A Princesa Gelada

Quando saltei pela janela e comecei a voar, senti que meu peso era o equivalente a uma pena. Voei e voei, observando o chão abaixo passando distante e borrado, e o horizonte alaranjado, com o céu se pondo. O frio percorria pelo meu corpo, mas de alguma forma parecia acolhedor e bom. Apertei com mais força os rubis um em cada palma da mão, e o sangue escorria ainda mais delas. Olhei para a mão direita e o sangue escorrendo não era vermelho. Era meio arroxeado, mas poderia ser coisa da minha mente.

Tudo estava muito confuso. Próximo ao horizonte, consegui ver a casa a arvore, quase toda em chamas, e consegui ver Finn, no topo dela, tentando parar a Princesa de Fogo. De repente, ela jogou uma bola de fogo, que passou perto do rosto do Finn fazendo ele perder o equilíbrio e cair do telhado.

- NAOOOO! FINN!! – gritei e voei o mais rápido que consegui, mas não consegui o pegar a tempo. Com muita sorte, Jake se transformou em uma cama elástica, amaciando a queda dele. Ele parecia muito assustado, e quando me viu, ficou aterrorizado.

- Saphira! O que voc... o que aconteceu? – ele avaliou meu rosto, observando todos os detalhes. Ele pegou na minha mão e a abriu, vendo a pedra de rubi, agora encravada na minha pele. Ele tentou a retirar, mas só fez que mais daquele liquido arroxeado escorresse. – essas são as pedras da coroa do Rei Gelado? Saphi o que você fez? Tira isso AGORA! – ele gritou comigo, e eu não entendi i por que. Olhei pra ele, formulando as palavras certas, tentando dizer que era culpa minha ela estar atacando e essa era a minha melhor alternativa para impedi-la, mas quando abri minha boca, parecia que algo erava no controle da minha fala, algo que não era eu.

- Meu príncipe, não é da sua conta. Vai dar tudo certo. Deixa comigo! – minha voz não pareci me pertencer. Parecia fria e distante. E demente.
Levantei voo, contra a minha vontade e comecei a jogar bolas de gelo gigantes que minhas mãos formavam na direção da princesa de fogo. Ela estava de costas e não tinha me percebido, até que a ataquei. Ela se virou e taquei mais bolas de gelo. Ela tentou desviar delas, e cada bola que a acertava o fogo da casa da árvore diminuía, assim como o brilho dela. Continuei tacando bolas de gelo nela, e ela tentava se proteger, recuando, até que com a intenção de acabar com aquilo logo, peguei o rubi maior que estava no bolso e o preguei no meio do peito com bastante força. Nesse momento, senti que já não possuía nenhum controle sobre meu corpo e tudo o que eu podia fazer era assistir o que a Outra Eu estava fazendo. Ela começou a fazer espinhos que brotavam do chão e entrava diretamente na princesa de fogo. Tentei a parar mas sentia cada vez mais fraca.

- PARA!!! – Finn entrou correndo na frente da princesa de fogo, que agora estava quase apagada. – Chega disso!! Acabou o incêndio! Saphi para com isso! – meu corpo se abaixou e chegou bem próximo do de Finn, que estava muito assustado, e pude ver atrás dele a princesa de fogo desacordada.

- Saphi? Não sei quem essa tal de Saphi não! – A Outra Eu ri. Uma risada tão fria, que o ar gelado a sua volta era quase palpável. Ela pegou o rosto de Finn e suas mãos eram azuis. – Eu sou a Princesa Gelada!
Finn olhou nos meus olhos e parecia em pânico. Vê-lo assim, me fez muito mal. Eu não devia ter feito tudo aquilo, colocado a pedra nas mãos, desobedecido a Marcy. Devia ter resolvido isso de outra forma. Se eu pudesse recuar de alguma forma, a faria agora.

E como um passe de mágica, a outra eu parecia ter desaparecido, e eu estava de volta no controle. Olhei para os lados e vi toda a destruição que meu corpo tinha feito, e algo me assustou. Eu vi alguém. Vi Simon. Ao menos, o que sobrara dele. Algo entre rei gelado e Simon de antes. Ele vinha mancando e parecia extremamente cansado.

- Saphira, não faça... isso con... sigo mesma. Veja o que.. aconteceu comigo – disse com voz de uma pessoa doente. Ver o Simon assim me fez muito mal. Corri na sua direção e o abracei. Ele estava tão magro que eu sentia que o mínimo de força que eu colocasse no abraço fosse quebrar todos os seus ossos. – Devolva elas pra mim, Saphi. Não quero ver você assim, por favor! Faça isso por mim... – disse sussurrando, e seu copo ficou mole. Ele se pendeu para trás, sendo que teria caído se eu não o estivesse abraçando. Seus olhos se reviraram. Ele não se mexia. Chegava a estar mais frio do que eu mesma.

- Rei Gelado? – sem resposta ou qualquer reação. – Rei..Gelad... Si... Simon! - gritei, chacoalhando seu corpo. – AGUEM AJUDA! – olhei em volta, e todos me olhavam, sem fazer nada. – F... Finn? – Finn estava olhando para o chão, e não ousara olhar para mim.

- Desculpa, mas talvez seja o melhor para todos que o rei gelado não exista mais... – disse ele, baixo. Olhei para ele, e as lagrimas começaram a escorrer pelo meu rosto. Como ele pudera dizer uma coisa desse tipo? Rei gelado ou Simon, não se deve deixar alguém morrer. Deve-se ajudar a qualquer custo. Não é isso que heróis fazem? Ou ele só faz o que acha melhor para ele? Como ele podia ser tão idiota? Tao egoísta? Tao frio. Frio. O frio estava retornando. Os meus sentidos pouco a pouco iam desaparecendo, e algo ocupava o lugar que antes eu dominava.

Coloquei o corpo de Simon com delicadeza no chão e me virei para Finn. Meus pés já não tocavam o chão. Levantei minhas mão e as direcionei para ele. Ele já não mais prestava atenção na situação. Estava olhando para a princesa de fogo, colocando madeiras secas a sua volta, para que ela recebesse combustível para se fortalecer. O gelo se formava na minhas mãos e pela primeira assustadora vez, eu os queria ali. Estava pronta para acerta-lo quando algo se chocou contra mim.

E tudo ficou escuro.