Passamos horas e horas tentando desenvolver a cura para os zumbis e por volta do fim da tarde do outro dia, havíamos terminado. Jujuba disse que ia se deitar em seu quarto para poder descansar e sugeriu que eu fosse procurar um quarto para descansar. Em vez disso, fui a enfermaria, ver como estava Hera. Quando entrei no quarto, vi que Hera estava deitada em uma cama, e parecia estar bem fraca e cansada. Puxei uma cadeira próxima a cama e me sentei ao seu lado. Eu não queria falar com ela mentalmente, pois estava muito cansada e consumia muita energia, então deitei a cabeça na cama e a fiquei observando quando escutei um barulho no canto da sala. Não levantei a cabeça e fingi que não havia escutado nada, apesar de que ja estava me preparando para um futuro ataque.

Ficou tudo em silencio por um tempo e enfim o barulho se repetiu, e aumentou. O que quer que fosse que estava fazendo barulho, agora vinha na minha direção. Fazia um barulho de gosma e um grunido também. Zumbi. Nao pensei duas vezes em me levantar, pegar a cadeira e tacar na cabeça do Zumbi. Mas não era um Zumbi. Era Marshall Lee.

–Ai... Ai... Doeu, sabia? Voce devia pelo menos me ajudar...!

Eu estava em choque! Eu havia usado toda a minha força extra para acertar o Marshall na cabeça e agora estava fraca demais pra fazer qualquer coisa. Comecei a desabar. Senti que ia desmaiar e ja estava a caminho do chão quando Marshall me segurou. Ele me levantou e me levou para uma maca ao lado da de Hera e me deitou. Eu ainda estava acordada quando ele saiu correndo para pedir ajuda. Alguém entrou na sala e começou a me examinar. Nao estava conseguindo ver nada com clareza, somente borrões. Dentre toda a confusão do momento, outras pessoas entraram na sala. Uma delas eu consegui reconhecer. Finn.

...

Ao acordar, me levantei da maca e peguei meus óculos ao lado do travesseiro. Assim que os coloquei, vi que estava em um quarto diferente da enfermaria. As portas estavam trancadas e as janelas estavam com barricadas de madeira.

– O que... O que esta acontecendo? - murmurei, ao ver que não estava sozinha na sala. Marshall e Hera estavam ali comigo, próximos as portas.

– Shiu!! Fique em silêncio! - cochichou Marshall, ainda voltado para as portas. - Eles podem nos escutar se você falar alto demais!

Hera veio na minha direção, caminhando sem fazer barulho e encostou a testa na minha. Era uma sensação confortável ter Hera de volta pra mim. Ela parecia estar bem melhor.

– Eu estava preocupada com voce menina!

– Mas foi você que ficou desacordada por tanto tempo! - disse, sorrindo. - O que esta acontecendo?

– Depois que você bateu no Marshall Lee...

– Eu queria brincar com você! Não achei que você fosse quase me matar com aquela cadeira! - interrompeu Marshall, meio irritado. Havia uma faixa enrolando o topo da sua cabeça, próxima a testa. Acho que vampiros não se regeneram tão rápido quanto eu pensei.

– Os zumbis invadiram. Tivemos que tirar você da enfermaria e te colocar em uma das torres do Palácio. Nesse momento, eles estão atacando todos os cômodos do Reino, menos este aqui.

– E a Marcy? A Jujuba? Onde elas estão?

– Elas estavam preparando armas com o antídoto. Agora já devem estar na batalha. - respondeu Marshall.

Subitamente, Hera e Marshall se viraram para a porta da esquerda. Marshall pegou uma adaga escondida na barra de sua calça e Hera ficou com uma expressão aterrorizante. Ficaram imóveis e cada vez mais sinistros. Demorou um tempo para eu ver uma sombra abaixo da porta. Alguém estava parado bem ali. Hera se posicionou na minha frente enquanto Marshall flutuou em direção a porta. A coisa que estava do lado de fora do quarto bateu tres vezes na porta. Depois duas. E mais quatro.

De repente, Hera relaxou e Marshall guardou a adaga. Ele abriu a porta e um menino entrou no quarto. Ele estava usando uma calça jeans clara toda rasgada e suja, tênis all stars pretos, uma camiseta azul marinha escrito em branco " It's not ONLY rock and roll, baby" e um boné dos Yankees. Ele também usava óculos. Depois que ele entrou, Finn entrou logo atrás dele. Ele estava com as roupas todas rasgadas e não estava usando o seu gorro branco. Depois que os dois entraram, Marshall fechou a porta e a trancou.

Quando Finn viu que eu estava o olhando ele veio correndo na minha direção e me abraçou. Apesar de que estava todo suado e sujo, eu não o afastei. Apenas retribui o abraço.

Ele se afastou um pouco e por um momento, de tão próximos que estávamos, achei que ele ia me beijar. Senti minhas bochechas ficarem quentes, e vi que as dele estavam extremamente vermelhas. Ele ficou me segurando pelos braços e me olhando nos olhos.

– Ainda bem que você esta bem! Esta se sentindo melhor? Precisa de alguma coisa? - disse, ofegante.

– Anh... Não! Eu estou bem! Não sei como consegue se preocupar comigo, sendo que voce esta todo sujo! Esta ferido? - respondi. Percebi que Hera estava se segurando para não dar risada.

Ele me soltou e vi que havia um arranhão em seu ombro. Parecia ser um corte profundo.

– Esta tudo bem ai no seu ombro? - me inclinei para tocar o local próximo ao corte e ele se inclinou para trás, com uma cara de dor.

Hera, que estava pensando na mesma coisa que eu, foi para um canto no quarto e mostrou um quite de primeiros socorros. O pegou com a boca e o trouxe para mim. Pedi para que Finn se virasse de costas para mim e reparei que a sua camisa atrás estava rasgada, seguindo o caminho do corte, que atravessava suas costas. Pedi para que ele retirasse sua camisa mas ele mal conseguia levantar seus braços, então tive que tirar para ele. Não precisei olhar para seu rosto para saber que ele estava vermelho. Eu também estava.

Depois de improvisar alguns pontos na ferida, Hera pegou uma camiseta preta para Finn que estava em um armário no quarto. Ele pediu para descansar um pouco então deitou-se na cama em que eu estava.

– Hum... Precisamos de mais alguns pontos em alguém aqui. - disse Marshall, com uma das mãos apoiada no menino que entrara na sala junto com o Finn. Eu ficara tão distraída com o Finn que mal me lembrara do menino.

– Ah! Sim, claro! - respondi.

Me aproximei do menino e vi que ele era extremamente parecido com Marshall Lee. Ele retirou o boné e vi um corte vem acima de seus olhos, verdes como os meus. Ele tinha a mesma altura que eu, e também parecia ser um humano.

– Então... Você é Saphira?! Interessante! - disse o menino, sorrindo. Seu sorriso, malicioso, era exatamente igual ao do Marshall.

– E quem é você, posso saber? - perguntei.

– Eu sou você!

– Hã... Sei... - disse, meio desconfiada, pegando uma agulha e linha para reparar o corte. No momento em que a linha tocou sua testa ele soltou um gemido de dor.

– Cuidado ai, Saphira - disse Marshall, me encarando.

– Desculpa! Não sei dar pontos sem causar dor! Se você souber pode fazer isso no meu lugar, que tal?

Marshall se virou para a porta e flutuou em sua direção, bravo.

– Mas falando sério, eu sou você! - insistiu o menino. - Sou você de outra dimensão!

Eu parei. Não podia ser verdade! Quer dizer, Jujuba disse que o meu eu de outra dimensão estava aqui e eu também vi a Marceline de outra dimensão mas aquilo ainda parecia impossível!

– Você é o Samuel? - perguntei, incrédula.

– Bingo! Nossa, como você é lerda! Achei que o meu eu dessa dimensão fosse tão inteligente quanto eu sou! - disse sorrindo.

Eu estava apertando os pontos na sua cabeça, agora com um pouco de raiva quando apareceram barulhos do lado de fora da sala. Todos ficaram em silêncio absoluto.

As sombras abaixo das portas eram estranhas e não haviam um formato normal. Todos estavam se preparando para o que quer que fosse acontecer.

Terminei de dar os pontos finais e Finn pegou na minha mão e se dirigiu ao fundo da sala. Ele se posicionou na minha frente segundos antes da porta estourar, entrando na sala pequena, uma horda de zumbis.