse amanhã: "...it's the end of the world as we know it..."