Acordei passando muito mal. Eu abrira meus olhos mas não conseguia ver bem. Eu havia perdido meus óculos. Os procurei pelo chão e os encontrei próximo ao corpo de Hera. Coloquei os óculos no rosto e me aproximei de Hera. Ela não se mexia. Nem respirava... Entrei em pânico.

Me levantei e reparei que ainda estava no Reino Gelado e agora eu estava dentro da cela que eu tinha visto. Comecei a gritar, chamando pelo Rei Gelado, pra que ele me tirasse dali.

– Ai ai! Acalme-se Princesa! Já estou indo!! - cantarolou ele. Ele entrou na sala, vindo de uma porta pela qual não consegui ver e parou na minha frente. - Sentiu minha falta, futura esposa?

Eu olhei para ele, tentando achar o Simon, que eu sabia que ainda morava lá no fundo do Rei Gelado, mas só vi a loucura e insanidade que ele havia se tornado.

– Que historia é essa de eu ser sua esposa? Eu nunca concordei com isso! - disse, com raiva. Me lembrei de Hera e a raiva foi ficando mais forte. - Por que a Hera está assim? Por que ela não se meche? O QUE VOCÊ FEZ COM ELA? - gritei.

Não estava mais aguentando tudo aquilo. Queria sair dali e voltar para o Reino Doce. Queria voltar para a minha casa, na universidade, com Simon e Betty...

– Ahhh! Eu não fiz nada! Não adianta brigar comigo! - murmurou o Rei Gelado, apesar de saber que era culpa dele. - Princesa, de que cor voce gosta mais? Branco ou azul, para o seu vestido de noiva? - disse, e me estendeu dois vestidos, que não pareciam vestidos de noiva, mas sim um jaleco branco e uma tunica igual a que ele estava usando.

Olhei para Hera. Se eu continuasse aqui, o que quer que seja que tenha deixado a Hera assim, pode a matar. Eu sabia que ela não estava morta, conseguia sentir vibrações, dentro de mim, indicando que ela estava viva, mas o fato de nao estar se mexendo, nem respirando, me deixou nervosa.

Tive um plano. Eu teria que sair daquele lugar e achar uma forma de ajuda-lá.

– Humm... Acho que o jaleco... Quer dizer o vestido branco, ficaria melhor em mim! - disse, fingindo empolgação. - Pode me passar, para que eu possa experimentar?

Ele, sorrindo, me passou o jaleco pelas grades da cela. Eu o coloquei e o fechei. Olhei para o bolso que havia perto do pescoço, na linha do coração. Havia um B bordado em verde, bem pequeno e quase imperceptível. Se eu não conhecesse aquele jaleco não o teria notado. Me lembrei de quando eu era pequena e Betty o colocava em mim. Eu era pequena demais para ele, mas agora ele me servia perfeitamente.

Me virei para o Rei Gelado, tentando jogar charme, coisa que nunca havia feito na vida, sorri e perguntei:

– Como estou?

– Ah, não é a noiva mais bonita que eu já tive, mas ta pro gasto! - disse, fazendo uma careta, quando olhou para mim.

Pensei que talvez ele ainda devia amar a Betty, e somente por isso, não conseguia se desfazer de seu jaleco.

– Ah, não sei se estou bonita o suficiente! Se eu pudesse me olhar no espelho... - disse, jogando charme - ...talvez eu me tornasse a noiva mais bonita que voce já viu!

Ele me olhou por uns instantes, que pra mim, pareceram horas, e sorriu.

– Venha aqui, Princesa, tem um espelho nessa sala aqui. - disse abrindo a cela e me deixando sair.

Ele segurou meu braço e me levou para uma sala que eu não havia visto antes, a mesma sala da qual ele havia aparecido. Descemos muitas escadas para finalmente encontrar uma grande biblioteca e várias coisas humanas. Quando finalmente me soltou, caminhei pelas longas prateleiras de livros. Reconheci alguns da casa de Simon e alguns que ele havia escrito. Parei em um livro que não havia nada escrito. Era grande e vermelho e o abri. Na primeira página, estava escrito, com letras caprichadas.

"Este livro pertence a Simon, Betty e Saphi".

Peguei o livro e o abracei, sem ter tempo de olhar o conteúdo, pois o Rei Gelado estava bem atrás de mim.

– Ande logo! Ali no fundo tem um banheiro com espelho bem grande. Vá lá e ser arrume! - disse, me empurrando e pegando o livro das minhas mãos. Eu o observei enquanto colocava o livro de volta na prateleira, no exato lugar onde eu o achara.

Caminhei até o banheiro, que era todo de gelo e fechei a porta ao entrar. Me olhei no espelho, que não era de gelo, e vi que próximo ao meu olho direito havia um corte profundo, que sangrava bastante. Não me lembrava de ter esse corte quando me olhei no espelho no Reino de Fogo. Talvez eu o tivesse feito quando desmaiei.

Coloquei o boné, que ainda estava comigo e abri a porta, pronta para dar um jeito de escapar. Sai correndo do banheiro e vi que o Rei Gelado estava parado de costas para mim. Quando já estava próxima o suficiente dele, pulei em sua cabeça e arranquei a coroa dela. Ele gritou e estava tentando se levantar quando lhe dei um chute, em um lugar que, provavelmente doeu bastante. Ele se debruçou, e ficou deitado no chão gemendo.

Peguei a coroa e sai correndo em direção a saída, quando me lembrei do livro e voltei para o pegar. O Rei Gelado ainda estava no chão, e não me notou quando passei por ele para pegar o livro e voltei para a saída. Pensei em bloquear ela com alguma coisa, mas nada me veio a mente.

Entrei dentro da cela e me ajoelhei diante de Hera.

– Hera. Hera! Eu sei que você consegue me ouvir! Preciso que voce se levante! Precisamos sair daqui! - escutei um barulho vindo da porta. O Rei Gelado estava começando a se recuperar e estava subindo as escadas! - Temos pouco tempo! Vamos Hera! Levante!

As lagrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, quando comecei a sentir falta da sua força vital em mim. Encostei o meu rosto em suas costas e chorei silenciosamente, quando, de repente, senti uma mão segurar meu ombro e me puxar para trás. Pronto. O Rei Gelado se recuperou e esta morrendo de raiva. Agora que ele me pegou, é o meu fim e o de Hera.

Fechei os olhos ao sentir outra mão, agora me agarrando e me levantando. Me virei e me assustei ao ver quem estava lá.

Não era o Rei Gelado. Era Marceline! Ela sorriu para mim e disse:

– Surpresa?

Eu sorri e fiz que sim com a cabeça. As lagrimas não paravam de escorrer pelo meu rosto. Eu a abracei e chorei em sua blusa, enquanto ela afagava meus cabelos. Me afastei e olhei para ela. Mesmo parecendo uma vampira, ela ainda me lembrava a pequena Marcy.

– O que você estava fazendo aqui? - perguntei.

– As vezes eu venho ao Reino Gelado para ver o Simon...

– Mas... O Simon não esta mais aqui... Agora só resta o Rei Gelado... - murmurei.

– Eu sei. Mas quem sabe, em um dia de sorte, eu encontre o Simon aqui em vez do Rei Gelado? - disse sorrindo. - E o que você faz aqui? É perigoso!

– Vim em nome da Princesa Jujuba! Tenho que voltar pra lá! A Hera esta muito doente! Eu não sei o que aconteceu com ela, mas a Jujuba com certeza vai saber o que fazer!

Ela me observou por alguns instantes e falou que iria me ajudar. Sem o menor esforço, ela pegou Hera no colo e a colocou sobre os ombros. Não sabia como isso era possível, sendo que Hera era quase duas vezes o tamanho de Marceline!

– Força sobre humana! Coisa de vampiro, sabe! - disse, sorrindo, como se conseguisse ler meus pensamentos.

– Você pode ler pensamentos também? - perguntei.

Ela riu, e se virou para mim e disse:

– Não! É que não é muito difícil de saber o que esta se passando na sua cabeça! Você é muito transparente!

Eu fiquei vermelha, o que fez com que Marceline desse risada mais alto ainda. Ela só conseguiu parar de rir quando vimos o Rei Gelado na entrada da porta, se rastejando. Antes que eu pudesse falar alguma coisa, Marceline me segurou com a mão livre e me puxou para fora da montanha de gelo do Rei Gelado. Ela voava ainda mais rápido que Hera, então a viagem para o Reino Doce não fora tão longa.

Olhei para a minha mão e vi que ainda estava segurando a coroa do Rei Gelado. Conseguia sentir o seu poder, passando pela minha mão. Era uma sensação boa, de controle. Me perguntei se fora isso que tirara o Simon de mim.