A Hat and A Cap

Se eu e você fôssemos nós...


O Fundamental finalmente havia acabado. Passei de ano muito bem, e finalmente enfrentaria o temor do Ensino Médio. No fim do ano, o Ace conhecera um pessoal de uma escola técnica e resolveu se juntar a eles, o que significaria que eu estaria sozinho agora... Bom, não bem sozinho, uma vez que eu e Koala estávamos como um elétron perto de um próton. Ainda havia uma semana de férias, e escolhi uma quarta-feira para sair com a jovem.

Resolvi ir para o parque. Sentei num banco da via principal e abri um gibi que tinha roubado do Ace. Consegui ler até a metade até ser interrompido:

[Koala]-Você usa cartola, sério?

[Sabo]-Não desdenhe. É questão de estilo. -ajeitei a gola da camisa

[Koala]-E eu posso saber por que foi que você se arrumou todo pra vir ao parque comigo?

[Sabo]-Bom... Eu... É que... Então... -desconversei

[Koala]-É brincadeira, seu besta. Por que me tirou de casa nesse frio maldito?

[Sabo]-Você precisa andar pela cidade, sabia?

[Koala]-Ah, e andar pela cidade é seguir a rua até o parque? Ótimo, Sabo.

[Sabo]-Iiiiih! Vai brigar comigo? Estou fazendo um favor à sua saúde, sua ingrata.

[Koala]-Eu poderia estar deitadinha agora, vendo um filme, com 19 cobertores. Mas não, eu tô aqui olhando pra sua cara.

[Sabo]-E você até que gosta, não é?

[Koala]-Hmpf. -ela fez beiço e franziu a testa

Levantei do banco e cruzei nossos braços:

[Sabo]-Se você quiser, eu posso te abraçar...

[Koala]-Hmmm...

[Sabo]-Isso foi um sim?

[Koala]-E você iria acatar o meu não?

Passei o outro braço pelo outro lado e uni minhas mãos na cintura dela. Seu rosto estava tão vermelho quanto a seu casaco que ia até os joelhos:

[Sabo]-E então? -eu sorri

[Koala]-Hmpf.

[Sabo]-Você sabe o que eu quero saber. Então por que nós dois não podemos saber da mesma coisa?

[Koala]-Se eu e você fôssemos nós... Até que sim. Ai, pera...

[Sabo]-Então...?

[Koala]-Ah, você tá esperando desde a excursão... Olha Sabo...

Ela começou a caminhar e me vi obrigado a acompanhá-la para não soltar os braços:

[Koala]-Eu consultei os astros. Joguei dados. Joguei cartas. Fiz o teste do osso... -ela soava confiante, enumerando cada coisa com a mão direita - E pensei bastante sobre aquilo tudo.

[Sabo]-Eu não quero saber da cena, passa logo para a gameplay!

[Koala]-Nesse caso...

Ela pôs as mãos sobre as minhas e começou a andar para o lado. Isso me fez desequilibrar e cair de costas na grama. Para minha surpresa, ela caiu sentada ao meu lado:

[Sabo]-Ai! Caramba, que diabos você tá pensando?

[Koala]-É um sim.

O que eu tinha a dizer subitamente sumiu. Apenas fiquei boquiaberto e a encarando com a testa franzida:

[Sabo]-Pera... Então quer dizer que...

[Koala]-É.

[Sabo]-E...

[Koala]-Sim, Sabo.

[Sabo]-Mas e...

[Koala]-É, caralho, eu aceito ser sua namorada! -ela bateu as mãos nas coxas

Ergui-me como um monumento de pedra, batendo o casaco para tirar os possíveis fiapos de grama que estivessem grudados:

[Sabo]-Eu jurava que seria um "não", e você iria embora pra casa de novo. E você ia me chamar de abusado, tarado, etc...

[Koala]-Nem preciso gastar saliva, sendo que você mesmo se reconhece. -ela sorriu, serelepe

[Sabo]-É que eu nunca cheguei nessa fase. Que que eu faço?

[Koala]-Eu sei tanto quanto você sobre isso. Acha mesmo que eu já tive um namorado?

[Sabo]-Sei lá, você é bonita. Não seria surpresa se já tivesse.

A garota afundou o rosto até a altura dos olhos no cachecol preto que estava em seu pescoço:

[Koala]-E-eu não vou conseguir me acostumar com isso...

[Sabo]-Com elogios?

[Koala]-É.

[Sabo]-Ah, que bom! Não vou ter que gastar a criatividade com isso! -e ri

Um punho fechado acertou em cheio minha bochecha direita:

[Koala]-Ouse, e eu vou te chutar. E se falar que eu sou baixinha, é pior pra você.

[Sabo]-Ei ei, vai com calma. Eu nem falei nada. Ainda estou me recuperando do seu "sim".

Ela sentou-se ao meu lado e pousou as mãos sobre meu peito:

[Koala]-Feche os olhos.

Eu acatei. Koala aproximou seu rosto e me beijou. A única reação que pude ter foi pôr a mão direita em seu rosto:

[Koala]-Você está quente. -ela estava vermelha e sorria

[Sabo]-Eu sou quente, garota.

[Koala]-Que ótimo. Você é uma fonte quente! -ela se jogou sobre o meu colo - Me aqueça, fonte.

[Sabo]-Quê?!

[Koala]-Ai Sabo, você é um estúpido! Vou mastigar o óbvio pra você: Me dê carinho. Passe sua mão em meu rosto, segure minha mão, essas coisas.

[Sabo]-Aaaaaah... Bom, sendo assim sim.

Pus a mão sobre o rosto frio da jovem e movi o polegar lentamente por sua bochecha. Garantidamente, eu não tinha ideia do que estava fazendo e menos ainda se estava fazendo certo. Depois de um longo silêncio:

[Sabo]-Ãh...

[Koala]-Sim, querido?

[Sabo]-Você estava dormindo?

[Koala]-Quase. Você é quentinho.

Apenas sorri e tirei a mecha de cabelo de seu rosto:

[Sabo]-Olhando você de cima, até parece uma boneca.

[Koala]-Artificial?

[Sabo]-Não, bem feita até nos detalhes.

A mão dela sobrepôs a minha:

[Koala]-Bobo... -e sorriu

[Ace]-Alguém me deve 800 berries. E olha, eu vim cobrar! Oi galera. -a voz que brotava do fim do Universo estava encostada na árvore ao lado, acenando

[Sabo]-Eu juro que queria te encher de balas agora. E de preferência, com um fuzil automático.

[Ace]-Ora ora, o que é isso irmãozinho? Eu só estava andando de patins e vi o casal do século na grama. Aí eu resolvi aproximar e tal.

[Koala]-Ace.

[Ace]-Ele mesmo.

[Koala]-Dessa vez... Deixa a gente em paz? Eu estou curtindo o MEU idiota. -ela enfatizou o "meu" - Pode ser?

[Ace]-Se você tá pedindo... Falous! -ele nos reverenciou e voltou para a estradinha com os patins

[Sabo]-Como você...

Ela soltou uma risadinha e pôs o dedo indicador nos lábios:

[Sabo]-Ele é um incômodo.

[Koala]-Eu não acho.

[Sabo]-Não?

[Koala]-Não. Aliás, se não fosse o Ace, muita coisa não teria acontecido.

[Sabo]-Tipo...?

[Koala]-O seu sim, boboca. Ele insistiu. Tipo, muito. E negou todo tipo de doce que eu ofereci pra fazê-lo parar. Ele disse que você tava ficando melhor e que falava de mim o tempo todo, apesar de "fingir" ser o isento de sentimentos. Ah, e ele também me contou sobre o Drake.

[Sabo]-Ele te chamou de coelhinha. Vou arrancar a língua daquela lagartixa.

[Koala]-É um bom apelido, mas eu morreria de vergonha com ele.

[Sabo]-Coelhinha.

[Koala]-É.

[Sabo]-Você não morreu de vergonha, sua mentirosa.

[Koala]-Pera... Eu me perdi.

[Sabo]-Co-e-lhi-nha. -separei em sílabas, olhando no fundo dos olhos dela

[Koala]-S-Sabo, não faz isso.

[Sabo]-Coelhiiiiiiii....nhaaaaaaaaaaa...

[Koala]-Chega, por favor!

[Sabo]-Coelhinha.

[Koala]-Garoto, o que você tem de errado?! -ela cobriu o rosto com as mãos

Cutuquei a "concha" com o dedo indicador:

[Sabo]-Toc toc.

[Koala]-Some daqui, seu imbecil. Eu não devia ter ouvido o Ace.

[Sabo]-É o Correio.

[Koala]-Já falei pra ir embora.

[Sabo]-É uma entrega especial, senhora. Eu preciso cumprir minha cota do dia.

Lentamente ela abriu as mãos e me olhou com raiva, fazendo beiço. Aproveitei a brecha e a beijei de novo, desta vez deixando-a quase colada em mim. Percebi suas mãos emaranhando meu cabelo ao longo do contato. E no fim, ela sorriu:

[Sabo]-Eu te amo, coelhinha.

[Koala]-Por favor, eu vou morrer de vergonha se você me chamar assim em público.

[Sabo]-Eu não vou fazer isso... E mesmo que faça, a coelhinha pode se esconder na toca. Eu sou sua toca, coelhinha de boina vermelha. -apertei sua cabeça contra meu peito

Ela me abraçou forte:

[Koala]-O que foi que eu fiz pra merecer você, hein? Não ouse deixar de ser assim.

[Sabo]-Eu tenho preguiça até pra trocar de roupa, imagina pra mudar.

Ela se afastou rapidamente:

[Koala]-Q-quê?

[Sabo]-Brincadeira. Esse é o Ace. Eu tenho política pesada com higiene.

[Koala]-Por falar em higiene, e dado o que aconteceu agora... Você aceitaria ser minha dupla na aula de economia doméstica?

[Sabo]-Econo... hein?

[Koala]-É que nós temos que cumprir horas extras no ensino médio. E tem várias opções sobre como cumprir. E eu quero ir pra economia doméstica. Bom, eu queria costura e essas coisas, mas tava muito mais do que lotado... Daí...

[Sabo]-Economia doméstica não é coisa de cuidar de casa?

[Koala]-Um dia eu vou me casar, e pretendo impor ordem dentro de casa. Alguém tem que liderar.

[Sabo]-Isso é um convite pra eu me casar com você?

[Koala]-Eu não falei isso...

[Sabo]-Ah, ufa... Achei que já ia ter que me preocupar em arrumar um emprego.

[Koala]-Sabo...

[Sabo]-Quê?

[Koala]-Eu tô doida pra colocar um zíper na sua boca.

[Sabo]-Quê? Por quê?!

Seu olhar, traduzido, dizia: "Só cala essa boca.". E foi o que eu fiz. Resolvi mudar de assunto:

[Sabo]-Entãããããão... A Dadan me deu um dinheiro e... Cê quer tomar chocolate quente?

[Koala]-É tão difícil assim dizer o que você quer?

[Sabo]-Ah, é que... É.

[Koala]-Pff... Homens.

Cruzei os braços e a encarei:

[Sabo]-Você fala como se conhecesse todos os homens.

[Koala]-Eu não tenho o menor interesse em fazer isso. Mas se eles forem como você, são um bando de idiotas.

[Sabo]-E se eu for um idiota mesmo?

[Koala]-Daí nós dois somos opostos. E opostos se atraem.

[Sabo]-Viu? Você não sabe negar que me ama.

[Koala]-Você me ouviu dizer isso?

[Sabo]-Não.

[Koala]-É porque eu ainda não estou pronta pra expressar.

[Sabo]-E isso faz diferença?

[Koala]-Sim.

Levantei e estendi a mão para ela:

[Sabo]-Vamos, sistemática.

[Koala]-Hmpf. Sou a melhor garota que você sequer poderia ter conhecido.

[Sabo]-Que humilde, nossa. Já pensou em se candidatar à prefeitura?

Ela se levantou e ajeitou o casaco:

[Koala]-Se um dia a vida me fizer morar com você, vou sair correndo.

Agarrei sua mão e apertei:

[Sabo]-Mimimimimi... Você vai continuar com isso de casamento?

[Koala]-Eu não estou falando de casamento.

[Sabo]-Está sim.

[Koala]-E se eu estiver, o que vai fazer?

[Sabo]-Te proibir de me largar. -bufei

Claramente ela engoliu todo o discurso que tinha para dizer e encostou a cabeça em meu braço. Caminhamos pelas ruas até a avenida principal. Havia uma cafeteria uns metros à frente, quase perto do shopping da cidade. Cruzamos a avenida e eu comecei a correr:

[Sabo]-Rápido, o navio está vindo!

Assim que chegamos ao outro lado e que ela recuperou o fôlego, logo me deu um tapa no braço:

[Koala]-Navios não navegam numa avenida, seu demente.

[Sabo]-Mas você acreditou e correu.

[Koala]-Talvez por que eu poderia ficar sem braço se tivesse ficado parada...?

[Sabo]-Aham, claro claro...

Entramos na cafeteria. Tocava um jazz suave como música ambiente, e as pessoas conversavam num tom de voz baixo. Fizemos nosso caminho até uma mesa no meio do salão. Ajudei-a a sentar e me joguei sobre meu banquinho. Logo, uma mulher alta e magra como um cadáver apareceu:

[Garçonete]-O que o casalzinho vai querer?

[Koala]-Eu quero chocolate quente com chantilly.

[Sabo]-Eu quero café!

[Garçonete]-Certo.

A figura ossuda sumiu na penumbra:

[Koala]-Sabo, esse lugar me parece meio caro.

[Sabo]-Relaxa. Eu tenho dinheiro.

[Koala]-Eu pago você na semana que vem.

[Sabo]-Me recuso.

[Koala]-Mas eu quero pagar.

[Sabo]-E eu recuso.

Ela deu de ombros, vencida pela minha cara de "eu tenho dinheiro, caramba!". Logo a figura voltou com as bebidas:

[Garçonete]-Aproveitem.

Koala passou o dedo no chantilly e o lambeu:

[Koala]-Vícioooooo!!!!

[Sabo]-Credo, isso não tem gosto de nada.

[Koala]-Você nunca provou, né?

[Sabo]-A Dadan sabe fazer essa porcaria. O Ace adora. Eu não.

[Koala]-Eu ia oferecer, mas é bom que sobra mais pra mim.

[Sabo]-Meu café agradece.

Esqueci de adoçar e, ainda mais importante, de assoprar. Bebi com vontade e com a mesma vontade, pus a língua para fora ao colocar a xícarade volta na mesa:

[Sabo]-Ergh, que gosto de saco de linho...

Algo acertou minha testa:

[Koala]-Chama-se "açúcar". A humanidade inventou isso. Seu estúpido.

[Sabo]-Obrigado, madame.

[Koala]-Hmpf. -ela bebia calmamente enquanto me encarava com desdém

Rasguei 5 saquinhos de açúcar e misturei com um canudinho:

[Sabo]-Pronto.

[Koala]-Você vai ficar diabético.

[Sabo]-Dá pra parar de reclamar do meu café?

[Koala]-Dá.

[Sabo]-Obrigado.

[Koala]-Só não quero. -e mostrou a língua com a ponta cheia de chantilly

Terminamos de beber e eu fui pagar a conta, sem a Koala:

[Sabo]-Quanto deu o café e o chocolate quente?

[Caixa]-7 mil berries.

Assoviei surpreso:

[Sabo]-Whew. -pus as cédulas sobre o balcão. - Obrigado.

Voltei para perto dela:

[Koala]-Eu disse que era meio caro.

[Sabo]-Hã? Ah, não foi nada. É só que a mulher tinha um verrugão. -eu menti - E eu tô impressionado com a verruga.

Assim que ganhamos a rua de novo, ofereci para levá-la para casa. Dobramos algumas ruas para baixo e lá estava uma casa de dois andares em estilo rústico:

[Sabo]-Wew, que vidão hein.

[Koala]-É a casa do meu tio.

[Sabo]-Tio?

[Koala]-É. Em 9º grau. Ele não é nada mais que o parente com melhor condição financeira pra cuidar da órfã aqui. Minha família? Nem a pau.

[Sabo]-Você não está mais sozinha. -soei heroico - Não enquanto esse Sabo estiver vivo e existindo.

Ela sorriu e passou os braços por trás do meu pescoço:

[Koala]-Pensando bem... Até que não foi uma má ideia ter deixado o Ace insistir.

[Sabo]-Eu sou digno, então?

[Koala]-Sim, Sabo. -ela suspirou

[Sabo]-Aê, eu ganhei!

[Koala]-Ganhou o que?

[Sabo]-O "Eu te amo".

[Koala]-Quem disse?

[Sabo]-Você mesma.

Ela me abraçou outra vez:

[Koala]-Desisto.

[Sabo]-Ha-ha!

[Koala]-Você é tão idiota que me faz perguntar como alguém assim pode existir.

[Sabo]-Talvez seja porque até uma turrona feito você merece ser feliz.

A boca com sabor de chocolate acertou em cheio a ponta do meu nariz:

[Koala]-Eu te amo, seu idiota. E essa foi a coisa mais fofa que você já disse.

[Sabo]-É o meu trabalho, dona.

Me despedi dela e esperei que entrasse em casa. Assim que ela o fez, me pus no caminho de volta pra casa, pensando na música mais heroica que poderia e fazendo solos de guitarra sobre as sombras das árvores da rua.